O mundo dá voltas

Por aimeeoliveira

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Sarah Atteli está de bem com a vida. Dona do seu nariz, dona da sua pequena empresa, dona do seu corpo. E é a... Más

Prólogo - Quem diria
1 - Como tudo mudou
2 - (EDIT) Todo mundo espera alguma coisa
2.5 - Princípios de uma longa ressaca
3 - O não-funcionamento da Atteli Comunicações Sensatas
4 - Mais um dia
5 - Pé na estrada
6 - O mínimo de detalhe possível
7 - Um dentre muitos exemplos
8 - Desquitado!
9 - Passado um pouco da hora
10 - Quando a realidade chuta a porta
11 - Todo carnaval tambem tem seu início
12 - A folia
13 - O que os ouvidos não ouvem
14 - Alguns aspectos sobre a brutalidade
15 - O despertar de uma nova realidade
16 - Kellen dá um banho
17 - Rota de fuga
18 - Café da manhã na casa dos corações partidos
19 - Mergulho profundo
20 - Um sonho, sim
21 - O desagrado das descobertas
22 - O abre-alas da confusão
23 - Acidente de percurso
24 - A queda é livre
25 - A primeira razão da coleção
26 - O amargor da segunda lembrança
27 - Uma lembrança agridoce
28 - Um patinho foi passear
29 - Pra fechar com chave de braço
30 - Pitanga dá em árvore?
31 - A dificuldade de se abrir uma porta
32 - Oliver numa missão
33 - Um clássico da Bossa Nova
34 - Muito botão pra pouca casa
35 - Lua vai, lua vem
36 - Pizza de café da manhã
37 - O repensar das escolhas
38 - As coisas no seu devido lugar
39 - Acordes melódicos
40 - Palavras que não querem ser ouvidas
41 - Altos e baixos da esperança
42 - Momentos radioativos
43 - Perseguindo um talvez
44 - Impulso definitivo
45 - Isso não é um jantar romântico
46 - Tudo para o espaço sideral
48 - O problema de tudo
49 - Crise no quilômetro 170
50 - A impraticidade poética [FIM]
Notas finais
EPÍLOGO - Um feliz aniversário
Feliz Natal & Próspero Ano Novo*

47 - Ainda suja

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Por aimeeoliveira

- Então quer dizer que você terminou com Oliver?

Belize entrou na sala de Sarah sem bater na porta, nem muito menos pedir licença. Típico. Sarah já estava até acostumada.

- E depois ele terminou comigo – ela comentou, sem desviar os olhos do computador. – Ele não te contou essa parte?

- Contou, claro. Ele é um livro aberto comigo.

- Claro – Sarah tentou com todas as suas forças não desviar a atenção do computador. – Muito linda a amizade de vocês dois.

- Verdade – Belize teve o desplante de confirmar. – Muito mais atraente que a que você anda tendo comigo.

- Como é que é?

- Isso mesmo que você ouviu – Belize se jogou na cadeira daquele jeito emburrado que só ela sabia fazer.

- Não tenho tempo pra ficar falando disso, Beli. Tenho muito trabalho pra fazer.

Sarah coçou a testa com mais força do que necessário, principalmente se fosse levado em consideração que sua testa nem sequer estava coçando. Ela só precisava de algo para se concentrar que não fosse seus pensamentos,  a dor de um arranhão pareceu moderada o bastante para ser considerada apropriada.

- Eu vim aqui de falar de trabalho – a menina falou, se ajeitando na cadeira. – Ou melhor, de como eu não quero mais trabalhar aqui.

- O quê?

- Você tá com algum problema de audição? Porque eu tenho um ótimo otorrinolaringologista pra indicar, minha mãe sempre me manda pra lá quando eu finjo não escutá-la muitas vezes seguidas.

- Minha audição vai muito bem, obrigada. O problema é claramente seu. Comigo.

Belize ficou olhando para ela com seus olhos de deboche à todo vapor, sem dizer uma palavra. Será que ela sabia o quanto àquilo dava nos nervos de Sarah?

Provavelmente.

Era por isso que prolongava o olhar ao máximo antes de voltar a falar.

- Olha pra mim e olha pra você. Julgando apenas pela aparência, quem você acha que está com o maior problema?

Sarah imediatamente levou a mão aos cabelos, muito consciente de que eles estavam desvairados. Naquele dia, assim como o dia anterior, a empresa não receberia clientes. Sarah nunca pensou que seria julgada pela aparência por suas próprias colegas de trabalho.

Ou ex-colegas de trabalho, julgando o andar da carruagem.

- Quando você prende o cabelo suas olheiras ficam mais aparentes – Belize achou pertinente comentar.

Ajudou a autoestima de Sarah que foi uma beleza. Ela soltou o cabelo e não soube mais o que fazer. Não era o melhor momento da sua vida para ser sapateada a troco de nada.

Como sua cara e Belize denunciavam, ela estava arrasada.

- Tem certeza de que você não tem nenhum problema comigo? – Sarah perguntou novamente, só para se certificar.

- Com certeza não é maior do que o problema que você tem com você mesma – Belize falou, colocando os pés em cima da cadeira. – Acho que é a quinquagésima quarta vez que te digo isso. Você tem ido em Samantha?

- O que isso tem a ver? – Sarah perguntou.

E foi completamente ignorada, porque Belize seguiu adiante com seu devaneio:

- Não que ela seja capaz de curar seu rancor, coitada da mulher, é apenas um ser humano. Mas pelo menos ela pode te dizer umas verdades no meio da cara, te faz pensar melhor na merda que você fez.

- Ué. E não é basicamente isso que você tá fazendo agora?

- É, mas não podemos dizer que estou tendo sucesso, né? Além do mais, não vou ficar aqui pra sempre. Estou pedindo demissão, caso você não tenha percebido

- Eu percebi – finalmente se afastando de vez do computador, desligou a tela e tudo, não tinha mais como fingir que estava trabalhando. – Só não achei que fosse sério, pensei que podia ser uma daquelas brincadeiras que você faz só pra me assustar.

Antes que pudesse evitar, Sarah começou a lacrimejar.

- Conseguiu – Sarah choramingou ao limpar a primeira lágrima.

Não sabia o que estava acontecendo ultimamente. Estava pouco a pouco se tornando uma manteiga derretida. Não se admiraria se na semana seguinte começasse a se emocionar com vídeo de gatinhos.

- É sério – Belize disse numa voz bem menos enérgico dessa vez. – E antes que você reclame, não foi nenhum complô contra você. Não foi Oliver que me mandou sair daqui. Você, que conhece ele muito melhor do que eu, apesar de gostar de fingir que não, já deve saber. Aliás, ele pediu para que eu ficasse, disse que não era o melhor momento para eu abandonar o barco. Porque você ia ficar sozinha. De novo.

- Barco? Nós estamos super longe do mar.

- Não me vem com essa de que você não entende as metáforas porque comigo simplesmente não cola. Aproveite os últimos momentos dessa sagacidade em forma de pessoa e presta atenção no que eu vou te falar. Oliver ainda se sente culpado por ter abandonado o barco daquela primeira vez, quando vocês iam começar a empresa e ele teve que pular fora por causa de Alicia.

- São águas passadas, se vamos ficar usando ditados náuticos – disse Sarah.

Enquanto isso, águas rolavam pelos seus olhos.Ela nem sequer parou para pensar na gravidade daquilo que falava. Aliás, nem tinha se atentado ao que tinha falado até Belize começar a questionar:

- Sério? – a menina perguntou, se ajeitando na cadeira. – Porque assim, ele só sente essa culpa toda porque você deixa. Mas afinal, o que você pretende com isso? Provar que você está certa e ele está errado? Porque assim, talvez você possa até estar. Mas por quantos anos mais você vai preferir estar certa a estar feliz? Dez anos não foram suficientes?

- Não sei – foi a resposta mais sincera que Sarah conseguiu dar.

Porque ela realmente não sabia de mais nada. E era difícil pensar no assunto quando as lágrimas faziam cócegas ao descer pela bochecha.

Oliver não trabalhava mais diretamente com ela, daqui a pouco Kellen ia ter o bebê e Belize estava pedindo demissão. Era verdade, ela estava ficando sozinha. De novo.

- Não vai embora, Beli. Eu preciso de você aqui. Você quer um aumento?

- Sarah, não faz assim. Você sabe que eu nunca trabalhei aqui por dinheiro.

- É, mas se eu oferecer mais dinheiro, talvez você fique por ele.

- Você quer que eu fique por dinheiro? – Belize perguntou, se inclinando na direção dela.

- Eu só não quero que você vá embora – disse Sarah embolando outra vez o cabelo num coque, o orgulho tinha ido parar na lata do lixo, junto com a vaidade. – Você nem me disse o porquê de querer sair.

- Fica tranquila, você vai achar outra pessoa. Eu posso até ajudar a escolher.

- Não é só isso – Sarah enfiou o dedo por baixo da lente do óculos e coçou o olho.

Será que a vontade de soltar uma cachoeira pelos olhos nunca ia passar? Fazia anos que não se sentia assim. Era muito surreal.

- É claro que não é.  Você está com essa cara horrível desde antes que eu chegar. E você não fazia ideia de que eu ia pedir demissão, né?

Sarah negou com a cabeça. Ela fazia ideia de pouca coisa no momento. Quase nada, se fosse descontado o perímetro do escritório.

- Há quantos dias que você não sai daqui? – Belize quis saber. – Três? Quatro?

Cinco, mas Sarah não ia dizer. Não estava particularmente orgulhosa daquele feito. Por isso era muito melhor perguntar:

- Por que você quer sair, Belize?

Belize espanou as palavras com a mão, como se elas não importassem. Como se suas palavras fossem muito mais importantes.

- Sério, você pelo menos tem tomado banho?

- Não vou te responder isso.

- Por quê? Faz tanto tempo assim?

- Eu te perguntei primeiro! – Sarah protestou. – Você só tem direito de perguntar depois de me dar uma resposta satisfatória.

Belize franziu os olhos para que assim pudessem olhar de um jeito bem fulminante para Sarah. Logo em seguida, jogou todo o seu peso contra a cadeira e cruzou os braços.

- Eu acabei arrumando um namorado – ela disse, revirando os olhos. – Ele tem uma banda. E me chamou pra tocar nela.

- Você o quê? – Sarah quase gritou.

E Belize respondeu com o mesmíssimo revirar de olhos. E depois voltou sua atenção por completo para o celular.

Que diabos ela estava fazendo? As duas estavam no meio de uma conversa. Uma conversa séria, diga-se de passagem.

Seus dedinhos nervosos se mexiam com habilidade pela tela enquanto Sarah ficou se perguntando se a menina tinha simplesmente se esquecido da existência dela ali, do outro lado da mesa, esperando uma resposta.

Ela provavelmente devia estar falando com o namorado. Mas ela precisava aprender, o quanto antes, como  gerenciar o namoro e os amigos. Foi por isso que Sarah deu um tapão no tampo da mesa, a menina soltou o celular na maior calma.

Na demorou nem um segundo para o celular de Sarah vibrar: "Belize Martins compartilhou um contato".

- O número do otorrinolaringologista – ela disse com um sorrisinho debochado. – Você definitivamente está com problemas de audição.

Um quadradinho escrito Dr. Namizaki apareceu na tela de Sarah, ela riu, mesmo sem estar com vontade.

- Você é ridícula – ela disse.

- Pior que sou – Belize concordou com mais entusiasmo do que o esperado. – O nome do cara é Victor Mascarenhas, ele é guitarrista e vocalista, bem conhecido no cenário musical daqui do Rio. Conhecido até demais, se você quer saber minha opinião – ela deitou a cabeça na mesa e não disse mais nada.

- Se te serve de consolo, eu nunca ouvi falar dele – Sarah disse ao esticar a mão para alcançar a da menina.

Era difícil entender a razão de Belize estar chateada, mas dava para saber que ela estava.

- Eu nunca me considerei uma groupie, sabe? – ela parecia tão decepcionada quanto na vez que descobriu que cantava a letra de Seven Nation Army errado. – Dentro da galera que eu admiro, eu só daria mole para o Kurt Cobain e isso é só porque o cara já tá morto.

- Mas Belize...

Sarah girou a cadeira de um lado para o outro, aquele não era um assunto o qual ela se sentia confortável em falar. Na verdade, ela se sentia uma fraude. Mas era o que de uns tempos para cá ela, era assim que ela tinha começado a pensar.

- Quando você gosta de alguém é difícil racionalizar tudo. Às vezes o que é certo de acordo com a cabeça parece errado para todo o resto do corpo. E o resto do corpo é muito maior do que a cabeça, não é? Acho que a maioria devia ganhar.

- É mesmo, Sarah Atteli? – Belize perguntou levantando a cabeça da mesa com uma expressão de intriga, fazendo um "L" com os dedos para emoldurar o próprio rosto. – E o seu corpo está tão mal quanto parece? Você ainda não me respondeu aquela questão do banho.

- Terça-feira – Sarah falou de má vontade.

Ela estavam numa quinta-feira.

**

Em outra quinta-feira, três semanas mais tarde, Kellen e sua barriga que cada dia ficava mais imensa, entraram na sua sala fazendo um escarcéu.

- Ele desistiu de vez, né? Por que você não me contou? Eu sabia que vocês tinham terminado, mas que era pra sempre. Não custava nada você ter me avisado, assim eu não precisava ter bancado o papel de trouxa.

Sarah afastou os olhos do computador e, antes de mais nada, se permitiu respirar longa e profundamente. Lidar com grávidas não era fácil. Ela não sabia como Fábio estava fazendo, mas com certeza estava se saindo melhor que ela.

- Kel, na boa, do que você está falando?

- Ah, me poupe, você realmente não sabe de quem eu estou falando?

- Eu sei – Sarah disse, tentando parecer tão indiferente quanto deveria estar. – Só não estou entendendo nada. Que papo é esse de papel de trouxa? Fala num português claro.

- Eu liguei para Oliver e o convidei para ser padrinho de Madalena. Ele teve a cara-de-pau de dizer não.

- Que grosseiro! – Sarah comentou ao enrolar um cacho em volta do dedo.

Um hábito ridículo que ela tinha herdado dele. E agora tinha a infelicidade de ficar reproduzindo, especialmente quando não se dava conta. Até porque, quando se dava conta do que estava fazendo, se proibia terminantemente de repetir a ação.

- Ele não foi grosso – Kellen contrapôs. – O pior de tudo é que ele foi super racional. Explicou que não tem vindo muito à empresa e que a rota dele tem se tornado quase que exclusivamente só Búzios e Maricá. E que o tempo todo dele sem sido investido na gráfica e em Alicia.

- É o mínimo, né? – Sarah falou.  – Saber classificar as prioridades não é mais que a obrigação dele. Se ele não vai conseguir ser um padrinho presente, é melhor nem se comprometer.

- Foi isso mesmo que ele disse – Kellen falou, analisando sua barriga. – Mas você não percebe, Sarah?

- O quê? Que o tempo que tornou pelo menos uma pessoa um pouco mais sensata? Sim, eu percebi.

Kellen hesitou por um momento antes de responder:

- Isso também, mas não era disso que eu estava falando. Falo no sentido de que ele nunca desperdiçaria uma chance de ser padrinho de uma criança a qual você vai ser madrinha. Ele sempre estava procurando meios de ficar mais perto de você. Acho que ele parou.

- Ah – foi só o que Sarah disse.

Ela enrolava um cacho tão forte em volta do dedo que mais um pouquinho iria prender a circulação.

- Desculpa – Kellen disse de um jeito assustado, logo em seguida se inclinou sobre a mesa e puxou a mão de Sarah devagarinho para baixo, até desenrolar o cacho do seu dedo. – Eu não sabia que você não sabia.

- Eu não sabia – Sarah repetiu igual a um robô, com o olhar perdido no espaço.

- Bom, pelo menos agora você sabe – Kellen deu um apertão na mão da amiga antes de sair da sala. – Faça algo sábio com essa informação.

Sarah não soube dizer quanto tempo permaneceu naquela posição, sentada meio torta na cadeira, olhando fixamente para um lugar sem conseguir ver nada. No fundo, bem lá no fundo, ela estava pensando.

Pensando que existia um certo tipo de conhecimento que era muito desagradáveis de ser tomado. Tinha um gosto pior do que cerveja quente. Podia ser facilmente comparado a café ralo.

_________________________

Isso mesmo que vocês leram. Belize caiu fora. Em contrapartida, ela caiu fora pra fazer sua participação especial em outro livro.

E o namoradinho? Ele é de lá também. E vai levar Belize pra fazer muitas outras confusões por lá (espero, porque nem escrevi o livro, ele tá só aqui rondando a minha cabeça).

Mas enfim, capítulo triste. Triste de escrever também, odiei. E no geral eu adoro escrever sofrimento. Pelas minhas contas tem só mais dois capítulos. Se eu conseguir escrever o próximo capítulo até quinta, conforme for a recepção desse aqui, minha intenção é postar. Queria muito estar com tudo finalizado pra postar o Gran Finale (é assim que fala?) no domingo.

Mas assim, sonhos...

Sabe outro sonho? Isso mesmo. Estrelas. Seria meu sonho se vocês me mandassem elas. As luzezinhas da minha vida. Iluminem minha reta final pra eu poder escrever direitinho esses últimos dois capítulos.

Beijos estrelados***

PS: O nome do capítulo foi modificado de última hora só pra eu poder usar meu bordão aqui.

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