A Herdeira do Trono

By LauraaMachado

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E se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? De... More

Nota da Autora
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Pelo Bem do Trono
Capítulo 2 - De Todas as Pessoas do Mundo
Capítulo 3 - Baile do Século Vinte e Um
Capítulo 4 - Uma Ordem de sua Princesa
Capítulo 5 - Estou Aqui Por Você
Capítulo 6 - Convicções e Princípios
Capítulo 7 - Festa com Máscaras
Capítulo 8 - Caminho de Volta para Casa
Capítulo 9 - Celebração da Fênix
Capítulo 10 - O Maior Segredo do Mundo
Capítulo 11 - Reconhecimento
Capítulo 13 - Uma Garota Conversando com um Garoto
Capítulo 14 - Sua Única Opção
Capítulo 15 - Eles Sabem
Capítulo 16 - Seu Direito e Dever
Capítulo 17 - Inapropriado para Princesas
Capítulo 18 - Você Nem Imagina
Capítulo 19 - Todas as Formas de Comunicação
Capítulo 20 - Uma Questão de Honra
PERSONAGENS
Explicações

Capítulo 12 - Só o Primeiro Encontro

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By LauraaMachado


 Acompanhei Madison até a sala de Liev sem trocarmos nenhuma palavra. Ter que andar pelos corredores comuns, sentindo a presença das câmeras mesmo quando não as via, seria uma ótima razão para não falar nada. Mas a verdade era que estava ocupada demais com meus pensamentos, repassando por cima tudo que tinha acontecido, as poucas informações que tinha de Marc e a possibilidade do que ele tinha estado prestes a me dizer ser minimamente viável. Em qual lugar do mundo - ou de Ashland, mais especificamente, - alguém não me reconheceria?

Foi o som da batida de Madison na porta para nos anunciar que me forçou a deixar toda essa dúvida de lado e focar em algo um pouco mais urgente: meu primeiro encontro.

Um pouco longe de nós, o guarda que eu tinha instruído a ficar de guarda para que nenhuma câmera ou civil chegasse perto do escritório de Liev me fez um aceno. Eu lhe devolvi logo antes de entrar.

"Alteza," Liev falou, se levantando como minhas outras damas e Clarissa.

Pensei em perguntar à Clare se ela tinha cumprido nosso combinado e ido à Sala de Jantar, mas me impedi a tempo. Não era como se eu mesma tivesse ficado tempo o suficiente lá para completar minha parte.

Em vez disso, só me sentei ao seu lado no sofá.

"Qual é o relatório?" Pedi.

"Pelo que me informaram," Liev começou, se sentando na poltrona à minha frente, "a maioria dos hóspedes voltou ao seu quarto depois do café da manhã. É provável que só tivessem acordado para poderem vê-la."

"Certo."

"Alguns poucos saíram para a cidade," ela continuou.

"Géraud é um deles," Alicia explicou. "Niels também."

"Trevor aparentemente foi à praia atrás do castelo, mas imagino que você possa encontrar com ele em algum lugar, como se sem querer," Maggie sugeriu, mas eu balancei a cabeça.

"Não," falei. "Não quero começar com ele. E já marquei um café com Alaric para hoje de tarde."

Elas assentiram, enquanto Clare mirava seus dedos como quem nem gostaria de estar ali.

"Então só sobrou o espanhol," Alicia concluiu. "O que é ótimo, porque ele mesmo veio me pedir para te encontrar."

Todas nos viramos para ela, e eu soube que era a primeira vez que falava daquilo.

"Quando isso?" Madison quis saber.

"Logo antes de virmos para cá," Alicia respondeu, um pouco na defensiva. "Ele disse que tem um presente para a Lola."

Liev estranhou, a olhando como se duvidasse daquilo. "Todos têm," falou. "A família dele lhe trouxe um colar, Alteza. Está na sala de presentes, ainda não viu?"

"Não," admiti. Me lembrava vagamente de que devia ir dar uma olhada nos objetos pelos quais teria que agradecer em futuras interações pelo castelo, mas tinha decidido ontem antes de dormir que usaria aquela tarefa como uma desculpa caso precisasse fugir de algum pretendente ou encontro maçante.

"Ele disse que tem outro presente," Alicia explicou, "um só dele que quer dar pessoalmente. Poderíamos começar por aí. Eu o vi no jardim agora há pouco. Parecia esperá-la."

Todas viraram sua atenção discretamente na minha direção, e eu tentei assentir. Sabia que não tinha mais como fugir - e esta nem era minha vontade. Tudo que eu queria era passar por esse mês o mais rápido possível e ter um resultado o quanto antes. E, para isso, só me restava começar oficialmente.

Me levantei e fui imitada por todas ali, até Clare, que demorou um pouco para reagir.

"Clarissa," a chamei, e ela mirou seus olhos grandes e redondos em mim. Eu sabia exatamente a razão de sua distração, ela estava dividida entre sonhar acordada com tudo que tinha acontecido entre ela e Kyle na noite anterior e se sentir culpar por ter mentido. "Se você não está se sentindo bem, pode ficar no meu quarto o resto do dia."

Sua primeira reação foi ficar confusa, mas acabou concordando. "Não vai precisar de mim?"

"Vou," admiti, me impedindo de imaginá-la me assistindo com Miguel e fazendo caretas para me incentivar a ser mais romântica. "Mas é só o primeiro encontro. Você pode me ajudar em todos os próximos."

Ela acabou aceitando e indo no caminho contrário ao nosso. Pouco depois de virar o corredor pela primeira vez, uma câmera nos encontrou e nos acompanhou até o jardim. Tentei não pensar muito em nada, nem ninguém, enquanto andava até lá. Nem mesmo em Miguel, que me esperava distraído, conversando com sua mãe.

Maria Bourbon era uma das mulheres mais bonitas que eu já tinha visto, o que tinha deixado certa impressão em mim quando ainda era bem pequena e a conheci pela primeira vez. Conforme envelheceu, ficou ainda mais bonita e me provou de uma vez por todas que o povo espanhol era lindo. Seu filho, que se levantou assim que me avistou, não ficava para trás. Era, como ela e suas duas irmãs gêmeas, inegavelmente atraente, ainda que não especificamente para mim. Talvez boa parte de seu charme fosse simplesmente carisma, cultivado em uma família confiante e bem estabelecida, que se orgulhava de viver bem no século vinte e um e ainda manter tradições antigas de seu povo.

No papel, Miguel Sanchez poderia ser o pretendente ideal, distinto o suficiente de mim para ser interessante, mas, na vida real, eu já tinha ouvido tantos rumores não confirmados a seu respeito, nenhum escandaloso, mas todos ruins o suficiente para me deixarem desconfortável, que sempre tinha mantido minha distância.

Quando cheguei perto dele e deixei que beijasse as costas de minha mão, prometi a mim mesma que não permitiria meus próprios preconceitos a me atrapalharem.

"Acho que é importante começar admitindo que você é ainda mais bela pessoalmente," foi a primeira coisa que ele me falou quando nos afastamos de sua mãe e de minhas damas.

A única resposta que me veio à cabeça seria rebater dizendo que não conseguiria chegar a lugar nenhum elogiando simplesmente minha aparência. Mas, em vez disso, sorri.

Seja romântica, Lola, pude escutar a voz de Clare na minha cabeça. Senão, ao menos simpática.

"Ouvi dizer que tem um presente para mim," falei, optando por mudar de assunto.

Ainda que não soubesse, estaria claro só pela caixa que ele carregava.

"É verdade," disse, parando de andar em um dos caminhos mais estreitos do jardim e se virando para mim. "Queria lhe trazer algo que fosse de minha cultura."

Sorri ainda mais largo, só porque não tinha ideia de como responder. Antes que precisasse, ele passou a caixa para mim e me obrigou a equilibrá-la com sua tampa e tentar parecer elegante ao mesmo tempo.

Por sorte, Alicia apareceu como por mágica e a segurou para mim, tentando se fazer invisível e útil ao mesmo tempo.

Para Miguel, em compensação, ela não teve sucesso. Vi seus olhos a observarem por alguns segundos a mais do que o necessário e então voltarem para mim, como se me notasse ali pela primeira vez.

Em vez de fazer um comentário sarcástico, me concentrei no que estava embaixo das folhas de seda brancas.

"Uau," não havia palavra melhor para descrever o tecido pesado e delicadamente bordado com fios de ouro que eu tirava de lá.

"É um traje de luces," ele explicou, enfatizando o sotaque nativo em sua própria língua, "tradicionalmente usado por toureiros."

Eu sabia, ainda que não conhecesse pelo nome. Era claramente de seda, feito pesado pelos adornos que faziam jus ao nome ao refletir até mesmo a pouco luz do sol que aquela manhã nublada deixava passar por entre as nuvens. Era uma das coisas mais lindas e trabalhosas que eu já tinha segurado em minhas mãos, contando com todas as joias e as tiaras que me foram passadas de rainhas e princesas anteriores.

Até Alicia estava impressionada, olhando para as partes da roupa que ainda estavam dentro da caixa como se pudesse sentir a textura lisa e deliciosa delas com os olhos.

"Muito obrigada, Sanchez," falei, me sentindo um pouco inapropriada. Certamente aquele presente merecia uma frase especial de agradecimento.

Ele não pareceu se incomodar. Só levou uma mão à barriga e disse: "Miguel, por favor," insistindo em introduzir o máximo possível de espanhol em suas respostas.

Eu sorri. "Miguel," repeti, colocando o casaco que segurava de volta na caixa. Alicia não precisou de mais instruções para que saísse dali com ela. "Foi realmente um dos melhores presentes que já ganhei," continuei, para compensar meu agradecimento genérico, "mas preciso perguntar, qual é sua posição em relação a touradas?"

Ele se virou para continuarmos nossa caminhada, me oferecendo seu braço para que eu enrolasse o meu nele. Aceitei como o passo mais romântico que eu daria naquele dia - e que faria valer pelo menos para os próximos encontros.

Touradas eram um ritual violento que tinha sido glorificado pela mídia mundial como uma dança entre um homem de traje elegante e um touro. Mas a verdade era que só existia para que acabasse na morte do touro e não havia nada de aceitável naquilo. Muitas cidades da Espanha já tinham proibido a prática, mas isso por si só não impedia que Miguel a apreciasse.

"Eu jamais seria capaz de ver qualquer problema em uma parte de nossa cultura que existiu por tanto tempo," ele começou, já me fazendo enjoar de sua conclusão, "mas isso historicamente." Percebi com o canto do olho quando se virou para ver minha reação. Por enquanto, só fiquei olhando para a frente. "Não acho que exista razão para continuar com essa tradição hoje em dia."

Não era exatamente a melhor prova de seu caráter, mas ele tinha passado no teste, ainda que por pouco.

"Concordo," falei, sem disposição para explicar cada detalhe da minha opinião sobre o assunto.

"Mas tem muito mais para se apreciar nas touradas do que a luta," ele continuou, quando eu chamaria toda a tradição de ataque e provocação. "Além até do traje." Se soltou um pouco de mim para ilustrar o que dizia. "É equilíbrio," ele já não andava, tinha se virado para mim e me olhava intensamente, "é elegância e flexibilidade," antes que eu entendesse o que estava fazendo, senti sua mão na parte de baixo das minhas costas, me puxando em sua direção, colocando seu rosto a centímetros do meu. "É uma dança."

Sabia que tinha uma câmera nos seguindo - que provavelmente estaria dando um ótimo zoom naquele momento, se aproveitando de cenas para especulações. Eu não poderia simplesmente o empurrar. E nem queria.

Ele claramente parecia acreditar que só precisava de alguns segundos naquela posição para me conquistar, para que seu olhar me derretesse. Todas as informações que eu tinha sobre ele e outras garotas vinham dos rumores, mas ele não parecia estar acostumado a receber um não. Pelo contrário, de acordo com o sorriso convencido e satisfeito em seu rosto, aquele movimento devia funcionar todas as vezes.

Era verdade que ele tinha me pego desprevenida, mas não deixaria que sua aproximação me intimidasse. Então, ao invés de lhe empurrar e mandar que tivesse um pouco mais de respeito por quem tinha o poder de transformá-lo em rei algum dia, cheguei meu rosto mais perto do dele.

"Prefiro valsas," falei em um sussurro e aí, sim, me afastei devagar, sentindo suas mãos voluntariamente me soltarem.

Pelo jeito que sorria depois de voltar a me acompanhar na caminhada e tomar meu braço outra vez, sua falta de efeito em mim só foi vista por ele como um desafio. Eu mesma não sabia se aquilo era um bom ou um péssimo sinal.

"Valsas são antiquadas," Miguel fez questão de declarar depois de alguns passos nossos. "É a dança de quem não tem paixão, não sabe viver."

"E você sabe viver?" Questionei e, sem querer, pareci ter lhe tocando em um ponto de orgulho profundo.

"Mas é claro!" Exclamou. "Quando eu te mostrar meu país, você vai ver o que é saber viver. A começar pelo clima," me garantiu. "Falta sol aqui. Não tem nada melhor do que acordar de manhã sem horário e ver o sol refletindo na água do mar. Sol de verdade, em praia com areia branca. Eu tenho uma casa em Ibiza que você vai adorar. Nunca mais vai querer voltar para cá."

Seu comentário, ainda que lhe parecesse inofensivo, foi bastante desconfortável para mim e a primeira coisa que ele falou que me fez contar os segundos para poder me afastar sem deixar a impressão de que sou terrivelmente mal-educada. Não era nem o descaso com Ashland, que definitivamente era o melhor país do mundo, mas sua desatenção com as minhas responsabilidades - e as que seriam suas se algum dia eu me casasse com ele.

Sorri por obrigação, para que nenhum dos outros convidados no jardim ou dos intrusos me vissem descontente e usassem minha expressão para criar fofocas sobre nós. Até me fiz concentrar em falar sobre minha própria impressão de Ibiza, para onde nunca tinha ido, a praia e como sol podia ser algo bom - ainda que eu normalmente o abominasse, - tudo para tentar me divertir minimamente. Era meu primeiro encontro, um leve desastre até então, mas não poderia simplesmente desistir de Miguel a partir daquele momento. Clarissa não me deixaria.

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