Um lance não verbalizado

By KILLJ0YX

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[escrita em 2017, reescrita em 2020] Após quatro anos fora, Sasuke Uchiha retorna para sua cidade natal, Kon... More

antes de tudo
Um
Dois
Três
Quatro
⚠️ aviso: perigo! ⚠️
Two
Three
Four

One

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By KILLJ0YX

Você é um idiota, Sasuke. Foi o que pensei ao sentir meu coração acelerar ao entrar no carro. Anos se passaram e agora eu retornava para minha cidade natal. Shisui terminava de guardar as malas enquanto Itachi procurava freneticamente por uma rádio boa.

Apoiei a cabeça na janela. Estava nervoso, admito. Afinal, depois de quatro anos desaparecido, eu retornava para Konoha. Desbloqueei o celular; vinte e quatro chamadas perdidas de Sakura, que provavelmente sabia que eu voltaria, vinte e uma de Karin, duas mensagens de Suigetsu e uma de Neji. Suspirei e ignorei tudo, coloquei um fone de ouvido e dei play na primeira música que vi, uma do Nirvana. Meu primo havia finalmente conseguido ajeitar as coisas no porta-malas e já estava sentado com as mãos no volante, enquanto meu nii-san continuava com a sua busca nas rádios.

O carro começou a andar e um longo trajeto se seguiria. Desisti dos fones de ouvido quando começou a tocar Green Day no rádio e Shisui e Itachi começaram a cantar. Shisui até que cantava direitinho, agora Itachi... Desafinado e não sabia metade da letra, mas insistia mesmo assim. Guardei os fones, desliguei o celular e tentei dormir.

Acordei algumas horas depois, ainda estávamos na estrada. Os dois da frente estavam quietos e nisso minha ansiedade voltou. O medo de me ignorarem, brigarem comigo ou até mesmo não lembrarem de mim. Sim, era verdade que eu havia ido embora sem mais nem menos, que desapareci sem avisar ninguém, que bloqueei todos de lá. Sim, isso tudo era verdade. Também era verdade que eu costumava me afastar dos outros, que era frio e fingia não me importar. Mas era tudo para esconder o gigantesco lado emocional e frágil que existia em mim.

Quando conheci Naruto, meu melhor amigo, eu não demonstrava gostar dele. O ignorava, menosprezava e ria da sua cara. Mas assim que chegava em casa, sentava no colo de Itachi e lhe contava animado tudo o que havia acontecido. Naruto Uzumaki, meu primeiro amigo e agora meu maior medo.

Se eu tinha medo da reação dos outros, a de Naruto eu temia com todas as forças. Não admitia, mas eu realmente gostava daquele loiro idiota. Quatro anos, ele deve ter mudado. Quando criança era um garoto animado e burro, simpático com todos e que não desistia nunca. Como será que ele está hoje em dia? Continua o mesmo?

Sei que no início ele me mandava mensagem quase todo dia. Eu não respondia e decidi bloqueá-lo. Passaram alguns meses e o desbloqueei, e para minha decepção, as mensagens pararam. Sim, até Naruto Uzumaki desistiu de mim. A única pessoa que eu mantive contato foi Neji Hyuuga.

Eu e Neji não éramos muito próximos, mas éramos muito parecidos. Sérios, sem expressão e com pose de superior, mas isso por fora. Por dentro, dois garotos carentes que tiveram que crescer cedo demais.

Secretamente, nos aproximamos. Nada demais, colegas de dia e melhores amigos de noite. Passávamos horas e horas na madrugada, desabafando e afogando as mágoas em café e chocolate. E no dia seguinte colocávamos nossa melhor máscara de tédio e a vida seguia.

– Tem café? – perguntei rompendo o silêncio.

O café é um lance da minha família. Quando estamos assustados, irritados, animados, apaixonados, enfim, com os nervos à flor da pele, bebemos café. Puro, quente e sem açúcar. Se um Uchiha pede um café, já se sabe que ele não está bem.

Itachi tirou uma garrafa térmica de sua mochila e me entregou. Dei um grande gole e suspirei baixinho.

– Voltar para Konoha te incomoda? – perguntou meu irmão.

– Tenho medo. Muito medo, na verdade. Medo de me odiarem, medo de não se lembrarem de mim, medo, medo, medo.

– Eles são seus amigos, Sasuke. – disse Shisui tentando me confortar. – Eles vão entender.

– Eles nem sabem por que eu fui embora. Eu não contei. Fiquei com medo.

O silêncio retomou no carro. O rádio havia sido desligado, o único barulho que se ouvia era o das rodas deslizando pelo asfalto da estrada.

– Eu liguei para o Jiraya. Contei para ele que a gente estava voltando. Desculpe.

– Tudo bem, nii-san. Talvez seja melhor assim.

Novamente silêncio.

– Me passa o café? – pediu Itachi.

Lhe entreguei a garrafa e ele tomou um gole ainda maior do que o meu. Shisui deu um sorriso de canto.

– E a você? O que te aflige? – perguntou meu primo.

– Nada.

– Não seria um certo loiro de olhos azuis? – falou com um sorriso malicioso.

– Loiro de olhos azuis?– perguntei sem entender nada.

– Esquece, Sui. O Deidara é coisa do passado.

Abri a boca para perguntar sobre o que estavam falando, mas meu aniki me lançou um olhar mortal e eu fiquei quieto. Shisui tomou a garrafa da mão de meu irmão e tomou um pequeno gole.

– Antes que perguntem, meu medo é o tio Madara. Só isso.

E assim o silêncio retornou ao carro. Foram mais algumas horas de viagem, com direito à Itachi cantando mal pacas e muito café. Depois de um tempo acabei pegando no sono e só fui acordado quando chegamos em Konoha.

A cidade continuava idêntica. Claro, cidade pequena não muda muito, mas vou admitir que senti saudades. Mesmo observando pela janela já me sentia em casa.

Paramos na frente da casa de Madara, que era pequena, mas não tão pequena quanto o antigo apartamento que eu, Itachi e Shisui dividíamos. Saímos do carro, tiramos as malas e tocamos a campainha.

Meu primo deu um gigantesco gole na bebida escura, que a essa altura já estava gelada. A porta foi aberta por um sujeito estranho, que utilizava uma máscara laranja.

– An, queremos falar com Madara Uchiha. Ele está aí? – falou meu primo.

– Shisui? Sasuke? Itachi? Não me reconhecem?

– Obito? – perguntou Itachi com uma cara de ponto de interrogação.

- Eu!

Revirei lentamente os olhos. Obito (ou Tobi) parecia bastante animado. Ele arrancou rapidamente as malas das mãos do meu irmão e já foi nos arrastando para dentro de casa, dizendo que o Tio Madara havia saído para comprar algo para comer.

A casa contava com três quartos: um para meu tio, outro para Obito e um de hóspedes. Shisui decidiu ficar com Obito e eu e meu irmão dividiríamos o terceiro quarto.

Assim que entrei no pequeno cômodo, joguei minhas malas na cama de cima, pois era um beliche.

– Gomen, aniki, mas a cama de cima é minha.

– Tanto faz. Nós vamos almoçar com o Jiraya e o Naruto amanhã. – falou enquanto guardava suas roupas no armário. – Daqui a pouco vou sair. Guarde suas tralhas, coma alguma coisa para não passar mal e vá fazer algo de útil da sua vida. Se eu te encontrar deitado no sofá assistindo algum filme idiota, você passa a noite lá fora.

– Nossa, nii-san. Pra que isso?

– Você tem amigos aqui, Sasuke. Faça a droga da sua adolescência valer a pena.

– Você fala como se fosse um velho. – resmunguei enquanto abria minha mala.

– Já sou um jovem adulto, otouto. E fiz tanta estupidez na adolescência que não dá nem para contar nos dedos. Decepcionei tanta gente... Mas o foco não sou eu, certo?

Suspirei e Itachi me deixou sozinho. Almoçar com Naruto no dia seguinte, é? Aquilo podia dar problemas. Precisava falar com ele antes, e teria que ser em particular.

Peguei meu celular e mandei uma mensagem à Neji, avisando que havia chegado. Perguntei de Naruto e ele não soube me responder, mas avisou que ele e a galera estavam almoçando na casa de Lee, exceto o Uzumaki, que não havia dado sinal de vida.

– A Sakura me disse que ele ficou sabendo que você voltava. – foi o que digitou. – Ela disse que ele parecia chateado.

Se ele está chateado, pensei, só pode estar em um lugar: no balanço da frente da escola. Bem, na época em que o loiro não tinha nenhum amigo, ou seja, antes de me conhecer, o mesmo passava todo o recreio sentado no balanço.

Terminei de arrumar a minha parte do armário e desci para almoçar. Meu tio já havia voltado, o cumprimentei e ele disse que iria fazer um macarrão. Meu irmão fez um ovo frito e nós nos sentamos junto de Obito e Shisui. Obito fazia muitas perguntas sobre a antiga cidade, nós respondíamos do jeito mais monossilábico possível. E assim que é um almoço normal entre os Uchihas.

Passei no banheiro e escovei os dentes. Peguei um moletom qualquer, as chaves e o celular e parti. A escola ficava razoavelmente perto da casa de Madara, então dava para ir a pé. O tempo estava um pouco nublado, cara de chuva, mas eu prefiro assim.

Decidi que ouviria música, mas então lembrei que não tinha pegado meu fone antes de sair. Merda. E lá se foram uns quinze minutos de caminhada silenciosa, na qual eu pensava no que falar para meu amigo que eu não via há anos.

Seria uma conversa estranha, no mínimo. Pelo que soube de Neji e Itachi, Naruto sabia que eu voltaria para Konoha. Mas ele provavelmente estava bravo porque 1) eu fui embora sem avisar, 2) eu evitei todo o tipo de contato possível e 3) eu estava voltando sem avisá-lo. Sim, eu sou um estúpido infantil, mas pelo menos admito.

Poderia facilmente dizer que é porque Naruto não significa nada na minha vida, mas isso é mentira. Nos momentos mais difíceis ele me acolheu. Mesmo não tendo ninguém ao seu lado (tirando Jiraya, que é um velho viciado em pornô) ele fazia de tudo para ajudar os outros e deixá-los felizes. Naruto Uzumaki era uma pessoa especial, uma luz em meio à escuridão. Por muito tempo essa luz me guiou, porém acabei por ceder a escuridão.

Eu realmente não sei dizer o que aconteceu. Ainda é extremamente confuso na minha mente. Eu tinha doze anos, era o meu aniversário. Havia alguns amigos do colégio, família e tudo mais. A festa era num salão alugado, e meus pais haviam esquecido de trazer um presente. Meu pai então pegou o carro e saiu para buscar meu presente.

Fugaku Uchiha não era o ser humano mais gentil, compreensivo e paciente do mundo, mas era um excelente pai. Mas ele tinha um sério problema cardíaco. E então, quando estava sozinho no meio do trânsito, teve uma parada cardíaca fatal. Não havia ninguém junto a ele, ninguém para chamar ajuda.

Algumas horas depois recebemos a notícia. Ele havia chegado no hospital, mas estava morto. E então toda aquela estabilidade Uchiha foi abalada. Minha mãe, que já tinha um histórico depressivo, entrou num depressão profunda. Meu irmão ficou terrivelmente triste e passava boa parte do tempo fora. Madara se afastou mais ainda, levando Obito junto. E eu simplesmente não conseguia lidar com tudo aquilo acontecendo.

Minha mãe era uma mulher forte. Por tudo que havia passado na vida, suas incontáveis fases depressivas e problemas familiares, ela tinha se tornado quase inabalável. Isso era o que eu achava. A verdade é que ela nunca se livrou de verdade dos problemas, e com a morte do meu pai uma avalanche deles vieram para cima dela. Dívidas que não sabia que existiam, caras perigosos tentando se envolver e muito mais. Ela tirou a própria vida. Eu realmente a amava muito, mas ela simplesmente me abandonou.

Nenhum dos meus amigos soube disso. O que lhes contaram foi que Mikoto Uchiha sofreu um acidente de carro, só isso. Nem mesmo Naruto conseguia me animar naqueles dias. Não importava para onde eu olhava, meus pais estavam lá. No meio da aula eu tinha crises de choro. No meio do almoço eu tinha crises de choro. Onde quer que eu fosse tinha crises de choro.

Itachi me perguntou o que eu queria, afinal ele sempre foi muito preocupado comigo e, principalmente, com minha saúde mental. Segundo o que ele me contou mais tarde, durante minha infância mamãe tinha alguns surtos, mas esse não é o assunto. Pedi, ou melhor, lhe implorei para que nos mudássemos. Eu não aguentava mais.

Meu irmão disse que concordava, que com a herança que tinha dava para irmos para outra cidade. Shisui veio conosco, afinal meu primo morava na nossa casa desde sempre. E assim nós três abandonamos Konoha, e ninguém nunca soube o porquê.

Relembrar isso dói muito. Meu coração queima de dor, se é que isso é possível. Mas já estou com dezesseis anos nas costas, não posso ficar chorando por qualquer motivo.

Cheguei no pequeno bosque que ficava na frente da escola. E sim, sentado no velho balanço de madeira estava Naruto Uzumaki. Prendi a respiração e andei até ele. Toquei de leve seu ombro e ele se virou.

– Oi, Naruto. – falei com um sorriso de canto. – Senti sua falta.

– Olá, Sasuke.

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