Quase, sem querer

By JssikaSoares

13.1K 1.9K 341

Anne é uma garota de temperamento forte, que após perder a mãe muito nova, se revolta com a vida a ponto de s... More

2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23
24
25
26
27
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
38
39
40
41
42
43
Epílogo_(FINAL)
Agradecimentos
Saiu livro físico ❤

1

1K 81 19
By JssikaSoares

CAPITULO 1

Meu nome é Annelise Mcgregor, mas todo mundo me chama de Anne. E não, ao contrario do que você esta pensando eu não sou parente daquele lutador pouco amável e educado chamado Conor Mcgregor. Sou uma mera garota universitária, normal, comum e sem nenhum tipo de privilégios nessa vida.

Não sou muito sociável, tenho poucos amigos e um humor que às vezes acaba com tudo a minha volta. Mas nem sempre fui assim.

Minha vida costumava ser mais fácil à uns 4 anos atrás. Quando a minha mãe ainda era viva e meu mundo perfeitamente normal. Mas nem sempre tudo pode ser como a gente quer. Eu estava no ensino médio quando ela descobriu aquele maldito tumor no cérebro. Não tivemos muito tempo para fazer alguma coisa, segundo o infeliz do médico não se podia fazer muito. Chamo ele assim porque não acredito que alguém consiga dar uma noticia tão horrível com uma cara de quem fez tudo que podia, sendo que se ele tivesse descoberto aquela maldita massa cinzenta, quando ela disse a ele que as dores de cabeça não passavam e ele alegava ser apenas uma enxaqueca forte, ela poderia estar aqui.

Mas águas passadas. Até porque já vinguei, mesmo que minimamente, a falta de interesse dele quando risquei seu carro com os dizeres "seja um bom médico".

Meu pai foi tudo que me restou e os dias depois daquilo foram bem difíceis. Eu costumava ser a garota mais popular da minha escola, tinha muitos amigos e qualquer garoto que eu quisesse. Mas com tudo que aconteceu eu mudei, me tronei mais amargurada, mais intolerante e tudo parecia tão injusto na minha vida que minha alegria de viver simplesmente foi embora.
Me sentia injustiçada pelo destino. Não achava certo ver tantas pessoas maltratando seus pais, reclamando deles, os tratando mal quando tudo que eu queria era trazer a minha mãe de volta. Me irritava só ter que ouvir minhas amigas reclamarem daquilo que tinha me sido tirado.

Claro que todos aqueles que gostavam de mim me deram um tempo para superar, mas ainda sim parecia que aquele era o tipo de luto da qual não voltamos nunca mais. E eu não conseguia simplesmente seguir ao lado de todas aquelas pessoas quando não me sentia mais parte do grupo.

Meu pai foi o que mais sofreu com a minha mudança, assim como para mim, não estava sendo fácil para ele seguir em frente. Ele e a minha mãe sempre foram muito unidos, e viver sem ela, tinha o deixado perdido. Eu era tudo que tinha sobrado para ele, assim como ele era pra mim, só que a vida inteira meu pai não ficou muito em casa para saber como eu era de verdade. Ele sempre viajou muito a trabalho, pouco parava em casa para perceber que eu não era mais uma garotinha.

Assim como a minha vida mudou, a dele deu um salto de 360 graus. Ele teve que trabalhar menos, já que precisava cuidar da minha depressão, e por alguém no seu lugar na empresa que lutou arduamente para construir. Mas como a minha própria mãe falava, ninguém melhor do que você mesmo para fazer os seus negócios, e aos poucos a empresa do meu pai foi caindo, caindo, até chegar a falência.

Não ficamos completamente falidos, mas muito da minha realidade tinha mudado quando eu voltei da depressão. Não morávamos mais em um bairro bom de Nova York e as pessoas, que antes achei serem minhas amigas, haviam mudado muito com a gente. Em questão de um ano as coisas mudaram drasticamente e fui obrigada a amadurecer sem estar preparada para isso. Tive que me empenhar muito mais para conseguir uma bolsa para a faculdade, encarei as dificuldades de um emprego qualquer para ajudar com as contas de casa e aprendi da pior maneira possível que não dava valor para tudo que tinha antes.

Me sentia perdida de tantas formas que não sabia mais dizerem quem eu era.

Então um dia, depois de ter sido duramente humilhada na lanchonete onde servia mais mesas que o próprio Mcdonalds, corri mais de uma quadra para casa porque tinha perdido o ultimo ônibus que entrava no subúrbio onde eu morava. Tinha perdido a cabeça quando a mulher jogou o copo do refrigerante, que servi errado, na minha cara. Gritei e ofendi até as outras pessoas que estavam no estabelecimento, o que obviamente me fez perder o emprego. Só que eu precisava daquele salário, precisava ajudar meu pai e tinha sido ridícula por agir daquele jeito.

Pela primeira vez na minha vida eu me sentia uma tremenda fracassada. E um ódio ainda maior do que eu sentia da vida se instalou em mim. Não consegui mais correr, tinha vergonha de chegar em casa e ter que olhar para meu pai e dar a noticia que não teríamos o meu salario no fim da semana. Então parei numa rua pouco movimentada e invadi uma casa abandonada, quebrei tudo que encontrei lá dentro e gritei o mais alto que consegui. Parecia que alguma coisa dentro de mim ia explodir quando comecei a chorar e destruir tudo ao meu redor.

-Hei!- gritou um homem.

Olhei para trás a tempo de ver o desconhecido mandar um garoto me segurar. Me debati e gritei sem parar. Mesmo que não quisesse mais viver não estava disposta a deixar dois babacas me pegarem. Então mordi a mão daquele que me segurava e me joguei contra o vidro da janela trincada que tinha no fundo da sala.

O vidro se espatifou no chão, do jardim imundo daquela casa, junto com o meu corpo cheio de pequenos cortes. Os dois homens pularam a janela enquanto eu tentava ignorar todas as fincadas que sentia no corpo.

-Você é maluca?- disse o garoto de capuz.

-Se afastem de mim!- gritei para os dois.

-Calma não queremos te machucar.- disse o homem mais velho.- Só ficamos assustados com os gritos e quando vimos você quebrando tudo ficamos preocupados.

Finalmente parei de agir como um animal selvagem e olhei para os dois. O homem era musculoso e alto, tinha uma barba por fazer e um pequeno corte em processo de cicatrização no supercilio direito. Carregava, assim como o garoto, uma trouxa de roupa amarrada com uma faixa larga e firme, como se fosse uma mochila improvisada, nas costas. Os dois tinham uma confiança anormal, como se andassem com o peito estufado e uma determinação no olhar.

Foi então que o garoto baixou o capuz que cobria sua cabeça, e seus cabelos bagunçados e um par de sobrancelhas bem delineadas apareceram. Seus olhos eram castanhos e seu rosto tinha uma porção de sardas, ele era alto e seu corpo era bem desenhado embaixo do moletom, que provavelmente acolheria duas de mim. Ele tinha uma escuridão dentro de si que por um segundo, apenas isso, me cativou.

-Quem são vocês?- perguntei com uma ruga entre as sobrancelhas.

O homem me estendeu a mão e quando a luz se aproximou do seu corpo a tarja vermelha, na faixa preta que ele usava de alça para a sua mochila, se destacou. Eu já não era amigável quando tentava ser, menos ainda quando estava desconfiada e não foi preciso muito para o homem me pegar encarando o tecido.

-Isso é uma faixa de jiu jitsu.- disse o homem ainda com a mão estendida.- Meu nome é Alexander Brown e ele é Nathan.- ele olhou brevemente para o garoto enfatizando o que dizia, depois voltou a olhar para mim esperando que eu tomasse a decisão de acreditar ou não. Segurei a sua mão em resposta e tentei não fazer careta quando ele me levantou com um só movimento preciso.- Sou dono da academia Fight Center, que fica ali na avenida. Estava indo para casa quando ouvi você gritando e quebrando tudo.

Não tinha como duvidar do que ele dizia, já que o mesmo estava com uma camisa com o logotipo da academia que ele dizia ser dono, assim como o seu seguidor fiel. E Mesmo que eu fosse à garota ali, os dois pareciam me olhar com receio. Como se eu fosse atacar os dois a qualquer momento.

Ignorei todas as dores que estava sentindo no corpo e tentei permanecer de pé enquanto eles queriam saber meus motivos.

- O que você estava fazendo ali?- perguntou Alexander.

-Extravasando?- sugeriu Nathan.

Olhei feio para o garoto e o mesmo se encolheu. Quem ele pensava que era para sair falando merda por ai? Bom, mas acho que de qualquer jeito era exatamente o que eu estava fazendo.

-Porque não me deixa te acompanhar até em casa e no caminho me conta o que aconteceu com você para que a casa merecesse apanhar daquele jeito.- disse Alexandre com um sorriso.

Fiquei só lá encarando os dois. Decidindo se eu ia confiar neles ou não. Mas por algum motivo Alexandre parecia um cara legal, e se eles fossem me fazer alguma coisa já teriam feito. Acho que mostrei para eles que eu não estava disposta a ser pega sem lutar.

-Tudo bem, mas faça seu cachorro ficar quieto.- digo passando por eles, olhando de rabo de olho para Nathan quando ele revira os olhos e suspira. Sou obrigada a confessar que não esperava que eles me seguissem, mas que gostei quando eles o fizeram.

Eu não era do tipo que ficava de conversa com ninguém. Muito menos contava sobre as coisas da minha vida. Mas o que poderia ser pior naquela noite? Contei aos dois o que tinha acontecido, como se eles fossem obrigados a ouvir todos os meus problemas, sem parar para filtrar todos os palavrões que vinham tão livremente da minha cabeça. E no fim das contas foi até bom conversar com aqueles desconhecidos, me sentia menos angustiada e até mais corajosa.

Andando no meio dos dois eu precisava quase andar na ponta dos pés para me sentir forte como eles. Era como se meu corpo absorvesse a confiança com que eles andavam. E eu gostava daquilo.

Caminhamos por duas quadras e nada além da minha voz era ouvido. Os dois só me olhavam e trocavam olhares curiosos, mas não ousavam a dizer nada. Só então reparei que a faixa da mochila de Nathan era da cor azul, e não sabia dizer se aquilo era muito ou pouco. Só sabia que a faixa preta de Alexander era importante, porque acho que todas as lutas tem como limite a faixa preta.

Só paramos quando chegamos na frente do meu prédio.

-Eu moro aqui.- eu disse para os dois.- Valeu pela companhia silenciosa.

Nathan deu de ombros. Provavelmente o garoto queria estar em qualquer outro lugar do mundo, menos ali.

-Por que você não passa na academia amanhã?- disse Alexandre.

Suspirei e depois olhei para ele com os olhos cerrados.

-Você não ouviu o que eu disse? Estou sem dinheiro, sem emprego e não posso pagar por uma academia quando nem sei como vou para a faculdade amanhã.- disse indignada.

Eu não me preocupava em ser educada. Gostava de ser ignorante com quem não conhecia, assim as pessoas não conseguiam ver as minhas fraquezas.

-Você não precisa pagar. E estou com uma vaga de ajudante aberta, acho que você pode servir para o cargo.- disse o homem.

Finalmente algo interessante.

-E o que eu preciso fazer?- perguntei desconfiada.

-Me convencer a te contratar.- disse ele com um sorriso.

Nathan deu uma pequena rizada contida, o que me fez lembrar que ele ainda estava ali. Olhei imediatamente para ele, não entendendo e nem gostando dele estar rindo.

-Qual a graça?- perguntei irritada.

Ele arqueou a sobrancelha me desafiando. Quem ele pensava que era?

-Estou rindo porque ele devia ter te avisado isso antes, ai você teria tempo de nos fazer esquecer como é estupida.

-O que você disse?- me aproximei dele o desafiando. Não gostava da forma arrogante que ele falava, nem do jeito que ele andava de nariz erguido, como se fosse mais forte que eu, e não ligava se ele ia me acertar um soco no meio da cara, mas ele ia ter que dobrar aquela língua para falar comigo.- Eu não seria tão idiota se fosse você.

-Esta contratada.- disse Alexandre rindo enquanto eu e Nathan quase dava um na cara do outro.


Continue Reading

You'll Also Like

158K 14K 35
Amberly corre atrás dos seus sonhos em outro país deixando o passado pra atrás e ainda frustada com o término e a traição do ex que ficou no Brasil...
1.5K 221 30
Pra quem já leu á História da Nova Hera, vai entender que eu fiz como se fosse duas linhas do tempo uma em que a agente Blossom escolhe trabalhar com...
1.5K 73 20
Claire Baelfire, de 19 anos, teve sua vida perfeita despedaçada por um evento traumático, deixando cicatrizes emocionais profundas que a assombram co...
6.7K 1K 62
No final da segunda guerra mundial, Leah, uma alemã que vive com uma prima de seu falecido pai, sente em sua própria pele os horrores que uma guerra...