Estou na sala de aula morta de sono, meu corpo está meio dolorido, principalmente as coxas. Havia acordado com um mal-estar, mas era coisa da pílula, havia lido na bula. Léo que me trouxe pra escola, e creio que também viria me buscar.
Quando o intervalo bate eu vou comer algo e me sentar, mal consigo sentar direito e dou um sorriso por isso.
Mando mensagem pra Bruno.
Lara ─ Tô no intervalo, comendo, e vc?
Brutamontes ─ Estudando códigos de defesa no escritório. Bom dia.
Lara ─ Bom dia.
Brutamontes ─ Podemos almoçar juntos hj?
Lara ─ Claro, vou falar pro Léo.
Brutamontes ─ Já falei, n precisa.
Lara ─ Tá né.
Ele não fala mais nada e muito menos eu, mas entendo que ele estava estudando e Bruno quando estava estudando não gostava de escutar nem o som de uma mosca perto dele. Era incrível quando ele ficava concentrado, e lá em casa não era bem o local ideal pra ele estudar, os meninos ficavam fazendo bagunça mas era só de mal mesmo.
Terminei de comer meu lanche e fui no banheiro e depois lavar as mãos. Quanto à Ruan, ele havia voltado pra escola, mas havia mudado de sala e eu nunca mais havia visto ele. Duda ainda estava com o mesmo, ouvia sua voz irritante berrando o nome dele na sala, talvez só pra me provocar, mal sabendo que merda e Ruan tem o mesmo significado pra mim.
Bate a saída e eu nem percebo, fico meia área nas últimas aulas, como sempre. Ajeito minhas coisas e saio.
Dessa vez Bruno não está se mostrando pra todos como costuma fazer, ele me espera dentro do carro estacionado na calçada da escola. E coloco um sorriso no rosto e vou dando pulinhos até a hilux.
Adentro no carro sentindo aquele cheirinho gostoso dele e o abraço enchendo seu rosto de beijos.
─ Oi, ranzinza ─ ele ri me soltando. ─ Como foi a aula?
─ Chata como sempre, amanhã tenho prova ─ faço bico e ele dá partida.
─ Prova de... ? ─ demonstro minha curiosidade.
─ Álgebra.
─ Um saco, graças ao bom Deus sou formado. Mas quer ajuda com a matéria?
─ Nossa, senhor sabe tudo.
Ele pisca e ri, pego meu celular vendo uma nova mensagem de Ricardo e dou um sorriso. O respondo em imediato, ele pergunta como estou e se tenho compromisso de noite.
─ Não está curiosa pra saber onde vamos almoçar? ─ ele cerra os olhos para mim.
─ Sempre estou.
Ele não fala mais nada, apenas aumenta o som e fica batendo os dedos no volante conforme a batida do rock antigo. Eu fico conversando no celular com Ricardo e as meninas.
Quando chegamos no local eu levanto a cabeça e encaro o local bem simples mas com uma decoração deslumbrante. Ele desliga e desce pegando o celular, e desço também com o celular na mão, havia alguns carros parados e não havia placa indicando o nome do local, eu nunca havia visto aquele restaurante, mas ficava perto de casa, umas ruas depois.
Bruno estendeu a mão pra mim e segurei em seus dedos quentes. Fomos de mãos dadas até lá dentro, nós dois éramos o centro das atenções dentro do restaurante, várias pessoas olhavam pra gente e aquilo me incomodava de certa forma. Soltei a mão de Bruno, talvez as pessoas não estivessem acostumadas à verem um homem enorme junto de uma garota de uniforme escolar, logo Bruno que anda todo bem trajado e cheiroso, esbanjando sua posição.
Nós fomos caminhando até uma mesa onde ocupamos o lugar aguardando o cardápio. O restaurante era bem climatizado e bonito, era o frango de ouro, havia uma decoração rústica e contava com um jardim de inverno imenso.
O garçom trouxe o cardápio e Bruno fez o pedido. Arroz com passas, arroz branco, frango com queijo, picanha, vinagrete, farofa e o suco natural. Odiava Bruno querer que eu me alimente como uma criança.
─ Gosto de almoçar com você ─ ele diz após fazer o pedido. Eu pego meu celular desbloqueando e o deixo em cima da mesa fixando meus olhos em Bruno. ─ Antes eu me sentia tão só, sei lá, mas agora não mais.
Coloco minha mão sobre a sua e ele beija levemente meus dedos.
─ Ainda dói? ─ indaga após limpar a garganta.
─ Não ─ abro um sorriso malicioso. ─ Já estou pronta pra mais uma.
Vou me inclinando pra o beijar mas ele meio que vira o rosto e beijo sua bochecha.
─ As pessoas estão olhando ─ ele sussurra mordendo discretamente minha orelha.
─ Você liga pra elas? ─ me afasto e volto a encarar seus olhos cor de mel brilhantes, ele me encara por um tempo e trinca a mandíbula. Se aproxima de mim, beija meus lábios levemente e encosta sua testa na minha.
─ Que se foda ─ ele sussurra e beijo a ponta do seu nariz.
Ele mexe em seu celular com uma mão em minha coxa, analiso o quão belo Bruno é, ele tinha porte de empresário, os cabelos bem cortados caiam em sua testa e lhe deixavam mais lindo ainda.
Tiro meus olhos dele assim que meu celular vibra, era Ricardo. Abro um sorriso e vou o responder.
─ Tá falando com quem rindo assim? ─ ele pergunta e tomo um susto guardando o celular.
─ Ninguém ─ dou de ombros.
─ Posso ver?
─ Óbvio que não, são meus amigos.
Nesse momento o garçom chega com nosso pedido e nos serve. Não queria que Bruno visse que estava conversando com Ricardo porque eu já sabia que ele iria falar. E falar muito. Mas não ligava, gostava de Ricardo, ele era legal.
─ Então por que não mostra?
─ Porque não quero.
─ Eu sei com quem é... Só te digo uma coisa: tu sabe com quem fala e se relaciona.
─ Sei muito bem, não preciso de ninguém julgando os outros. Às vezes é só raivinha, intriga, inveja.
Bruno larga o talher e me olha meio incrédulo.
─ Olha bem o que você está falando, se eu digo isso é pro seu bem, você não é mais nenhuma criança, sabe o certo e o errado, se seu primo pediu pra se afastar é porque algo bom não é ─ retruca cortando o frango e comendo, também me sirvo calada.
Almoçamos em silêncio, quando terminamos fui no banheiro fazer xixi e lavar as mãos e Bruno pagar a conta. Também seguimos pro carro em silêncio. Mas quando já estávamos perto de casa ele começou.
─ Não quero mais que fale com ele.
─ Ele é meu amigo! Eu posso pedir pra não falar mais com Vivian que você vai parar? ─ retruco de forma alta.
─ Uma coisa é diferente da outra, Lara. Ricardo quer seu mal, Vivian nem se quer fala direito comigo ─ ele diz segurando o volante com força.
─ Nada a ver, Ricardo nunca me fez mal, nunca me tocou sequer.
─ Ainda ─ acrescentou ele. ─ Quer saber? Isso não vai dar certo, eu já sabia disso mas insisti.
Aquelas palavras dele me atingem como uma bala, sinto meu coração doer e um misto de raiva e decepção se misturarem dentro de mim. Eu respiro fundo e seguro o choro, mas não funciona.
As lágrimas escorrem por meu rosto e pingam por minha bochecha, mas meu cabelo esconde meu pranto de Bruno. Ele estaciona na entrada do prédio, eu abro a porta com tudo e saio, mas antes de fechar bruscamente a porta eu procuro ar nos pulmões, encaro Bruno nos olhos e disparo como uma bala:
─ É! Talvez isso não dê certo mesmo... sabe por quê? Eu estou completamente apaixonada por você, Bruno! ─ ele me olha sem expressão alguma e bem sério. Mas não diz nada, isso é como uma facada em mim. ─ Não vai dizer nada? Ótimo! Já esperava isso de você.
Fecho a porta com tudo e vou entrando na recepção e enxugando minhas lágrimas com o casaco da escola. Sinto raiva, muita raiva, por que amar dói tanto?