Ensina-me amar

By alinemoretho

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Sarah Rodrigues era uma bela e jovem garota criada sobre a dura disciplina de seu pai e rígida supervisão de... More

Bem-vindo@:
Epígrafe
Prólogo
Um: Desamparada
Três: Amizade
Quatro: Uma Chance
Cinco: Humilhação
Seis: Nova Vida
Sete: Boas-Vindas
Oito: Reencontro
Nove: Ele
Dez: Quebrada
Onze: Perdão?
Doze: Verdade
Treze: Bagunça
Quatorze: Reconciliação
Quinze: Medo
Dezesseis: Adaptação
Dezessete: Covarde
Dezoito: Sentimentos
Dezenove: Ciúmes
Vinte: Viagem
Vinte e Um: Pai
Vinte e Dois: Fé
Vinte e Três: Família
Vinte e Quatro: Sufoco
Vinte e Cinco: Retorno
Vinte e Seis: Confusão
Vinte e Sete: Temores
Vinte e Oito: Tormento
Vinte e Nove: Fuga
Trinta: Confissões
Trinta e Um: O Retorno
Trinta e Dois: Correção
Trinta e Três: Fazer o certo?
Trinta e Quatro: Temor
Trinta e Cinco: Voltar?
Trinta e Seis: Sujeição
Trinta e Sete: Aniversário
Trinta e Oito: Casar?
Trinta e Nove: Mãe
Quarenta: Padrinho
Quarenta e Um: Casamento
EPÍLOGO:
Agradecimentos

Dois: Socorro

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By alinemoretho

— E a vaquinha faz? "Muuu" — mostrei o urso de pelúcia para Mabel e eu sorri quando ela imitou a última sílaba com uma alegria sem igual. — Isso mesmo, meu amor.

Diferente de mim, minha filha estava feliz e risonha como se as terríveis horas anteriores simplesmente não tivessem existido no seu mundo inocente. Eu a invejava, pois além de sua ótima capacidade de esquecer situações, ela também possuía alguém para protegê-la e oferecer consolo quando chorava.

"E quanto a mim, Senhor?" Por que me sinto abandonada por ti?" Eu questionava sentindo uma profunda dor querendo ser extravasada.

— Estão indo para onde tão tarde, queridas? — uma senhora baixinha de cabelos completamente grisalhos não esperou minha permissão para tomar um lugar ao meu lado nos bancos da sala de espera.

— Estamos indo para Santa Fé — informei me sentindo um pouco acanhada.

— Oh! Não acredito, eu também! — ela comemorou batendo palmas animadamente e não foi surpreendente quando Mabel a copiou. — É a primeira vez de vocês na cidade? Eu conheço cada cantinho de lá e posso dar ótimas dicas de pontos turísticos.

Nunca fui uma pessoa muito sociável e minha timidez geralmente era um grande impedimento para criar amizades duradouras. No entanto, desde o nascimento da bebê, eu passei a me obrigar a pelo menos ser simpática com pessoas me abordando.

— Santa Fé é a minha terra natal. Minha família mora lá — respondi com pesar. — Saí de lá já tem um bom tempo, e agora estou voltando.

A senhora sorriu de um jeito fofo e observou tanto a mim quanto a bebê em meu colo.

— Qual seu nome, querida?

— O meu é Sarah e essa aqui é a Maria Isabel — levantei a bebê em meu colo, pois ela havia reclamado usando seus gritinhos. Talvez, em sua autonomia infantil ela desejasse participar da conversa e ganhar a atenção da senhorinha também.

— O meu é Socorro — informou e brincou com a mãozinha de Mabel balançando no ar. — Essa garotinha linda é sua filha?

— Ela é. — Antes de haver qualquer julgamento me premeditei em dizer: — Sim, eu sei, sou bem jovem para ser mãe.

— Oh, sabe que eu tive meu Ian com dezessete, Amanda com vinte e Thais com vinte e um — informou dando risada. — Hoje em dia não é comum ver mães tão novas, mas no meu tempo, as moças logo casavam-se e tinham muitos filhos.

Dei um sorrisinho, e só de pensar em como eu não era nada semelhante com moças de outras épocas, preferi ficar em silêncio e não comentar mais nada.

Dona Socorro era bem faladeira e logo deu um jeito de começar outro assunto: — Desculpe a intromissão, Sarah, mas essa ferida no seu rosto está bem feia. 

Com a frenesi de acontecimentos eu até mesmo havia me esquecido da agressão de Ricardo. Com vergonha, busquei, usando a mão disponível, um espelhinho em minha bolsa a fim de confirmar as palavras de Socorro. Levei um susto ao notar como toda a extremidade do meu olho esquerdo e parte da minha bochecha e encontravam-se numa mistura de roxo, vermelho e até preto. Até mesmo minha esclera perdeu sua cor branca natural e ganhou um tom de vermelho sangue assustador. Meu estado era horrível e eu não culpava a mulher por levantar questionamentos.

A senhora percebeu minha aflição, não fez perguntas, mas com carinho procurou oferecer auxílio: — Minha doce filha Amanda é uma enfermeira muito zelosa. Ela me instruiu a andar sempre com um kit de primeiros socorros na bolsa. Deixe-me limpar para você.

— Obrigada, Socorro, mas é melhor já irmos andando para o terminal. Nosso ônibus já deve está para sair. — Apontei para telinha anunciando o horário de partida do próximo ônibus para Santa Fé.

Vi Socorro ficando triste pela minha negação e me senti péssima. Mesmo assim, agradeci o cuidado dela e sugeri que fôssemos juntas ao local de entrega das passagens.

Durante o curto caminho fui até o guichê conversando com Socorro. Ela aproveitou o meu silêncio predominante para me contar tudo sobre sua vida. Apesar da minha falta de jeito para dar opiniões, eu não reclamei e aproveitei a companhia agradável da senhora.

— Amanda não gosta quando eu viajo tarde assim, mas a Thaís, minha outra filha, passou o dia com o Gabrielzinho no médico e o meu genro Bruno só estava disponível aquele horário. Eu não queria incomodar. Eles já fazem tanto por mim, permitindo que eu more com eles — falou tão rápido que eu quase não entendi.

— E por que está indo visitar Amanda? — perguntei, agradecendo a Deus, por poder me distrair com algo além dos meus problemas. 

Animada, dona Socorro falou com euforia: — Ela está grávida do meu primeiro netinho e eu quero estar lá para abraça-la.

— Filhos são uma benção — beijei com ternura a cabeça de Mabel e fiz uma careta quando senti um cheiro nada agradável. — Mesmo quando enchem a fralda.

Nós duas rimos e aproveitamos o tempo antes da partida do ônibus para ir ao banheiro cuidar da higiene de Mabel.

O processo de deixar minha filha limpinha outra vez demorou mais tempo do que o previsto e tanto eu quanto Socorro chegamos ao terminal quando as portas do ônibus já estavam prestes a se fechar. Foi preciso uma boa conversa da parte da minha companheira para convencer o motorista a nos deixar a entrar, e graças a Deus, conseguimos até mesmo o privilégio de sentarmos juntas devido a uma pequena confusão entre os passageiros na hora de escolherem seus lugares.

— Agora posso cuidar das suas feridas? — ela questionou e, sem opções, eu assenti.  

O ônibus já percorria a estrada e dona Socorro ainda não havia acabado seu trabalho. Era um pouco ardido quando o álcool contido na bola de algodão entravam em atrito com minha pele sensível, mas eu murmurava baixinho para não chamar atenção da criança distraída com seus brinquedos em meu colo.

— Foi o pai da doce Mabel quem te machucou, Sarah? — a senhora perguntou quase em tom de sussurro enquanto jogava os materiais utilizados na limpeza do machucado num saquinho reservado para o lixo.

Sim, eu fui machucada muito mais profundamente por Victor do que por qualquer outro homem, mesmo o senhorio, e trazer essa verdade a memória me deixou bem desconfortável.

— Não, foi um outro idiota.

Vendo a expressão confusa de dona Socorro, resolvi descrever com um pouco mais detalhes o pavor de quase perecer com minha filha nas mãos sujas e gananciosas de Ricardo.

— Oh, querida. Deus tenha misericórdia desse homem perverso — ela falou e mesmo com a pouca iluminação pude perceber algumas lágrimas da mulher. — Para onde vão agora? Vocês tem algum lugar para ficar?

— Eu tenho uma amiga, ela pode nos dar abrigo, tenho certeza — falei com convicção, mas ao ver a reação dela unindo os lábios, fiquei um pouco insegura.

— E quanto aos seus pais? Eles, certamente, devem estar ansiosos para ver a netinha linda — perguntou e acariciou a cabeça de Mabel.

Aquele era mais um assunto desconfortável do qual eu não gostaria nem de comentar. Porém, vendo como a dona Socorro estava interessada em me ajudar, revelei resumidamente:

— Minha mãe morreu quando eu tinha cinco anos e a minha relação com papai não é nada boa. Ou seja, sempre foi eu e a Maria sozinhas lutando contra o mundo, com a ajuda de Deus.

A mão de dona Socorro repousou em meu ombro e ela ameaçou fazer outra pergunta:

— E seu pai...

— Não se preocupe, dona Socorro. Estou acostumada com pessoas negando ajuda. Aprendi a me virar e não vou deixar minha filha desamparada. Jurei isso pelo Senhor quando ela nasceu e vou cumprir, nem que seja necessário me humilhar para mantê-la a salvo. — eu a interrompi, e aproveitei o fato da bebê demonstrar sinais de sono para encerrar o interrogatório. — Podemos dormir agora? Esse dia foi muito louco e nós duas estamos cansadas.

A mulher assentiu e pediu desculpas algumas vezes antes de apagar a luz do pequeno painel sobre nossas cabeças, encostar suas costas no banco confortável e fechar seus olhos. Mabel também capotou logo depois, mas eu, tendo a mente ociosa e ocupada por questionamentos, permaneci muito bem acordada.

"Eu não quero encontra-los, Senhor. Não quero ver meus irmãos ou o papai. Não estou pronta, tu sabes" orei em pensamento enquanto observava o céu estrelado em constante movimento da janela. "Como vou cuidar dessa criança agora? Preciso da sua ajuda"

"Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte, não temerei mal nenhum, pois Tu estás comigo" o versículo soou em minha mente em alto e bom som e isso foi suficiente para encher meu coração de paz e calma.

Não demorou muito e eu consegui adormecer, e o melhor, sem pesadelos envolvendo Victor.

Quando abri meus olhos novamente, tomei um grande susto ao não encontrar Mabel em meu colo. Meu coração acelerado e as pernas tremendo só voltaram ao normal quando ouvi a gargalhada familiar de bebê ao meu lado. Como suspeitei, dona Socorro brincava e fazia cócegas na menininha risonha que ainda não entendia o conceito de socializar tão abertamente com desconhecidos.

— Eu estava prestes a te acordar. O motorista já está estacionando na rodoviária de Santa Fé — avisou simpática. — Ela começou a chorar e você parecia tão cansadinha. Não quis acorda-la.

— Que horas são? — perguntei coçando o olho saudável.

— Quase meia noite — informou após conferir seu relógio de pulso. — Já liguei para Amandinha e uma das meninas do Instituto Piedade está vindo me buscar. Diga-me Sarah, sua amiga vem apanha-la também?

"Ela sequer sabe que estou indo para casa dela" pensei um pouco sarcástica e em seguida respondi:

— Vou pegar uma circular, pois prefiro não atormenta-la.

— Com a bebê? Nunca! Não permitirei — expressou um pouco mais alto. — Pode passar o endereço da sua amiga. Nós deixaremos você lá.

— Dona Socorro...

— Nada de desculpas. Eu seria uma péssima cristã se permitisse isso — declarou e não me deu chances de negar sua oferta quando o ônibus parou e ela se levantou pronta para sair com minha filha no colo.

Rapidamente juntei a bagunça de Mabel, peguei a bolsa e segui a senhorinha apressada para fora do veículo.

Nós atravessamos a rodoviária e mais uma vez a incansável mulher foi tagarelando sem parar, dessa vez sobre seu carinho pelo tal instituto e as moças que ele abrigava. Quando chegamos ao estacionamento, dona Socorro logo reconheceu quem estava lá. 

— Olha lá Carla e Anelise vieram. Venha, Sarah! Apresse-se!

— Ah! Dona Socorro, que saudade — comentou a moça mais alta ao receber a senhora com um apertado abraço. — Todas estamos muito felizes com sua visita.

— É sempre um prazer revê-las, queridas, Carlinha — a senhora piscou.

— E trouxe mais duas? — a jovem mais gordinha perguntou me analisando.

— Oh, não, Anelise. Conheci Sarah e Mabel há pouco tempo. Elas só vão pegar uma carona conosco até a casa de uma amiga — ela informou e eu apenas sorri envergonhada.

— Então, tudo bem. É bom irmos, pois Amanda e Estevão já estão ligando — apressou Carla, já entrando na van branca estacionada.

Meu temor foi automático, mas, de alguma maneira eu sentia confiança em dona Socorro, por isso pedi a proteção do Senhor e tomei um lugar no veículo com Mabel quando pediram.

Como previsto nada ruim aconteceu e, seguindo as instruções passadas por mim, Anelise, a motorista, chegou a frente da casa de Gabriela, minha melhor amiga.

Eu agradeci a gentileza delas, mas dona Socorro não quis ir embora até garantir minha segurança.

— Ela deve estar dormindo — tentei tranquilizei as três mulheres aflitas por assistirem a demora de minha amiga para me atender.

Os minutos passaram e eu permanecia ali parada esperando por alguma movimentação em qualquer canto daquela modesta casa. Minha esperança estava por um fio quando Gabriela finalmente surgiu colocando o corpo em uma das janelas superiores que fornecia visão perfeita da rua. Ela levou um susto enorme e gritou:

— Meu Deus do céu! Sarah!

Não fiz questão de esconder minha exaustão e humilhação naquele momento tão difícil. As lágrimas inundaram meus olhos e eu confessei:

— Preciso de ajuda Gabi. Nós não temos mais ninguém. 

N/A:

Aos poucos esse livro sai, se Deus quiser haha
Tenham paciência

































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