Quase, sem querer

By JssikaSoares

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Anne é uma garota de temperamento forte, que após perder a mãe muito nova, se revolta com a vida a ponto de s... More

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Epílogo_(FINAL)
Agradecimentos
Saiu livro físico ❤

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By JssikaSoares

Ficamos até tarde na academia conversando sobre meus afazeres. Alexandre tinha pedido a Nathan que me explicasse como tudo funcionava e o que eu deveria fazer para ganhar um salario no fim da semana.

Nathan estava tão feliz com a sua nova posição que estava com um humor maravilhoso. Me explicando tudo sem reclamar ou sequer ser irônico quando eu fazia perguntas obvias para ele.

A verdade é que eu não conhecia nada daquele mundo, não sabia como funcionava as coisas e muito menos como elas se chamavam. Mas ele me ensinou tudo enquanto Alexandre conversava com os possíveis novos alunos e mostrava as dependências da academia para eles.

Nathan me mostrou os vestiários, a sala de Alexandre, o quarto que ficava ao lado que tinha dois beliches, um guarda roupa, uma TV enorme ligada em um vídeo game de ultima geração, uma comoda e malas acomodadas em baixo das camas. Aquele quarto servia de casa para alguns garotos que vinham de outras cidades para campeonatos locais, mas principalmente servia de casa para Nathan.

-Você mora aqui?- perguntei a ele surpresa.

-Moro sim.- disse ele com um sorriso.- Por que?

Dei de ombros.

-Por que?- repeti a pergunta dele.

Ele revirou os olhos, se divertindo com a minha curiosidade.

-Eu não sou dessa cidade, vim para cá para competir os campeonatos e poder treinar com mais foco todos os dias.

Não percebi que estava de olhos arregalados.

-E seus pais? E sua casa? E tudo que você tinha lá? Tipo amigos e namorada.- disse eu completamente perplexa.

Ele deu de ombros e sorriu.

-Abri mão de tudo pelo jiu jitsu. A minha vida esta aqui dentro.- disse ele, mas ao me ver com os olhos arregalados continuoou.- Não estou dizendo que não amo a minha família e meus amigos, volto para casa sempre entre um campeonato e outro. E eles apoiam completamente minha escolha e isso é só o que importa para mim.

Ele fechou a porta do quarto e seguimos nossa tur.

-E a sua namorada?- perguntei aquilo me arrependendo arduamente do que tinha dito. Mas a verdade é que eu estava curiosa para saber como alguém mantinha uma relação como aquelas, com alguém que não te priorizava.

Ele olhou para mim e sorriu mais uma vez daquele jeito que fazia meu rosto corar. O que me obrigou a olhar para baixo e ignorar o que ele tinha a dizer. Então ele colou o braço por sobre meus ombros, me direcionou até a sala onde eles faziam o treinamento funcional todos os dias, pela manhã e tarde da noite. Não gostei do braço dele em mim, mas não protestei, ele estava de tão bom humor que aquilo estava me contagiando.

Depois que ele me explicou como funcionava o circuito da sala de exercício funcional, o que me cansou só de imaginar tudo que eles faziam, nos separamos e descemos as escadas. Ele me apresentou o resto da academia de musculação, os banheiros e vestiários do andar de baixo, a mini cantina que tinha bem no centro do salão, que era como uma ilha onde era preparado todo o tipo de bebidas proteicas que os alunos precisassem, as salas de aula de todos os tipos de luta, ritmos e exercícios aeróbicos, e por ultimo me mostrou a parte administrativa da academia que ficava em uma sala atrás do balcão por onde entrei. Assim que passamos por Pan, a recepcionista mal humorada, ela sorriu para Nathan.

-Parabéns baby.- disse ela cheia de intimidade com ele. E por algum motivo gostei ainda menos dela naquele instante.

Nathan corou, o que me fez ficar ainda mais irada com a situação. Pigarrei para mostrar que estava ali, sem perceber que estava com ciúmes do garoto que tinha acabado de conhecer melhor.

-Obrigada Pan.- disse ele sem jeito.- Essa aqui é a Anne.- disse ele apontando para mim. E não vou negar que gostei dele ter lembrado do meu primeiro nome, mesmo que eu o tenha dito só uma vez para ele.- Ela vai trabalhar na recepção do segundo andar.

Pan olhou para mim dos pés a cabeça. Não, a gente não seria amigas mesmo.

-Não sabia que tinha uma recepção lá em cima.- disse ela com desdém.

-Não havia, mas o Mestre criou a vaga ontem à noite quando a gente conheceu ela.- disse Nathan apontando para mim.

Imediatamente olhei para ele. Não sabia daquela parte da história, achei que o cargo sempre tinha existido, mas só estava desocupado. Alexandre tinha visto algo em mim, ao ponto de querer me ajudar. Mas depois que fiquei sabendo do quarto de Nathan, e que vi os dois trocando afeto na graduação do mais novo faixa roxa percebi que o coração de Alexandre era enorme. O admirei ainda mais naquele segundo.

-Você luta?- perguntou Pan para mim com uma sobrancelha arqueada.

-Ainda não.- disse para ela.

Foi a vez de Nathan olhar para mim com surpresa. Ele não esperava aquilo vindo de mim, e gostei de surpreendê-lo.

-Bom, seja bem vinda.- disse ela pela primeira vez com um sorriso.

Não entendia a garota com estilo de bar tender. Pan tinha os cabelos louros na altura do queixo, olhos estreitos e verdes, um corpo de por inveja em qualquer pessoa, um ar confiante e algumas tatuagens ao longo dos braços. Ela era linda de um jeito totalmente selvagem. Não parecia se encaixar muito naquele mundo de malhas colantes e homens fazendo poses em frente ao espelho.

Dei um sorriso sem mostrar os dentes para ela e depois segui Nathan até o andar de cima outra vez.

-A Pan parece gostar muito de você.- tentei parecer o mais imparcial que consegui, mas falhei.

-A Pan gosta de todo mundo.- disse ele com um sorriso divertido.- Mas não se preocupe ela é como uma mãe para mim.- ele piscou ao dizer aquilo.

Parei no meio da escada e fiquei o encarando. Não gostando nem um pouco da sua atitude.

-Não que isso importe para mim, mas acho que ela não pensa da mesma forma.- disse passando por ele e subindo as escadas com passos pesados.

Ele subiu correndo os degraus e segurou o meu braço.

-Ei, eu estava brincando.- disse ele se desculpando.- A Pan é mulher do Mestre, é como uma mãe para todo mundo aqui, principalmente para mim que moro nesse lugar.

Não disse nada que pudesse me comprometer. Mesmo que minhas atitudes demonstrasse que estava interessada, não ia aceitar aquilo tão rapidamente. Muito menos admitir.

-Por que você chama Alexandre assim?- perguntei a ele para fugir do assunto " meu ciúmes ridículo".

Ele soltou uma risadinha e voltamos a andar até os bancos que ficavam ao redor do tatame.

-Todo professor de jiu jitsu se torna mestre quando gradua seu aluno a faixa preta. É como um ciclo, o cara começa faixa branca e evoluiu até se tornar faixa preta, e quem te ensina nesse percurso e te gradua no final se torna um mestre.- disse ele apontado para o quadro de medalhas na escada.- Alexandre é doze vezes campeão mundial, e já graduou mais de nove faixas pretas. Se isso não é ser mestre, então não sei o que é.- disse ele cheio de orgulho.

-O respeito que vocês tem com ele é admirável, assim como a humildade dele, jamais diria algo assim sobre ele se o visse na rua.

Nathan olhou para mim, como se eu tivesse dito que o amava.

-Não temos apenas respeito por ele Anne, mas pelo que tudo isso representa para nos. Jiu jitsu é um estilo de vida, quem pisa nesse tatame e sente o que sentimos nunca mais abandona isso aqui. Te fortalece, te equilibra e disciplina. Você se torna outro, não é atoa que larguei minha vida para estar aqui.

Ele me olhava com tanta paixão que quase me derreti. Não sabia como explicar, mas era algo que emanava dele, como se ele dependesse daquilo para viver.

Me abaixei e toquei o tatame, sentindo a leveza do chão que parecia tão duro ao olhar de longe. Nathan me observava, enquanto eu descobria mais sobre seu mundo, gostando de me ver encarar aquele couro amarelado e rígido. Meus dedos alisavam o lugar como se ele fosse falar comigo em algum momento, esperando que ele me dissesse o que o tornava tão mágico para aqueles que ali pisavam.

-Pegue o Kimono de visitante para ela.- disse Alexandre aparecendo de repente.

Nathan sorriu satisfeito, como se soubesse de algo que eu não sabia. Depois voltou com um tecido azul em uma mão e um par de chinelos enormes na outra.

-Pode ficar com a blusa por baixo, mas vai precisar tirar as calças e os sapatos. Deixe tudo num daqueles armários que eu te mostrei e depois volta aqui para que eu te ensine a amarrar a faixa.

Nem questionei o que ele disse, apenas peguei as coisas de suas mãos e segui para o vestiário. Tirei as calças e os sapatos e joguei tudo dentro de um dos armários. O vestiário estava vazio, o que facilitou meu nervosismo a aparecer. Vesti a parte de cima do kimono, somente o símbolo do Batman aparecia, e me senti idiota por aquilo. Calcei os chinelos e fui com pressa para o tatame, antes que me arrependesse de somente tentar.

Parei em frente ao tatame e olhei para Nathan que me esperava com os braços apoiados na cintura. Vestido perfeitamente com seu kimono e sua nova faixa. Alexandre estava sentado num banco mais distante, olhando para nós dois com um sorriso estampado no rosto. Ele parecia feliz com alguma coisa que eu não entendi, e assim que as luzes no andar de baixo apagaram e Pan surgiu na escada com o mesmo sorriso percebi que estava perdendo algo.

Pan se juntou à Alexandre no banco e todo mundo ficou me olhando enquanto eu me sentia indefesa pela primeira vez em anos.

-Vou adorar dizer isso pra você.- disse Nathan com um sorriso convencido.- Você precisa reverenciar o tatame e tirar os chinelos para entrar, depois vir até mim e me reverenciar.

Olhei para ele com os olhos apertados, não gostando da forma convencida que ele sorria. Muito menos das ordens que ele me dava.

-Por que preciso fazer isso?- me direcionei para Alexandre. Receber ordens dele era uma coisa, receber ordens de Nathan era outra bem diferente.

-Porque é uma questão de respeito pelo mais graduado. Sempre que você entrar no tatame vai cumprimentar todo mundo, por ordem de graduação, seu professor, os marrons, roxa, azul e brancas.- disse Alexandre simplesmente.

-Então o correto seria eu ir até ai e te cumprimentar primeiro?- não era do tipo que aceitava ordens sem questionar.

Pan deu uma gargalhada e Alexandre acompanhou ela antes de perceber que eu não estava gostando da situação. Então se recompôs e disse calmamente, como se já soubesse que eu era uma bomba prestes a explodir.

-Não, porque nem estou de kimono. E por que nessa noite Nathan será seu instrutor.- disse ele cheio de orgulho.

-Pensei que só os faixas pretas pudessem ser professores.- falei irritada.

-Sim, só os faixas pretas são professores. Mas a partir da faixa roxa você pode ser instrutor e acompanhar os iniciantes.- disse Alexandre.

- Vamos garota, você não vai morrer por reverenciar ele.- disse Pan.

Olhei para ela com os olhos cerrados e ela pareceu gostar ainda mais da minha atitude. Depois olhei para Nathan e fiz o que ele disse, me sentindo completamente ridícula. Depois pisei no tatame e caminhei na direção dele.

Ele estava incrivelmente ainda mais bonito naquela posição. E me odiei por não conseguir disfarçar o quanto estava interessada. Ele esticou o braço e tirou de lá um elástico para me alcançar depois que eu o reverenciei.

-Amarre os cabelos, não quero te machucar.

Peguei o elástico sem protestar. Então amarrei o meu enorme cabelo bem no meio do cabelo, dei duas voltas bem apertadas e na terceira puxei só metade dos cabelos, criando o penteado da Mulan quando ia para a guerra. Minha personagem favorita dos desenhos da Disney.

Depois que estava com o cabelo amarrado fui puxada por Nathan, ele me trouxe para mais perto dele. O que fez meu rosto todo corar. Então ele passou a faixa na minha cintura, posicionando ela para que ele pudesse amarrá-la.

-Quando voltamos da sua casa aquele dia. Eu disse ao Mestre que queria um rola com você, para que você pagasse por ter me tratado tão mal.- dizia ele baixinho, para que só eu pudesse ouvir.- Mas não imaginei que ele me tornaria faixa roxa para que eu pudesse ser seu instrutor.

-Significa que você me deve uma.- disse olhando para baixo, vendo como ele amarrava a minha faixa, para fazer o mesmo depois.

Ele colou a mão no meu queixo e o ergueu para que eu olhasse para ele.

-Não fique ai menosprezando meu desempenho. De qualquer forma eu ia ganhar a faixa roxa esse mês, você só adiantou o processo.- disse ele me olhando com um sorriso nos lábios.

Meu rosto corou outra vez, mas daquela vez não tive como disfarçar. E nem tentei para ser sincera.

-Isso não muda o fato de você me der uma. Eu adiantei o processo.- pisquei para ele.

Ele sorriu e revirou os olhos. Depois se afastou de mim para poder me cumprimentar quando a minha faixa já estava amarrada.

Trocamos apertos de mãos e o seu olhar mudou completamente. Confesso que cheguei a ficar com medo, mas a sensação durou pouco.

-Só pra você saber, eu não tenho.- disse ele com um olhar intenso que me hipnotizou completamente.

-O que?- falei quase automaticamente.

Não tive muito tempo para raciocinar sobre o que ele dizia, porque no segundo seguinte ele segurou o colarinho do meu kimono e me jogou no chão com tanta força e rapidez que quase não consegui ver. Tinha sido pega desprevenida, e ele nem sequer tinha suado para me estatelar no chão. O que me irritou completamente.

Então ele montou em cima de mim e pressionou o antebraço no meu pescoço. Tudo numa sequencia de movimentos rápidos e bem planejados.

-Primeira regra do jiu jitsu, esteja sempre atenta.- disse ele pressionando com mais força meu pescoço ao se aproximar centímetros do meu rosto.- Segunda, bata com a mão no chão duas vezes quando quiser se render.

Fiquei o encarando com o olhar desafiador, sem a pretensão de o deixar vencer tão facilmente, mas sabendo que teria que fazer aquilo em um momento próximo já que estava perdendo o ar. Tentei uma única vez me debater e sair de baixo dele, mas era inútil, ele tinha me imobilizado em todos os lugares certos.

Então quando não aguentei mais bati no chão me rendendo. E odiando mais que qualquer coisa a sensação de derrota que senti ao fazer aquilo. Ele me soltou e depois sussurrou só para mim.

-Que não tenho namorada.- então ele me olhou bem de perto, fazendo meu coração acelerar e meu rosto pegar fogo. Depois levantou com um sorriso presunçoso e me estendeu a mão para me ajudar a levantar. Eu simplesmente levantei sozinha e ignorei a mão dele na minha direção.

-Tudo bem, divida paga Nathan.- disse Alexandre com uma risada.- Agora ensine a ela jiu jitsu.

Depois daquele segundo a minha vida mudou completamente. E foi ali que tomei meu próprio rumo e decidi que queria sentir aquela sensação de poder todos os dias.
Jiu jitsu não tinha se tornado só um esporte para mim, mas um estilo de vida. A partir daquele momento eu queria viver daquilo até que parasse de respirar, porque o jiu jitsu tinha mudado a forma como eu via as coisas e principalmente tinha transformado toda a raiva que existia dentro de mim em disciplina rumo ao aprendizado.

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