Ensina-me amar

By alinemoretho

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Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Dois: Socorro
Três: Amizade
Quatro: Uma Chance
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezesseis: Adaptação
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Um: Pai
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Um: O Retorno
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Quatro: Temor
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Dez: Quebrada

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By alinemoretho

— Ora, Sarah, não é tão difícil, tente mais uma vez — insistiu dona Socorro ao me ver desistindo novamente do crochê.

— Sou péssima fazendo isso, dona Sô. Eu costurava as meias do meu pai, mas ele nunca gostava do resultado — justifiquei já irritada enquanto segurava aquele novelo de lã colorido em mãos.

— Calma, Sarah. Você consegue — Luana tentou me animar.

— Por favor, Lu, vamos trocar de lugar agora? Eu olho os bebês e você e o crochê é todinho seu — brinquei e observei de longe Mabel se esforçando para engatinhar e acompanhar o pequeno Arthur correndo de um lado para o outro.

Graças a Deus, cinco dias foram suficientes para Mabel dar claros sinais de melhoras e também para eu me recuperar daquele encontro turbulento com o idiota do Victor. Eu segui minha vida e até comecei a me empenhar em fazer as atividades em grupo com as meninas, mesmo aquelas as quais eu não gostava, como exercícios ao ar livre e crochê.

— Não vou tolerar desistentes — dona Socorro chamou minha atenção fingindo ser uma professora bem brava e autoritária — Vamos, Sarinha, termine o ponto.

— Mas, por quê? Eu me dou muito melhor pintando panos de prato. Veja lá! — Apontei para o varal onde minha última obra de arte secava e admirei aquele exímio trabalho com os pequenos dedos de minha ovelhinha marcados de brinde.

— Olha só, você aprende a bordar e quando acontecer um bazar na igreja, eles nos deixam vender tudo e o dinheiro fica pra você — Fabi, uma das moças, relembrou. — Consegui decorar meu quarto com as vendas desses cactos de crochê no último evento desses. — Exibiu o quanto era boa naquele passatempo e despertou em mim uma certa vontade de aprender, ou de ganhar meu próprio lucro.

— Tudo bem, me convenceram. — Levantei as mãos sinalizando minha rendição. — Não tenho a intenção de vender nada agora, mas posso tecer umas roupas bem fofinhas pra Mabelzinha. Mostre mais uma vez como faz, dona Sô!

Passo a passo, a senhora me ensinou e embora eu não tenha conseguido de primeira, foi uma vitória, com direito a comemoração quando depois de algumas tentativas eu dei um ponto corretamente.

— Qual o motivo de toda essa euforia aqui? — Amanda perguntou entrando no pátio onde estávamos sentadas.

— Sarah conseguiu dar seu primeiro ponto— Luana contou batendo palmas.

— Parabéns, Sarah — elogiou o Estêvão, o marido de Amanda. Ele trabalhava duro em uma construtora e por isso, só podia visitar o instituto de vez em quando.

— Não foi nada demais. Essas bobas estão exagerando e ... Eu consegui mais um! — gritei alto o bastante para Mabel largar seus brinquedos, olhar para trás e rir  de mim, fazendo todos ao meu redor caírem na gargalhada.

Ficamos conversando durante algum tempo, enquanto eu dividia minha atenção entre aprender o bendito tricô e rir das gracinhas da minha filha e as peraltices do pequeno Arthur. Em determinado tempo, ouvimos o sino da cozinha soando, indicando o início do horário de almoço pondo fim aqueles divertidos momentos.

— Meninas, vamos todas para o almoço. Hoje à tarde teremos uma palestra com a doutora Márcia — avisou Amanda. — Ela vai falar sobre prevenção de algumas doenças femininas. Quero todas vocês lá, tá bom?

— Sim, Amanda — as meninas responderam em uníssono e pareceram animadas. Eu, no entanto estava um pouco perdida, pois desde a minha chegada participei de cultos, devocionais, aulas disso e daquilo, mas uma palestra era novidade.

— Tudo bem, se eu me atrasar um pouco? Hoje é meu dia de limpar a cozinha — perguntei para Amanda quando já estávamos seguindo para a sala de refeições.

— Sem problemas, Sarinha. Fico feliz por te ver ajudar sem reclamar — a líder agradeceu e eu me senti constrangida com aquele elogio.

Nós oramos e demos início a comilança. Durante o almoço, eu revezava entre comer a comida deliciosa preparada por Maitê e dar a papinha de cenoura para a ovelhinha gulosa em meu colo. Era tão bom ver minha pequena familiarizada com as pessoas e a rotina do Instituto Piedade. Nós já fazíamos parte da família e eu me sentia grata a Deus por isso.

— Não, eu não penso em me casar novamente. Já basta a decepção com o pai do Arthur. Ele me traiu, me abandonou com um bebê e foi embora deixando para trás uma pilha de dívidas dele para eu pagar. Não quero viver isso novamente nunca mais — Luana respondeu a pergunta de Karen. A moça mais nova do grupo era bem conhecida por ser uma romântica incurável.

— Isso é tão triste — Karen lamentou tendo suas ilusões despedaçadas. — Por que é tão difícil encontrar casais como Amanda e Estêvão? Como vou ter um bom marido dessa maneira?

— Simples, seja uma mulher de Deus e se for a vontade dele, ele te dará um de seus filhos — expliquei pegando todos ali de surpresa. — Esse é o segredo, Karen. Você deve buscar estar plenamente satisfeita em Jesus Cristo e se Ele for sua maior necessidade a ser suprida, todas as outras coisas vão se encaixando, isso incluí um bom marido.

— Uau! Falou com muita sabedoria, Sarah — elogiou dona Socorro.

— Se eu tivesse entendido isso antes de ter conhecido o pai da Maria Isabel, teria feito tudo da maneira correta — confessei em meio a um suspiro.

— E por falar nisso, e quanto a você, Sarah? Você tem só vinte e dois anos, é linda e muito especial. Não pensa em esquecer o passado se casar algum dia? — Luana perguntou curiosa.

— Não — respondi incerta. — Tenho uma mocinha para cuidar e prefiro me aperfeiçoar para a glória do Senhor.

— Para todos os efeitos, tenho primos lindos, cristãos e solteiros — Amanda fez propaganda e foi inevitável rir da gracinha.— Agora, andem, deixem de papo, pois precisamos ajeitar tudo para receber a doutora. 

Quando todas terminaram de comer, com ajuda de Fabi, eu recolhi os pratos e os levei para cozinha com objetivo de iniciar a limpeza imediatamente. Só assim seria possível terminar tudo a tempo de participar da tal palestra.

Deixei Mabel sob os cuidados de dona Socorro a quem ela amava e assim tive tranquilidade para lavar a pilha de pratos e panelas acumuladas na pia. Já na metade do trabalho eu percebi através da movimentação diferente na casa que a convidada ilustre havia chegado.

— Vai demorar muito, querida? A médica já está aí — checou Amanda ao aparecer na cozinha.

— Não muito, só resta secar e guardar esses copos e talheres e já vou — respondi animada. — Podem começar sem mim.

— Tudo bem, então — ela pediu licença e sumiu em direção a sala novamente.

Tentei ao máximo adiantar minhas tarefas, principalmente quando ouvi as risadas indicando o início das atividades no cômodo ao lado. Eu estava guardando o último copo quando quando algo inusitado aconteceu.

— Você poderia me servir um pouco de água? — aquela voz fez meu corpo inteiro ficar tenso instantaneamente.

No susto, o copo de vidro caiu de minhas mãos e foi parar no chão se espatifando em mil pedaços.

Olhei para o lado e ao ver a figura de Victor Ferraz, não pensei em outra coisa se não sair de lá o mais rápido possível.

Sem raciocinar muito e com pressa, eu abaixei e tentei juntar os cacos de vidro sem proteção alguma. Por consequência, cortei a palma em dois lugares e me espantei quando o sangue começou a jorrar rapidamente encharcando meu braço e pingando no chão.

— Aí! — urrei sentindo uma dor aguda.

— Você se machucou. Deixe-me ver — Victor se aproximou o suficiente para segurar meu braço e assim inspecionar com melhor visibilidade minha ferida. Fiquei sem reações ao senti-lo tão perto de mim. — Vem, vamos lavar isso ou eu não vou conseguir avaliar se foi profundo ou não.

Assustada, eu simplesmente o segui até a pia onde ele, com todo cuidado, lavou o corte com água e sabão. O médico pediu álcool para limpar melhor e após minhas instruções, ele seguiu até um dos armários na cozinha e pegou o produto e mais algumas coisas necessárias.

— Não se preocupa, foi superficial — avisou para o meu alívio. — Isso vai arder um pouquinho, se quiser conversar comigo para distrair, será melhor — pediu prestes a embebedar minha mão com o líquido asséptico.

— P-por que está aqui? — questionei sem esconder a raiva e fiz uma careta ao sentir o ardor terrível do contato do álcool em minha pele.

— Já disse, vim atrás de água, estou sedento — ele brincou fingindo não entender o teor da minha dúvida e depois direcionou toda sua concentração em enfaixar meu machucado com alguns panos de prato nunca usados. — Bem, a doutora Márcia é casada com o doutor Murilo. Ele estava de plantão e não pôde vir com ela, por isso me mandou trazê-la, tendo em vista que eu já conheço muito bem esse lugar — explicou devagar, mas isso não diminuiu em nada o meu espanto.

Mesmo depois de ver o curativo devidamente feito, meus sentimentos de aflição não se dissiparam. Busquei respirar fundo e me acalmar, mas não obtive sucesso. Eu já tinha me conformado com a ideia de nunca mais ver Victor, porém ele ficava aparecendo do nada nos lugares mais improváveis como o Instituto, o local onde julguei estar protegida de todos, especialmente dele e isso me tirava do sério.

— Se já acabou, vai embora daqui, por favor — mandei percebendo a demora dele  em terminar o seu trabalho como médico.

— Sarah, podemos conversar como dois adultos? — perguntou e ao notar como os olhos dele me obervavam fixamente, eu senti o coração acelerando.

— Não quero conversar com você — declarei e procurei desviar minha atenção para qualquer outro ponto além dele.

— Você está morando aqui com sua filha? — ele perguntou indo direto ao ponto.

— Vai embora, Victor — mandei outra vez sentindo minha garganta apertar.

— Está? — ele insistiu e chegou perto o suficiente para eu sentir o calor do seu corpo emanando há poucos metros de distância de mim.

— Estou e daí? — Encarei-o novamente e precisei dar um passo para trás. Reparei na preocupação marcada em sua expressão, mas isso não mudava os fatos, ele precisava sair da minha vida de uma vez ou eu surtaria.

— Você mora aqui por estar fugindo de alguém? — investigou, mas eu me recusei a responder. — Eu notei os últimos resquícios de um hematoma no seu olho. Ele te bateu? Seu namorado te bateu, por isso você fugiu?

Fiquei irritadissima com péssima habilidade dele de tentar adivinhar como eu, mesmo tendo nascido em uma família com condições de me ajudar se quisessem, acabei numa instituição para mulheres desabrigadas.

— Eu não sofri nenhum abuso. A pancada em meu olho foi um acidente infeliz — garanti e vi o alívio ganhar forma em seu rosto. — Só estou aqui porque estou enfrentando uma crise financeira, só isso.

— Eu não entendo! E quanto ao pastor Flávio? Ou os seus irmãos? — arguiu inconformado. — Eles te amavam tanto e ainda assim preferiram te deixar morar aqui a te dar um lar?

— Não, eu é quem não quis pedir ajuda para eles, entendeu? — esclareci sem paciência alguma. — Agora se o questionário acabou, vá embora! — repeti, mas ele não mexeu um músculo, por isso resolvi eu sair logo daquele cômodo.

— Espera! — ele pediu, segurando em meu ombro para impedir minha partida. — Eu posso te ajudar, Sarah. Posso ajudar vocês duas. Eu tenho algum dinheiro no banco e...

Ele nem precisou acabar a frase para fazer meu sangue ferver de raiva. — Pra quê? Vai querer me comprar com seu dinheiro sujo outra vez? Eu prefiro vender algum órgão a aceitar um centavo do seu bolso, seu idiota. — Puxei meu braço para longe dele com força e sem pedir licença, saí correndo para fora e fui até o jardim.

Aproveitei a aparente solidão para cair no choro. Estar com Victor por um segundo qualquer era muito penoso para minha alma e eu odiava a mim mesma por não conseguir perdoa-lo pelo passado ou esquecê-lo de uma vez por todas.

— Sarah? Qual o problema, minha menina? — ouvi a voz de dona Socorro, ela devia ter me seguido ao me ver passando pela sala e isso foi bom, pois eu precisava de um colo de mãe para desmoronar outra vez. Eu não esperei um segundo sequer e corri para os braços dela onde caí em prantos.

A senhorinha ficou preocupadíssima comigo e me instigou a falar. — A-Aquele médico... — tentei explicar, mas não conseguia terminar uma sentença por conta do meu excesso de emoções. — O médico...

— O doutor Victor? Ele te fez alguma coisa, Sarinha? — perguntou aflita e afirmei com a cabeça freneticamente. — Qual o problema, querida?

Precisei de infantes para me recuperar, antes de dizer: — Ele é o pai da Maria Isabel, dona Socorro.

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