Bruno narrando:
Eu desperto. Meu celular vibra, é o despertador, são seis da manhã. Eu bufo porque tudo que queria fazer era dormir a manhã toda, mas o senhor Rocco não perdoa a falta de compromisso. Eu precisava ir pro escritório pra discutir o caso do meu atual cliente na qual defenderia na quarta-feira.
Eu me viro após jogar meu celular em qualquer canto, e quando me viro tenho a paisagem mais linda em minha frente. Ao vê-la recobro em imediato as lembranças de ontem a noite, e abro um sorriso.
Me deito a olhando, ela dormia levemente, estava de lado, sua cintura estava descoberta pelo lençol e sua nudez a deixava mais bela que nunca. Ela era linda, e minha nossa, me encatava de um jeito desumano. Tinha traços leves e perfeitos, parecido esculpidos por um profissional.
E ela abriu os olhos, procurei disfarçar o jeito que a olhava, seus olhos claros se focaram nos meus e ela sorriu, seu sorriso lindo.
─ Bom dia ─ sussurrou se espreguiçando.
─ Como você está? ─ minha pergunta é ligeira, mal consigo controlar as palavras.
─ Melhor impossível ─ ela sela meus lábios.
─ Vai tomar logo banho, não esquece que tem escola às sete ─ digo me levantando e indo pro banheiro.
─ Que bundinha hein ─ ela comenta rindo e mostro meu dedo pra ela.
Tomo um banho gelado pra despertar meu corpo, ela logo entra, e vem tomar banho comigo com aquele seu olhar meigo que tanto me encantava.
Durante todos esses anos eu nunca havia sentido o que sinto por ela, nem mesmo com Vivian, certo que eu amei muito Vivian mas nunca tive essas sensações que estou tendo. Com Vivian era algo meio superficial de mais, e com ela não me sentia muito a vontade. Nosso sexo era casual, eu não gostava de dormir abraçado com ela, seu perfume doce me agoniava de certa forma, e ela não me dava prazer apenas com um olhar.
Mas com Lara as coisas são diferentes, seu corpo me dá prazer de forma inexplicável, seu olhar me encanta e amo seu sorriso.
Nós tomamos banho juntos, só trocamos sorrisos e beijos. E depois ela escovou os dentes comigo. Tomamos café da manhã e fomos nos ajeitar.
Sabia que isso era errado, muito errado. Ela tinha dezessete anos, era a priminha de Arthur, meu melhor amigo faz anos e o cara na qual divido apartamento, mas eu não conseguia suportar ficar longe dela. Era impossível vê-la e manter aquele pensamento na cabeça. Queria me afastar mas não conseguia.
Ela se veste e vai se maquiar, eu coloco uma calça jeans lavagem escura, uma camisa social branca e um sapatênis. Penteei os cabelos, passei perfume e me dei por pronto.
Ela arrumou todas suas coisas e eu arrumei as minhas. Nós descemos abraçados até a hilux e coloquei a chave na ignição, peguei meu celular vendo uma nova mensagem de Vivian.
Vivian ─ Sei que te fiz de otário, mas nós temos uma grande história juntos, se lembra como a gente se conheceu? Cada olhar que trocamos? Tudo era tão bom no começo mas depois você se focou muito no trabalho, começou a me dar pouca atenção e eu fiquei sem rumo... eu sinto sua falta amor, volta comigo, vamos nos entender.
Eu suspiro e troco a marcha dando partida. Respondo ela.
Bruno ─ O que tinha que dar já deu. Eu tô em outra.
Jogo o celular em qualquer canto e olho pra Lara ao meu lado, ela olhava a paisagem pela janela, os cabelos lisos caiam de forma harmônica em seus ombros até suas costas.
É, eu estava realmente em outra. E sentindo coisas que jamais havia sentido com qualquer outra menino que havia ficado.
Eu podia ser certo, mas Lara veio justamente pra me deixar errado.
***
Vivian narrando:
"Eu tô em outra." Como assim ele estava em outra? Quem era ela?
Sinto as lágrimas deslizarem pelo meu rosto e aperto o celular em minha mão com força. Não sabia como reagir perante a isso. Bruno era meu! Durante anos foi e não iria deixar de ser. Nós havíamos vivido momentos marcantes juntos, e seu pai gostava de mim.
Nós estávamos noivos, entre a gente, não queriamos divulgar ainda nosso noivado porque estávamos planejando uma festa. Seria tudo perfeito. E agora olho pro anel em meu dedo meio perdida sem ele.
Bruno fazia o amor mais gostoso do mundo, sabia me dar conselhos e se preocupava comigo. Eu precisava dele, meio que já havia o eternizado em mim.
Disco o número do meu único amigo de todos os momentos, ele atende no terceiro toque.
─ Fala, loira ─ sua voz soa meio estarrecida.
─ Falei com ele, sabe o que ele me disse? Estou em outra! Acredita? ─ falo aos prantos, não acreditava ainda nisso.
─ Iiih, e agora? Tu precisa bolar um plano pra segurar ele pô ─ fala de um jeito conselheiro, como se conhecesse Bruno, mas conhecia. ─ Já pensou em engravidar?
─ Tá meio que dizendo pra engravidar dele? Acha que um filho segura ele?
─ Com certeza.
─ Ele sempre usa camisinha, sempre. Ele não quer ter filhos, deixou isso claro pra mim desde o começo.
─ Ele não fica bêbado o bastante pra se esquecer de se proteger? ─ ele pergunta e continuo em passos largos pro lado e pro outro, enxugo as lágrimas em uma camisa minha e me olho no espelho reparando o estado em que Bruno havia me deixado. ─ Se acalma, você precisa pensar, sabe quem seria essa "outra" dele?
Bufo, eu realmente não sabia quem era, ele nunca foi aquele tipo nojento de homem, isso que dava valor nele. Quando estava comigo olhava pros meus olhos, mas jamais pra qualquer garota que passasse ao nosso lado mesmo que fosseu desnuda. Ele era cavalheiro, isso encantava qualquer garota, ele sabia o que fazer em todos os momentos.
Eu sentia falta dele, tentei buscar tudo que existia nele em outro alguém mas não consegui encontrar. Ninguém fazia amor como ele, ninguém me elogiava como ele. Ninguém na hora H tomava conta do sexo como ele, o mesmo gostava de comandar. Puxava meu cabelo, batia na minha bunda, calvagava dentro de mim, me arrancava urros de prazer e múltiplos orgasmos.
E apesar de Bruno demorar bastante pra dizer que me amava, coisa de um ano e meio de namoro, ele me disse, logo depois de fazermos amor. Me senti a pessoa mais sortuda do mundo. Ele realmente não era alguém de demonstrar sentimento, falar todo dia que me amava, e às vezes, quando eu falava, só recebia um: também. Ele tinha a hora certa de se declarar. Ele sabia exatamente como agir em todos os momentos.
Eu fungo.
─ Não... quer dizer... sei lá... não sei ─ me sento na cama e suspiro. ─ Eu só queria voltar com tudo, me arrependo bastante da traição.
─ E então por que traiu?
Por que trai meu namorado? Por que traia ele? Por que dava em cima dos amigos dele?
Eu me sentia sozinha. Precisava de alguém. Ele não me dava mais atenção como no começo da relação.
─ Me sentia sozinha.
─ Então não reclama... depois falo contigo, tô me arrumando pra ir trampar.
Desligo e jogo o celular de lado me deitando na cama e me deito em posição fetal, mega mal.
***
Pela tarde fui pra faculdade arrastada. Só queria ficar em casa, infelizmente era da mesma sala que Bruno. Quis ficar sozinha em meu canto, fiquei mexendo no celular até que o vi chegar.
Ele sorria bobo olhando pro celular, estava de camisa social azul clarinha, calça jeans escura e a mochila nas costas. Meu coração se acelerou, ele foi se sentar meio afastado dos amigos, mas creio que era só enquanto a aula não dava início.
Desci o auditório e fui até o mesmo. Ele estava tão entretido no celular que nem notou minha presença.
─ Bruno? ─ chamei seu nome baixinho, ele levantou o olhar para mim, bloqueou o celular e o colocou no bolso.
─ Sim? ─ perguntou sem qualquer expressão no semblante.
─ Podemos conversar?
─ Não ─ ele se sentou e tirou a apostila e o iPad da mochila.
─ Você não sabe o quanto estou arrependida, todos os dias ─ começo me sentando na carteira ao lado.
Ele me olha, e coça o queixo.
─ Não sabe o significado de "não"? ─ dá ênfase no "não".
─ Sei muito bem, mas não aguento mais tudo isso, ficar longe de você é tão ruim ─ digo choramingando, ele finge não dar importância nenhuma. Continua lendo as detrizes penais da apostila.
─ Já disse que estou em outra ─ murmura.
─ Podemos ser então amigos? ─ sugiro já derrotada, não tinha mais jeito.
─ Amigos sim ─ ele diz sem me olhar.
Me levanto da cadeira e volto pro meu lugar em silêncio, mas dou um sorriso vitorioso. Se ele acha que seríamos só amigos estava enganado, eu faria o que meu amigo havia dito, logo logo.
Se fosse possível até engravidaria pra segurar ele.