Ensina-me amar

By alinemoretho

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Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Dois: Socorro
Três: Amizade
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Dez: Quebrada
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezesseis: Adaptação
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Um: Pai
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Um: O Retorno
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Quatro: Temor
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Quatro: Uma Chance

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By alinemoretho

— Meu Deus, você não dorme? — Gabi perguntou ao entrar na cozinha esfregando um de seus olhos.

Segurando Mabel em um dos braços e o bule com café recém-preparado com a mão livre eu virei na direção dela, sorri e informei: — Eu não sabia a qual hora você levantaria para trabalhar, por isso me adiantei e tomei a liberdade de deixar tudo preparado antes de eu sair.

Ajeitando os cachos bagunçados, minha amiga caminhou até mim, tomou Mabel de meus braços a fim de me ajudar e sentou em um dos banquinhos apoiando a bebê sobre o balcão a sua frente. — E aonde a senhorita vai levando essa fofura?

— Procurar emprego — respondi rápida e deixei o café ao lado do pão e frios fresquinhos comprados por mim há mais ou menos meia hora. — E se der tempo vou atrás de casas baratas para alugar.

Gabi me lançou um olhar compadecido e não reteve sua curiosidade ao arguir: — Sarah, pra que tanta pressa pra ir embora daqui? Por que não espera o pastor Flávio voltar antes de ir correndo arrumar um emprego?

Eu segurei o ar por alguns segundos e fui sincera: — Meus erros trouxeram uma vergonha gigantesca para minha família, principalmente para o meu pai. Não estou pronta para lidar com isso agora. Ainda assim preciso garantir o conforto e a segurança da minha bebê.

Gabi fez algum tempo de silêncio e passou a brincar com Mabel enquanto eu terminava de montar a mesa de café da manhã. Quando tudo já estava pronto, eu me sentei, peguei minha ovelhinha no colo novamente, fechei os olhos e orei em voz alta agradecendo por aquele dia, pela vida da Gabi e também pedi a direção do Senhor para os meus planos. — Amém, filha? — perguntei ao findar a prece e obtive um gritinho como resposta.

— Amém — Gabi falou sorrindo e, assim como eu, deu início a comilança. Nós passamos a conversar sobre nossa infância brincando juntas e eu me diverti com minha amiga enumerando nossas travessuras. — Lembra quando você escondeu a bíblia favorita do seu pai na casinha do meu cachorro porque não queria ir para igreja naquele dia?

Eu não contive as risadas por lembrar de algo que me colocou em um castigo eterno e comentei: — Você não deveria falar sobre isso na frente da Mabel. Ela pode ser influenciada.

Gabi tocou em minha mão como se quisesse me consolar e brincou: — Se essa fofura for como você, então já comece a se preparar. O pastor Flávio sempre contava para todos que foi você quem deu de presente a ele os seus primeiros fios brancos.

Sorri para Gabi e revelei: — Não se preocupe, tenho pedido ao Senhor constantemente para não deixar minha menininha ser burra como eu fui. — Depositei um beijo na cabecinha da bebê. — E assim poupar essa ovelhinha vai poupar a jovem mamãe aqui de ter cabelos brancos antes da hora.

O clima ficou meio tenso, mas entre as bebericadas em sua xícara, Gabi resolveu inquirir: — Posso te fazer uma pergunta?

— Claro.

Ela pensou um pouco e foi direto ao ponto: — Você pretende deixar o Victor conhecer a Maria?

Só de ouvir aquele nome, milhares de pesadelos recorrentes encheram minha mente. A raiva fez meu coração acelerar e um sabor amargo arruinou o doce da bebida cafeínada a qual eu tomava. Como em instinto materno, eu segurei a Mabel mais forte nos braços e já sentindo os olhos se encherem de lágrimas, rebati: — Esse homem não tem direito algum sobre minha filha. No que depender de mim, ele vai morrer sem tocar num fio de cabelo dela.

Gabi tentou apaziguar os meus ânimos segurando mais forte a minha mão. — Calma, minha amiga querida. Eu só achei que depois de todos esses meses fora, você sentiria vontade de ao menos saber como o pai da sua bebê está.

Sorri com escárnio e zombei: —Provavelmente está iludindo garotas tolas como eu com intuído de levá-las pra você-sabe-onde.

— E se ele mudou? — considerou Gabi. — E se assim como você, Victor teve seu coração transformado por Cristo?

Eu não quis nem saber. Meu coração não conseguia sequer pensar naquele homem sem ter raiva e mágoa. Toda a família Ferraz não passava de um bando de cobras venenosas prestes a dar o bote quando lhe fossem oportuno.

Respirei fundo, tentei manter a calma e expliquei: — Olha Gabi, pelo bem da Maria e do meu próprio eu prometi para mim mesma não ver o Victor nunca mais. Não me importo se ele mudou, eu só quero o máximo de distância possível.

— Mas...

Exprimi o ar pela boca e supliquei: — Por favor, chega de falar desse assunto.

Minha amiga atendeu meu pedido, mas assim como eu, passou o restante da refeição em silêncio. Durante esse curto tempo pude enumerar mentalmente os milhares de motivos pelos quais eu jamais deixaria Mabel conhecer o proprio pai. Eu podia estar sendo imatura e injusta, mas não me importava. Para mim, se Victor não desencorajou a ideia de sua mãe de abortar a própria filha, também não era melhor do que aquela mulher terrível.

— Acho melhor eu partir. Não quero entregar meus currículos tão tarde — falei quando já estava farta daquele  levantando-me da mesa enquanto impedia Mabel de puxar meu cabelo.

Talvez buscando amenizar o clima, minha amiga, sendo fofa como sempre, propôs: — Se você esperar um pouquinho, posso te levar na loja a qual eu trabalho. Faço parte do departamento de RH e posso fazer recomendações especiais a seu respeito a gerente.

Eu não contive a alegria por ouvir algo tão agradável. — Sério? Você faria isso por mim? — busquei confirmar. Se tudo desse certo, logo eu estaria empregada e com um item a menos na minha lista de problemas para resolver.

— Sim, Sarinha. Eu prometi te ajudar ontem, não foi? — ela se levantou da cadeira e alongou os braços e eu aproveitei o momento para abraça-la. — Vamos lá, não podemos nos atrasar.

Ainda empolgada, me afastei e perguntei: — Posso levar a Maria? Não tenho com quem deixá-la.

— Tudo bem. Acho que a bebê mais linda da tia vai se comportar, não é meu amor? — Gabi encheu a bebê de beijinhos e então, pediu licença para ir se arrumar.

Por já estar arrumada há um bom tempo, eu fui para sala e fiquei brincando e distraindo minha filha. Os momentos de tranquilidade foram bons, pois pude orar mais uma vez e pedir ao Senhor para que me ajudasse a confiar em sua vontade. Ele sabia das minhas necessidades e certamente não me desampararia.

— Estou pronta — declarou Gabriela ao aparecer na sala com uma roupa social bonita, os cabelos cacheados soltos e uma maquiagem leve.

Elogiei minha amiga e em seguida partimos para o ponto localizado na mesma rua para tomar um ônibus que nos levaria direto ao centro da cidade.

Durante o caminho narrei para Gabriela minhas experiências profissionais e como fui desde confeiteira e costureira, até faxineira de escola, tudo isso enquanto carregava uma bebê em minha barriga gigante.

— Você ainda sonha em ser uma enfermeira assim como sua mãe? — Gabi perguntou quando estávamos prestes a desembarcar do veículo.

— Este é um sonho muito distante e caro — constatei com certeza.

Gabi deu de ombros. — Nada é impossível se for a vontade do Senhor.

Concordei com minha amiga e juntas andamos até uma loja de departamento chamada Fashion Bonfim onde ela trabalhava. Além de enorme, o estabelecimento era muito chique e bem decorado.

— Santa Fé está crescendo. Eu jamais imaginaria ver algo tão grande na nossa cidadezinha — comentei boquiaberta antes de Gabi me chamar para entrar na loja com ela. Acompanhando minha amiga pelos corredores infindáveis de roupas fiquei até mais tranquila. Certamente um negócio daquele porte deveria precisar de toda a mão de obra possível.

— A família dona disso tudo exporta para todo Brasil e até internacionalmente. São podres de ricos — explicou a moça com graça. — E por falar nisso, lá está Tatiana. Ela é a gerente e a filha da minha chefe querida.

A calma logo tornou-se em ansiedade novamente e isso fez meu estômago contrair-se no mesmo instante. Eu não sabia o que estava por vir, mas confiava plenamente no Senhor.

— Diferente da mãe, Tatiana é mais simpática. Nunca tive problema algum com ela — revelou tentando levantar meu ânimo. — Vem, vou te apresentar.

Apressando os passos para acompanhar Gabi, seguimos juntas até pararmos diante da loira alta, magra e extremamente elegante. Ela mexia em seu tablet de última geração com muita concentração e não pareceu notar nossa presença nos primeiros momentos. Gabi resolveu, com zero de discrição, chamar a atenção da mulher forçando um pigarreio.

— Oh! Não vi vocês aí — Tatiana disse, mas ainda entretida com o eletrônico em mãos não deu muita atenção para nós duas. — Estava mesmo esperando por sua chegada, Gabriela.

— Precisa de ajuda com os cálculos e orçamentos? — Gabi perguntou e a loira afirmou. — Posso fazer isso por você, mas antes quero te recomendar uma pessoa...

Tatiana foi rápida ao entender a razão da minha presença ali, por isso logo fez um acordo: — Aí, se você resolver esses calculos antes da minha mãe chegar, eu entrevisto sua amiga agora mesmo.

Gabi e eu trocamos olhares e eu sorri animada. — Por mim tudo bem — minha amiga concordou, pegou o tablet com a  gerente e também tomou Mabel de meu colo. — Vai com a Tatiana. Quando a entrevista acabar, pode subir lá no RH.

Extremamente feliz eu deixei um beijo na bochecha da bebê e estava prestes a seguir a gerente quando ela virou-se bruscamente e pediu: — Gabi, por favor, deixe avisado as recepcionistas que estou esperando umas amigas. Tudo bem?

Gabriela assentiu e me deixou a sós com a réplica de uma modelo da Vogue. Tatiana era frenética e talvez para poupar seu próprio tempo, ela perguntou informações a meu respeito já durante o trajeto até seu escritório.

— Tenho toda confiança do mundo na Gabriela. Ela é uma ótima garota. Sempre resolve as coisas chatas e burocráticas pra mim. Por favor, tome um lugar — ela pediu quando entramos na sala executiva chique e me esperou sentar para fazer o mesmo na cadeira giratória de couro. Em seguida tirou de uma das gavetas da escrivaninha alguns formulários, e ao começar a preenche-los, confirmou: — Sarah, não é?

Confirmei aquela pergunta e mais algumas outras e permaneci com os olhos fixos aos movimentos das mãos da mulher.

Depois de algum tempo levantando todos os meus dados, a mulher deixou a parte mais complicada por último:  — Bem, pra encerrar, eu preciso saber se você é casada ou vive com alguém.

Fiz o possível para não transparecer meus sentimentos e respondi friamente: — Sou mãe solteira.

Tatiana fez uma careta seguido de  tempo considerável de silêncio até  que finalmente resolveu revelar suas impressões a meu respeito: — Querida, a nossa lista de candidatos é bem extensa, e te analisando brevemente vejo que você tem o perfil da empresa. É jovem, bonita, tem boa apresentação pessoal, mas uma coisa me preocupa.

— A bebê? — interrompi, já preocupada com o rumo da conversa.

— Sim, a bebê — confirmou e soltou o ar pela boca.  — Com quem você pretende deixá-la para vir cumprir uma jornada de oito horas?

Com medo e desesperada, eu já fui logo garantindo: — Posso resolver essa questão ainda hoje, prometo.

Tatiana coçou a cabeça e fez uma careta mostrando seu desconforto para lidar com minha situação. — Compreendo, mas não tenho certeza se devo...

Sem ter medo de parecer fraca ou de me humilhar, pedi: — Senhora, minha filha é a razão de tudo. Preciso desse emprego, desesperadamente para sustentá-la. Eu não quero trazer prejuízos a empresa, mas, por favor, eu preciso.

Tatiana pareceu impressionada com minha declaração, mas demorou para dizer algo, antes voltou sua atenção para as folhas a sua frente e os preenchia com atenção até que deu uma boa notícia para o meu completo alívio: — Sarah, contratar mães solteiras não é um costume da Fashion Bonfim, mas eu vou abrir uma exceção porque gostei de você e quero te ajudar...

Sentindo o coração palpitar e uma alegria sem igual eu respondi desconcertada: — Obrigada! Obrigada mesmo! Você não sabe o quanto está me ajudando, eu nem tenho palavras para expressar minha gratidão!

A jovem moça apenas sorriu e passou os papeis para mim. — Preencha essas lacunas vazias e...

Algumas batidas interromperam a frase da gerente e logo depois uma moça apareceu, avisando: — Tati, elas chegaram. Posso mandar entrar?

Tatiana afirmou animada e pediu para mim: — Sarah, você pode ir preenchendo e esperar lá fora? Vou resolver uns assuntos pessoais e já te chamo, tudo bem?

— Claro! Sem problemas. — Imediatamente eu me levantei da cadeira e pedindo licença saí da sala.

Eu estava fechando a porta quando ouvi um choro escandaloso e familiar de Mabel. Ao olhar pra trás constatei Gabi trazendo a pequenina em prantos. — Tentei acalma-la como pude, mas foi impossível.

Assim que me viu, a bebê esticou seus bracinhos e praticamente se jogou em minha direção quando eu estava perto. Acolhi a ovelhinha na segurança do meu colo e usei algumas técnicas para trazer conforto a pequena.

Gabi ficou algum tempo ao meu lado, mas logo perguntou: — Você se importa se eu voltar ao trabalho?

Senti-me mal por atrapalhar minha amiga. — Desculpa Gabi. Eu odeio ser um incômodo. Pode voltar. A entrevista já está quase no fim.

A moça sorriu, acariciou meus cabelos fraternalmente e me acalmou: — Não se preocupe, Sarah. — Deu meia volta e antes de sumir no corredor, confirmou: — Te vejo em casa?

— Sim.

Após Gabi voltar a seus afazeres, eu permaneci aguardando por Tatiana no corredor, enquanto cuidava das necessidades da bebê. Foi então que descobri quem eram as duas figuras, as amigas esperadas pela gerente da loja.

Suellen e Raquel Ferraz.

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