Enquanto o sol brilhar (Degus...

By JulianaParrini

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Livro completo na Amazon. Apenas degustação. Na monótona cidade provinciana de Vila Rica, vive Mariana. Filh... More

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PRÓLOGO
Capítulo 1
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 5
Capítulo 6 e NOVIDADE!
LANÇAMENTO! <3
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26 - FINAL
EPÍLOGO
NOVO LIVRO - COM VOCÊ

Capítulo 4

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By JulianaParrini



Duas semanas depois...


Os últimos dias foram concluídos dentro da minha rotina.

Seu José começou a dar as aulas ontem. Era nítida a sua felicidade em voltar para a sala de aula.

Como não percebi o quanto meu pai estava desmotivado?

Meu orgulho cresceu ainda mais quando, em apenas cinco dias, as inscrições já haviam ultrapassado o número de vinte alunos, fechando a turma em 29 jovens e adultos que estavam em busca de alfabetização.

Debatemos os métodos e as formas mais inovadoras para a conclusão do curso. Ensinei-o a usar planilhas e a organizar a maioria das coisas no seu novo laptop usado que compramos de um rapaz da rua ao lado.

"Eu preciso me renovar e captar toda essa modernização. " Com essa frase, papai me pediu ajuda. Era incrível o quanto ele se interessava e queria aprender.

Eu e Vini saímos ontem mais uma vez e mamãe está animada com um novo sabor de geleia que fez: abacaxi com pimenta. Era realmente magnífica!

A festa da igreja seria daqui a alguns dias e o povo estava animado. Márcia já havia conseguido a banda e os quitutes já estavam todos acertados. Tudo o que eu queria era que tivéssemos um ótimo retorno. Novas propagandas foram geradas pela prefeitura, e com uma banda jovem, a empolgação estava sendo maior.

Quando termino meu expediente encontro Márcia na sala dos professores, sentada à mesa, com cara de paisagem.

— Terra chamando Márcia! — brinco, sentando ao seu lado.

— Ah, oi... oi...

— O que houve?

Ela sacode um pouco a cabeça e abre um sorriso contido.

— Lembra daquele cara que eu estou conversando pelo aplicativo?

— Qual? Aquele que se intitula imperador? — pergunto.

— Imperador do Rio — reforça, meio acanhada. Esse é apenas o nick name dele.

— Nem um pouco egocêntrico, não é?

— O nome dele é Luca. Talvez seja excesso de confiança.

— Se você está dizendo... Mas então, o que está pegando?

— Ele quer marcar um encontro.

— Sério?

Ela faz que sim, apreensiva.

— Quando? — indago, pegando minha marmita da bolsa.

— Hoje.

— Hoje?

— Isso, hoje!

— Uau! Mas você quer?

Ele entorta os lábios, ponderando.

— Ele é um gato, Mari. Um gato e...

— Não vai me dizer que mandou foto de uma modelo magérrima para impressionar o cara?

— Não, eu... mandei minha foto e tal.

— E... ele gostou, senão não marcaria nada. Fico feliz em não ter mentido, até porque não há necessidade.

— Hum... — Ela vira o rosto.

— Márcia! Você mentiu sobre o quê? — Ela não sabia mentir.

— Eu não menti, eu omiti alguns fatos.

— Como o quê?

— Como usar um aplicativo de embelezar foto.

— Ah, para! — Gargalho.

— Sério! É magnífico! — exclama, tentando me convencer.

— Você é linda, amiga! Ele vai ficar louco quando te conhecer pessoalmente. A indiazinha mais linda que já vi. Quem não se encanta?

— Você acha?

— Acho não, tenho certeza.

— Por isso te amo, sabia? — diz ela, me abraçando.

— Sim, eu sabia. Agora, por favor, marque em um lugar público, ok?

— Sim, senhora.

Saio da escola e meus olhos imediatamente buscam o posto de saúde, e vejo apenas o entra e sai dos pacientes.

Os últimos dias foram assim. Miguel era um homem reservado. Reservado até demais.

Não fiz mais a loucura de expiá-lo pela janela, apenas dou um jeito de estar lavando a louça em horários estratégicos. Eu não sabia o porquê, mas a cada dia me sentia mais curiosa, encafifada com a presença dele.

Ele ia do posto para casa e da casa para o posto. Eu gostava de rotina, mas ele ia além disso.

Como um homem estudioso - para ser médico eu já presumia isso – bonito, extremamente cativante com seus pacientes, fica tanto tempo sozinho? Eu imagino o quanto os seus dias deviam ser agitados dentro daquele mini hospital, porém falar somente sobre doenças e remédios não é algo atrativo, assim como falar o tempo todo sobre crianças e avaliações não eram para mim.

Outro dia o encontrei saindo do mercado. Fiquei espantada ao vê-lo com outra roupa, menos formal. Apenas nos cumprimentamos. Era assim que acontecia nas poucas vezes em que nos esbarrávamos.

Mamãe de vez em quando leva alguns quitutes para ele. Outro dia falei que ele era antipático, depois que negou o convite dela no último domingo para um café em nossa casa, mas mamãe saiu em defesa dele dizendo que Miguel deveria estar muito cansado.

Ele era misterioso demais, fechado demais. Tanto que resolvi pesquisar no site do conselho regional de medicina do Rio de Janeiro para ver se ele era devidamente credenciado. Vai que o homem era um impostor disfarçado de médico! Cidade pequena tem bastante disso. Já vi na televisão.

Foi através do contrato de locação que papai guardou que consegui a informação de que eu precisava. Natural do Rio de Janeiro, Miguel Guimarães era limpo, correto. Especialização: Clínico geral.

Sem estar satisfeita, joguei seu nome no Google. Quem nunca fez isso? Não havia mal algum!

Encontrei pouquíssimas informações. Vi apenas uma foto dele ao lado de alguns outros médicos e muitas crianças ao redor. A descrição da matéria especificava que a foto era na África, um ano atrás.

E cada vez mais me sentia indiscreta. Não sabia se essa era a palavra certa, mas era mais ou menos o que a curiosidade me fazia sentir.

Às vezes eu me sentia incomodada por estar dando tanta importância para esse médico, mas meus olhos não desviavam do posto.

Sacudo a cabeça, sorrindo sozinha no caminho para casa, e resolvo entrar na farmácia, apenas para dar um oi para Alan e Janice.

Assim que abro a porta de vidro da farmácia Droga Rica, vejo um homem de jaleco branco, de frente para o balcão, com a atenção centrada em alguns papéis.

Miguel está aqui. Janice e Alan estão tão compenetrados atendendo o médico que não percebem a minha entrada.

Vago pelos corredores do local, com passos curtos e lentos, para que não me notem.

— Tem certeza disso, doutor? — pergunta Janice.

— Absoluta. Será que teriam como entregar no posto? — Sua voz meio rouca e suave faz meus pelos do corpo arrepiarem instantaneamente. Foram poucas as vezes que ouvi sua voz.

Miguel se mantinha da mesma forma de quando chegou: sucinto e extremamente profissional.

Chego mais perto para tentar ouvir, mas esbarro em uma das prateleiras, fazendo algumas cartelas de antitérmicos caírem. Com o silêncio do local, o barulho mais parece uma bomba atômica explodindo.

Uma sensação de dejà vú da noite em que o espiei logo me atinge.

Dessa vez eu não tenho porta para fugir.

Os três se viram para mim.

— Desculpe — sussurro.

— É claro, doutor — responde Alan para o médico, tentando ignorar a minha pequena catástrofe. Eu me abaixo e cato os medicamentos. — Só iremos separar e entregar.

Ele estende a mão para os dois e se vira.

Levanto com dezenas de cartelas na mão e sorrio ao dar de cara com Miguel.

— Olá, Mariana. — Seu cumprimento é amigável.

— Olá, doutor — retribuo.

— Está com algum problema?

— Eu? — Sorrio, negando com a cabeça. — Não, eu... eu estou ótima.

Ele para de sorrir e olha para as minhas mãos, segurando sobre os peitos as inúmeras cartelas.

— Ah, isso. — Coloco-as no lugar. — Foi apenas um acidente. Só vim cumprimentar meus amigos. — Aponto com a cabeça para o balcão.

Por trás dos ombros do médico, vejo Alan e Janice recostados, olhando em nossa direção com as mãos nas bochechas. Franzo o cenho para a cena.

— Você sabe que se precisar de alguma coisa ou...

— Ah, sim, claro. Pode deixar que baterei na sua porta! Não... eu... — gaguejo. — Irei até o posto.

— Pode ir à porta, Mariana. Sem problemas.

— Obrigada, doutor.

— Eu já vou indo. Foi um prazer reencontrá-la.

Apenas sorrio, agradecendo com a cabeça. Conseguia contar nos dedos as palavras trocadas por nós dois nesses últimos dias, e eram apenas conversas sociais.

Ele delicadamente desvia de mim e sai da farmácia. O som abafado da porta de vidro se fechando é o sinal certo para que eu volte a respirar.

Azuis.

Azuis.

Os olhos dele eram de um tom de azul safira. Tão lindos, tão penetrantes, tão...

— Mariana!

Uma voz forte me tira dos pensamentos.

— Oi, Alan.

— Perdida?

— Não — nego, mostrando indiferença. — Só vim papear um pouco.

Janice volta a mexer nas folhas no balcão e chego próximo a eles.

— Hoje temos o que fazer — diz meu amigo sorrindo, levantando os ombros.

— Ah é?

Não era nada incomum eu parar na farmácia para conversar com Alan e Janice. Na maioria das vezes Márcia está comigo e acaba sendo uma farra total.

— É.

— Algum problema? — pergunto aos dois, curiosa demais para ficar quieta.

— O problema é a falta de medicamento no posto — explica Janice. — Mas parece que o médico não quer saber disso.

— O que ele fez?

Ela me chama para perto com a mão.

— Ele comprou os medicamentos — cochicha.

— Comprou?

— Comprou — repete Alan.

— Disse que é impossível tratar as pessoas sem que sejam devidamente medicadas. Parece que até ligou para o prefeito — conta Janice.

— Eu não sei se isso é bom ou ruim. Tenho medo de que veja que essa cidade é um caos e vá embora — completa Alan.

— Espero que isso não aconteça — digo.

Eu realmente esperava isso. Digo tchau aos meus amigos e os deixo trabalhar.

Minha vontade era de ligar agora mesmo para o prefeito e enfatizar mais uma vez a falta de respeito com a população, mas esperava que o doutor já tivesse feito isso.

Ele comprou medicamentos com dinheiro do próprio bolso para abastecer nosso precário posto de saúde. Não, nenhum médico faria isso, não aqui, não nessa cidade!

Entro em casa feliz com a atitude dele, porém intrigada. O que levaria um médico, novo, bonito, sozinho, extremamente educado, perdido nessa cidade?

Ele alugou a minha casa e agora compra remédios para a população?

— Olá, Mariana — diz mamãe assim que eu abro a porta.

— Oi, mãe.

— Tá com fome? Acabei de tirar dois bolos do forno.

O cheiro era maravilhoso.

— Dois? Agora vai fazer bolo para vender? — pergunto alto, lavando as mãos no banheiro.

— Não. Um é para a gente, o outro, para o doutor.

— Aliás... — Meu pai sai do quarto, com um jornal na mão. — Miguel dará uma aula sobre primeiros socorros na escola para os meus alunos amanhã.

— Sério? — pergunto, sentando à mesa e cortando um pedaço de bolo.

— Ele aceitou na hora. Incrível como esse rapaz é educado.

— Incrível como ele é estranho, isso sim — digo, sem pensar duas vezes.

— Estranho? — questiona meu pai.

— Estranho bom.

— Nunca ouvi isso — fala minha mãe.

— Ah, eu apenas acho ele diferente, sei lá. Mora na minha casa pequena e compra com o próprio dinheiro medicamento para os doentes... Mora sozinho, não faz outra coisa a não ser trabalhar, e fica acordado de madrugada... Isso soa estranho para mim.

Quando me dou conta do que acabei de falar, percebo que meus pais estão me olhando sérios.

— O que foi?

— Ele comprou remédios? — pergunta meu pai.

— Sim, parece que não tinha no posto e ele comprou vários na farmácia.

— É um bom homem — declara mamãe.

— O doutor é simples. Para que uma casa grande, se vive sozinho? Sua casa não é tão ruim assim.

— Não disse isso.

— E como sabe que ele fica acordado de madrugada? — Dona Camélia estreita os olhos para mim e eu sorrio sem graça.

Papai me olha por cima dos óculos de grau.

— Eu... eu já vi as luzes acesas, nada demais.

Ela franze o cenho, mas logo recomeça a desenformar o outro bolo.

— Será que ele aceitaria dar essa aula para os alunos pequenos? — pergunto, querendo mudar o foco da conversa, colocando um pedaço de bolo na boca. — Hum... esse bolo de cenoura está divino, mãe! Você é demais!

Ela sorri.

— Não sei, minha filha. Por enquanto só temos um médico e dois enfermeiros, e o horário das aulas diurnas iria atrapalhar a vida do posto.

— É verdade. Eu não tinha pensado nisso.

— Vamos esperar.

Meu pai dá tapinhas em minha mão e volta a ler o jornal.

Então, ouvimos o barulho do portão da frente.

Miguel chegou. Olho meu relógio de pulso. Mais cedo do que de costume.

— Na hora certa! — exclama minha mãe, mostrando o ótimo trabalho com o seu outro bolo. — Será que você pode entregar a ele?

— Eu?

— Algum problema, Mari?

— Não... é que... Deixa o homem chegar, mãe. Deixa ele tomar um banho e relaxar.

— Mas é só um bolo. Talvez esteja com fome.

— Vou tomar um banho também e depois levo, ok?

Ela faz que sim, colocando-o sobre a mesa.

Saio da sala e tomo um banho demorado. Opto por um dos meus vestidos floridos, borrifo um perfume e vou até a cozinha pegar o bolo.

— Não está arrumada demais?

— Quem? Eu? - Sim, eu estava. Mas não iria até a casa do doutor com as mesmas roupas que vou trabalhar, ou com as que fico em casa. Claro que não. — Claro que não — nego com a cabeça.

— Tudo bem. Espero que ele goste.

— Impossível não gostar, mãe.

Saio pela porta de trás com o prato de bolo na mão.

As luzes estão apagadas. Quem sabe ele esteja no banho.

Resolvo tentar e dou três batidinhas na porta.

Meu coração dispara. Quase para. Ajeito o meu cabelo com as mãos trêmulas.

Espero um minuto e ninguém aparece. Quando penso em voltar para casa, vejo a luz da sala acender e a porta destrancar.

Ao abrir, vejo Miguel passando a toalha na cabeça, vestindo calça jeans, camisa polo preta e cabelos despenteados.

— Ah... hum...

— Oi, Mariana. — Ele tem um sorriso nos lábios, salvando-me da minha aparente falta de palavras.

— Ah, oi. — Levanto o prato de bolo, tentando ser amigável. — Minha mãe pediu para te entregar.

— Sua mãe é uma mulher muito gentil. — Ele coloca a toalha no ombro e pega o bolo. — Eu já disse a ela que não precisa se preocupar comigo, mesmo adorando cada doce que ela me traz. Agradeça-a por mim, por favor.

Sorrio, e sinto meus lábios tremerem um pouco.

— Irei sim.

Seus olhos encontram os meus. Nos décimos de segundos em que eles ficam presos em mim, sinto-me desconfortável. Era como se ele visse através de mim.

Passo as mãos no vestido e volto a sorrir.

— Bom, é isso. Eu... vou indo...

— Muito obrigado pela gentileza — Ele agradece mais uma vez.

Viro-me de lado, na direção da porta da cozinha, mas uma força involuntária me faz parar.

— Miguel!

Ele volta a me olhar.

— Oi.

— Você gostaria de jantar conosco?

Sem pensar duas vezes, o convite é feito.

Ele aperta os lábios e cada gesto em sua fisionomia me deixa arrebatada.

— Desculpe, Mariana, mas já tenho um compromisso.

Já tem?

— Ah, sim, claro. Sem problemas.

Volto-lhe as costas e sigo o meu caminho, sem querer olhar para ele novamente.

Onde eu estava com a cabeça? Ele já havia negado um convite parecido feito pela minha mãe!

— Mariana! — Agora era a sua vez de me chamar.

— Hum... — Viro-me, constrangida.

— Recebi um convite do prefeito para jantar com a família dele com o intuito de depois falarmos sobre alguns problemas da cidade — explica calmamente. Foi a frase mais longa que eu já o ouvi falar. — Se não for nenhum incomodo, poderia repetir esse convite amanhã?

Sorrio. Ele parecia mesmo um anjo.

— Já está convidado, doutor.

— Obrigado, Mariana.

— Mari. Pode me chamar de Mari — digo, tentando não parecer entusiasmada demais.

— Obrigado, Mari. Até amanhã.

— Até amanhã, Miguel.

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