COLOURS △ BillDip [Wattys2017]

By Marta___Tata

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[Livro 1 de 2] Cipher foi traído pela sétima vez. Cansado de uma vida desanimada, com meninas fúteis e ego... More

Aviso
Gray - A cor da solidão.
White - A cor da pureza.
Black - A cor do isolamento.
Azul - A cor da harmonia e do Dipper.
Laranja - A cor da alegria e da amizade.
Indigo ou Anil - A cor da sinceridade.
Castanho ou Marrom - A cor do conforto.
Roxo - A cor do mistério e dos... Ciúmes?!
Rosa - A cor da ternura e romantismo.
Amarelo - A cor da alegria, do otimismo e descontração. E a cor do Cipher.
Vermelho - A cor da paixão, do perigo e da tentação.
Verde - A cor da esperança e juventude. E a cor deles.
Rainbow - Colours! A cor do arco-íris e da bandeira homossexual!
Final. Ou então, parte 2!
Preciso da vossa resposta sincera.
Update: Webtoon de Colors!

Lilás - A cor da transformação, piedade e dignidade.

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By Marta___Tata


Por impulso ou não, Cipher agarrou com força o pulso do amigo.

O olhar acastanhado e nervoso, juntamente com medo fitou de lado o mais alto, que cerrava os dentes e parecia pronto para fugir a qualquer momento. 

Tal e qual como quando foi com o Luciel.

O loiro revia as imagens da cena tal e qual, completamente semelhantes e a travar um conflito interno e eterno, para que aquele capítulo não se abrisse mais aos seus olhos nem mente.

Ou se repetisse.

Ótimo. Tinha saído de quase uma maratona e agora tinha de ir para outra.

Mas a diferença, é que a primeira foi pelo Bill.

A segunda seria, muito provavelmente, pela sua vida.

" – Quero saber, exatamente, o que está a acontecer aqui!!".

A voz grossa e alta do homem de barba super arranjada e loiro, levemente calvo adentrou pelo quarto, acompanhado os passos pesados.

O mais novo tremeu de medo e num olhar de profundo pavor, apertando com força a camisa branca e aberta do maior, com uma Tshirt verde por debaixo.

" – Nada que te interesse". – Cuspiu-lhe o filho a frase, percebendo que assumira uma pose defensiva, o que só agradou o mais velho.

O moreno, sem saber para onde olhar, decidiu ficar apenas a observar o amigo, já que começava a ter medo daquela voz que ainda lhe ia atormentar em muitos pesadelos futuros.

...Se é que nada lhe fosse acontecer, claro.

Mas o pai não disse nada, para grande espanto dos dois.

O homem limitou-se a dar passos rápidos e pegar bruscamente no pulso do filho, vincando com tanta força que Bill queixou-se de dor e fazendo o mais alto largar bruscamente o pulso do pálido, em desespero.

" - Chega! Eu vou levar-te a um psicólogo para tirar-te essa doença da cabeça!".

" – Não é uma doença, pai!! É uma coisa chamada amor, que tu nunca sentiste por esse casamento arranjado com a minha mãe!". – Berrou, em resposta e com a voz recheada de raiva. Com dificuldades, o loiro tentou soltar-se e debater-se no desespero.

O mais branco não se mexia. Petrificado.

Não sabia o que fazer se não olhar a cena. Enquanto o melhor amigo era arrastado até à porta.

Ele realmente não se controlava. O medo, a timidez e todas as suas inseguranças encravaram-lhe o cérebro e não o deixavam reagir. 

Pavor.

Era isso o que ele tinha e aonde ele estava mergulhado.

O pavor definia o mais novo, de apenas 15 anos, ao observar a cena.

" – Ora seu...! Chega. Eu vou internar-te até tirares essa ideia louca da tua cabeça! Que vergonha a minha, ter um filho que anda com outro rapaz!".

Em parte, Dipper sentia-se extremamente culpado por ter causado tudo aquilo.

Ele não devia ter vindo. Devia ter ficado em casa.

Devia nunca mais ter falado com o loiro. Para o bem dele.

E, agora, talvez lhe arruíne a vida.

Talvez seja a causa de uma agressão, ou pior.

Ele tinha sido um tremendo egoísta. Um egoísta enorme em ter ignorado toda aquela história de Luciel; A achar que podia acordar o melhor amigo e levá-lo de volta à realidade; De lhe tirar daquele poço de amarguras e arrependimentos, para que nunca mais tivesse medo de amar.

Como ele estava errado.

Dipper Pines sentia-se a pior pessoa do mundo. Um monstro.

" – E que vergonha a minha, ter um pai como tu!". – Exclamou, conseguindo-se soltar e parando, frente a frente ao homem, confrontando-o.

Não era segredo para ninguém que o rapaz de agora dezassete anos tinha um medo enorme do progenitor, quando mais chamá-lo de pai. Abominava essa relação entre os dois mas, por mais que lhe custa-se, teria de a respeitar, não só pelo seu bem, mas também pelo dos irmãos.

E ele estava ali. A confrontá-lo.

Porque, pelo Dipper, tudo valia a pena.

...Aquilo não estava certo.

Pines ia fazer alguma coisa. Ele tinha de fazer alguma coisa.

E ele vai fazer alguma coisa.

O senhor Cipher, pronto para lhe dar um bom estalo no rosto, puxou a mão atrás, com a maior fúria que se podia imaginar.

Os olhos rasgados do maior fecharam-se, assim como a sua cara, pronto para sentir a dor do impacto. Encolheu-se, como se já espera-se que tudo aquilo fosse acontecer e tentando segurar os óculos hipsters e pretos ligeiramente com a mão, para não saltarem.

" – Esperem!".

Gritou, sem nem ao mesmo se controlar e parando a mão pesada e forte do homem a uma distância ainda consideravelmente segura do rosto do bronzeado.

Era tarde demais para voltar atrás ou se apavorar ainda mais, Dipper. Agora, tinha falado e interrompido e agora ia proteger quem amava.

Custe o que custar.

E esta vai ser a frase que vai definir o capítulo.

O de sardas ajeitou os óculos, olhando-o surpreso e mergulhado em medo.

Medo.

Aquilo não combinava com o Bill. De forma alguma.

O medo de tudo acontecer novamente. De estar a ver a cena, novamente, com os olhos e, no lugar de Dipper, um rapaz de catorze anos, sério, de óculos coloridos e ruivo. Cabelos tão rebeldes como os do loiro, mas mais lisos. Pele clara, mas não tanto como a do melhor amigo.

Ele não podia perdê-lo.

Cipher, jamais, iria aguentar perder a pessoa que mais amara na vida.

" – Não ligue para o que ele disser, senhor Cipher. Fui eu que o obriguei a fazer aquelas coisas todas. Eu sou o verdadeiro culpado de ter tornado o Bill... Assim".

Ditas tais palavras, embora com o maior nojo dentro de si, manteve-se firme. Ignorou o pavor a apoderar-se dele a uma velocidade incrível. Engoliu em seco lentamente, vendo-se a maçã de adão nervosa a subir e descer, numa transpiração fria e ansiedade imensa.

Ele ia acartar com as consequências pelo amigo. Mesmo que isso implica-se sofrer.

E essa foi a maior prova de amor que Dipper, alguma vez, lhe pode dar.

Desviando lentamente o olhar para o amigo, observou o que menos queria ver.

O olhar desfeito do rapaz, em si mesmo. Despedaçado. Como se lhe estivessem a arrancar todos os sentimentos de uma vez e a pisá-los. Como se implora-se para calar a boca e retirar o que tinha dito. Como se não se importa-se em receber uma quantidade absurda de estalos e outras coisas que o agredissem. Mas ele preferia sentir tudo, menos o sentimento de ver aquele corpo frágil, branco e indefeso no seu lugar.

Tal e qual o que tinha acontecido com o Luciel.

" – Tu... O quê...?!". – Murmurou a voz grossa do pai do loiro, ignorando o filho completamente e começando a andar em passos lentos até ao moreno que, apesar de estar mergulhado no puro medo, manteve a sua posição.

" – P-Pai, ele está a mentir!!". – Gritou em desespero o irmão gémeo mais novo da família Cipher, segurando o pulso do pai com força. – "Por favor, não... Não lhe faças nada, eu imploro-te!".

" – Estou a ver...". – Deslizando o olhar lentamente para o filho, libertou um sorriso de canto. – "Afeta-te muito mais o que lhe acontecer do que a ti... Certo?".

O olhar amarelado de imploração do mais alto desfez-se, transformando-se em pavor e receio.

E a frase penetrou-lhe os ouvidos, preenchendo-lhe o peito do maior desespero que já tinha enfrentado até então.

Desespero.

" – N...Não. Pai, por favor, não... Não não, não, por favor!!". – Gritou e aumentou o tom de voz, inutilmente e começando a correr em direção aos dois.  O olhar transformou-se num vermelho puro e dois garçons da casa vieram rapidamente segurar-lhe o filho, tal e qual como tinha acontecido da primeira vez.

Aquilo ia repetir-se.

Não.

Era tudo o que o rapaz desesperado gritava, começando a descer as lágrimas dos olhos, sem saber controlar a maré de sentimentos negativos e mergulhado num banho gelado, implorando para que tudo aquilo não passa-se do maior pesadelo que já tivera.

Arrastando-o para um canto do quarto, mais propriamente ao pé da vitrina que figurinhas de colecionador dos mais variados tipos e que os dois amigos tanto adoravam observar, miseravelmente tentou debater-se, escapar-se e chutar os dois homens que o seguravam, em berros roucos e ensurdecedores.

Mas ali estava.

O mais novo, de peito cheio e cabeça erguida, pronto para acartar com as consequências.

Pronto para o proteger.

" – Seu miserável...". – Cuspindo a frase, arregaçou as mangas do terno que utilizava, achando que aquela pintura lhe ia esconder o monstro dentro de si. – "Tens noção do quanto tempo demorou até que o Bill esquece-se dessa mania de andar com rapazes?!".

Pines abriu a boca para falar, mas foi interrompido com um estalo com força no rosto, ficando rapidamente a marca da sua mão enorme a formar-se num tom avermelhado, na bochecha do mais novo, com a cabeça de lado e levemente confuso do impacto forte.

" – Não! Por favor, por favor, eu imploro-te, não lhe faças nada!".

Os gritos começavam a incomodar toda a gente. Incluindo os empregados que, por medo de perderem os empregos, tinham de obedecer sem questionar às ordens do seu superior.

O mais baixo da sala sentiu o leve gosto a sangue no rosto, abrindo os olhinhos lentamente, graças à dor. Pestanejou duas vezes e tremeu um pouco, agora com o olhar levemente apavorado e desnorteado da pancada que levara no rosto.

Silêncio.

Mas, mesmo antes de ele voltar a olhar o mais velho do local, sentiu um empurrão com força, fazendo-o bater com a cabeça na parede e cair na cama, levemente tonto da quantidade de força que o impacto continha.

Que, acreditem, não foi pouca, já que o chegou a atordoar.

Demorou um pouco até recuperar os sentidos da visão, percebendo uma coisa que o fez ficar ainda mais assustado que antes.

O Bill estava a passar-se.

 Os olhos muito mais vermelhos que antes. As pupilas completamente pretas e parecia pronto para arrancar o braço de alguém.  

Se ele se passa-se agora, seria o fim da sua encenação. Não o poderia proteger se ele lhe protege-se e volta-se a descontrolar-se daquela maneira. Não teria argumentos para lhe ajudar.

Oh não.

Pines tinha de chegar, rapidamente, até ele para o acalmar.

Mas uma transpiração fria percorreu-lhe o corpo ao ver o pai dele tirar lentamente o cinto e a olhar para o filho.

" – Não!". – Gritou, levantando-se e ignorando as tonturas. Colocou-se entre o homem e o amigo, de braços estendidos para os lados e sério, ignorando a tremenda dor de cabeça.

Engoliu em seco ao observar o rosto de pele mais clara que o loiro, com toda a coragem do mundo para o acertar, se fosse preciso.

" – Sai imediatamente da frente agora, pirralho! Eu preciso de dar uma lição a esse miserável!".

Mas negou com a cabeça lentamente e com o tom de voz mais calmo do mundo.

" – Não. Não precisa, senhor Cipher".

Pelo Bill.

Ele faria aquilo e muito mais pelo loiro, se fosse preciso.

Assim como ele pelo Dipper.

O olhar avermelhado do mais alto desfez-se, tornando-se desesperado.

" – O que é que tu... Disseste?!".

" – Eu disse que não é necessário violência. Isso só gera mais violência. Uma conversa normal e saudável parece-me o suficiente. E não é com o cinto em riste que ele vai parar para o obedecer, muito pelo contrário. Então, por favor, acalme-se para podermos dialogar e...".

Mas o barulho da fivela do cinto a bater no chão paralisou o menor, que ficou pálido de susto e mergulhar numa maré fria de puro pavor, petrificado e a olhar para o chão.

" – Estou a avisar-te, miúdo! Ou afastas-te agora do Bill ou também vais ter de te haver comigo!".

Tremeu levemente, com um olhar mergulhado em pavor.

Mas ele nem se atreveu a dar um passo, continuando à frente do bronzeado.

" – Estou a pedir-lhe do fundo do coração, senhor Cipher. O amor não escolhe a sexualidade, religião, aparência e muito menos a pessoa. Eu sei o erro que aconteceu no passado, o Bill contou-me. Mas, tenho plena certeza de que isso não se tornará a repetir e podemos...".

Mas uma risada baixa do homem fez a voz do mais baixinho morreu, com um leve olhar de medo e curiosidade.

Os olhinhos inocentes e curiosos de Pines. 

O loiro limitou-se a ficar quieto e tentar fechar os olhos para se acalmar, já que ainda podia ferir o amigo na quantidade de fúria e ardor no estômago que sentia e muito menos protegê-lo.

" – Como é que tens tanta a certeza que não se tornará a repetir?".

" – B-Bem...". – Gaguejou o mais novo, pestanejando. – "Porque foi um acidente. E eu sei que não foi culpa de ningué...".

" – E quem é que não te garante que não fui eu que atropelei aquele pequenote?".

Silêncio.

O silêncio mais tenso e pesado que Pines já conviveu.

" – Tu... O quê...?".

Pronto. Era agora que o Cipher se ia passar.

Já nem o Dipper o acalmava.

A voz, carregada de raiva e num sussurro fez os empregados largarem-no de susto, afastando-se levemente.

" – Bill!". – Gritou o mais baixo, segurando-lhe os dois pulsos e aprofundando o olhar nos seus olhos. Respirou fundo e ficou sério, esquecendo-se de tudo à volta. Depois, deslizou as mãos lentamente dos pulsos à face dele, para lhe manter o olhar preso, embora intimidado com aquele tom assustador. – "Olha para mim. Para os meus olhos. Está tudo bem, oka...".

Mas o cinto bateu-lhe nas costas e gritou de dor, mesmo sem a fivela, tendo de se apoiar no de camisa social branca do amigo para se segurar.

O olhar do mais alto desfez-se. Estava confuso, principalmente. E logo depois, apavorado. 

Ter medo do pai, de se virar contra ele e medo que se pudesse vingar, mais tarde, no moreno, como aconteceu antes. Ao mesmo tempo, a fúria indescritível e a sentir-se um monstro, por deixar a pessoa que tanto amava tão vulnerável e, agora, dorida. Ser a principal razão e significado dele estar ali, a tentar protegê-lo, mesmo depois de tudo. 

E isso resumia-se perfeitamente em dois nomes.

Luciel. Dipper.

Mas aí, Cipher pestanejou duas vezes e fez uma respiração surpresa, ao ligar duas peças na sua mente.

O Luciel fugiu dele. O Dipper não.

O Luciel chamou-lhe monstro. O Dipper revelou a melhor parte dele, quando estavam juntos.

O Luciel condenou-o. O Dipper protegeu-o.

O Luciel fugiu. O Dipper ficou com ele.

O Luciel e o Dipper não eram, de todo, a mesma pessoa.

O Luciel era diferente.

E o Dipper era o amor da vida dele.

" – Tu não aprendes...". – Murmurava o pai do loiro, abandando a cabeça. – "Nunca aprendes. Porque é que tem de ser assim, Bill? Bastava obedeceres-me. Bastava controlares esses sentimentos idiotas e falsos de adolescente. Se queres chamar a atenção dessa forma, não vais...".

" – Ele não quer chamar a atenção!". – Gritou o moreno, carregado de raiva e a fitá-lo de lado. – "Ele não precisa da vossa atenção! Tem a minha, do Will, da Pacífica, da Mabel e dos meus pais! Ele não precisa de vocês!".

Ele não precisa de vocês.

Talvez Dipper tivesse-se condenado naquele momento.

Bem, mas ele estava cansado de ver o rapaz completamente a ser alvo de todas as culpas daquela casa e família descompensada. Era compreensível.

Por impulso, o mais alto puxou o melhor amigo pelo pulso, deixando-o atrás de si e, num olhar de puro desprezo e raiva, fitou o pai.

" - Não sei e nem quero saber se foste tu que fizeste aquilo ao Luciel. Também não me interessa, o mal está feito. E não vou descer ao nível de ameaças ou de me virar contra ti e tornar-me um monstro, como tu. Vou limitar-me apenas a protegê-lo e a ameaçar-te de uma coisa...".

E rasgou um sorriso levemente louco, talvez insano, que Pines nem suspeitou que existi-se aquele lado do loiro.

" - Tocas nele e eu mato-te".

Mas algo interrompeu o pai dos Cipher para dizer alguma coisa. Um grito abafado e feminino que Dipper conhecia muito bem, de puro horror a ver o cenário.

Mabel.

Pacífica.

E Will.

" – Dipper!". – Berrou a irmã, a correr para ele e abraçando-o, quase em lágrimas. – "O... O que é isso na tua cara?! Quem é que...".

Mas a voz morreu-lhe ao perceber que tinha sido o pai dos amigos, ao fitar o cinto em riste na mão direita do homem.

Num olhar lento e enraivecido, de puro desprezo, encarou o mais alto de lado, no tom de voz mais abominável, baixo e rouco possível e que Dipper jurou nunca ter escutado.

" – Atreve-te só a tocar no meu irmão, mais uma vez que seja. A tua cara vai ficar três mil vezes pior, otário quase-careca".

" – M...Mabel...". – Sussurrou o loiro, ainda incrédulo com a cena. Respirou fundo, tentando controlar-se, para impedir que mais alguém conhece-se aquele seu lado que ele repugnava.

" – Eu sempre soube que vocês não eram boas influências para os meus filhos!". – Resmungou, voltando a colocar o cinto nas calças. – "E vocês nunca mais os verão, porque irão para Inglaterra em dois dias, como combinado".

Dois... Dias...?

O olhar melancólico do mais novo girou lentamente para Bill, que fechou a cara e fitou o chão, de lado, a contrair muito os lábios, numa leve linha fina. 

Não pode ser.

Não. 

O Cipher não ia mesmo estudar mais com o Dipper... 

Literalmente.

" – Pai". – Chamou a voz serena de Pacífica.

Todos os olhares cruzaram-se para a menina loira de cabelos longos, que representava uma cara calma e séria, para grande espanto de todos.

" – Se queres que nós os três pisemos em Inglaterra contigo e com a mãe, terás de aceitar o Bill tal e qual como é. E não desprezar os meus amigos".

O homem ficou vermelho até às orelhas.

" – E quem és tu para impor-me condições, pirralha!?".

" – A tua filha e uma dos três que, supostamente, irão gerir a tua empresa. E eu posso levá-la à falência, se bem me apetecer".

O de cabelos azuis deu um passo em frente, sério.

" – Eu admirava-o muito, pai. Mas, depois desta cena, não tenho mais a dizer se não tristeza e desilusão".

" – Ora seus...! Ingratos!".

" – Vamos fazer um acordo". – A voz serena e calma de Will continuava sempre no mesmo tom, mas desta vez mais séria e sem nenhuma felicidade ou harmonia. - "Iremos contigo para Inglaterra. Sem negar, nem hesitar".

" – E abriremos um negócio cada um, no futuro". – Continuou a mais nova dos Cipher, cerrando os punhos com ódio às palavras que dizia. – "Pelo Bill. E, em troca, terás de aceitar o meu irmão, tal e qual como ele é e o seu relacionamento com o Dipper".

" – Caso contrário...". – Ameaçou a gémea mais velha dos Pines, num olhar semelhante a uma metralhadora, se é que isso é possível. – "Eles podem gerenciar a sua empresa, senhor Cipher". – Sussurrou, rasgando um sorriso maldoso. – "Mas não garanto que não a vão levar à miséria...".

" – Pessoal...". – Sussurrava o loiro, sem saber o que fazer e quase emocionado e a tremer levemente.

Todos os jovens da sala sabiam que cada um dos Cipher odiava ter de gerenciar fosse o que fosse, no futuro.

E ali estavam eles. Os dois jovens. A entregarem a sua felicidade futura de mão beijada, pelos dois rapazes.

E tudo culpa do Dipper.

Ou assim ele achava.

" – ...Parece que não me sobra grande escolha". – Murmurou, a cuspir as palavras e encarar o moreno mais baixo de lado. – "E não vale a pena tentarem enganar-me. Se fugirem ou negarem a promessa, eu vou atrás de todos vocês".

E saiu lentamente, a passos leves, fechando a porta devagar, mas com força no fim e acompanhado dos dois empregados, deixando cinco adolescentes em desespero para trás.

Ninguém ousou falar. Ninguém ousou, sequer, respirar alto.

Mas um soluço baixo vindo do mais pálido da sala ecoo, fazendo todos os pares de olhos fitarem-no.

" – A culpa... É minha...". – Sussurrou, com o corpo trémulo e sem se atrever a levantar o olhar, encolhendo os ombros lentamente e a cerrar os punhos com força, ao lado do corpo.

Tão rapidamente como tinha falado, o loiro abraçou-o com toda a força contra si, deixando-o a chorar no seu peito, segurando-lhe firmemente na nuca e cabeça com uma mão e a outra nas costas. Mabel seguiu o exemplo, assim como os outros dois Ciphers, num abraço coletivo de grupo.

" – Não é tua, Dipper...". – Sussurrava-lhe constantemente Will. – "A culpa é apenas do nosso pai. Por favor, desculpa a dor que ele te causou...".

" – Nós amamos-te como és. E sacrificaríamos qualquer coisa uns pelos outros". – Continuava a loira. – "Somos uma família".

Uma família.

O menor não pode deixar de dar um leve sorriso, ao ouvir o coração do rapaz que amava parar por um segundo, numa risada baixa.

" – Acho que alguém gostou da ideia...". – Provocou.

" – C-Cala a boca, Pinetree!". – Resmungou, a bufar.

E, aos poucos, separaram-se. Fizeram uma promessa – Que, aquilo, jamais tinha acontecido, até porque os pais de Dipper, muito provavelmente, iam levar o homem à justiça e complicações eram o que eles queriam menos, por agora; E aproveitarem estes dois dias ao máximo, antes da despedida dos Cipher para Inglaterra.

[...]

O moreno sentou-se, deixando-se cair, no mesmo local em que o amigo lhe tinha levado uma vez, de ombros relaxados e de pernas estendidas.

As cascatas lindas de Gravity Falls.

Gostava da calma. Da harmonia e paz. Lembrava-se de todos os momentos juntos, assim que fechava os olhos, o ar húmido lhe penetrava as narinas e enchia o cérebro de memórias doces. O peito, cheio de ar, dava-lhe vontade de enfrentar o mundo e mostrar que era capaz de tudo e mais alguma coisa.

Ao lado dele.

E expirou lentamente, abrindo os olhos à mesma velocidade e fitando todo aquele cenário de animais, uma floresta imensa do outro lado do penhasco e, no abismo, um rio magnífico e cristalino.

" – Posso saber porque é que me seguiste?". – Perguntou, olhando o loiro pelo canto do olho, fazendo-o engolir em seco e sair do seu esconderijo.

Deu uma risada nervosa e esfregou o braço esquerdo, sentando-se ao lado do moreno.

" – Eu só... Queria estar contigo". – Admitiu, perdendo-se no olhar na água que batia ao fundo do penhasco.

" – Hm...". – E o menor arqueou uma sobrancelha. – "Sabes que tens de estar no aeroporto em duas horas, certo?".

" – Sei". – Murmurou, com a voz quase falha e sem se atrever a mover o olhar. – "Mas não vou sem ti".

Num suspiro baixo, Pines esforçou-se para engolir o choro.

" – Queres mesmo que eu volte a frequentar o mesmo local que... O teu pai?".

" – Uma última vez". – Afirmou, parecendo ficar concentrado e hipnotizado pela transparência da água, porque demorou um pouco a continuar. – "Eu não quero... Ir".

A mão pálida do moreno pousou sobre a bronzeada delicadamente, fazendo-o acordar do transe e observá-lo, surpreso.

As lágrimas começaram a cair dos olhos redondinhos de Dipper, num sorriso débil e triste.

" – Eu não quero que vás...".

E não foi preciso mais nada.

O mais velho puxou-o muito rapidamente contra si e, num abraço apertado, firme e forte, choraram os dois em silêncio, como se o mundo fosse acabar, naquele momento.

Apesar do acordo com o pai do jovem, não tinham plena a certeza se ele o ia cumprir. Se ia permitir que eles permanecessem em contacto ou até mesmo se ele poderia voltar, um dia, a Gravity Falls.

E Dipper não tinha condições financeiras para ir a Inglaterra.

" – Cores...". – Sussurrou, então, o mais baixo, de voz abafada e rouca, contra o peito coberto pela camisola de lã do amigo.

" – Hm?".

" – As cores...". – E afastou-se calmamente, com um sorriso fraco e uma gargalhada baixa, esfregando os olhos, um por um. – "Ainda não as viste todas. Mas tu vais ver. Ou assim espero. Mas o que importa é que, aconteça o que acontecer...".

E estendeu-lhe um mindinho, sorrindo de orelha a orelha.

" – Estamos juntos. Para o que der e vier. Lembras-te? É uma promessa".

O de pele sardenta desviou o olhar para o mindinho. Depois para os olhos redondinhos e enormes, curiosos, inocentes e ansiosos, recheados de esperança, e, por fim, novamente para o dedo. Num sorriso entristecido, cruzou-os, como sempre faziam.

" – Além disso...". – Continuou o gémeo Pines, numa risadinha baixa. – "Ainda não sabes as cores todas, como eu disse. Então, pelo menos por agora, tens de voltar. É uma obrigação. Afinal, ninguém é tão bom como eu a fazer-te teres momentos inesquecíveis!".

E apontou para si mesmo, a encher o peito e de ar convencido, a imitar as feições do rosto de Cipher, que gargalhou de forma descontraída – Coisa que não fazia à dias.

Depois, abriu os olhos e disse, de forma alegre.

" – Eu prometo que vou voltar. E, em troca, prometes-me que me ensinas a ver o resto das cores?".

O moreno inclinou-se ligeiramente e beijou-lhe a ponta do nariz, de forma delicada.

" – Eu prometo".

...

Aeroporto.

Por algum motivo – Que era bem óbvio –, os gémeos Pines desprezavam a palavra.

Como os três filhos e futuros herdeiros das empresas Cipher recusaram-se a viajar em primeira classe, embarcaram mais tarde que os pais, decididos a passar a última hora juntos.

" – Okay!". – Exclamou o loiro, com um sorriso de orelha a orelha. Parou a mala que arrastava as rodas pelo chão e abriu um envelope, encarando rapidamente os três bilhetes que tinham sido registados. – "Ficamos todos juntos no avião. Quem vai à janela?".

" – Eu!". – Exclamou Will, ao mesmo tempo que a mais nova, olhando-se mortalmente.

Por algum motivo estranho, eles tinham tornado a sua amizade numa rivalidade saudável.

...E esse motivo chamava-se Mabel. Mas também ninguém para além deles percebeu e nem ia perceber.

" – O Gideon?". – Murmurou o mais novo do grupo, a olhar em volta. Ou seja, Dipper. – "Ele disse que se vinha despedir da Pacífica".

" – Ele vem quase na hora deles partirem". – Respondeu a gémea do rapaz, encolhendo os ombros. – "O Gideon só chegou de viagem há umas horas, precisou de fazer algumas coisas antes e tratar de uns assuntos que eu não entendi muito bem".

" – Pois é, vocês ficaram um quarteto...". – Sussurrou o bronzeado, cruzando os braços e encarando-os de lado. – "Idiotas. Eu sou bem melhor que ele".

" – Para de ser ciumento, Oxigenado!". – Reclamou o menor, imitando-o e também a cruzar os braços.

" – E tu para de ser metidinho, Pinetree!".

" – Pelo menos eu não fico com ciúmes da prima do meu melhor amigo!".

" – E, pelo menos, eu não fico a planejar esquemas para colocar a minha prima como objeto de ciúmes para o meu melhor amigo!".

Silêncio.

" – C...Como é que tu...?". – Gaguejou, começando a sentir um calor até às orelhas, deixando o outro a encolher os ombros, indiferente.

" – Era óbvio. Quando me beijas-te na passagem de ano, sei lá... Foi como se tudo fizesse sentido".

" – Tsc...". – E encolheu-se todo, parecendo quase uma bolinha protegida, a abraçar-se a si mesmo, o que só deixou o amigo mais alto a gargalhar e colocar um braço em cima do ombro dele.

" – Bem jogado, bem jogado, Pines. És malandro quando queres, hãn?".

E libertou um sorrisinho de canto, fitando-o de lado.

" – Só contigo".

" – Ah...". – Murmurou Will, fazendo os dois rapazes acordarem para a realidade e fitarem seus três irmãos, completamente chocados e de olhos muito abertos. Alguns, levemente ruborizados. – "Desculpem interromper, mas... Que beijo de passagem de ano?".

Merda.

Mil vezes merda para a tua maldita boca grande, Bill Fucking Cipher!, amaldiçoou o menor, que olhou desesperadamente à volta.

" – Dipper Pines...!". – Berrou a voz da irmã, quase pronta para lhe partir o pescoço. – "Não me digas que aquele draminha todo daquela semana foi por isso...!!".

Engolindo em seco ao mesmo tempo, Cipher deslizou o olhar rasgado para os bilhetes, tendo uma ideia de génio.

" – Olha! Um dos bilhetes tem uma entrada diferente dos outros, do outro lado do aeroporto!". – E largou os outros dois bilhetes nas mãos da irmã mais nova, pegando bruscamente no pulso de Dipper, começando a correr, com a mala na outra mão. – "Vejo-te depois se ainda der, Mabs!!".

" – Bill Cipher, volta já aqui!". – Gritaram os três, inutilmente e apercebendo-se que correr atrás não ia dar em nada.

" – Até depois, Peace e Will!". – Acenou o mais baixo, num sorriso amarelo e perdendo-os de vista.

Depois de correrem muito, pararam sentados numa pequena sala de espera com várias cadeiras, ofegantes e a descansar.

" – Que raio... De fuga foi aquela?". – Murmurou o pálido, a encará-lo de lado.

" – Correção, uma retirada estratégica!". – E encheu o peito de ar, a apontar para si com o polegar e um sorriso convencido.

" – Yah... Uma retirada estratégica, depois de denunciares o beijo que eu te dei e de termos de sofrer um interrogatório dos nossos irmãos. Obrigadinha, hãn?".

As pupilas rasgadas e cobertas de uma orbe amarelada à volta observaram o mais novo lentamente. Sem dar mais tempo para o outro se queixar, Pines arqueou uma sobrancelha, confuso, já que não conseguia decifrá-lo.

Depois, Bill largou a mala e tudo o que tinha na mão, pegando-lhe nas costas delicadamente, mas com uma necessidade enorme e beijou-lhe, sem esperar nem mais um segundo.

Com a surpresa, Dipper encheu o peito de ar e abriu muito os olhos, tenso; Mas depois, deixou-se relaxar e levar, naquela onda de sentimentos correspondidos.

A última vez que se tinham beijado tinha sido na casa antiga do loiro. A partir daí, a amizade deles voltou ao normal, excetuando alguns atos de carinho inexistentes no passado e, de vez em quando, darem as mãos com os dedos entrelaçados e discretamente na rua, levemente envergonhados e a compartilhar os phones.

Um beijo de cortar a respiração.

Era isso que definia as mãos firmes do bronzeado no rosto do menor, enquanto as suas mãos bem menores lhe agarravam pela camisa nas costas, amarrotando-a levemente, mas seguras. Como se aquele pudesse vir a ser o último momento que estavam juntos.

E até podia.

Nada lhes garantia que acabariam por parar de se amar. Ou que o pai de Bill lhes impedisse de manter contacto. Ou até mesmo que arranjassem outras pessoas.

Mas não.

Ambos acreditavam plenamente que isso não ia acontecer. Que isso não passava de medos do subconsciente, para se mentalizarem que nunca mais iam estudar juntos. Ou que Bill não lhe ia assistir às aulas de Matemática, quando a professora Penny de história faltavam frequentemente. Nem ouvir Fall Out Boys por um bom tempo, nas ruas. Muito menos, esperarem um pelo outro nos corredores e fugirem para o pequeno esconderijo escuro com imensos nomes escritos do grupo dos Cipher, quadro esverdeado.

Afastando-se lentamente, olharam profundamente um para o outro. Como se fossem eles e só eles, ignorando alguns olhares de espanto, fofura ou até mesmo desprezo.

Eram eles contra o mundo. E iam vencer. Custe o que custar.

E novamente essa frase.

O bronzeado deixou a cabeça descair calmamente, encostando as testas e fechando delicadamente os olhos. O mais novo seguiu o exemplo, num suspiro pesado.

" – E agora...?". – Murmurou a voz do moreno.

" – Eu não sei como vou aguentar sem ti". – Deixou escapar o maior, entrelaçando os dedos das mãos pousadas no banco, comprimindo os lábios numa linha muito fina.

" – Nem eu".

" – Qual é... A diferença horária, Nerd? Tu é que sabes essas coisas sempre".

Pines teria revirado os olhos e reclamado, se fosse outra hora.

" – Oito horas, otário".

Bill arrancou um suspiro pesado do peito.

" – Vai ser quase impossível falarmos...".

" – Eu sei. Vou habituar-me ao café para dormir pouco e falar contigo".

E gargalharam baixinho, abrindo lentamente os olhos ao mesmo tempo, ficando ali por uns quantos momentos, no silêncio entre os dois, acompanhado dos barulhos de várias malas de viagem a roçar no chão, falatórios aleatórios ou de aviões a descolarem na janela ao lado deles.

" – Ultima chamada para o voo TP606".

Os lábios do moreno tremeram involuntariamente. O coração pareceu ter diminuído mil vezes e vincou os dedos contra a mão do bronzeado, num desespero enorme dentro de si.

Ele sempre foi uma pessoa racional. Nunca ligou para os sentimentos. Ele tinha de se controlar.

...Ou assim era, até um certo loiro de pupilas rasgadas e de um sorriso trocista, convencido e lindo, a mostrar os dentes, aparecer na sua vida.

O mais alto levantou-se numa respiração lenta, tentando não fitar mais os olhinhos enormes e curiosos de Pines, que agora estavam quase desfeitos num mar de lágrimas.

O olhar do mais velho fitou o pulso melancolicamente, tentando puxá-lo levemente.

" – D-Dipper, eu também não quero ir, mas eu preciso...".

" – Não!". – Gritou, numa tentativa falha de expulsar a dor que sentia no peito e o peso constante sobre os seus ombros. Fechou os olhos com força, implorando para aquilo ser um sonho.

Aquilo tinha de ser um sonho.

O Bill não ia partir assim, do nada, para Inglaterra.

Ele tinha perdido o tempo de ter uma semana incrível com o rapaz, antes de partir.

E agora, de repente... Uma escolha destas, vinda dos pais dele para "o bem do futuro e melhorar o vosso ensino"?! Por favor!

Uma escola de riquinhos? Não é para o Bill.

Ele odeia isso. Ele não podia ir.

E Dipper continuava a negar-se na sua mente, a abanar a cabeça para os lados e vincar com força os dedos no pulso do maior.

" – P... Pinetree, por favor... Eu também não quero ir".

O olhar melancólico e solitário do sardento fitou o chão, tentando aguentar para não se desfazer em lágrimas.

...O que foi impossível, assim que os olhinhos redondinhos e fascinantes do mais novo, sempre alegres e curiosos, estavam a transbordar lágrimas e solidão.

" – Eu não te quero... Perder. Foste a pessoa mais importante na minha vida e... E...".

Impedindo-o de continuar, Cipher puxou o pulso com força, fazendo o mais novo levantar-se e receber um abraço apertado e firme do outro, já que o loiro soluçava contra o ombro dele, em desespero.

Pestanejou duas vezes e retribuiu já sem forças, limitando-se a agarrar-lhe novamente a roupa, como tinha hábito de fazer.

Os soluços dessincronizados, ambos a tremer e tentar conter-se no meio daquele mar de gente, enquanto pareciam quase arranhar as vestimentas um do outro, no maior penhasco que já se tinham encontrado:

O desespero.

" – Tens... De voltar". – Murmurou a voz do mais pálido, engolindo lentamente em seco. – "Prometeste. E vais cumprir".

" – E para de falar no passado". – Repreendeu o loiro, afastando-se lentamente e dando-lhe um peteleco com força em cima da pala do boné do moreno, fazendo-lhe tapar os olhos e dar um grunhido para se queixar. – "Eu não morri ou assim, está bem? Vai tudo ficar bem".

Subiu lentamente o boné, observando os olhos inchados do mais alto, que agora os limpava com o indicador dobrado.

E, num suspiro lento, depois de encher muito o peito, pegou no suporte da mala de rodinhas, esticando uma mão.

" – Então... Até depois, senhor Dipper Pines?".

O moreno olhou lentamente para a mão fina e de dedos altas do outro, dando uma gargalhada baixinha e esfregando o olho com a mão esquerda, apertando com a direita.

" – Senhor amor da tua vida. É mais fácil".

Bill afastou lentamente a mão e com dificuldades, já que Pines parecia decidido a ficar ali o resto da vida, se fosse preciso.

E olharam-se uma última vez.

Um deles, muito alto. Pele bronzeada e coberta de sardas atraentes. Cabelos rebeldes e levemente enrolados nas pontas, de um loiro muito amarelo. Nariz fino e empinado, sempre a deslizar os seus óculos pretos e grossos, hipsters, já que a cana do nariz tinha feições perfeitamente diabólicas e tinha um ar de que estava sempre a engendrar um plano para enganar alguém, numa partida idiota. O sorriso que parecia um camaleão de sentimentos – Podia ser de felicidade, ou ternura, mas também de malícia e brincadeira –. Roupas amarelas e nunca mais as ia largar, já que finalmente voltara a ver a cor e, como sempre dizia "O amarelo é mesmo a cor mais bonita, hãn?". Ah. E sem esquecer do fiel laço preto ao pescoço.

O outro, muito baixo. Pele branquinha e lisa, suave, semelhante a de um bebé. Cabelos sempre desarrumados e muito redondinhos, com uma franja a esconder a marca de nascença igual à ursa maior. Um sorriso lindo, que transbordava de inocência, harmonia, ternura e amizade, com os dentes da frente levemente maiores que o normal – E que, desde já, o outro amava –. Roupas muito variadas e sempre de tons diferentes, devido ao daltonismo, mas que pouco se importava; Tinha quase sempre o seu chapéu azul.

Bill Northwest Cipher.

Dipper M. Pines.

(Ele gosta de manter o verdadeiro nome em segredo).

17 anos.

15 anos.

Inglaterra.

América.

E amigos inseparáveis.

O loiro libertou um último sorriso. Não forçado. Nada triste nem débil. Uma última recordação temporária para o moreno, já que esperava do fundo do coração – E acreditava –, que ainda poderiam falar pelo Skype.

E virou costas. Andou em passos lentos e calmos, a arrastar a mala amarelada e de alguns detalhes alaranjados até à cancela para realizar o Check In.

Mas as perninhas de Pines correram rapidamente até alcançar o mais alto que, num salto, afundou-lhe o boné na cabeça.

Confuso, o olhar rasgado de Bill fintou-o, voltando-se para trás e observando um sorriso de orelha a orelha e a mostrar os dentes do menor.

" - Para te lembrares de mim na Inglaterra e da nossa promessa, Oxigenado".

E depois de uns segundos a proceder a informação, sorriu de orelha a orelha e retirou o laço lentamente do pescoço, colocando-o delicadamente no do outro.

" - E para te lembrares de mim aqui, em Gravity Falls. Na minha verdadeira casa".

" - E única".

" - Eu referia-me ao teu coração. Não à cidade, otário!".

E gargalharam, ouvindo um homem gritar para o voo TP606 mais uma vez, fazendo os dois sorrirem de forma fraca e o mais alto virar costas.

Passou por uma portinha, que o impedia de voltar atrás.

Mas, ainda assim, era visível aos olhos do nosso querido moreno e personagem principal.

Colocou um pé na escada rolante, depois de hesitar um pouco. Respirou fundo, fechou os olhos, tentando mentalizar-se que teria de seguir em frente, mas que ia voltar.

Por ele.

E começou a subir.

Pines apercebeu-se do desespero apoderar-se a uma velocidade incrível de todo ele, já que juntou as mão estendidas e de lado à boca e berrou.

" – Hey, Oxigenado!!".

Os olhos rasgados e cobertos de lágrimas fitaram-no mais uma vez, apercebendo-se que os dois estavam arrasados.

" – O Lilás!! É a cor do amor também! Da transformação, dignidade e piedade! Então, tira-me essa cara triste do rosto porque eu gosto de ti é a sorrir e vamos esperar que esta transformação nas nossas vidas não nos separe e só fortaleça a nossa relação!".

Piscou os olhos duas vezes e sorriu de orelha a orelha, imitando as mãos do moreno e berrando, instantes antes de desaparecer do campo de visão de Dipper.

" – Eu amo-te!".

E, fechando os olhos com força e um sorriso enorme a mostrar os dentes, Bill Cipher não apareceu mais ao olhar do mais novo.

E foi quando começou a perceber o Lilás.

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