Depois daquele beijo, Álvaro olha chocado para mim, Luís que está do outro lado da bancada da fruta está com uma expressão quase cómica, se não fosse trágica e Marcos está surpreso. Por um milagre qualquer, Marcos não percebe que Álvaro perde o norte, pois neste momento Álvaro tem as costas viradas para ele.
Antes que Álvaro me comprometesse, arregalei-lhe os olhos em sinal de "socorro" e ele entendeu. O problema é que Luís não entende e extremamente chateado, manda um limão na cara de Álvaro e sai dali no passo mais apressado que consegue, deixando o carrinho das compras no sítio em que ele estivera segundos antes.
Eu já estou a sentir remorsos e estou mesmo a ponto de correr na direção de Luís para explicar o sucedido, mas Álvaro faz-me um sinal muito discreto para que não o siga.
O meu amigo recompõe-se totalmente, antes de olhar para Marcos e perguntar:
- Quem é o seu amigo?
- Marcos Albuquerque - Marcos estende a mão e aperta a mão de Álvaro, que conhecendo-o como conheço, está achando o meu primeiro amor, um gato. Porém não o dá a entender. Eu vejo isso, apenas porque o conheço demasiado bem - Prazer em conhecer.
Irônico ele dizer isso, pois o sorriso que ele tinha quando me viu, desaparecera por completo do seu rosto. Ele agora apenas falara de maneira cordial. Eu sei que o prazer em conhecer Álvaro não é nem um pouco verdadeiro, mas decido não dar a entender que sei isso. Está-me a saber demasiado bem o efeito que minhas atitudes propositais têm sobre Marcos. Bom, à parte a partida de Luís que deixara Álvaro com vontade de chorar, sobretudo depois de ser atingido por um limão na cabeça. Eu não tinha o direito de lhe fazer isto, mas ele compreendera de certeza que eu só podia ter uma razão muito boa para o beijar.
Marcos ficara sem jeito. Despediu-se da gente e continuou as suas compras e eu finalmente pûde respirar fundo.
Tive que explicar ali mesmo, quem era Marcos. O meu amigo entendeu a minha estúpida atitude, porém pediu-me para nunca mais fazer aquilo, sobretudo à frente de um namorado dele.
Eu não esperava é que mesmo chateado, Álvaro me fizesse rir.
- Nunca tinha beijado uma mulher na boca - comentou, finalmente abrindo um sorriso manhoso.
***
Uma semana depois do episódio do limão ( que é como eu lhe chamo), aqui estou eu no meu escritório respondendo à carta de uma mulher que quer reatar com o ex-namorado. Eu não estou conseguindo ser imparcial. Para além do mais, o tempo está passando e eu continuo olhando para um ponto indefinido na porta do escritório. O meu transe só é interrompido pela entrada de Valentina, que me informa que tem algo importante a dizer a toda a redação.
Levanto-me e saio do meu escritório com ela à minha frente. Quando estamos todos reunidos, Valentina se lança no discurso que provavelmente preparou à frente do espelho durante algum tempo.
A sua barriga está enorme. Dá para ver que não vai aguentar muito mais tempo.
- Meus queridos - começa - Como já não é novidade para ninguém, eu estou no fim do tempo e este é o meu último dia como vossa chefe.
Ouve-se um burburinho de comentários em discordância pela redação.
- Calma, calma. Eu vou continuar a ser vossa colega, isto quando eu voltar das minhas merecidas férias de maternidade.
- Quem é que nos vai orientar? - pergunta Lorraine, responsável pela edição do jornal.
- É por causa disso mesmo que eu interrompi os vossos trabalhos - respira fundo e leva as suas mãos à barriga - Depois de alguns currículos e de muito pensar, encontrei a pessoa certa para ser o redator chefe.
- Quem? - pergunto.
- Calma - olha para o seu relógio de pulso que marca 10h15 - Ele deve estar quase a chegar. De toda a maneira, queria informar-vos que isto não é uma substituição.
- Como assim? - pergunta novamente Lorraine.
- Acreditem que o meu cargo aqui dá muita dor de cabeça. Quando tomei esta decisão foi a pensar na minha filha - leva outra vez as mãos à barriga. Parece um balão cheio de ar de tão perfeitinha - Assim, eu hoje mesmo vou assinar contrato com Daniel Aragão.
- Nunca ouvi falar - fala Marta, a colunista responsável pela rúbrica Novela de romance da revista.
Porque raios é que ela deveria ter ouvido falar no nome do homem? Eu, hem...
O celular de Valentina toca e ela atende. A sua expressão não é das melhores. Parece desiludida, pois respira fundo. Nós da redação ouvimos-a dizer:
- Tudo bem, acontece. Amanhã então. Mas amanhã já não estarei cá. Pode-se dirigir até o escritório de Phoebe Franco - olha para mim - Ela é uma querida, você vai adorá-la. Ela fará as apresentações.
Uuii, já estou curiosa para saber quem é esse tal de Aragão. Uma coisa eu sei, ele tem um sobrenome de poder. Adoro!
Valentina carrega no botão que dá fim à chamada e depois de um suspiro informa-nos a todos:
- Bom, o senhor Aragão - ai, nossa. Sabe bem ouvir o sobrenome do cara - não pode vir hoje, porque teve um imprevisto. Vão conhecê-lo amanhã.
- Amanhã você já não está cá, certo? - pergunta Felipe, o fotógrafo profissional da revista.
- Certíssimo. E tão cedo não me vêem nesta redação. A Vera está quase a nascer. Conto com vocês - passa o olhar por todos nós - para que continuem a dar ânimo às Poderosas. E dito isto vou-me embora.
Pega na mala dela e dirigi-se até à porta. Felipe corre para ela.
- Valentina, você não escolheu o rosto dessa edição.
Lorraine um pouco mais atrás, pega algumas fotos da sua mesa.
- É verdade. Afinal, qual você prefere? - pergunta Lorraine dirigindo-se a Valentina.
Eu sei que deveria já estar a fechar a porta do meu escritório. Tenho imensa correspondência em cima da minha mesa de trabalho e ainda nem escolhi o que vai sair na rúbrica de amanhã. Para além do mais, acabo de me aperceber que perdi imenso tempo olhando para o vazio e nem me despedi de Valentina.
Porque é que eu continuo aqui? Está quase toda a gente a dizer um "xau" rápido a Valentina, desejando uma hora pequena.
Felipe e Lorraine ainda esperam uma resposta de Valentina e Valentina parece não querer decidir que modelo vão contratar para a edição de amanhã.
Imensas jovens almejam ser capa da revista As poderosas. É um pulo para a carreira delas, sobretudo para aquelas que ainda não têm carreira.
E é pensando nisso que eu levanto o dedo, aproximo-me deles e pergunto com real interesse:
- Posso escolher?
Os meus três colegas ficam surpreendidos com o meu súbito interesse. Valentina faz sinal que sim.
- Confio no seu bom gosto.
Felipe e Lorraine viram as agulhas para mim. Então Valentina abre a porta.
- Não se esqueçam da festa que vou dar, depois do nascimento da menina no hotel - gritou para toda a redação - A Phoebe orienta as coisas enquanto o Aragão não chega. Até breve.
Todos, incluíndo a empregada de limpezas, levantam a mão para Valentina e ouve-se novamente um "xau" grupal.
Olho para as fotos que Lorraine me passa para as mãos e folheio-as. Nossa, eram quase todas loiras, algumas falsas, outras loiras verdadeiras, mas só loiras. Mmm, não sei... por fim vejo-a. A mulher perfeita para capa desta semana. Um pouco mais velha que as outras, eu diria, mas ainda assim esbanjando beleza e sensualidade. O tipo de mulher com quem nós deveríamos fazer um contracto permanente. É claro que eu não posso tomar esse tipo de decisões, não é uma das minhas funções aqui na revista, mas eu iria com certeza convencer o tal Aragão. Eu só precisava de uns dedos de conversa com ele, para o fazer entender que este é o rosto que a gente precisa. Estou farta de loiras.
- Como se chama? - pergunto. A foto está em destaque na minha mão.
- Tem a certeza? - pergunta Lorraine, uma mulher loira.
- Porque não teria? - olho para ela com ar de desafio - Não sabe editar se for uma morena na capa?
Lorraine fica de boca aberta olhando para mim. Ela compreende o meu tom.
- O nome dela é Magda Antunes - disse alguém vindo de trás de mim.
Joana é a pessoa encarregue dos castings dos figurinos. É ela quem fica ao lado de Felipe, quando este está a fotografar, a dizer a pouse em que o modelo deve ficar. Ela tem o dom de decorar quase todos os nomes das jovens candidatas ou candidatos. Sim, porque de vez em quando apareçe um poderoso na capa. E esta próxima edição é uma delas.
Sim, eu sou a conselheira romântica da revista, mas estou a par de tudo. Deve ser porque sou demasiado disponível e vivo para isto. A revista é a minha família. Lorraine é a prima loira metida a esperta com preconceito com as morenas, Joana é a prima boa onda e Felipe é o primo engatatão.
Felipe é totalmente heterossexual, mas devido ao convívio com mulheres e todo este mundo feminino, tem um estilo muito próprio que pode dar a entender ser homossexual. Ele tem perfeita noção disso e aproveita para fazer valer isso a seu favor.
As loiras fazem a sua preferência, menos Lorraine, ela é mesmo a prima loira metida a esperta dele.
Joana trás uma foto consigo. Tem-na virada para o seu peito. Já vem querendo fazer suspense.
- Eu gosto dela - aponta para a foto de Magda - acho-a perfeita para pousar ao lado deste gato que trago aqui. Uma amiga fez-me chegar esta foto.
É chato ter que admitir, mas muita gente vinga neste mundo graças a cunhas.
Qual não é o meu espanto quando ela vira a foto para mim, Felipe e Lorraine.
Aquele louro de olhos verdes e um corpo malhado na perfeição é nem mais, nem menos que...
- Marcos Albuquerque - diz Joana.
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Oii, gente linda. Mais um capítulo.
Tenho uma notícia em primeira mão.
No futuro Magda Antunes será a protagonista de outro conto meu ou livro.
Pois é, estou cheia de projectos na cabeça. Nem imaginam os livros que eu tenho em rascunho.
Para já peço humildemente que carreguem na estrelinha se gostaram deste capítulo e que comentem, interajam e façam as perguntas que quiserem, assim como as críticas construtivas que acharem necessárias.
Beijinhos e até ao próximo capítulo...
Álvaro Taveira