Quase, sem querer

By JssikaSoares

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Anne é uma garota de temperamento forte, que após perder a mãe muito nova, se revolta com a vida a ponto de s... More

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Epílogo_(FINAL)
Agradecimentos
Saiu livro físico ❤

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By JssikaSoares


3 ANOS DEPOIS

I torture you

Take my hand through the flames

I torture you

I'm a slave to your games

I'm just a sucker for pain

I wanna chain you up

I wanna tie you down

I'm just a sucker for pain

Meu corpo pingava, minha camisa estava encharcada, e minhas pernas pareciam se mover sozinhas. A cada batida da música, meu olhar se tornava duro, ao encarar meu reflexo. Já fazia trinta minutos que eu pulava corda, sem parar, em frente ao espelho, em cima do tatame, com a habilidade que jamais imaginei que teria. Eu alternava a corda, em movimentos cruzados, que formavam um X no ar.

Eu não conseguia parar, mesmo que respirasse com dificuldade, e estivesse completamente molhada de suor. Precisava de distração, tirar a minha cabeça da montanha russa, e mantê-la focada no que era preciso. Eu queria folego, e não as definições que eu já tinha marcado no meu abdome. Respirar, mesmo quando o ar não parecia mais presente, era tudo que eu precisava. Então continuei.

Os fios do meu mais novo cabelo, estavam grudados no meu pescoço, assim como a franja enorme no meu rosto, me dando a aparência de uma lutadora em pleno combate.

-Confesso que amei seu cabelo curto.- disse Pan parando para me ver treinar.- Na altura do queixo e com franja comprida, jamais imaginei você assim Rapunzel.- ela ria com ironia.

Parei de pular para revirar os olhos.

-É mais prático.- coloquei a franja para trás da orelha, tentando prender o cabelo completamente molhado.

Pan deu de ombros, como se dissesse "se você diz".

-Desde quando você é fã de Rap?- ela ergueu uma sobrancelha.- Nathan esta corrompendo você também?

Revirei os olhos mais uma vez.

-Não tenho tempo, nem para ser influenciada, ultimamente.- enrolei a corda e larguei no armário onde ela ficava. Peguei a tolha em cima do banco, e passei por Pan, que só me encarava. Mesmo que a nossa relação, tenha se desenvolvido, eu nunca ia me acostumar com o jeito direto que ela falava as coisas.

Muita coisa tinha mudado na minha vida, coisas de mais, para uma pessoa normal como eu. O que devo confessar, me animou bastante.
Tinha descoberto a minha vocação na vida, estava dedicada completamente ao jiu jitsu, tanto que tinha ganho a medalha do ultimo mundial na faixa azul. Foram 39 campeonatos, e em apenas 6 sai com a medalha de prata. Tinha ganho mais dinheiro, do que sabia ser possível, ganhar no mundo do jiu jitsu. As lutas finais, no peso absoluto, aquele que não tem um peso limite, tinham me rendido mais dinheiro do que eu ganharia em um ano de trabalho.

Aquele se tornou meu mundo cada vez mais, ao ponto de eu passar mais tempo na academia, do que na minha própria casa. Na faculdade tinha finalmente decidido meu curso, ia fazer educação física e juntar todo dinheiro que pudesse, para em um futuro próximo, poder abrir a minha própria academia.

Eu queria viver daquela arte para sempre, vestir um Kimono e lutar para estar no rank dos melhores do mundo, tinha se tornado meu foco principal. E nada ia me atrapalhar.
Eu tinha me tornado uma guerreira, pronta para qualquer combate.

Treinava dez vezes por semana, em dois turnos diferentes, e estudava nos intervalos. No meu guardo roupa, as roupas tinham sido substituídas, pelos vários kimonos que tinha ganho nas competições, e as paredes do meu quarto, agora eram decoradas com diversas medalhas e troféus do mundo em que eu respirava.
As mudanças foram tão drásticas, que até meu pai, já estava treinando e gostando, cada vez mais, da minha nova religião.

Alexander tinha conseguido fazer seu milagre, ele não tinha só me disciplinado, como tinha equilibrado tudo dentro de mim. Em pouco tempo eu tinha me tornado o braço esquerdo dele, aquele que ficava ao lado oposto de Nathan, ainda que com a mesma intensidade de confiança. O homem, que agora eu chamava de mestre, ao ponto de quase esquecer seu nome, tinha me graduado a faixa roxa, em um tempo bem menor do que o de costume. Todo mundo comentava sobre a minha evolução, especulando os motivos que fazia Alexander gostar tanto de mim, e principalmente, achar que eu era capaz de ser graduada tão rapidamente. Claro, que as pessoas já imaginavam besteiras, como se eu tivesse coragem de um dia enfrentar Pam, ou até olhar para Alexander de outra forma que não fosse como uma filha.

Ele tinha acreditado em mim quando ninguém mais acreditou. Foi ideia dele, deixar a faculdade um semestre, para que eu pudesse fugir da confusão que tinha tornado a minha vida, assim como tinha sido ideia dele me inscrever no primeiro campeonato que participei. Ele via potencial em mim, sem que eu mesma visse, e graças a ele eu tinha me tornado uma pessoa melhor.

Eu ainda era intolerante, só que agora eu guardava meus pensamentos só para mim. Nem tudo que pensamos deve ser dito, e demorei a entender que tem que ser muito adulto para pensar dessa forma, bem ao contrario do que imaginava. Provocar uma briga não te torna forte, e sim evitar aquelas que você sabe que pode vencer facilmente.
Sim, estava bem mais madura e equilibrada.
Eu continuava uma fera selvagem, só que ninguém mais sabia disso.

Já estava vestida, com minhas roupas normais, aquelas que raramente usava, quando Nathan entrou na academia, com a sua faixa marrom pendurada no pescoço. Ele não olhou para mim, nem falou com ninguém que estivesse no tatame. O que era normal, vindo dele, nos últimos tempos.

Assim como eu, ele também tinha mudado muito. Depois que seu namoro de um ano e meio, com Mag terminou definitivamente, ele se tornou uma pessoa mais quieta. Eu já não conseguia ver o mesmo sorriso brincalhão nos olhos dele, assim como eram raras as vezes que ele falava com alguém, além do mestre.

Ele havia perdido o seu maior patrocinador, quando deixou Mag, mas aquilo não o prejudicou em nada. O que só provava o quanto eu estava certa.
Nathan tinha ganho o campeonato mundial junto comigo, tinha subido ao pódio ao meu lado, para tirar foto com a equipe, e ainda sim não pronunciou nem uma palavra em minha direção.
Tudo tinha mudado entre nós, definitivamente.

Mas quanto mais eu vivia naquele mundo, e mais gostava do que tinha me tornado, mais me atraia por ele. Nathan não era mais o garoto que eu conheci, ele tinha crescido muito, se é que aquilo era possível, já que o garoto era enorme.
Seu corpo estava mais definido, os olhos mais focados, o semblante mais carregado, assim como sua postura que agora parecia insuperável. Ele não era como a maioria em cima daquele tatame, não, ele tinha se desenvolvido mais até que alguns faixas pretas. Tinha ganho respeito de todos, com a mesma velocidade, que lotou a parede do seu quarto improvisado com medalhas.
O que só encheu o mestre, ainda mais, de orgulho do seu aluno prodígio.

Mas a mudança de Nathan não assustava só a mim, Alexander já começava a notar o quanto ele tinha se transformado, quando ele não fez questão de voltar para casa no Natal, dando preferencia pelos colegas de treino em uma festa improvisada. Parecia que ele tinha perdido o apreço que tinha pelas coisas simples, tinha se tornado mais obscuro, o que devo confessar, me atraiu ainda mais que as inúmeras tatuagens que ele fez ao longo do corpo.

-Estou indo embora Mestre.- gritei para que o homem pudesse me ouvir.

Nathan olhou na minha direção, com as sobrancelhas unidas, de forma bastante contrariada. Como se ouvir a minha voz danificasse seu sistema auditivo. Os olhares furiosos, e a irritação em suas feições, eram cada vez mais frequentes na minha direção.

-Amanhã é o grande dia, esteja cedo aqui. Quero que você e Nathan, ajudem os outros competidores.- disse o mestre, e apenas concordei antes de sair.

A única coisa que tinha me dado o luxo de comprar, tinha sido a minha moto. Não dirigia mais aquele modelo barato, agora eu andava por ai com um estilo clássico e assustador para alguém do meu tamanho.
E cada vez que eu olhava para ela, como estava fazendo naquele momento, sentia orgulho por ter finalmente ter realizado aquele sonho meu.
As coisas estavam bem melhores, no quesito dinheiro.

Quando cheguei em casa, meu pai já estava dormindo, como em quase todos os dias da semana. O dia seguinte me reservava mais uma grande disputa, e eu não conseguia deixar de me sentir inquieta. Sabia que era importante dormir, para estar com o corpo descansado durante a luta, mas não conseguia deixar de pensar sobre o assunto um segundo se quer. Eram assim todas às vezes. Sempre ficava difícil pregar os olhos, antes de trazer a medalha para casa.

Entrei no meu quarto e larguei as minhas coisas em cima da mesa de estudos. Estava tudo tão silencioso, que eu podia ouvir o som do meu coração bater contra meu peito. Andei até o guarda roupa, com os pensamentos a mil, e quando deslizei a porta para o lado, revelando meu closet improvisado, me deparei com a camisa de Harry pendurada em um cabide. A mesma que eu tinha roubado, quando fui embora da sua casa três anos atrás.

Peguei o tecido nas mãos e me deixei levar. Lembrar dos olhos dele, da linha tão bem desenhada na sua testa, e o jeito compenetrado que ele olhava para mim enquanto supria cada desejo meu.

Eu ainda pensava naqueles dias, mas jamais voltaria para eles. Tudo tinha mudado naquela questão, eu não queria aquilo, nem sequer me permitia lembrar. As coisas tinham acabado da pior maneira possível, e por mais ridículo que possa parecer, depois de tudo que ele me fez, me senti muito mal quando o vi andar de cabeça baixa pelos corredores do campus.

Ele nunca mais falou comigo. Ficamos seis meses sem nos ver, depois que abandonei aquele semestre da faculdade. Evitei de todas as formas que ele me encontrasse, e até mudei de numero quando ele pareceu querer insistir. Alexander tinha me permitido morar alguns meses na academia.
Sim, eu dividi o quarto, mal iluminado, com Nathan.
Fiz tudo que foi preciso para que Harry não me achasse, o que por fim acabou dando certo.

Quando voltei para a universidade, ele se negou a olhar na minha direção, por um tempo. Me desprezava com o olhar, e desviava sempre que me via por perto. Ele chegou a pedir transferência de algumas cadeiras, que compartilhávamos, assim como saiu da casa dos pais e passou a morar em um apartamento sozinho.

E eu que achava que a pior fase dele, era quando ele me irritava, descobri que ser ignorada era bem pior. Chorei por mais dias que posso descrever, assim como tive que me segurar para não ir atrás dele quando lembrava do que tínhamos vivido. Me sentia arrasada toda vez que via ele, e por muitas vezes, foi no tatame que eu superei a dor que ficar longe dele me causava.

Entendi que não o odiava, como eu pensava odiar, tarde de mais, e comecei a suspeitar que gostava dele a mais tempo do que tinha descoberto. Mas ignorei aquele fato, não valia a pena.
E como se aquilo fosse algum tipo de aviso, um ano depois Harry já estava de volta a ativa.

Ele fazia questão de zombar de mim, ou de qualquer coisa em que estivesse envolvida. Ele e suas amigas chegaram a espalhar pelos corredores, boatos de que eu tinha arrumado um namorado violento. Um cara sem equilibro mental, que me batia, deixando diversos machucados pelo meu corpo.
Segundo Agnes, ele tinha sido cruel ao me expor daquela forma. Não era a mesma provocação de antes, onde ele esperava ganhar atenção, daquela vez era diferente, ele queria me humilhar de verdade, me deixar para baixo e por muitas vezes me fazer chorar na frente de todo mundo.

Ele havia voltado a ser cruel em suas atitudes. E se não fosse pela sua mudança, talvez não tivesse tido forças para me manter longe. Mas a verdade é que aquilo não deveria ser novidade para mim, que o conhecia tão bem.
Ele deixou os cabelos crescer, passou a exibir as suas tatuagens, e sair com mais garotas do que imaginava ser possível. Ele tinha chego a outras universidades, não se satisfazia mais em ficar sempre com as mesmas mulheres da nossa cidade.

Foi preciso quase um ano, dele fazendo os piores tipos de provocações, para que eu chegasse ao fundo do poço em que ele queria me ver. Sempre que eu achava que o tinha superado, acabava em um bar bebendo até que meus dedos ficassem adormecido.

Mas teve um dia que ele passou tanto dos limites, que me obriguei a parar, e rever a situação. Foi naquele segundo que eu percebi que ele estava errado, ele era o monstro, como sempre foi, e não eu.

Então uma lembrança veio a minha cabeça, as cenas de um dos piores dias da minha vida, passavam diante dos meus olhos, me fazendo perder a noção das minhas próprias definições do que era um coração partido.


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