O pretendente perfeito

By DaniellaeKenzi

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Colunista na rúbrica de conselhos na revista feminina "As poderosas", Phoebe é uma jovem de 26 anos que ating... More

2 - Quem vai ao ar perde o lugar, quem vai ao vento perde o assento
3 - Quando a vida te der limões... atira à cabeça do teu namorado gay
4 - Quem não tem cão, caça com gato
5 - Algumas feridas nunca saram
6 - Um azar nunca vem só

1 - Bananas para mim, meloas para ti

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By DaniellaeKenzi

Nunca perdi tempo a pensar na minha vida amorosa, talvez porque a minha vida profissional me realizava em pleno, mas eu sentia a solidão de vez em quando. Como é que alguém que ganha a vida dando conselhos amorosos aos outros, não tem ninguém na vida? Se eu queria alguém? Difícil dizer. Estava demasiado acomodada com as minhas coisas diárias e para além do mais, a presença de alguém na minha vida iria mudar a minha rotina por completo e eu não sei se queria ou estaria pronta para isso.

De vez em quando recebia algumas declarações amorosas na minha rúbrica "A Phoebe diz...", o que eram massagens para o meu ego, sobretudo passando eu a vida sentada a uma cadeira abrindo correspondência e a tentar ajudar o maior número de pessoas possível. Os conselhos que não eram impressos e que eu considerava importantes, escrevia na rede, na revista online. Eu era a colunista com mais destaque, com mais trabalho e a mais empenhada da revista. E isto porque eu amava o que fazia.

Quando eu era pequena, a minha avó, uma mulher doce, afável e inteligente, dizia para mim "Encontra uma profissão que gostes e nunca trabalharás na vida". Foi isso que eu fiz e a minha avó tinha inteiramente razão. Apesar de estar completamente absorvida pelo trabalho e deixar de ter uma vida social como as outras pessoas, eu estava feliz e isso vía-se a cada entrada e saída da revista As poderosas. Era isso que eu era, uma mulher de poder.

Quando saí de casa da minha mãe para ser independente, nunca pensei vir a ter tanto sucesso na minha carreira. Não ao ponto da rúbrica na qual eu escrevo ter o meu próprio nome e muito menos da minha foto andar espalhada pela cidade acompanhada de uma das frases com que eu agraciava os meus leitores correspondentes "Pegue as rédeas da sua vida". Era talvez a pessoa naquela redação com um salário tão alto e ... a mais disponível, por não ter família em casa à minha espera. Pelo menos era nisto que Valentina, a minha redatora chefe, se baseava para me telefonar aos fim-de-semanas para me dizer qualquer coisa sobre o trabalho. Embora haja espaços vazios na minha vida, a minha gata, a quem eu dera o nome da minha cantora preferida, Pitty, era uma anfitriã de mão cheia. Ou deverei dizer de pata cheia?

Não sei como alguém se pôde desfazer dela, mas apesar do acto cruel, agradeço muita vez mentalmente à pessoa que o fez por ter escolhido um dos contentores do prédio onde vivo para o fazer. Assim eu pude encontrá-la e trazê-la para casa, onde vai fazer dois anos que também é o seu lar.

No dia que ela fôra colocada no contentor de lixo do meu prédio branco com fachada cinzenta, sendo assim condenada à morte pelas mãos de um ser humano, eu fôra despejar o lixo de casa e voilá, ouvi o miado fininho vindo do grande contentor e meti a cabeça lá dentro que nem um mendigo. Então eu a vi. Os seus olhos de criatura recém-nascida ainda estavam fechados. Devia ter um mês e meio de vida, pensei. O que Álvaro me confirmou quando me dirigi à sua clínica.

Álvaro é a única pessoa com quem mantenho uma vida social fora do trabalho. Era o meu melhor amigo na faculdade, apesar de seguir-mos áreas extremamente diferentes e continuámos melhores amigos até os dias de hoje. Ele também tinha a carreira com que sempre sonhara e havia aberto a sua própria clínica veterinária mal saíra da faculdade. Claro que pudera contar com os seus pais, a quem dinheiro não faltava, mas ele era uma pessoa bem humilde, pelo menos tendo em conta que a sua família pertence ao Jetset.

A gente tinha um acordo. Aquele tipo de acordo que a gente faz entre amigos com o objetivo de não nos distanciar-mos independentemente da família ou do trabalho que terás no futuro. E por incrível que possa parecer, a gente cumpriu esse acordo. Moramos os dois no Bairro das Margaridas e no mesmo prédio moderno, algures no Recife. E a sua clínica veterinária fica bem no rés do chão deste prédio de doze andares. Oportunidades não se perdem e este apartamento foi um achado, mas eu não tive a mesma sorte que Álvaro. Quando saí da faculdade, trabalhei três meses num café que exalava um cheiro forte a álcool e onde homens nojentos tentavam flertar comigo. Ao mesmo tempo começara a escrever o meu primeiro livro "Como fazer fugir os homens". Era exatamente nisso em que eu me concentrava, quando um homem lá no café achava que eu caíria nas suas boas graças.

Entretanto mandava currículos todos os dias para os jornais e algumas revistas, até que um dia Valentina, acompanhada de Hayden, o seu marido actual, que na época era só um ficante, entram por ali a dentro e olham para mim completamente absorvida por o caderno onde escrevia o dito cujo. Admito que nunca havia pensado em mandar o currículo para As poderosas. Pensava encarecidamente que se tratava de uma revista de femistas que promoviam de alguma maneira a inferioridade dos homens diante do sexo oposto, o sexo do poder.

Quando o (ainda não) casal chegou ao balcão, eu estava tendo um surto de inspiração e não podia parar de escrever nesse momento. Não para aquela profissão que eu tanto detestava e só fazia por necessidade. Os clientes que estavam ao balcão podiam esperar. Para além do mais, eles pareciam bem ocupados falando um com o outro.

Quando finalmente tive coragem para pousar o caderno por descuido no balcão, perguntei àquele casal de ficantes entusiasmados, o que queriam beber.

Enquanto preparava as suas bebidas, Valentina, ousada e movida pela curiosidade passou os olhos pelo meu caderno e gostou do que viu, pois quando meti os dois cafés exalando fumo, no balcão, deparo-me com a mulher de rosto bonito e um cabelo impecavelmente cacheado, com o meu caderno barra livro nas mãos.

Rapidamente senti um calor invadir as minhas bochechas. Ela estava a ler algo que eu nunca pensei vir a publicar e ela estava a adorar. Fôra incapaz de largar o meu caderno até eu dizer no meu jeito mais tímido "Posso reaver o meu caderno, por favor?".

- Foi você que escreveu? - perguntou a mulher com um sorriso divertido.

- Fui sim - respondi. As minhas bochechas ardiam de vergonha.

- Você tem muito jeito. Cursou letras?

- Cursei sim. Na verdade sou licenciada em psicologia e jornalismo - respondi, incapaz de esconder o meu orgulho.

Depois daquele feliz encontro com a minha futura redatora chefe, um monte de coisas se sucederam. Ocupei à experiência o lugar desocupado de conselheira amorosa na Editora As poderosas, Álvaro me falou de um apartamento no terceiro andar de seu prédio que estava a arrendar e o meu livro Como fazer fugir os homens foi parar na revista As poderosas como parte integrante de seu conteúdo.

Entretanto o tempo de experiência terminou e eu tinha feito tanto sucesso com os meus conselhos perante os leitores da revista, que fui contratada permanentemente. Finalmente a minha vida levara um rumo e eu sabia, eu tinha tido muita sorte. O salário era óptimo, eu era reconhecida profissionalmente, tinha alugado um belo apartamento e até já tinha planos para o comprar ao proprietário, algo que fiz após um ano de economias e um empréstimo no banco.

Conseguira tudo isso sem namorado, marido, ficante, nem nada que o valha e tinha orgulho nisso.

E aí passaram-se anos e continuo a viver para os meus leitores e inúmeros correspondentes. Sou eu quem perco mais tempo com a revista na rede, respondendo tanto quanto posso às pessoas que me pedem ajuda.

Eu simplesmente esqueci que havia vida para além do meu trabalho e Álvaro, o único amigo que tinha fora da revista, dizia-me isso o tempo todo, mas eu só entendi isso quando num dia de compras me esbarrei com ele...

Em primeiro fiquei na dúvida, já se tinham passado muitos anos, mas aquele cabelo louro escuro, os olhos azuis, a pele ligeiramente morena, os seus traços faciais... Eu tinha que ver o seu rosto de frente durante mais tempo. Eu continuava com um cacho de bananas na mão e o homem em questão estava à minha frente com duas meloas, uma em cada mão, apalpando-as. Pensamentos maliciosos passaram por a minha mente. Esta era uma situação ironicamente caricata. Foi então que o homem louro ergeu a cabeça e eu pude ver o seu rosto durante mais tempo. Os nossos olhares cruzaram-se.

Era ele...

~~~

Talvez os poucos leitores de Minha vida ficou uma loucura achem estranho, mas sim, eu estou a reenscrever a história com as mesmas personagens e o mesmo enredo, mas desta vez é sério, gente. Pois, estou a reenscrever a história.

Já há um tempinho que não participo de nenhum concurso e quando o faço Zás trás é com um livro.

Eu espero não decepcionar ninguém.

Se gostarem cliquem na estrelinha. Comentem e interajam. Espero ter o vosso feedback.

Até o próximo capítulo!

Phoebe Franco

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