COLOURS △ BillDip [Wattys2017]

By Marta___Tata

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[Livro 1 de 2] Cipher foi traído pela sétima vez. Cansado de uma vida desanimada, com meninas fúteis e ego... More

Aviso
Gray - A cor da solidão.
White - A cor da pureza.
Black - A cor do isolamento.
Azul - A cor da harmonia e do Dipper.
Laranja - A cor da alegria e da amizade.
Indigo ou Anil - A cor da sinceridade.
Castanho ou Marrom - A cor do conforto.
Roxo - A cor do mistério e dos... Ciúmes?!
Amarelo - A cor da alegria, do otimismo e descontração. E a cor do Cipher.
Lilás - A cor da transformação, piedade e dignidade.
Vermelho - A cor da paixão, do perigo e da tentação.
Verde - A cor da esperança e juventude. E a cor deles.
Rainbow - Colours! A cor do arco-íris e da bandeira homossexual!
Final. Ou então, parte 2!
Preciso da vossa resposta sincera.
Update: Webtoon de Colors!

Rosa - A cor da ternura e romantismo.

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By Marta___Tata


Oh não.

O nosso Cipher loiro estava doente.

Foi ao médico dia trinta de Dezembro, o que impediu de ter passado essa tarde com os Pines e os seus irmãos, na casa dos amigos gémeos.

Ficou a noite todo acordado, com insónias, o coração a bater muito rápido e a transpirar muito, apesar do frio tremendo que se fazia em Gravity Falls.

Primeiro, fez alguns testes e análises que o médico solicitou. Mas não encontrou nada de grave.

Novamente, pediu gentilmente para o alto repetir os sintomas. E assim, o loiro obedeceu, especificando exatamente quando os sentia – Desde que ficava levemente nervoso e, ao mesmo tempo, nas nuvens ao pé do amigo e também desde aquele ataque de ciúmes inexplicável que ele não conseguia mais tirar Pines da cabeça –. Mas, obviamente, a censurar-lhe o nome.

O médico, rechonchudo e de cabelos grisalhos, quase extintos, limitou-se a gargalhar, dando-lhe uma forte palmada nas costas, muito aliviado por não ser uma doença grave.

Ou não ser uma doença em si.

" – Meu pequeno Bill, eu acompanho o teu processo medicinal desde que és uma criança... Isso são sintomas de que estás apaixonado!".

...Apaixonado?

Não. Tem de haver um engano.

Tinha de ser um engano.

Ele não podia...

Ele não estava...

Ele não...

Oh não.

Bill Cipher estava apaixonado pelo melhor amigo, Dipper Pines.

E aquele diálogo irritante com o médico a sorrir-lhe gentilmente não lhe saiu da cabeça o resto do caminho para casa – Ele recusava-se a ir de limousine e preferia ir de Bus –. Com a música no volume máximo de Fall Out BoysLight'em up para se esquecer dos problemas, fechou os olhos com a cabeça encostada no vidro gelado do carro em andamento.

Praticamente vazio, assim como a sua mente, libertou um sorriso por conseguir esquecê-lo. E isso só provava que o Doutor Charles Louise estava mais que enganado.

Mas o sorriso evaporou-se ao ver Dipper, na sua mente, a sorrir-lhe gentilmente. A puxá-lo pelo pulso, como todas as manhãs na escola e contar-lhe sobre as aventuras e desaventuras que tivera no dia anterior, no fim de semana, no período da noite em que não tinha falado com o loiro ou até de momentos idiotas. Os seus olhos castanhos escuros e brilhantes, grandes e pestanudos a fitá-lo sempre com curiosidade de saber mais e mais; Um sinal muito fofo no lábio superior, mesmo em cima da linha que separava a branquidade da pele dos lábios carnudos e avermelhados dele, tão bonitos que parecia ter usado Gloss; Os seus pulsos finos, as mãos suaves e aqueles dentes alinhados e levemente maiores à frente, formando dois adoráveis dentinhos de coelho; A forma do cabelo castanho um pouco mais claro que o da sua irmã, com a franja de lado para lhe esconder a coisa que mais amava nele – A marca de nascença na testa da ursa maior, que Pines odiava mas o loiro adorava tocá-las com o indicador, enquanto ele dormia e as unia, como fizera secretamente quando dormiram no sofá.

E sabem como era o rosto angelical e adorável do mais novo a dormir? Relaxem, o Cipher conta-vos!

As bochechas eram tão gordinhas que não precisava de nenhuma almofada. A respiração calma e serena, que saia da sua boca levemente aberta e o fazia roncar muito baixinho de vez em quando ou a fazer barulhos de respiração. Os olhos lindos cobertos pelas pálpebras claras e finas, com a marca de nascença acastanhada à morta e o sinal no lábio, mesmo sendo muito pequeno e claro, parecia chamá-lo para um beijo.

...Oh merda.

Ele estava mesmo apaixonado.

[...]

" – Oxigenado!". – Alegrou-se o moreno, sentando-se na cama com um salto, outrora deitado, com o telemóvel na orelha direita e a falar com o amigo. – "Finalmente atendeste!".

" – É...". – Disse sem grande ânimo, deixado na cama do seu quarto amarelado e de barriga para cima, ainda sem acreditar no que estava a acontecer.

" – Ah... Correu tudo bem no médico, certo? Já não estás doente?".

Aquela preocupação deixava o loiro encantado.

Mas ele não podia estar apaixonado.

E isso incluía ter desejos sobre o seu coração para parar de ficar tão rápido ao ouvir, simplesmente, a voz do mais novo.

" – Oh, sim!". – E forçou uma alegria constrangedora para si mesmo. – "Era só uma constipação, nada demais".

" – Entendo... Então, sempre vais poder passar o ano novo connosco?! Yey!". – Gritou através do aparelho, fazendo Bill afastá-lo da orelha por momentos e gargalhar.

" – Acalma-te, baixote. Eu ia de qualquer forma e nada me ia impedir de passar contigo a passagem de ano, certo?".

Ele sentia-se um extremo idiota a sorrir para o telemóvel.

" – Bem, falei com os meus pais e vamos jantar fora todos juntos! Depois, vamos passar a passagem de ano novo lá na festa do réveillon e depois vamos para casa, continuar a festejar, porque eles têm receio de que volte a nevar muito e possa ficar perigoso...".

" – Parece-me uma ideia fantástica!". – Alegrou-se o bronzeado, com um sorriso ainda maior. – "A Pacífica e Will vão, certo?".

" – Claro. Espera aí, não falaste com eles?".

" – Nah. Eu só fui ao médico e eles ficaram aí em casa. Os meus pais estão a trabalhar. Resumindo, estou praticamente sozinho em casa".

...Silêncio.

" – Então... P-Posso ir aí ter contigo?".

O loiro sentiu a face ficar extremamente quente, devido ao sangue lhe subir ao rosto.

Ter o Pines sozinho com ele em casa e no quarto, depois de descobrir que (supostamente) estava apaixonado por ele?!

Metade dele implorava e gritava-lhe no cérebro quem sim; A outra metade tinha receio.

Num suspiro arrancado dos lábios, lá respondeu depois de algum silêncio.

" – É melhor não...". – Concluiu. – "Ainda tenho alguns empregados cá em casa e eles são capazes de nos chatear".

Mentira.

Estavam todos de férias.

" – Ah, entendi!".

Cipher conhecia-o com a palma da mão; Aquela felicidade toda era falsa.

O moreno ficou triste com a resposta do mais velho.

Mas este nem se dignou a redimir.

" – Acho que hoje é melhor não sair de casa, para não piorar... Vêmo-nos amanhã?".

" – Oh... Não queres mesmo, assim... Que vá ter contigo?".

Porra, Pines! Para lá de insistir!

" – Não".

Mesmo que Bill não pudesse ver, o moreno descaiu os ombros e deslizou o olhar da parede do quarto até ao chão.

" – Entendo... Então, até amanhã".

E desligou, sem esperar resposta, com um vazio no peito e uma dor pesada.

Já o loiro, ficou a ouvir o barulho da chamada terminada e aquele beep, beep, beep! irritante, a interiorizar a conversa toda, enquanto se mentalizava que tinha perdido uma oportunidade perfeita para lhe ver o sorriso.

Pensou em discar novamente o número do amigo, com um sorriso idiota e a pensar em como lhe convidar para a sua casa naquele momento.

Mas o sorriso morreu-lhe, ao relembrar-se do que o médico lhe disse.

"Estás apaixonado".

E o indicador, que tão rapidamente tinha discado o número, apagou-o bem lentamente.

Pelo bem de Dipper, ele não se podia apaixonar por ele.

Porque ele não queria que acontece-se um episódio de um Luciel 2.0.

[...]

Ano novo!

Que data fantástica!

E um dia extremamente especial para os gémeos Cipher.

O dia em que todo o passado vai para trás das costas, com promessas lindas para o futuro e queremos passar essa data memorável e aquela meia noite com a pessoa perfeita ou quem nós mais ama-mos.

E, para Bill, isso resumia-se nos seus irmãos e na família Pines.

Mais especificamente, nele.

Apesar de amar incondicionalmente toda a gente, uns como irmãos e outros como amigos, aquele amor começou a revelar-se... Diferente.

Como se finalmente estivesse mentalizado da verdade nua e crua e do quão frito ele estaria se o pai sonha-se daquilo.

E o que ele tinha decidido fazer?

Nem ele mesmo sabia.

Mas aquilo, jamais, ia sair da sua cabeça e muito menos boca.

Manter em segredo, fingir que nada está a acontecer e esperar que esta paixoneta idiota passe é o plano do nosso personagem de cabelos loiros e alto, agora acompanhado do seu irmão gémeo e irmã mais nova, um de cada lado. A loira, de rabo de cavalo e com um casaco roxo tocou à campainha dos Pines, deixando todos com um sorriso de orelha a orelha e ansiosos para que a porta de madeira se abrisse.

E assim que isso aconteceu, a silhueta de Viktor foi observada, com um sorriso gentil.

" – Oh, são vocês, meninos! Entrem, entrem. A Mabel ainda está a arranjar-se e o Dipper ainda deve estar a jogar na Nintendo dele, como ele é...". – Conversava, enquanto se desviava da entrada e via os três irmãos entrarem. – "Querem comer alguma coisa? Ainda deverá demorar até irmos todos jantar".

Pacífica agradeceu com um sorriso, negando. Já Will aceitou, por não comer nada há um bom tempo.

Mas o nosso loiro olhava para todos os cantos da casa, o que não passou de despercebido para o pai dos gémeos Pines.

" – Está tudo bem, Bill?". – Perguntou, num tom curioso. Ficando muito direito como uma flecha e a tremer de nervos, gaguejou com uma gargalhada nervosa e forçada.

" – A-Ah, está sim, senhor Pines! Hehe...". – E terminou, a esfregar os seus cabelos loiros da nuca.

" – Já te disse que é Viktor, Bill, não senhor Pines...". – Murmurou, esfregando os cabelos do rapaz. – "Vamos lá Will, vem comigo à cozinha. A mãe deles deve ter feito alguma salada de frutas, porque sabe que é a tua sobremesa favorita!".

" – A sério?! Muito obrigada!". – Agradeceu o azulado, dirigindo-se à cozinha e a seguir o homem, ainda no seu tom de voz calmíssimo.

Cipher estava inquieto.

Era como se aquele ambiente, do nada, se torna-se super stressante e asfixiante. Como se estivesse um mar de pessoas ali, naquela casa, a cercá-lo e não os pais dos amigos que tanto gostava, os próprios Pines ou os seus irmãos.

Ele sentia-se sem ar. Sem saída.

" – Bill... Está tudo bem?". – Sussurrou a voz da irmã, num tom de preocupação. Colocou a mão delicadamente por cima do seu ombro, enquanto lhe observava o olhar. – "Estás tenso hoje. Não pareces tu...".

" – Eu só... Não me sinto muito bem, Peace". – Respondeu, dirigindo-se rapidamente pelo corredor dos quartos afora, para se escapar a mais algum interrogatório da menina.

No desespero, entrou na primeira porta que encontrou e fechou-a com força, atrás de si, suspirando de alívio por ter fugido.

...Até entender que tinha entrado no quarto dele.

Ainda mais tenso e nervoso que antes, olhou o quarto à sua volta.

Vazio, para seu grande alívio. E o som do chuveiro da casa de banho indicava que ele estava a tomar duche, o que lhe dava ainda algum tempo antes de confrontar aqueles olhos hipnotizantes.

Os seus olhos encravaram na Nintendo azul aqua do moreno, pousada delicadamente na cama desarrumada, libertando um sorriso leve e dirigindo-se a ela. Sentou-se ao seu lado e abriu-a com cuidado, para observar o jogo que ele estava a passar no momento.

Pokémon.

A sério? Mas quantos anos é que ele tinha?!

Deu uma gargalhada baixa, começando a relembrar a infância e a entender o quanto aquele jogo tinha mudado, tanto em questão de gráficos como em jogabilidade e complexidade; Coisa que o deixou interessado.

" – Estou a ver que estás a gostar de Sun e Moon".

A sua cabeça virou-se rapidamente para Pines, que estava apenas de boxers azuis e brancos, às riscas. O seu corpo, húmido do banho e com a toalha à volta do pescoço e de cabelos encharcados, tinha um sorriso relaxado e estava apoiado de lado à porta branca da casa de banho.

A maçã de adão do mais velho subiu e desceu lentamente, tentando evitar cravar as unhas na consola do amigo, afinal, ele estimava-a com a sua vida.

Os passos lentos e normais, mas que à visão de Cipher eram completamente sedutores e ele daria tudo para que fosse na direção dele e não do armário, fizeram-no começar a transpirar de forma fria, enquanto humedecia os lábios secos e forçava a respiração para ficar calma e não suspirar.

...Agora que admitira para si mesmo, ele iria jurar que as coisas tinham facilitado. Não dificultado!

" – Isto não é Pokémon?". – Perguntou, finalmente, assim que o moreno já estava de frente para o armário e lhe via as costas nuas, enquanto se mexiam de um lado para o outro, enquanto escolhia o que vestir.

" – É claro que é, idiota!". – Respondeu, revirando os olhos e com um sorriso, a pegar numa camisa, colocando-a à frente do corpo. Torceu o nariz e voltou a guardá-la. – "Chama-se Pokémon Sun e Moon. São os novos jogos da franquia".

Agora estava claro.

" – Ah... Entendi". – Sussurrou, observando agora com mais cautela cada traço da tela. – "Os gráficos mudaram muito, hãn? A última vez que joguei eram imensos píxeis. Agora, está em... 3D?". – Terminou, em tom de pergunta e ao observar a Nintendo, como se fosse um alien.

" – Yap. Embora o botão de 3D seja desligado nesse jogo. Prejudica muito a visão das crianças". – E terminou, virando-se de frente para o amigo, com um sorriso inocente.

" – Então prejudica a tua visão". – E levantou uma sobrancelha, com um sorriso de canto.

" – Hey!". – Protestou, cruzando os braços. – "Eu só sou um ano mais novo do que tu, espertinho. Não me venhas com essa!".

" – Wow, cuidado!". – E estendi as palmas das mãos à frente do meu corpo, de forma inocente. – "Temos um rapaz de quinze anos na área! Alerta, polícia!".

Ele revirou os olhos e voltou a virar-se, sem qualquer interesse.

" – Eu não sou nenhuma criança, Cipher. Então, para de me tratar como uma!".

O loiro arqueou as duas sobrancelhas.

" – Cala-te. Tu adoras quando eu te trato assim".

Por essa é que o mais novo não esperava, paralisando um pouco.

" – Como é que podes ter tanta certeza?". – E fitou-o de lado.

" – Da forma como ages. Nunca reclamaste disso antes, porque reclamarias agora, do nada? Oh, espera! Isso é alguma promessa para o ano novo?".

E gargalhou, abraçado à barriga e a rebolar na cama.

" – Ah Ah Ah...". – Pines bateu com a porta do armário com força, dirigindo-se à casa de banho. – "Vou-me vestir, otário. Estou pronto em cinco minutos".

" – ...Porque é que não te vestes aqui?".

Um tenso silêncio pesou pelo quarto, até Bill ter entendido que tinha falado em voz alta.

E o corpinho semi-nu de Dipper tremeu, encolheu-se e ficou quieto, exatamente por esta ordem, sem saber como reagir e já com as orelhas a ficar vermelhas.

" – E-Eu estou a brincar, idiota!". – Exclamou muito mais alto do que pretendia e todo atrapalhado. – "Achas mesmo que eu te quero ver assim?!".

O moreno não respondeu. Entrou na casa de banho e fechou a porta muito rapidamente, com o coração aos saltos. Depois, num suspiro, murmurou.

" – ...Acho. Ou assim espero".

[...]

O jantar estava completamente divertido.

Numa mesa retangular e encostada à parede ao lado direito, os pais dos Pines sentados frente a frente; Ao lado esquerdo da mãe estava a irmã Cipher, com Mabel ao seu lado e seguida de Will. Já do outro lado, a ordem era Viktor, Dipper e Cipher.

Todos falavam entre si animadamente dos mais variados motivos. Mas Cipher não estava nada animado.

E, não só Dipper, mas principalmente Will tinha notado nisso.

" – Hey, Oxigenado...". – Sussurrou-lhe Pines, fazendo-o deslizar o olhar para o moreno. – "Está tudo bem?".

" – Está sim, Pinetree...". – E sorriu de leve, enfiando uma garfada de arroz na boca.

" – Não me enganas".

O loiro fitou-o de lado.

" – Engano sim".

" – Na na ni na não. Eu conheço-te melhor do que ninguém. E eu sei que se passa alguma coisa contigo...".

Cipher arrancou um suspiro, como se a cada palavra que o mais baixo pronuncia-se, lhe partisse mais o coração.

" – Que horas são?".

" – Ah...". – E observou rapidamente o pulso esquerdo. – "Quinze minutos para o ano novo".

Ditas tais palavras, o loiro colocou os últimos bagos de arroz e juntou os talheres, sinal de que tinha terminado.

E ficou calado, a ver toda a gente divertida, enquanto Dipper e o seu gémeo o observavam preocupados. Já Pacífica, estava tão entretida com os pais dos Pines que nem sequer notou, mas que se desculpou mais tarde por isso.

E foi a gota d'água para o mais novo quando percebeu que Bill ia ficar todo quieto, naquela hora.

Quer dizer... Ele admirava-o tanto e adorava a forma de ele ser! Ele não podia tornar-se, do nada, triste e calado, sem um pingo de animação, ainda por cima numa data tão especial!

Então, os lábios do moreno deslocaram-se lentamente contra o ouvido do maior, que corou ao sentir a respiração quente e num sussurro lento, que o arrepiou completamente.

" – Podes... Ir ali comigo?".

E humedeceu os lábios.

Limitou-se a olhá-lo lentamente e assentir, cheio de nervosismo e surpresa. Dipper deu a velha desculpa de irem para o banheiro e puxou-o pelo pulso, deixando apenas o azulado com um sorriso de leve.

" – O Dipper já sabe?". – Sussurrou Pacífica bem baixinho para o irmão mais velho.

" – Acho que sim... Veremos". – E limitou-se a cruzar os braços, com um sorriso convencido.

...

Assim que entraram no banheiro, ele fechou a porta automaticamente e os dois observaram-se, sérios.

" – Okay. Chega de jogos, Bill!". – Começou o moreno, levemente irritado. – "Andas estranho ultimamente. E não me venhas com a desculpa do Luciel, porque eu conheço a diferença das tuas tristezas".

Num suspiro baixo, o mais alto nem se atreveu a negar.

" – É que... Toda a gente se esquece".

O mais baixo pestanejou duas vezes.

" – Ah...?".

Cipher arrancou uma respiração funda e esfregou a nuca, cabisbaixo.

" – Do meu aniversário... Dipper. Eu faço anos. E nem tu te lembraste".

Aquilo foi uma facada para o mais novo.

" – A... E-Eu...".

" – Não te culpo. Eu e o Will somos gémeos, mas toda a gente só se lembra do aniversário... Dele. Os meus pais só lhe dão presentes. Não a mim. Mas decidi-mos não contar à vossa família que era a nossa data de nascimento. Embora eu te tenha contado há algum tempo e tu... Esqueceste-te".

Viu-se o pescoço de Pines mexer-se lentamente, assim que engoliu em seco.

" – B-Bill, desculpa-me, eu não...".

" – Tudo bem". – E sorriu. Um sorriso extremamente forçado. – "Ninguém sabe do meu aniversário. Não gosto muito de me lembrar dele porque só me lembra... Sei lá, parece que eu sou a causa dos problemas todos dos meus pais, entendes?".

Limitou-se a assentir timidamente e completamente envergonhado pelo que estava a acontecer.

Como é que ele se podia ter esquecido do aniversário do melhor amigo?! Depois de tudo o que ele lhe tinha feito, do quão bem lhe tinha tratado e protegido, fora a felicidade e diversão que lhe proporcionou nestes seis meses.

Seis meses.

É um tempo suficientemente grande para lhe esclarecer os pensamentos?

" – Eu... Eu tenho algo para ti de aniversário, Cipher". – Deixou escapar dos lábios um sussurro bem baixo, arrependendo-se imediatamente do que tinha dito.

Mas a cara de pura felicidade do maior foi impensável para voltar a trás.

" – A sério?! Tu lembraste-te?!". – Exclamou, quase aos saltos. – "Não era preciso um presente, sabes? Bastava algo feito por ti ou um parabéns!".

...Apesar de ser óbvio que o loiro queria receber nem que fosse algo escrito do melhor amigo.

Dipper esfregou o braço e deu uma risada atrapalhada, desviando o olhar discretamente para o relógio.

Sete minutos.

Talvez... Talvez não fossem precisos seis meses para se esclarecerem.

Sete minutos era o bastante.

Sete cores do arco-íris.

Sete cores.

Sete dias da semana.

Sete.

Em Janeiro do ano seguinte fariam sete meses que se conheciam.

Dipper achava que sete minutos era mais que suficiente.

Mas a atitude não.

" – Então... O que é que me fizeste?". – Murmurou, num tom de leve curiosidade e despertando o mais novo dos pensamentos. Num suspiro arrancado do peito pesado, olhou lentamente para os lados.

Depois, para grande surpresa do outro, estendeu o mindinho à frente dos dois, ficando sério e tenso.

" – Lembras-te da nossa promessa?".

Os olhos amarelados e rasgados do mais alto pestanejaram duas vezes.

" – Foram tantas... Qual delas?".

" – A principal. Das cores".

" – Yap, claro que me lembro... Mas porquê isso agora?".

" – Quais é que já consegues ver?".

" – Ora vejamos...". – Murmurou, pensativo e a estender um dedo para o alto assim que mencionava alguma. – "Pela ordem, azul, laranja, anil, castanho e roxo".

" – Rosa". – Completou.

O loiro olhou-o de forma estranho.

" – Rosa? Mas eu não consigo ver o rosa".

" – Mas vais". - E encolheu o dedo, com um sorriso leve. - "O rosa... É a cor da ternura. Da ingenuidade e do romantismo. Em outras palavras... Do amor".

E agora é que o maior estava completamente confuso.

" – Onde raios queres chegar com isto tudo, Pinetree?". – Murmurou a pergunta, com uma careta estranha.

Os olhos grandes e acastanhados de um nervosismo enorme deslizaram até ao relógio de pulso.

Cinco minutos.

" – E lembras-te do que me prometeste, em troca das cores?".

" – Daquilo de te deixar menos tímido e começares a aproveitar mais as oportunidades?". – Arriscou o de pele sardenta e bronzeada, recebendo um sinal positivo com a cabeça do mais baixo.

" – Exatamente. Que eu ia aprender a aproveitar as oportunidades à minha volta. Que me ias tornar menos tímido e mais... Tu. E eu admiro-te imenso, a sério. Eu amava ser como tu".

Aquele foi o melhor elogio que Cipher já tinha recebido. E isso foi confirmado pelo ruborizar leve das maçãs da cara.

" – Eu nunca admiti isto em voz alta e não acredito que o estou a dizer, mas...". – E as orbes redondinhas e enormes de um castanho puro fitaram o relógio. Quatro minutos. – "Quando te conheci, tu eras o meu ídolo; Talvez ainda sejas".

" - ...Talvez?". – Murmurou, enchendo o peito de ar e numa pose convencida.

" – Cala a boca e ouve-me, estou a tentar ser fofo!". – Resmungou, deixando o outro a gargalhar.

Exatamente.

Pines precisava de tempo. E era isso que Bill lhe estava a dar, sem mesmo entender.

" – Se já acabaste o teu discursinho lindo a dizer que me admiras, amas e veneras e etc, está na altura de irmos ter com eles!". – Afirmou o aniversariante, com um leve sorriso e a apontar para a porta fechada da casa de banho atrás deles. – "Quero passar o ano novo com toda a gente".

Três minutos.

O mais pálido estava tão tenso e nervoso que podia jurar já estar da cor de um pimento, sem nem mesmo olhar-se ao espelho.

Coisa que ele fez logo em seguida de forma discreta e confirmou o que tinha dito antes.

" – Eu... Eu não". – Murmurou baixinho, deixando o sorriso do maior morrer, o peito descer e lançar-lhe um olhar preocupado.

" – Como assim, Pinetree? Está tudo bem?".

" – Não. Não está".

Dois minutos e meio.

" – O que... O que se passa entre nós os dois?". – Murmurou o mais baixo, direto e reto e completamente cansado da sua forma de ser como estava, nos últimos dias.

" – C-Como assim...?". – Sussurrou o de camisola de lã amarela e sem mangas, com uma camisa social branca por baixo e um laço preto ao pescoço.

" – Não te faças de desentendido. Tanto tu como eu já percebemos que isto... Está estranho. A nossa amizade está a mudar e eu estou a ficar extremamente preocupado".

Cipher suspirou de forma bem funda, colocando o peso todo de um pé para o outro, esfregando os cabelos loiros da nuca, nervoso.

Dois minutos.

" – Dipper, e... Eu também adoraria responder. Mas eu não sei também".

" – Mas, ao menos, admites que algo se passa, certo?".

" – Uhum. Isso está mais que óbvio. A nossa amizade era tão inocente, divertida e a cantar Fall Out Boys... A descobrir cores novas e éramos uma equipa. Mas parece que isso tudo mudou, simplesmente, do nada".

" – ...Ou desde que me contaste do Luciel".

Os olhos rasgados fitaram-no rapidamente, assim que disse a frase.

" – Então, tu...?".

" – Achas mesmo que eu não percebi, Oxigenado? Eu conheço-te. E estás extremamente desconfortável por me teres dito aquilo, apesar de achares que fosses ultrapassar e esquecer, como se fosse um capítulo idiota da tua vida".

O loiro não respondeu, baixando o olhar.

Um minuto e meio.

" – Eu achava mesmo que... Eu ia conseguir voltar a dormir normalmente. Sem mais pesadelos nem chatices. E depois, tu decides aparecer! Apareces e tornas-te uma pessoa ainda mais divertida, perfeita e tudo a mais que ele! E isso inclui ser irritante!". – Terminou de admitir, a reclamar na última parte.

" – Ah, então, agora a culpa é minha?!".

Um minuto.

" – Olha...". - Suspirou, decidido a tornar aquele momento sem nenhuma discussão. - "Lembras-te de me teres dito que me ias ajudar a tirar esta porcaria da timidez e a tornar-me uma pessoa mais direta e ativa no dia a dia?".

" – Já te disse que sim agora mesmo, idiota!". – E cruzou os braços, impaciente. – "Pines, falta menos de um minuto. Vamos andando. A.Go.Ra!".

Mas assim que se virou costas, a pele pálida fez um contraste incrível com a bronzeada, ao segurar-lhe pelo pulso e olhando-o nos olhos, assim que o maior se virou para trás, confuso e já sem entender nada.

Dipper ficou sério. Ignorou a timidez. A vontade de correr dali. A vontade de tremer de nervos ou stress ou até mesmo os pensamentos negativos.

Ele precisava de fazer aquilo.

Tanto por ele como pelo Bill.

" – Eu tenho uma forma de resolver-mos isto. De esqueceres o Luciel de uma vez por todas e voltares a ficar sem esse peso no teu peito. E de volta-mos à nossa amizade normal".

O outro pestanejou duas vezes.

" – E este é o meu presente de aniversário para ti, loiro idiota". – E libertou um leve sorriso.

Trinta segundos.

" – A sério, meu. Às vezes não te entendo!".

Numa gargalhada baixinha, Pines respondeu.

" – Eu sei. E é por isso que deves gostar de mim, não? Sou imprevisível".

" – Mas como raios é que vais fazer isso?".

Vinte segundos.

" – Rápido. Responde-me. Se pudesses escolher qualquer pessoa deste restaurante para passares o ano novo só com ela, com quem seria?".

" – Ah... E-Eu sei lá! Assim, de repente?!".

" – Sim, sim! Rápido!".

Quinze segundos.

" – Eu gosto muito dos meus irmãos e da tua irmã, mas tu és o meu melhor amigo também!".

" – Eu não perguntei isso! Escolhe um de nós, rápido!!".

Dez segundos.

" – Talvez... Tu?".

E sorriu de orelha a orelha.

O mais baixo puxou-o pelo pulso e colou os dois corpos completamente, tendo de olhar para cima para poder observar o rosto completamente confuso, de um mar de sentimentos enormes e completamente ruborizado, já sem entender mais nada.

Vincou mais a mão contra o pulso do maior, para ter a certeza de que ele não ia fugir.

Nunca mais.

Dipper já não aguentava mais sem ficar ao pé dele. E aquela era a única forma de salvarem a sua amizade.

Sendo sinceros para com cada um sobre os seus sentimentos.

Cinco segundos.

" – E eu vou fazer tudo de uma vez, Bill. Vou ensinar-te mais uma cor, vou tomar a atitude de uma vez e pela primeira vez, e ser sincero para contigo e para comigo".

E ignoraram os foguetes de artifício que soaram fora do restaurante. Os urros, gritos, assobios e palmas para com a festa.

Porque tudo isso estava no estômago deles, assim que Pines lhe tocou com os lábios e o beijou.

E, pela primeira vez, o loiro finalmente soube o que era provar a cor do amor verdadeiro – Rosa.


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