A Herdeira do Trono

By LauraaMachado

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E se você tivesse que cruzar seu país para uma última chance de se tornar quem sempre foi? De... More

Nota da Autora
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 1 - Pelo Bem do Trono
Capítulo 2 - De Todas as Pessoas do Mundo
Capítulo 3 - Baile do Século Vinte e Um
Capítulo 5 - Estou Aqui Por Você
Capítulo 6 - Convicções e Princípios
Capítulo 7 - Festa com Máscaras
Capítulo 8 - Caminho de Volta para Casa
Capítulo 9 - Celebração da Fênix
Capítulo 10 - O Maior Segredo do Mundo
Capítulo 11 - Reconhecimento
Capítulo 12 - Só o Primeiro Encontro
Capítulo 13 - Uma Garota Conversando com um Garoto
Capítulo 14 - Sua Única Opção
Capítulo 15 - Eles Sabem
Capítulo 16 - Seu Direito e Dever
Capítulo 17 - Inapropriado para Princesas
Capítulo 18 - Você Nem Imagina
Capítulo 19 - Todas as Formas de Comunicação
Capítulo 20 - Uma Questão de Honra
PERSONAGENS
Explicações

Capítulo 4 - Uma Ordem de sua Princesa

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By LauraaMachado

ATENÇÃO: Se você leu a fanfic Do Outro Lado do Oceano, NÃO dê spoilers nos comentários! Se você leu, sabe quem aparece nesse capítulo, mas, por favor, NÃO fale quem é nos comentários! Nem uma única vez! Por favor!  

Teoricamente, eu seria a única no baile todo que não usaria um vestido preto. O meu, vermelho e digno de uma rainha, já que tinha sido de minha mãe, estava esperando em meu quarto, junto da maior tiara que eu tinha. Em uma noite em que todos tinham direito de serem quem quisessem, eu era obrigada a ser a única reconhecida. Sempre fui. Mas não dessa vez.

"E se eles perceberem que é você?" Clarissa perguntava pela milésima vez, mesmo que eu já tivesse a máscara comum em meu rosto.

"Eu fujo," prometi, sem nem conseguir imaginar a cena.

"Não sei, não, Lola," ela se virou para mim depois de eu terminar de amarrar a máscara nela. "Eu nem deveria estar indo."

"Claro que deveria," eu a segurei pelos ombros. "Você não quer passar uma noite sendo o que quiser? Sem ninguém te reconhecer?" Clare apertou os olhos para mim, parecendo quase assustada pelo que eu falava. "Ou você pode ser você mesma e simplesmente entreter o Kyle, já que eu vou estar ocupada. Você sabe como ele pode ficar deslocado nessas coisas," seus olhos se desviaram para algum lugar do chão, mas eu os observei atentamente enquanto ela considerava a opção e se distraia a pensar nele. "E eu prometo que, se ao menos ver alguém me olhando estranho, vou sair pela porta mais próxima ou mandar algum guarda me proteger. Não que eles vão fazer alguma coisa. Ou me reconhecer."

Ela ainda não parecia muito convencida, mordendo o canto do lábio.

"Eu só quero ver como é," admiti, meu tom até um pouco desanimado. Foi o suficiente para ela parecer aceitar minha ideia. "Agora vai. Eu te encontro lá."

Ela já tinha também reclamado dessa parte do plano, de entrarmos separadas e depois nos encontrarmos lá e parecia prestes a protestar de novo, mas eu a virei e a empurrei na direção da porta.

"É uma ordem de sua princesa."

E ela não pôde mais protestar.

Agora sozinha no enorme quarto que só era meu durante um mês por ano, senti meu estômago embrulhar. Não tinha porque estar nervosa, ninguém saberia que era eu, mas estava mesmo assim. Quem sabe, durante o pouco tempo que eu ficasse lá, pudesse ver como todos os convidados eram sem mim, o que pensavam de mim, qual pose forçavam na minha presença. Principalmente os pretendentes.

Pensar nisso não me ajudava a ficar menos nervosa. Além de eu ter medo do que poderia descobrir, a partir do momento em que eu pisasse naquele salão, minha busca por um marido realmente começaria. Não era mais só cumprimentá-los, eu precisaria ir atrás deles, começar conversas, descobrir quem eles são e, depois, tomar uma decisão. Não poderia ficar parada em um canto, vendo a festa acontecer. Precisaria tomar uma atitude.

Pelo meu trono. E minha última chance de poder governar meu amado país.

Por que algo tão importante tinha que ser decidido com casamento?

E pensar que, de cinco opções, agora eu só tinha quatro.

Alisei a saia do meu vestido outra vez e ajustei a máscara perfeita em meu rosto. Ela realmente pinicava, mas isso nem me incomodava. Era bom poder olhar no espelho e quase duvidar de que estava olhando para mim mesma. Fiz até questão de colocar uma sapatilha ao invés de um salto alto, já que quase nunca aparecia em público tão baixa. Tinha feito tudo que fosse possível para me esconder, principalmente deixando meu cabelo solto, cobrindo meus ombros desnudos e a marca de nascença que tinha na base do pescoço.

Eu me convencia na minha cabeça de que ir vestida como todas as outras mulheres me daria a chance de aproveitar o baile sem minhas responsabilidades, mas sabia que deveria mesmo era fazer o contrário. Sem saberem quem eu sou, talvez os pretendentes falassem coisas que não diriam na minha frente. Talvez eles fossem eles mesmos.

E só esse pensamento me fez querer mudar de ideia. Não sabia se queria conhecê-los de verdade, não sabia se tinha disposição o suficiente para isso. Conhecê-los de verdade daria trabalho. Trocaria aquela missão por uma sessão calorosa e beirando o agressivo entre a Casa dos Lordes e dos Deputados se pudesse. Bons tempos em que conseguir passar uma lei sem que eles tentassem se matar era o maior dos meus problemas. Aquele mês tinha acabado de começar, e eu já podia sentir todo seu peso sobre meus ombros. O peso do que eu precisava fazer e, o pior de todos, de como não queria ter que fazer.

Respirei fundo uma última vez, vendo com o canto do olho que dez minutos já tinham se passado desde que Clare tinha saído. Ela já devia estar me procurando pelo salão. E eu ainda sentia vontade de voltar correndo para minha casa, meu castelo em Knighton.

Talvez fosse isso que caracterizasse uma princesa ou qualquer pessoa da realeza. O constante sacrifício de sua vida pessoal pelo futuro de seu país, ter que encarar eventos quando você só quer ficar sozinho em seu quarto, dar todos os passos em direção a um acontecimento, enquanto pensa sobre como tudo que você queria era fugir.

Meu pai, pensei. Meu país. Meu trono. Precisava me lembrar de tudo que estava em jogo.

Quando saí do quarto, ordenei aos guardas que ficassem por ali. Eles pareceram estranhar me ver vestida daquele jeito, mas não tinham espaço para questionar, e eu nem dei. Simplesmente fui até o final do corredor e desci as escadas laterais, normalmente usadas somente pelos criados.

Vários passaram por mim depois que eu já descia o andar dos hóspedes e nenhum parou para me fazer uma reverência. A cada um, quase segurava minha respiração, torcendo para funcionar outra vez e, sem prova alguma de que tinham me reconhecido, comemorava em minha cabeça meu plano dando certo.

Mesmo assim, quanto mais chegava perto do térreo, mais nervosa ficava, principalmente pelo corredor parecer vazio. Tentava repassar na minha cabeça todas as informações que eu já tinha sobre cada pretendente para conseguir falar com eles. Mas, só de imaginá-los, voltava a sentir o frio na minha barriga ameaçar me perfurar e acabava desistindo de pensar naquilo. Nunca tinha tido problemas em conversar com homem algum, pelo contrário. Meu defeito era, como as meninas mesmo tinham dito, impaciência. Além de que eu nunca me impressionava com nenhum e nunca os deixava chegar perto o suficiente para me conhecer de verdade. E era bem isso que eu precisava fazer agora.

Não sabia ser vulnerável. E elas ainda queriam que eu me apaixonasse?

Parei no último degrau para esfregar de leve minha barriga por cima do vestido, onde o nervosismo ainda insistia em aparecer, aproveitando também para levar meus dedos às minhas têmporas e tentar aliviar a confusão na minha cabeça. Era muita dúvida, muita coisa acontecendo, muita coisa em risco. Mas não seria mais do que eu conseguiria lidar. Eu não podia fraquejar agora. Não quando meu pai estava contando comigo.

E aquele era apenas o começo.

Só percebi que tinha fechado os olhos quando senti algo puxando a barra do meu vestido e os abri em pânico, já me encolhendo para o lado contrário.

Era só um gato, que ainda se esfregava no tecido da saia, de um lado para o outro, enquanto eu tentava fazer meu coração voltar ao ritmo normal. Quando pensei que alguém me puxava, me lembrei na hora das câmeras que estavam espalhadas pela festa. Eu precisava ser mais cuidadosa, deixar minhas dúvidas para me atormentarem dentro do meu quarto, não em qualquer lugar. A última coisa que poderia deixar acontecer seria o programa todo do mês da Fênix ser transformado em imagens tristes minhas, para todos aqueles que acham que eu sou solitária e infeliz celebrarem.

"Eu odeio as pessoas," falei para o gato, que não parecia ter percebido ainda que aquela saia pertencia a alguém. "Não todas, mas uma boa parte." Me abaixei para tocar nele, mas ele se afastou quando viu minha mão. Então só me sentei na escada, adiando a hora em que teria que entrar no baile. "Você não é uma pessoa. Você não vai sair espalhando por aí que eu sou," olhei rapidamente na direção do corredor para ter certeza de que não era ouvida, "mal-amada, não é?"

Devagar, o gato voltou até mim, se arriscando a esfregar também na minha mão, que eu deixei com as costas viradas para ele. Seu pelo era quase inteiro branco, com só algumas manchas pretas espalhadas em lugares estratégicos.

Quando ele voltou a se esfregar no meu vestido, consegui lhe fazer um pouco de carinho.

O que ao menos significava ser mal-amada?, pensei, dessa vez sem tentar perguntar para o gato. Por que eles achavam que essa era a pior ofensa do mundo? Por que ainda existiam pessoas que tentavam me diminuir assim?

"Como se minha prioridade realmente fosse ser aceita por um homem qualquer," cochichei para o gato, já imaginando que ele seria, na verdade, uma gata que me entenderia perfeitamente. Ainda não tinha visto nada que provasse o contrário. "Que fracasso terrível que seria eu ser rainha de Ashland e comandar um país inteiro se nenhum homem quisesse casar comigo!" Meu tom sarcástico ficou um pouco mais alto, mas só de ter falado aquelas palavras para fora, ao invés de mantê-las na minha cabeça, eu já estava me sentindo bem melhor.

E o gato - ou gata, - parecia chegar cada vez mais perto, como se me entendesse e concordasse, me apoiando com esfregadas.

Eu fazia carinho em suas costas, observando seu pelo e me perguntando de onde ele teria vindo, se eu poderia ficar com ele e por que todos os meus dias não podiam se resumir a ficar afagando um gato, quando resolvi perguntar, quase com esperança de que ele respondesse:

"Qual será seu nome, hein?"

"Johnny," uma voz grossa falou, me dando um susto grande o suficiente para me levantar em um salto e assustar o gato no processo. "O nome dele é Johnny."

O dono da voz vinha do corredor oeste e devia ter saído de alguma sala dali, porque dois minutos atrás eu não o tinha visto.

Demorei alguns segundos para me recompor e reagir, enquanto ele parecia ter decidido andar até mim.

"Que tipo de pessoa dá o nome de Johnny a um gato?" Perguntei, ajeitando minha postura, ainda sentindo a adrenalina do susto correndo pelas minhas veias.

O cara pareceu rir, mas era impossível ter certeza com a máscara cobrindo quase todo seu rosto quando ele ainda estava um pouco longe. Ele não estava de blazer ou gravata, mas usava calças que pareciam caras e só parou logo à minha frente, com as mãos no bolso, como se me analisasse sem qualquer inclinação de responder.

"Eu te fiz uma pergunta," falei, dando a entender que queria que ele se apresentasse, meu tom levemente autoritário.

"Eu sei," foi tudo que disse, um sorriso convencido e torto finalmente podendo ser visto por baixo da sua máscara, deixando sua resposta ainda mais insolente.

Por instinto, levantei meu rosto no ar, pronta para repetir minha quase ordem, mas, assim que meus olhos encontraram os seus, entendi por que ele parecia tão pouco inclinado a me obedecer.

Ele não sabia quem eu era. Meu disfarce estava mesmo funcionando e, como eu tanto queria, agora não tinha poder algum.

Pensei em admitir logo quem era, mas meus olhos foram atraídos para o gato, que desistiu da minha saia para passar por entre as pernas do cara.

"Ele é seu?" Perguntei, um pouco desapontada por ter que me desfazer dele já.

"Por que ele precisa ser de alguém?" Assim que o cara me respondeu, revirei os olhos. Poderia jurar que ele também não conseguiria ver por causa da minha máscara, mas, agora bem mais perto, eu mesma vi quando ele sorriu pela minha reação. "Ele não é de ninguém."

Quis revirar os olhos de novo. Ainda que ele parecesse já ter decidido há bastante tempo que o gato seria de ninguém, algo na sua postura me dizia que seu jeito petulante estava ali pela mesma razão que eu levantava um pouco mais meu queixo no ar.

Eu nem sabia quem ele era. Ele nem imaginava que falava com a princesa de seu país. E nós já tínhamos chegado a um acordo silencioso de que poderíamos falar do clima ou de um gato, mas que aquela conversa continuaria sendo uma batalha e só um poderia ganhar.

Respirei fundo, deixando meus lábios pararem em uma posição de repouso que parecia quase um sorriso vitorioso. Ao mesmo tempo que já estava um pouco irritada pelo jeito dele, sabia que precisava continuar ali. Ainda que ele não tivesse ideia de que eu era, não o deixaria ganhar tão fácil.

E talvez fosse até melhor mesmo minha tiara não influenciar em nada.

"Que sorte a dele," fiz questão de soar o mais sarcástica possível, enquanto me apoiava no corrimão sem tirar meus olhos dos dele por um segundo sequer.

O primeiro passo para perder seria não aguentar manter o contato visual, pensei, me forçando a não me deixar influenciar pelo azul claro dos olhos dele, que quase me convencia a desviar.

"Você nem imagina."

Ele parecia pensar a mesma coisa, pois, mesmo depois de eu dar um passo para a frente, sair da escada e me aproximar, ele só abaixou a cabeça para continuar me encarando.

Agora que eu estava no mesmo nível que ele e era obrigada a aceitar que ele era bem mais alto, me arrependi de não ter colocado salto.

"Foi você que deu o nome dele?" Inclinei de leve a cabeça para trás e pude ver no pouco de sua expressão que ele sabia exatamente aonde eu queria chegar, então continuei antes que respondesse. "Se ele é tão livre assim, se não é seu, quem te deu o direito de escolher o nome dele?"

O cara riu de lado, entortando um dos cantos da boca para baixo, como se não se permitisse sorrir por completo, e olhou para baixo, fugindo dos meus olhos por alguns segundos. Eu aproveitei para respirar fundo e esconder minha pequena e inútil felicidade de ter conseguido lhe responder, além de poder ficar aliviada por não ter sido a primeira a quebrar o olhar.

"Quer saber?" Ele perguntou, levantando o rosto outra vez e voltando a me mirar. Era incrível como, ainda que tivesse desviado os olhos primeiro, não tinha perdido um único milímetro de confiança, o que só me dava ainda mais vontade de quebrá-lo. Ele balançou a cabeça e deu um passo atrás, fazendo o gato o acompanhar. "Pode chamá-lo do que quiser."

E então, como se aquela conversa tivesse terminado, começou a andar para longe.

Não, pensei na hora. Eu não deixaria acabar assim!

Fui logo atrás dele, apressando meus primeiros passos, mas diminuindo ao chegar ao seu lado. "Vou chamá-lo de Lucy então," declarei, andando à sua direita.

"Você não pode chamá-lo de Lucy," ele nem me olhou para responder. "Ele é macho."

Eu, em compensação, olhei para ele com o canto do olho. Ele ainda mantinha as mãos nos bolsos e, apesar de eu estar mais do que equipada para ganhar aquela conversa, não parecia nem um pouco abalado.

Não sabia o que era essa minha necessidade de continuar aquela conversa, essa vontade de ganhar que me fazia praticamente o forçar a prestar atenção em mim. Mas já não poderia dar para trás. Então me coloquei na sua frente, o obrigando a parar de andar antes que batesse contra mim.

Não estava contando com tanta aproximação, porém, meu desconforto só me fez estufar um pouco mais meu peito e endireitar meus ombros antes de falar:

"Mas você disse que ele é livre. Até onde vai essa liberdade? E que tipo de liberdade é essa se tem limites? Pobre gato que não pode nem ter qualquer nome, enquanto vive na ilusão de que é o único ser desse planeta realmente livre."

Nem sabia de onde isso tudo tinha saído, só sabia que me sentia muito animada, como não me sentia há muito tempo. Encarava o cara na minha frente, tentando guardar cada centímetro à mostra do rosto dele e o percebendo mudar conforme eu falava, quase me fazendo acreditar de verdade que ele estava começando a me ver como alguém páreo para seu jeito petulante.

Tive que focar completamente em observá-lo, em me manter séria, ou talvez até eu mesma acabaria falando que estava já exagerando.

Mas funcionou.

Ele apertou os olhos para mim e até a abriu a boca sem conseguir falar nada antes de bufar uma risada e balançar a cabeça.

"De onde você saiu?!" Sua pergunta era retórica, quase divertida e, pela primeira vez desde que tinha me pegado falando com o tal gato, ele parecia tão preso àquela conversa quanto eu me sentia.

Não consegui me conter mais e ri, só enquanto abaixava os olhos para o chão por alguns segundos. Ao mesmo tempo que estava começando a me sentir exposta pela conversa ou talvez só a proximidade dele, ainda sabia que a máscara conseguia me proteger.

"Era exatamente isso que eu queria saber de você," admiti, voltando a levantar o rosto e o encarar.

Era tão estranho falar com uma pessoa mascarada, sem conseguir saber como era seu rosto e ficando mais curiosa a cada segundo! E talvez fosse isso mesmo que me prendesse ali, essa necessidade de desvendar quem ele era, tanto por dentro, descobrindo suas intenções ao me desafiar, quanto algo tão superficial como seu rosto.

Mas tinha certeza de que meu argumento o tinha quebrado, nem que só um pouco, e agora queria até saber mais quem ele era do que só ganhar naquela interação.

E estava certa de que conseguiria. Ele me diria seu nome, eu descobriria se era algum pretendente perdido, um que eu já tinha desconsiderado ou um cara qualquer. E ainda faria questão de manter minha própria identidade escondida, só por orgulho mesmo.

Tinha até começado a relaxar meus ombros quando ele levantou uma sobrancelha só e disse:

"Vai continuar querendo."

Odiei seu sorriso convencido. Odiei quando ele deu a volta em mim, mas, ainda para me provocar, fez questão de passar perto o suficiente para nossos ombros se tocarem. Entretanto, me odiei ainda mais por ter pensado que ele realmente estava para se render.

Minha raiva dele me deu vontade roubar seu gato que não era seu e nunca lhe devolver. Ou pelo menos de bater os pés milhares de vezes no chão, como uma menina mimada. Ficava rindo para mim mesma, balançando a cabeça sem conseguir parar de negar o quanto me sentia idiota, mas, ao mesmo tempo, não conseguia desistir.

Era tão simples, só o nome dele, e ainda parecia tão inalcançável! Eu odiava coisas inalcançáveis!

"O que exatamente é o seu problema?" Perguntei, me virando para ele, mas sem o seguir. Tinha que mudar minha tática, já que ele não era tão fácil de manipular. "Seu nome é feio demais para você falar?"

O cara parou de andar e abaixou a cabeça como quem ria de novo.

"Por que quer saber?" Perguntou, se virando para mim de uma vez e dando alguns passos de volta na minha direção, determinado, como se eu fosse seu objetivo. "A beleza desse baile não é o anonimato?" Seu tom era sarcástico, beirando o ácido e, infelizmente, isso só me deu mais vontade ainda de descobrir quem ele era. "Você quer mesmo quebrar essa importante tradição ashlandesa por algo tão medíocre quanto curiosidade?"

Tive vontade de colocar minhas duas mãos em seu peito e empurrá-lo de tão frustrada que me sentia e, ao mesmo tempo, não conseguia evitar sorrir. Quase queria agradecê-lo por não me deixar ganhar de jeito nenhum, não só pelo meu orgulho, mas porque não queria que aquela conversa acabasse.

"Talvez eu não seja tão fã do anonimato assim," falei, levantando uma sobrancelha.

Ele segurou meu olhar por alguns segundos, me dando a impressão de que talvez nem fosse responder ou nem tivesse ouvido o que eu tinha dito. Mas então, assentindo de leve como se só concordasse com seus próprios pensamentos, falou:

"Talvez eu seja," e deu dois passos para trás, se virando no terceiro e continuando seu caminho como se aquela conversa tivesse terminado.

Bufei para mim mesma, revirando meus olhos. Ainda queria ir atrás dele, queria insistir, mesmo que sentisse que já tínhamos chegado ao limite. Não era possível que um estranho pudesse ser capaz de me frustrar daquele jeito!

E de me fazer esquecer de absolutamente todos os meus problemas.

Até levei um susto quando percebi que, naqueles poucos minutos em que estava perto dele, tinha até me esquecido do que estava fazendo ali, por que estava disfarçada, por que aquele baile era tão importante. Minha única missão era descobrir o nome dele e ter falhado ainda me fazia rir sozinha, balançando a cabeça para mim mesma, inconformada.

Meus olhos se mantinham em suas costas, o observando se afastar. Ele tinha conseguido tanto me fazer esquecer dos meus problemas, que mesmo agora, que eu lembrava que eles existiam, não conseguia realmente me dizer do porquê de eles serem tão terríveis. Só conseguia repassar na minha cabeça tudo que tinha acontecido nos últimos minutos, todas as respostas que eu dei e recebi e o que garantiu meu fracasso.

Quando o cara chegou a uma das portas que davam ao salão de festas, parou para me olhar, parecendo saber que eu o tinha observado andar até ali. Me deu ainda mais raiva pensar em como ele ficaria convencido por comprovar sua teoria, já que fui incapaz de encontrar uma distração ou pelo menos dar as costas a tempo. Era incrível como sentia que o conhecia, mesmo que ele tivesse se recusado a falar seu nome!

Já que era inútil fingir que não o tinha observado até ali, só levantei meu queixo mais no ar, cruzando meus braços, como se só estivesse esperando que ele desaparecesse logo. Não consegui ver, estava longe demais, mas ele jogou a cabeça um pouco para trás, me dando a impressão de que sorria, convencido como eu esperava que fosse. E depois entrou na festa, deixando Johnny para trás.

Eu contei até dez e respirei fundo como se concentrasse em uma missão, deixando que minha frustração se dissipasse o suficiente para eu ficar mais calma. Não gostava de não conseguir o que queria, fosse pela minha personalidade ou posição, e tentar descobrir sua identidade tinha se tornado a distração perfeita para entrar no baile sem toda a bagagem de dúvida e expectativa que carregava antes.

Então eu entrei.

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