A Herdeira do Trono

By LauraaMachado

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E se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? De... More

Nota da Autora
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Pelo Bem do Trono
Capítulo 2 - De Todas as Pessoas do Mundo
Capítulo 3 - Baile do Século Vinte e Um
Capítulo 4 - Uma Ordem de sua Princesa
Capítulo 5 - Estou Aqui Por Você
Capítulo 6 - Convicções e Princípios
Capítulo 7 - Festa com Máscaras
Capítulo 8 - Caminho de Volta para Casa
Capítulo 9 - Celebração da Fênix
Capítulo 11 - Reconhecimento
Capítulo 12 - Só o Primeiro Encontro
Capítulo 13 - Uma Garota Conversando com um Garoto
Capítulo 14 - Sua Única Opção
Capítulo 15 - Eles Sabem
Capítulo 16 - Seu Direito e Dever
Capítulo 17 - Inapropriado para Princesas
Capítulo 18 - Você Nem Imagina
Capítulo 19 - Todas as Formas de Comunicação
Capítulo 20 - Uma Questão de Honra
PERSONAGENS
Explicações

Capítulo 10 - O Maior Segredo do Mundo

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By LauraaMachado

Passei meus olhos pelo grande closet, convencendo a mim mesma que ainda tinha qualquer dúvida sobre como me vestiria naquela manhã. Eram poucos os milésimos de segundos que me permitia olhar na direção do relógio, ainda que não admitisse que só tentava ganhar tempo até que Clarissa chegasse.

Assim que ouvi o barulho de porta vindo de algum outro lugar dos meus aposentos, me estiquei para tirar os cabides das roupas que tinha escolhido. Foi impossível não notar minha antiga máquina de escrever ali, usada pela última vez anos atrás, em um dos piores momentos da minha vida. Mas eu a ignorei. Deixei que permanecesse como a pilha de folha sobre a qual estava, uma memória intocada que talvez algum dia eu teria a coragem e a disposição de rever.

Quando entrei no meu quarto, quem vinha da sala não era Clare. A nova criada, Molly, me fez uma reverência ao me ver. E então, antes que eu lhe pedisse, veio até mim e tirou os cabides de minhas mãos.

Já fazia mais de um mês que estava comigo, mas ainda se mantinha pequena e discreta. Ela me lembrava de Clare quando tinha acabado de chegar, pouco depois de fazer dezoito anos. Ela não costumava nem se atrever a olhar em meus olhos, o que só me dava ainda mais orgulho da jovem que tinha se tornado. Se ao menos ela estivesse ali para eu comentar com ela sobre isso.

Molly e eu trocamos poucas palavras nos próximos minutos, enquanto eu me vestia. Ela me garantiu que todos os criados estavam extremamente animados para esse mês, que seria ainda mais importante do que os de anos passados. Me disse também que o café da manhã já tinha começado a ser preparado, que o clima parecia estar conspirando a nosso favor. Estava tão quente para dia seis de março! Mas ela, como eu, era do Norte, tinha nascido em Northfay e crescido vendo o sol somente por alguns dias de julho e agosto. Até mesmo a brisa gelada que ainda nos rodeava lhe parecia quente demais, admitiu.

Eu já estava de pé na frente do espelho de corpo inteiro, deixando que ela passasse uma pequena escova para se certificar de que não havia nenhum fiado saindo de minha roupa, quando a porta principal dos meus aposentos reais se abriu outra vez. E com tudo, sendo batida em seguida.

Com urgência, deixei Molly para trás e fui até sala, para encontrar Clare apoiada nela com as costas, como se tivesse fugido de algum monstro e o deixado no corredor.

Coloquei minhas mãos na cintura. "Você está atrasada."

E foi só então que ela me percebeu, parecendo notar pela primeira vez que tinha entrado em meu quarto.

"Lola," disse, se endireitando e passando as mãos pelo uniforme, a fim de finalmente ajeitá-lo em seu corpo. "Que horas são?"

Revirei meus olhos. "Não importa, Clare. Eu estava te esperando ontem! Te falei que queria que dormisse aqui comigo."

Ela tentava esconder sua respiração ofegante enquanto fingia prestar atenção ao que eu falava. "Certo," disse, ainda sentindo seu avental com os dedos. "Verdade."

Fui me aproximando dela, a observando ajeitar o cabelo e tentar inspirar ar o suficiente para se acalmar. "Está tudo bem?" Perguntei.

Ela bufou, rindo um pouco de si mesma. "Claro," mentiu. "Só estou atrasada."

Apertei meus olhos, buscando algum sinal do que realmente estava acontecendo. Mas acabei me dando por vencida. Talvez fosse mesmo esse o motivo de sua pressa, seu atraso.

"É assim que você vai ao café da manhã?" Seus olhos me observaram da cabeça aos pés, passando mais tempo em minha calça social preta do que na camisa. "Ou você tem alguma reunião e eu não sei?"

Revirei meus olhos, lhe dando as costas e esperando que ela me acompanhasse até meu quarto, onde Molly esperava para terminar de me arrumar.

"Liev fez questão de não marcar nenhuma reunião para este mês," expliquei, me sentando em frente à enorme e antiga penteadeira.

"Então você escolheu se vestir como se trabalhasse em um escritório? Para seu primeiro encontro?" Ela tinha acabado de se juntar à Molly me arrumando, então só tive que lhe mandar um olhar de reprovação pelo reflexo do espelho. "Alteza," completou por puro deboche.

Quando não respondi, ela completou seu argumento:

"A maioria das pessoas vê encontros como situações românticas, Lola. Calça social não é nada romântico."

"Ótimo," insisti, enquanto ela escovava meu cabelo como tivesse dedos mágicos que o alisavam automaticamente. "Pelo menos eles logo saberão que eu não sou romântica."

Ela juntou todo meu cabelo em um rabo de cavalo elegante que parecia ter sido amarrado por fadas antes de me soltar e me mirar pelo reflexo. "Só acho que é um pouco intimidante demais."

"Clare, qualquer homem que se sentir intimidado por um par de calças não merece ser considerado para a posição de rei, ainda mais de um país como o nosso."

Para isso, ela não teve resposta. Pelo contrário, deu de ombros como quem finalmente me entendia. Pareceu até se perder momentaneamente em pensamento, considerando meu argumento. Mas então uma batida veio à porta da sala, e ela correu na direção do banheiro no mesmo instante, como se levasse um choque.

"Clare!" Chamei, mas ela só parou para olhar para trás e pedir:

"Se for Kyle, diga que não me viu," e me deixou com a boca aberta e milhares de questões correndo pela minha cabeça.

Fiquei ainda mais curiosa quando vi que era exatamente ele quem tinha batido na porta. Eu o encontrei na sala e, por mágica ou adivinhação de Clare, ele quis saber onde ela estava.

Levantei meu queixo no ar, me preparando para mentir direito. Odiava isso, odiava não ter tempo para entender o que estava acontecendo e me acostumar com a mentira. Mas tive que fazer meu melhor.

"Eu ainda não a vi," disse. "Estava esperando-a ontem à noite, mas até agora não apareceu," meia-verdade era o melhor que eu conseguia fazer na hora.

Kyle assentiu, levemente inquieto.

"Pode me dizer por que a procura?" Pedi.

E ele deu o sorriso mais incomodado que podia. "Ela já deve conhecer todo mundo que trabalha aqui, né? Ou pelo menos as pessoas da cozinha," quando eu apertei meus olhos na sua direção, ainda mais confusa que antes, ele correu para se explicar. "É que eu conheci uma garota ontem, queria descobrir mais sobre ela."

Foi minha vez de sorrir e esconder minha vontade de pegá-lo pelos ombros e o balançar até que percebesse como era besta.

"Clarissa é a garota mais bonita que eu já vi em toda minha vida," falei, sem esconder direito minha indireta, "é claro que todos à sua volta já devem ter se aproximado dela. Mas, se eu fosse você, deixaria a tal menina ir até você. Não quer parecer desesperado, certo?"

Ou nunca mais te procurar, completei na minha cabeça.

Era impossível não ver Kyle como meu irmão mais novo, ou pelo menos um primo que eu precisava aconselhar. O difícil era não o fazer acordar para a vida de uma vez e perceber o que estava logo à sua frente. Não era uma decisão minha, nem meu direito contar.

"Certo," ele claramente não concordava, mas desistiu do assunto. "Ainda assim, se ver Clare, avisa que eu quero falar com ela."

Eu assenti, ele fez uma pequena reverência e deu alguns passos atrás. Quando lhe dei as costas para voltar ao meu quarto, pôde se sentir livre em me dar as costas e ir embora.

Nem dois minutos depois, Clare saía de fininho do banheiro. Eu já tinha dispensado Molly e a esperava sentada na minha cama.

"Quer me explicar?" Pedi, mas ela já sabia que teria.

Andou até mim devagar, mirando o chão e suas mãos, provavelmente testando palavras em sua cabeça antes de as ter que falar em voz alta.

"É complicado," admitiu, como um jeito de amenizar o que vinha.

Eu me sentei mais para o lado, abrindo espaço para ela na cama ao meu lado. Assim que sentou, me virei de frente para ela, descruzando os braços.

"O que você precisar falar, eu vou entender."

Era claro que eu entenderia, sempre tinha entendido, o que deixava sua apreensão ainda mais estranha.

Ela respirou fundo, mas, quando foi abrir a boca, balançou a cabeça. "É o maior segredo do mundo," disse, não ajudando a me deixar menos curiosa.

"Okay."

Só a observei quando ela colocou as mãos em frente ao rosto, se escondendo completamente. E então, em um impulso, ela disse:

"Eu gosto do Kyle."

Fiquei esperando uma continuação, algo que fosse realmente surpreendente e que merecesse o título de maior segredo do mundo. Mas, quando não veio, só bufei e disse:

"Eu sei."

Ela juntou o máximo de coragem que podia para abrir o espaço de um dedo e me olhar. "Quê?"

Revirei meus olhos, puxando suas mãos para longe do rosto. "Eu sei, Clare. Sempre soube. Seu grande segredo não é nem um pouco bem guardado."

O olhar que passou pelos seus olhos me deu vontade de rir.

"Não," respondi à pergunta que só estava em sua cabeça. "Ele não sabe. Você conseguiu se apaixonar pela pessoa mais tapada e lerda que existe no mundo. Mas, francamente, Clare, eu esperava mais de você."

Ela juntou as mãos em cima do colo. "Por gostar dele?"

"Não," respondi. "Por não ter me contado esses anos todos." Ela arregalou os olhos. "Sim, eu sei que você sempre gostou dele, provavelmente desde a primeira vez que o viu."

"Meu deus," soltou discretamente, quase que para si mesma.

"E agora você está fugindo dele, porque ele conheceu outra garota e quer sua ajuda para ir atrás dela?" Concluí em voz alta.

Ela mordeu o lábio inferior, sem querer responder, mas já me fazendo entender que não era bem assim.

"Clare," a chamei, indicando que ela tinha que me explicar melhor - e logo!

Ela enrolou mais um pouco, mas acabou se dando por vencida. "Você lembra daquilo que eu te perguntei ontem? Sobre fingir ser outra pessoa?"

Assenti. "Se eu acho que é errado, lembro."

Ela concordou. E não falou mais nada.

"Espera aí," soltei. "Você está me dizendo que você fingiu ser outra pessoa? Para Kyle?"

Suas mãos voltaram a cobrir seu rosto, mas dessa vez eu não deixei que a protegessem por nem um segundo.

"Clare!"

"Sim!" Ela admitiu. "Mas não foi minha intenção!"

Balancei a cabeça, tentando acreditar no que estava ouvindo, ao mesmo tempo que achava seu nervosismo cômico. "Como alguém finge que é outra pessoa acidentalmente?"

Ela deu de ombros. "Eu até tinha considerado a opção, mas juro que já tinha desistido quando fui falar com ele!" Tentou se explicar. "Mas aí ele não me reconheceu!"

"Como é lerdo, meu deus."

"Estava escuro!" Ela o defendeu. "E eu nunca vou a festa nenhuma que você não vai! Ele não devia estar me esperando."

"E você não achou lógico falar que era você?"

Ela mordeu o lábio outra vez.

"Clare."

"Foi sem querer!" Insistiu. "Ele perguntou meu nome, e eu estava com aquilo de fingir ser outra pessoa na cabeça-"

"O que você falou?"

Ela respirou fundo. "Falei que me chamo Karen."

Eu ri. "Karen?!"

"E ele acreditou," continuou. "Falei que sou uma das cozinheiras daqui."

"Claro," eu disse. "E ele nem reconheceu sua voz?"

"A música estava alta," ela o defendeu outra vez. "E eu sumi antes da meia-noite."

"Em um legítimo estilo Cinderela."

"Obrigada."

"Disponha. Só não sei por que está fugindo dele," admiti. "Deveria falar logo que foi só uma brincadeira. Ele nem vai se incomodar."

Seus olhos desviaram na hora para o lado, obrigando seu rosto virar na mesma direção. Evitava tanto me encarar, que tive que me aproximar dela.

"O que você não está me contando, Clare?"

Ela deu de ombros, mas olhou rapidamente na minha direção, o suficiente para ver que eu estava com uma expressão que praticamente exigia que ela me contasse logo.

"Ele me beijou," respondeu em um sussurro.

Para a minha surpresa, antes até que seu rosto se abrisse em um sorriso, o meu abriu. "Clare!" Exclamei, a segurando pelos ombros. "Isso é incrível! Você claramente merece coisa melhor, mas é incrível!"

Ela revirou os olhos, tanto fingir que nem era grande coisa, quando ainda sorria de orelha a orelha.

"Sei lá," disse.

"Agora mesmo que você deveria contar a verdade!"

"Não," ela trocou seu sorriso por um olhar assustado. "Ele vai me achar a louca que o enganou para que me beijasse! E se ele se arrepender assim que descobrir que era eu?"

Eu balancei a cabeça, a soltando e me levantando. "Clare, você realmente é a pessoa mais maravilhosa que eu já conheci," disse, me olhando uma última vez no espelho antes de me dirigir à sala, "e eu falo isso do jeito mais superficial possível também. Ele deveria estar implorando para a Karen ser você. E que nome aleatório, aliás."

"Foi o primeiro que me veio à cabeça," ela admitiu, se levantando e vindo atrás de mim. Tinha entendido, sem que eu precisasse falar, que já estava na hora de descermos.

"Você precisa contar para ele," falei, parando na frente da porta. Ela assentiu. "Continuar mentindo só vai piorar tudo."

"Eu sei," ela ainda não parecia muito convencida.

"E precisa também ir tirar esse uniforme," completei, com um tom um pouco mais autoritário. "Se quer continuar com suas responsabilidades, tudo bem. Mas preciso que você se sente ao meu lado na mesa e que me acompanhe sempre que possível. E não quero que esteja vestindo um uniforme para isso."

Ela sorriu mais relaxada, só de mudar de assunto. "Pode deixar."

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