No dia seguinte nós arrumamos tudo pra ir embora, colocamos nossas coisas nos carros, tomamos café da manhã e uma da tarde a gente decide ir embora após pagar a pousada.
Molho meus pés na água e tiro o óculos do rosto, dou uma última olhada pro mar magnífico de Angra antes de ir embora. Coloco novamente o óculos no rosto e volto pra onde os meninos que discutiam alguma coisa.
─ Não vou levar esse pessoal no carro, vai várias pessoas bêbadas e se a blitz te parar? ─ Bruno e Arthur conversam em um tom alto.
─ Não vai pô, são só seis pessoas, mas se tu não quer dividir não tem problema, tu só leva as coisas todas na hilux? ─ Arthur faz a carinho do gato de botas e Bruno revira os olhos.
─ Beleza ─ vai pegar as coisas no carro de Arthur e colocar na parte traseira da hilux.
─ Vai quantas pessoas contigo que não tô sabendo? ─ cruzo os braços vendo meu primo revirar os olhos e bufar.
─ É só uma carona pro John e umas gatas, saca? ─ ele faz cara de safado.
─ Não vou presenciar cenas de sexo no seu carro e gente bebendo.
─ Então vai com Bruno... os moleques já iam comigo mesmo ─ ele abre uma latinha de cerveja e bebe.
Bruno chega bem quando seu nome é citado e abre a porta do passageiro para mim.
─ Não vai querer pra ir atrás, priminho? ─ debocho.
─ Hoje abro uma exceção pra você, priminha ─ ri mostrando suas covinhas. A barba dele estava por fazer, ele usava um óculos escuro, uma bermuda e uma camiseta, ele estava gostoso como sempre, e com aquele óculos ele ficava ainda mais maravilhoso.
Mas a gente ia esquecer tudo... não era?! Chega de pensar nele.
Abraço meu primo e entro no carro de Bruno totalmente cheiroso e arrumado. Era praticamente o perfume dele derramado em todo o carro.
O meu primo saiu na frente com o carro lotado e o som altíssimo, enquanto Bruno foi no banheiro e pegar coxinha pra levar. Gordo!
Fiquei fuçando o carro dele, só achei livros de direito, códigos de defesa, livros de códigos de direito, mais livros e livros, folhas de provas e códigos e um caderno... era anotações da faculdade, a letra dele era linda, toda redondinha e puxada, parece que era desenhada.
Diferente de mim. Minha letra era uma garrancho que nem eu mesma entendia o que escrevia. Algo a ser estudado pela nasa.
Quando eu avistei Bruno vindo eu me aquietei. Ele entrou, fechou as janelas e ligou o ar. Só dava cheirinho de Bruno no ar. Ele abriu um chocolate e comeu um pedaço me entregando e dando partida.
Dei uma última olhada em Angra já sentindo saudades.
─ Coloca o cinto ─ ele diz carrancudo e dou língua pro mesmo.
Ligo o rádio e coloco qualquer música pra tocar enquanto a gente seguia estrada pro Rio.
Ele ficava em silêncio enquanto dirigia, mas eu sabia que ele queria falar algo. No rádio começou a tocar "Sem Avisar - Henrique e Juliano" e ele aumentou. Ótimo!
Fiquei observando como ele dirigia, e pensando na nossa noite no dia do show. Havia sido tão bom, eu não sabia bem explicar. Me sentia de certa forma segura, sabia que ele não me machucaria ou pensaria em fazer mal para mim.
A única coisa que odiava era a boca dele longe da minha. Só isso.
─ Vamos ficar assim é? ─ pergunto abaixando o som. Meus pensamentos me matavam, ficavam corroendo e por isso a gente precisava colocar isso em dias.
─ Assim como? ─ ele dá de ombros atento na estrada.
─ Tipo... esquecer o dia do show?
─ Não ─ eu me encolho no banco. ─ Estou tentando fazer o certo, por mais que seja difícil.
─ Então por que fazer algo se você não quer? ─ cruzo os braços.
─ Por causa de Arthur, pelo respeito por ele.
─ Ele não está nem aí ─ digo olhando janela afora.
─ E se ele descobre que eu transei contigo? Que cara vou fazer?
─ Ele não vai descobrir e eu quis isso.
─ Vamos só dar um tempo e voltar ao que era antes? ─ dou de ombros e faço cara fechada. ─ Lara... eu estou mais envolvido nisso do que você pensa.
─ Ok ─ digo e pego meu celular.
Fico fuçando e conversando com o pessoal, respondo o Ricardo, ele disse ter visto minhas fotos e perguntou como estava a viagem e o que ia fazer no próximo final de semana. Depois que respondo ele e o pessoal, jogo meu celular em qualquer canto e me debruço no banco geladinho entediada.
Bruno dirige tranquilo.
─ Parece ser um carro pesado... tu acha isso? ─ puxo conversa, odiava ficar em silêncio, principalmente com ele.
─ Não, ele é leve pra mim.
─ Mas é alto e grande, deve ser meio complicado.
─ Conversa ─ ele ri abertamente. ─ Senta aqui no meu colo, deixa eu te ensinar a dirigir ela.
Olho pra ele achando ser brincadeira e ele ri, tira o óculos escuro do rosto revelando seus olhos cor de mel brilhantes.
─ Tá brincando é? ─ me viro pro mesmo. Ele para o carro, afasta o banco do motorista pra trás e me olha.
─ Vem.
─ E se eu bater o carro? ─ arqueio a sobrancelha.
─ Por isso que estou aqui, priminha.
Fico meio receosa mas passo pro banco do motorista e ele se afasta um pouco, mas mesmo assim eu sento sobre o colo dele.
Coloco minha mão no volante e ele coloca suas mãos quentes sobre as minhas.
─ Aquele é o acelerador e o freio, as únicas coisas mais importantes.
─ E o outro?
─ Foca no acelerador e freio ─ diz e assinto focada. ─ Esse é o freio de mão, tu só puxa quando for sair com o carro e quando tu estacionar tu puxa pra cima, ok?
─ Muita coisa, já esqueci pra que serve o acelerador.
─ Engraçadinha ─ ri.
─ Idiota.
─ Bem... essas são as marchas, mas não se preocupe com elas porque não é manual ─ diz e suspira. ─ Ok, liga o carro. Dá a primeira, espera normalizar e dá a segunda ligando.
Eu faço o que ele diz, quando rodo a chave pela segunda e seguro a hilux dá um baque e estanca.
─ Opa, a marcha estava na neutra. Agora vai ─ coloca na primeira.
Faço a mesma coisa que antes e ela liga, sinto pesada, mais ou menos pesada, afinal, estamos falando de uma hilux.
Coloco meu pé no acelerador e vou acelerando devagar. Bruno segura em minhas mãos no volante firme enquanto ri sozinho.
─ Ai Bruno, eu vou bater no meio fio ─ digo querendo sair dali com medo mas ele me prende com seus braços.
─ Essa avenida nem tem meio fio, menina ─ diz ventando.
─ Eu tô medo, chega ─ digo.
─ Então comanda o volante e deixa o acelerador e freio de mão comigo, tá bom?
Ele mete o pé no acelerador rindo enquanto eu governo o volante, mas ele vai rápido, nisso que ele vai rápido a hilux ganha uma velocidade imensa em questões de segundo. Já estávamos quase a 150 por hora e ele morria de rir enquanto eu estava me mijando.
─ Para, Bruno! ─ soltei um grito e só assim ele diminuiu aos poucos.
Empurrei ele e fui emburrada pro banco do lado enquanto ele ria da minha cara de desespero.
─ Não tem graça ─ digo de cara emburrada.
─ Fica tão fofinha de cara amarrada ─ ele fala com uma voz fofa e eu bufo.
Fico o olhando enquanto ele também me encara rindo e nossos olhares se encontram. Mordo o lábio e solto o ar do pulmão.
─ Que se foda Arthur ─ ele vem pra cima de mim de repente e me beija com voracidade. Sua mão segura em minha nuca enquanto seus dentes mordem meu lábio e sua boca me tira o ar.
Ele termina de me beijar deixando três selinhos molhados em meus lábios.
Ele segura em meu rosto e eu no seu, ele me olha nos olhos e ri mostrando as covinhas. Maldito!
Ele segura em meu queixo e me dá mais um selinho.
─ Impossível te resistir ─ sussurra.
─ Impossível não querer te meter um murro.
─ Chata.
─ Imbecil ─ retruco e o beijo mais uma vez.
─ Te odeio ─ ele fala passando seu nariz no meu.
─ E eu? Torço por sua morte todos os dias ─ abro um sorriso.
─ Tenho medo ─ ele fala sério.
─ De que? ─ pergunto em um sussurro.
─ Te machucar.
Me perco no mel de seus olhos, sinto meu coração bater forte e um calafrio. Não digo nada, ele roça sua barba em minha bochecha e beija a lateral de meu rosto.
Dou um sorriso e um peteleco na testa do mesmo.