Alma de Dragão

By JonathanJLGomes

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Nathan Sidrake é um garoto que vive frustrado por carregar o pós-nome de seu pai, a quem nunca conheceu. Aos... More

Prólogo - A história lendária
I - Um estranho no ninho
II - O primeiro dia
III - Boas Vindas
IV - Novo Mundo
V - Teste das Chamas
VI - Descobertas
VIII - O jogo dos pergaminhos
IX - Quebrando o tempo e espaço
X - Segredos travessos
XI - Fugir ou morrer
XII - A batalha no Bosque da Alvorada

VII - Renascença

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By JonathanJLGomes


Sentado a mesa, com os Moustres que comiam e discutiam sobre a fuga de Kripto da ilha de Endlesfyn, Nathan ainda tentava aceitar que era filho do general mais poderoso e misterioso dentre os vinte e quatro generais.

- Desculpe, Moustre Rouma, mas poderia me explicar sobre o meu pai novamente?

- Ora, mas de novo? – resmungou Tabbys. – Por que você simplesmente não come e esquece isso, ao menos por enquanto?

- Tudo bem, Tabbys... – respondeu Rouma limpando a boca com o guardanapo. – Creio que se já está sendo difícil engolir essa história, quanto mais a comida, não é, meu jovem? – ele sorriu e Nathan também. – Resumindo nos pontos mais cruciais, seu pai Jyon Albertch Sidrake é o general do Vigésimo Quarto Batalhão, composto somente pela elite dos Septos. Quase nunca é visto e só é convocado para dar um ponto final a qualquer que seja o assunto. A doze anos atrás eu o vi pela última vez, foi quando me contou que havia desafiado o general antecessor a ele e que seria pai de um menino, seu olhos brilhavam de orgulho quando falou de você.

- Acha que ele pode ter sido quem me fez chegar aqui? – instigou Nathan.

Sua mãe com certeza não sabia daquele fato, ou assim ele acreditava, mas agora tudo fazia sentido, o que lhe fez se questionar se não teria sido seu próprio pai quem entregou a ficha de inscrição a Ferdinand I'Fidden.

- Talvez. Quem sabe, não é? – Rouma deu de ombros. – O Vigésimo Quarto Batalhão tem a característica de ser o mais furtivo. Dizem que eles estão em todos os lugares, mesmo nunca sendo vistos. Se falam isto dos Septos que o compõe, imagine então o nível do general, ele é como o vento.

- Mas eu não entendo, não sou de nenhum modo especial, por que me traria para cá?

- Meu jovem, pense bem, deve ter acontecido algum evento na sua vida que nunca pôde explicar... Algo que tenha feito mesmo sem querer.

Nathan baixou sua visão a mesa, com um prato bem recheado a sua frente, e viajou em suas lembranças buscando algo inexplicável, mas de nada se lembrava.

- Ainda não consigo acreditar que um fugitivo chegou a Barsest... – disse Anallyz.

- É realmente preocupante, Endlesfyn é o lugar mais bem fortificado que conheço.

- Já esteve lá, Madhayra? – perguntou Heyg, com a boca cheia.

- Sim, estive lá uma vez, cerca de nove anos atrás se não me engano. – ele fitou os olhos no nada e deitou as mãos com os talheres sobre a mesa. – É uma ilha pequena, fria e rochosa situada ao norte do Mar Ágrio. Não é possível chegar a ela de barco, impossível ainda é nadar naquelas águas geladas do norte e mesmo que consiga, pode não vencer as criaturas marinhas. Por ser muito longe da costa terrestre, é necessário usar uma enorme quantidade de energia prima para invocar o braken e atravessar os cinco picos que levam a ilha, por isso em cada pico há dois sentinelas, um para ir e outro para voltar. Na ilha, as muralhas de Endlesfyn são três vezes maiores que a do Instituto, há vigias fazendo a guarda sem parar andando sobre a mesma e por dentro e fora dela. A porta é trancada por nove fechaduras e cada chave é guardada por um guardião.

- E como é por dentro? – questionou Heyg, limpando seu rosto.

- Fui somente até a sala do Guardião Máximo, estava lá para resolver assuntos do Conselho dos Doze, então não tive oportunidade de olhar as prisões, só o que sei é que ficam no subsolo. O lugar mais frio e úmido. Mais que suficiente para enfraquecer a energia prima, além do fato da comida ser somente o suficiente para não matar os prisioneiros.

- Isso só me deixa ainda mais preocupada sobre como um misero Renegado conseguiu fugir de um lugar assim. – comentou Kaya.

- Sozinho não foi, disso tenho plena certeza. – respondeu Madhayra.

- E quem poderia ter ajudado? – perguntou Milie, preocupada.

- Ora, quem mais teria tanto poder para isso além do Primeiro Rebelado? – exclamou Tabbys e todos o encararam com reprovação e preocupação por Nathan estar a mesa e tê-lo ouvido.

- Quem é o Primeiro Rebelado? – questionou Nathan, o que todos já esperavam que fizesse.

- Ninguém com quem você deva se preocupar. – respondeu Rouma se levantando. – Eu falei para comer, agora devemos voltar para finalizar com as apresentações. Você, meu jovem, por outro lado pegue seu material com a Moustre Milie e vá para os dormitórios no Bloco dos Novatos.

- Dormitórios? – Nathan levantou-se da mesa num pulo. – Não me falaram que eu iria ter de dormir aqui.

- Não só dormir, a partir de hoje este será seu único lar até as férias no fim do ano.

- O senhor não entende, - o garoto desesperou-se. – como vou explicar isso para minha mãe? Ela é uma mulher muito preocupada e com certeza não esperava que hoje seria a última vez que nos veríamos. Ela não vai aceitar isso facilmente, provavelmente virá até aqui em busca de respostas...

- Então aconselho que as escreva e envie a ela com uma águia mensageira, explicando que precisará permanecer no Instituto diariamente. – Moustre Rouma sorriu como se estivesse se divertindo com aquela situação.

- Ela não aceitará assim tão fácil... – refutava Nathan com a mão na cabeça.

- Aceitará se usar este pergaminho. – Rouma tirou um pequeno rolo de seu fraque e o entregou. – Agora vá, pois nós ainda temos que finalizar o teste nesta tarde.

- Mas, Moustre Rouma...

Nathan não entendeu muito bem como o papel o ajudaria. Moustre Milie lhe entregou o embrulho dos novatos e lhe mostrou a escada alternativa usada por ela e os demais para voltar ao hall do prédio do conselho.

- Seja bem-vindo, Nathan. – disse com um sorriso simples. – As águias mensageiras ficam no alto do prédio do conselho, é só procurar Sheppard.

- É que tem um problema, Moustre Milie... – relutou, sem a olhar diretamente. – Não usamos correio de aves. É possível que mamãe receba a mensagem, mas se não tiver como me retornar virá até aqui.

- Isso não será possível. – ela o interrompeu. – Assim que o teste for finalizado, será ativado um perímetro de ilusão em volta da muralha e não seremos mais visto por simplórios. Mas não se preocupe, você poderá se comunicar com ela com aves mensageiras.

- Ai está o problema... Vovô nunca soube se quer adestrar os pombos. Na selaria há um correio de aves, mas somente para receber pedidos. Depois que a estação telefônica foi inaugurada, as confirmações sempre são por telefone.

- Bom, então você fará o seguinte: envie a águia mensageira para a sua mãe com o número do Instituto e lhe peça para retornar. Explique que há a regra de que formandos só podem usar os telefones uma vez por mês, mas que ela pode lhe ligar um dia dos finais de semana.

- Certo. – aceitou Nathan, mas seu rosto intrigado chamou a atenção de Milie.

- O que mais lhe preocupa?

- É que, a senhora me disse que após o teste a muralha desaparecerá para os simplórios. Mas se eles já a viram, o sumiço dela irá chamar muita atenção, então qual o motivo disso?

- Primeiro: ela só é vista por quem faz ou fará parte do Instituto, nesse ponto é que entra o formulário de inscrição, quem o toca pode ver a muralha na base da Montanha do Anoitecer Agradável, por isso sua família e você a viram. Segundo: a invocação do perímetro de ilusão não é só para a torna-la invisível, mas também serve como defesa – nada entra e nada sai.

As últimas palavras de Milie tinham um certo peso para o garoto, que se viu a partir daquele momento completamente distante de sua família. Com um sorriso sem graça, ele subiu as escadas até o hall, saiu por uma porta estreita e viu de longe Monkey e Kathryne o esperando, atentos, para o caminho por onde desceram para o Salão das Chamas.

- Quem estão esperando? – perguntou assustando-os.

- Pelos Grandes Seres, de onde você surgiu? – Monkey ria pelo susto.

- Pelas escadas... – respondeu Nathan com um sorriso torto. – Preciso enviar uma águia mensageira para minha família, vem comigo?

- Claro!

- Vem também? – Nathan perguntou a Kathryne, que ruborizou as bochechas e só confirmou balançando a cabeça.

Enquanto subiam, Nathan contava sobre sua conversa com os Moustres e sua descoberta.

- Seu pai é incrível! – enfatizava Monkey.

- É o que parece...

- Você não acha?! – perguntou descredito. - Ele é o general mais forte e poderoso que temos, você devia se orgulhar!

- Se ele é tão incrível assim por que não me viu durante todos esses anos, se quer me mandou uma mensagem ou me ligou?

- Por que ele é o Vigésimo Quarto! – gargalhou Monkey.

- Poderia ser um dos Grandes Seres, ainda assim eu seria seu filho e teria o direito de conhecê-lo. – aquelas palavras o abateram.

- Acho que chegamos... – informou Kathryne, no último degrau da escada.

A garotinha de cabelos negros notou que Nathan se entristecera, mas não sabia como agir ou o que dizer, só queria de alguma forma o alegrar ou fazê-lo esquecer o que lhe afligia, nem que fosse por alguns segundos.

- Precisamos encontrar Sheppard.

Um corredor curto se estendia a frente deles iluminado pela luz do sol que entrava pela porta aberta ao fim.

- Quem é Sheppard? – a pergunta de Monkey foi se esvaindo quando eles viram um homem velho de nariz longo e com uma verruga notável, cabelos falhos e brancos, meio corcunda, vestido com um manto marrom e sujo de penas e fezes de passarinho, tinhas os dedos longos e finos com a pele enrugada pela idade.

- O que fazem aqui? – grunhiu Sheppard, caminhando entre as gaiolas. – Vão embora, formandos não devem vir aqui!

- Sr. Sheppard, eu fui mandado pelo Moustre Rouma, sou Nathan. – disse receoso.

- Não me interessa, vão embora!

- Mas senhor, eu preciso mandar uma mensagem para minha mãe... – Nathan mostrou o rolo de papel que Rouma lhe dera. – Será breve, prometo.

- Crianças ranhetas... – resmungou. – Rápido, faça logo!

Nathan procurou um lugar para apoiar o embrulho e escrever a mensagem, mas o alto do prédio era um lugar aberto, cheio de gaiolas de vários pássaros, o chão era sujo de penas e fezes, seria um local totalmente abandonado se não fosse pela presença de Sheppard, o único que não saía da presença das aves.

Kathryne se ofereceu para segurar o embrulho de Nathan e Monkey lhe entregou sua pena-tinta e virou as costas para que ele a usasse como apoio para escrever.

Mãe,

Precisarei ficar no Instituto integralmente. Não se preocupe, há dormitórios e pessoas para cuidarem de nós e nas férias volto para casa. Se precisar pode me ligar no número que está atrás, mas somente em um dia aos fins de semana.

Te amo!

De seu filho, Nathan.

- Aqui está Sr. Sheppard. – informou ao velho que trazia consigo uma águia vendada.

- Daekodphykws – disse Sheppard ao pegar o rolo, olhando torto para as crianças. – Uma mensagem inocente para a mamãe, não é? – riu. – Muito bem, considere entregue.

Ele tirou a venda da águia, pôs o rolo em um compartimento em suas costas e a lançou para cima. As crianças olhavam maravilhada a ave atravessar as muralhas, principalmente Nathan que nunca vira uma águia tão próxima.

- Agora sumam, não quero mais vê-los aqui!

Sem pensar eles se viraram e apressados sumiram no corredor, descendo as escadas.

- Ele brincou ou realmente sabia o que eu tinha escrito? – perguntou intrigado.

- Soube por causa da invocação. – respondeu Kathryne.

- Fala das palavras que ele disse?

- Sim, mas foi só uma palavra. Daekodphykwss. É em dialeto Mital, significa "decodificar". – explicou Monkey. – Meu tio me ensinou a usar para ler os recados que me mandava, meus pais sempre ficavam confusos, era muito engraçado. – sorriu.

- Parece interessante. Seus pais também eram Septos? – perguntou Nathan.

- Eram... Eles faleceram em uma missão quando eu tinha sete anos, morei com meu tio desde então.

- Sinto muito.

- Eu também. – disse Kathryne.

- Obrigado, fazem cinco anos já... As vezes ainda sinto que vou chegar em casa e eles estarão lá, mas... – Monkey enxugou uma lagrima que correu em seu rosto. – Bom, nem sei por que contei isso. É melhor irmos atrás de nossos quartos. – sorriu maquiando a tristeza.

As crianças saíram do prédio do conselho rumo ao bloco dos novatos, para chegar lá precisavam passar pelo pequeno bosque que se iniciava bem ao lado do jardim onde Nathan deixara Bounce.

- Meu cavalo!

- É mesmo, tinha me esquecido dele também. O que vai fazer, Nathan?

- Eu não sei, Monkey. Ele encontrou o caminho de volta para casa da última vez, mas não sei se encontraria novamente.

- Por que não o deixamos no bosque? Tem muita comida para ele e ficaria fora da vista de todos.

- Parece uma boa ideia.

- Mas e como ele irá se proteger da chuva e do frio, mesmo sendo a base da montanha, o clima aqui já é mais denso. – explicou Kathryne deixando Nathan preocupado.

- Tudo bem, dou um jeito. Vamos deixá-lo no bosque, assim você fica perto dele.

Nathan relutou, mas Monkey insistiu e ele acabou cedendo, levando Bounce ao meio do bosque, entre o prédio do conselho e o bloco dos novatos.

- Aqui está ótimo, agora só precisa de algo para o proteger da chuva... – Monkey olhava atento aos galhos das árvores. – Já volto. – disse entrando mais fundo no bosque.

- O que será que ele irá fazer? – questionou Kathryne.

- Não sei e isso até me preocupa. – Nathan sentou-se. – Seus pais também são Septos?

- Não conheci meu pai, minha mãe falou pouco sobre ele e preferiu assumir o negócio da família. Ela nem queria que eu viesse para o Instituto, queria que eu continuasse cuidando da forja. – explicou acariciando a crina de Bounce.

- Então ela não sabe que está aqui?

- Imagino que agora já sabe. Minha avó disse que eu deveria ir atrás do que queria para minha vida, eu lhe falei que queria ser uma Septo, que algo me chamava para o Instituto e eu sentia isso no meu coração. – ela ergueu a espada embainhada. – Então me deu esta espada que está a gerações em nossa família. Seu nome é Ninphyw, foi forjada no vento pelo primeiro Consiw'Hopes que também era Septo.

- Incrível. – Nathan estava perplexo. – Por isso você não larga ela, não é?

- Sim. – sorriu envergonhada. – Ela também me deu essa joia. É uma herança de família que minha mãe recusou, vovó disse que era um amuleto de proteção. – ela suspendeu o colar em seu pescoço, mostrando a joia que estava debaixo de sua roupa.

Quando o garoto olhou a pedra preciosa em formato oval, suspensa pelas correntes douradas e finas a que se prendia, pareceu entrar em um estado hipnótico. Um olhar vazio e distante trouxe imagens de lembranças nunca antes vividas por ele, flashbacks em lugares altos acima das nuvens e passando por entre elas, voando entre arvores e num instante acima das águas, foi quando viu que os olhos refletidos na mesma não eram os seus, pois estavam em um azul incrivelmente brilhantes.

- Nathan? – chamava Kathryne balançando seus ombros

- O que aconteceu?

- Eu não sei, você de repente pareceu estar em outro lugar, imerso em pensamentos...

- Qual a cor dos meus olhos? – perguntou eufórico.

Kathryne ficou vermelha com a pergunta, vendo Nathan a olhando diretamente em seu olhos.

- Castanho-claros, eu acho... – respondeu levantando-se rapidamente, seu coração parecia querer saltar de seu peito. – Você está bem? – perguntou preocupada

- Sim, eu acho... – murmurou Nathan.

Os dois se assustaram com Monkey aterrissando entre eles, segurando uma corda que amarravam vários galhos das árvores em volta.

- Pronto, está feito o abrigo! – disse, se reverenciando.

Nathan e Kathryne ficaram boquiabertos e sem saber o que dizer, eles bateram palmas. Monkey pegou as rédeas de Bounce e amarrou a corda a relva alta abaixo do teto de folhas que fez.

- Agora sim, vamos para os dormitórios! – falou, enxugando o suor de sua testa.

Kathryne e Nathan se olharam e o seguiram rumo ao Bloco dos Novatos. No fim do caminho do bosque já era possível ver o prédio alto, rustico e largo mais acima. Janelas com vidraças claras refletiam o brilho do sol da tarde, as paredes eram feitas de pedras grandes e lisas em cor marrom-esverdeado. Subindo as escadas rochosas, eles viram a porta larga e dupla do bloco. Dentro, admiraram os lustres no teto, os quadros dos Sete Lendários perto das escadas formando um triangulo. O salão era ornamentado com estatuas de bronze em tamanho real dos Septos em diferentes trajes, porém sempre com as máscaras.

- Para onde devemos ir? – perguntou Nathan.

- Não faço a mínima ideia... – Monkey deu de ombros, olhando os demais novatos que entravam.

- Deve ter algo no embrulho que nos deram. – explicou Kathryne, abrindo-o na bancada redonda que havia no centro do salão com a estátua de um Septo no traje que Nathan conheceu. Ela pegou um envelope, descolou o selo e desdobrou o papel, o círculo de tinta que havia no meio dele foi se desfazendo e criando palavras. - Aqui diz "Vá para o dormitório feminino B. Iº piso, subindo as escadas à esquerda.", e o seu Nathan?

- Dormitório masculino F, Iº piso, subindo as escadas a direita.

- O meu também, estamos juntos, irmão! – expressou Monkey.

- Bom, então acho que nos vemos mais tarde... – disse Nathan com um sorriso para Kathryne. Ela somente acenou e expressou um sorriso simples.

O quarto em que ficaram eram grandes, possuía cinco beliches, paredes revestidas em madeira, lustres em vidro e aço, e duas janelas que davam de frente para a muralha do Instituto.

- Parece que seremos os únicos aqui. – disse Monkey pulando sentado na beira da cama.

- Perfeito! – respondeu Nathan com um largo sorriso. – O que estou pensando é que não trouxe nenhuma roupa além dessa que estou vestido.

- Não se preocupa com isso, amanhã chegarão as minhas. – Monkey ficou ao lado de Nathan. – Talvez fiquem um pouco grandes em você, mas daremos um jeito.

Os dois riram enquanto abriam seus embrulhos. Dentro encontraram o uniforme dobrado que usariam dali para frente: uma camisa manga de punho branca com uma seta amarela ao lado dos braços acima dos cotovelos que indicava o nível um, uma gravata da mesma cor da seta, um colete e uma calça preta e sapatos em couro pretos, todos os tecidos eram de ótimas qualidades assim como o couro do sapato. O sorriso e o brilho no rosto de Nathan eram diferentes.

- Olha, já vem com o livro do capitão Hansen. – disse Monkey tirando o livro azul-marinho em bordas douradas e capa dura do embrulho.

- Quem é esse? – perguntou Nathan segurando o seu exemplar. - Expedição as Terras Norte: Descobertas de Woodland Blank? – questionou a si mesmo ao ler o título.

- Capitão Cliff Hansen foi o primeiro a explorar Woodland Blank, a enorme e misteriosa floresta que cobre as terras do norte. – Monkey abriu o livro e folheou até as páginas com desenhos. – Lá ele descobriu que não somos os únicos habitantes da Ilha Extensa, foi por causa da expedição dele que tudo começou. Esses foram os seres místicos que devastaram as províncias na Grande Guerra.

Folheando as páginas, ele mostrou criaturas gigantes com peles rochosas.

- Hansen nomeou esses de Gyllian's, outros com pele que pareciam troncos de arvores ele nomeou de Hoogrian's. – explicou Monkey. - Havia também outras com aparências mais humanas de olhos brilhantes, os Myddo's e ainda seres pequenos, chamados de Phyllaty's.

- É bom eu começar a ler, preciso aprender sobre essas criaturas e olha o tamanho dele! -

Monkey gargalhou com a expressão espantosa de Nathan e então se ouviu um estrondo vindo da muralha.

- Deixa para depois! – disse Monkey indo a janela. – Venha, os Moustres irão iniciar a invocação do perímetro de ilusão em volta da muralha.

Com o fim da tarde chegando, o brilho dos Olhos do Lobo surgindo, os garotos viram oito lampejos brancos subindo do prédio do conselho e acima da muralha, unindo-se e, como as aguas do mar chegando a praia, formando algo como um domo, uma camada envolta e sobre a muralha, que aos poucos se tornava invisível.

- Agora sim, iniciaremos nossas aulas! – disse Monkey com um sorriso e os olhos brilhando fixos no horizonte.

***

O dia seguinte começou com Nathan acordando Monkey, que diferente dele ainda roncava e salivava sobre seu travesseiro. Isso por que Nathan mal conseguira dormir na noite passada e levantou da cama assim que vira a luz do dia iluminar a janela.

Após se encontrarem com Kathryne no salão principal do bloco dos novatos e jantarem sendo encarados pelos irmãos ArtDaves, eles retornaram aos seus dormitórios e Monkey logo dormiu. Porém, Nathan de forma alguma pegava no sono. Escreveu uma carta para sua mãe sobre como fora seu segundo dia no Instituto, sem dar detalhes, e em seguida leu algumas páginas do livro que viera no embrulho. Lembrou-se sobre os mistérios que havia de descobrir sobre seu pai, decidindo começar sua busca no dia seguinte, foi pensando sobre quem ele era e no que se tornara que ele acabou dormindo e sonhando com as visões que teve quando estava com Kathryne, acordando num susto quando viu olhos incrivelmente azuis na água e ouviu a voz estrondosa que insistia em chama-lo de – Fraco!

- Como saberemos onde será nossa aula? – perguntou Nathan abotoando a manga de sua camisa.

- Talvez o envelope nos diga... – respondeu Monkey jogando-se por cima de sua cama e pegando o seu que colocara no livro.

Diferente de Nathan que vestiu completamente o uniforme, Monkey estava com as mangas suspensas até os cotovelos, dois botões desabotoados acima do peito, com a gravata frouxa somente posta no pescoço e o colete aberto. – Aqui fala para irmos a sala de Melyne, Nível I após a primeira refeição no salão principal.

- Será que devemos levar o livro do Capitão Hansen?

- Acho que irão avisar quando houver necessidade, deixe-o e venha, minha barriga já está virando.

O salão principal do Bloco dos Novatos, tinha várias mesas triangulares que apontavam para o centro onde havia um púlpito com uma faixa que tinha o símbolo do Instituto, mais a frente, além das mesas, estava outra mais larga com diversos tipos de alimentos de todas as províncias. Como na noite anterior, eles procuraram Kathryne primeiro para então se servirem e sentarem juntos a mesa.

- Deste ontem que os irmãos ArtDaves não param de nos encarar. – disse Nathan já terminando de comer. – Aposto que estão tramando algo.

- Ou estão querendo fazer amizade. – respondeu Monkey com a boca cheia.

- Duvido muito, devem estar fazendo o que Nathan falou. – discordou Kathryne, tomando um gole de seu chá. – Melhor nos apressarmos, nossa aula está para começar.

Nathan concordou levantando-se da mesa junto com Kathryne e arrastando Monkey que ainda comia.

Subindo as escadas, acima do andar dos dormitórios, eles foram para a sala Melyne, Nível I. Nela estavam outros novatos, porém eles acharam poucos em relação a quantidade que se apresentaram no Teste das Chamas – contando com eles, haviam somente doze alunos.

- Algo errado, meus jovens? – disse Moustre Rouma, os surpreendendo. Eles negaram sem dizer uma palavra, olhando fixo para o homem alto, forte e de cabeça raspada. – Ótimo, então vamos entrar. – respondeu o Moustre, arrumando os pequenos óculos redondos em seu rosto e sibilando um leve sorriso.

Nathan sentou ao lado da janela, com Monkey logo atrás e Kathryne ao seu lado. A sua frente estava Taylor Randall e a frente de Kathryne, Emily BirdHill. Na fileira ao lado delas ele reconheceu Abraham Lincel, o cego. Abash Galve, a defesa absoluta. Havia também Brandon Scott, Clarice Flach, Drwos Granmsh, Ewellyn Milastre e Gylla Trowash.

O Moustre pôs os livros que segurava sobre a mesa, um deles Nathan logo reconhecera pois era o que veio no embrulho.

- Eu sabia que deveríamos ter trazido o livro do Hansen! – sussurrou Nathan para Monkey, que somente sorriu torto e deu de ombros.

- Benção dos Grandes Seres a todos! – disse o Moustre Rouma. – Creio que todos aqui já me conhecem e quem não conhece, acabará conhecendo no semestre. Não farei apresentações entre vocês, pois também irão se conhecer com o tempo. Sendo assim já iremos começar nossa primeira aula sobre, - ele tocou no quadro negro na parede e lampejos foram escrevendo, - História da Manipulação de Energia Prima.

Todos os alunos se encantaram e um coro de surpresa ecoou na sala.

- Alguém pode me dizer quem deu início aos estudos da manipulação? – perguntou, andando na sala.

- Lyns, a Invocadora de Mil Lâminas. – respondeu Brandon Scott, o gordo.

- Muito bem! – ele apontou para o quadro e lançou um lampejo laranjado, escrevendo a resposta dada. - E por qual motivo?

- Para que pudessem vencer a Grande Guerra. – respondeu novamente.

- Entramos no assunto da Grande Guerra... – novamente, outro lampejo no quadro criando a resposta. – Quero um resumo de duas páginas para a próxima aula sobre os motivos que levaram ao início da grande guerra, como foi seu fim e quais mudanças ela gerou em nossa sociedade, encontrarão essas respostas no livro Acontecimentos Históricos: Volume I, falem com a bibliotecária. – ele pegou os livros da mesa e se dirigiu a porta. – Agora, todos me encontrem no campo de treino! – e desapareceu.

Os novatos se entreolharam e logo se levantaram, descendo as escadas rumo ao campo de treino que ficava atrás do bloco, após a fonte.

Moustre Rouma já os aguardava atrás de quatro colunas, posicionadas a sua frente em meia lua. Eram da altura de suas pernas e cada uma possuía um símbolo diferente encravado.

- Cada um de vocês foi aprovado no Teste das Chamas. Agora, conheceremos as vossas Renascenças. – ele se pôs ao lado das colunas. – Cada uma destas colunas possui uma Runa Elemental, vocês farão uma fila e estenderão a mão sobre elas, uma por vez, aquela que ascender indicará seu elemento principal.

Nathan lembrou que ouvira Kripto falar sobre ser "renascido do fogo" e imaginou que seria sobre isso que se referia.

Enquanto o Moustre Rouma explicava o que cada um significava, um a um dos novatos foram descobrindo seus elementos, alguns foram ficando felizes e outros nem tanto.

- Um Septo é capaz de dominar todos os elementos, porém irá possuir muito mais domínio sobre aquele a qual ele renasce. – dizia ele enquanto as Runas brilhavam quando os novatos estendiam as mãos sobre as colunas. - Os renascidos da Água são diplomatas, intuitivos e sentimentais. Renascidos do Fogo são exploradores, observadores e perceptivos. Aos da Terra, por sua vez, são guardiões, observadores porém, julgadores. Por fim, os do Vento, analistas, racionais e intuitivos.

Assim que os doze novatos terminaram, Moustre Rouma pediu que se juntassem conforme suas renascenças; Abash Galve, Emily BirdHill e Monkey, renascença da água. Abraham Lincel, Clarice Flach e Ewellyn Milastre, renascença do fogo. Brandon Scott, Drwos Granmsh e Kathryne, renascença da terra. Gylla Trowash, Nathan e Taylor Randall renascença do vento.

- Este, para quem não conhece, é o selo de Melyne. – Rouma entrelaçou os dedos das mãos deixando somente os indicadores eretos. – ele é utilizado para invocações de defesa elemental, aprimoramento corporal, entre outras especificas.

- Como o braken e aquela que usou para escrever no quadro? – perguntou Nathan.

- Sim, podemos utilizar esses exemplos. – Rouma deu um sorriso simples. - Muito bem, a partir de agora vou deixá-los com o Moustre Tabbys, nos vemos em breve. – despediu-se sumindo novamente.

Moustre Tabbys surgiu no meio do campo logo em seguida, segurando um pergaminho do tamanho de seu antebraço, seu cabelo falho já se tornando grisalho mal se movia com a brisa. A luz do sol refletida em seus óculos grandes e redondos não permitia que os alunos vissem seus olhos, mas sua expressão de asco ainda era entendida facilmente.

- Já que todos já sabem quem sou, não perderei mais tempo. – disse entredentes, vindo em direção aos alunos.

Ele esticou a folha do pergaminho a sua frente, que ficou levitando, fez o selo de Melyne e em seguida pôs as mãos sobre o mesmo. A runa gravada no pergaminho brilhou e em cima dela surgiu quatro pergaminhos menores envolvidos por um tecido de couro amarrado por tiras.

- Pergaminhos são os instrumentos principais de um Septo. – dizia ele enquanto arremessava o envolto de pergaminhos menores para cada novato. – Mas sem as runas gravadas neles, não passam de simples rolos de papel. Cada pergaminho que estão nesses envoltos possui a gravura de uma runa elemental especifica, aqueles com borda cinza são do vento, azul da água, vermelho do fogo e preto da terra.

- Essa disciplina ainda é sobre História da Manipulação? – resmungou Drwos Granmsh, os olhos de Tabbys rapidamente se voltaram para ele, enquanto enrolava o pergaminho que flutuava.

- Você é idiota, meu jovem? – perguntou Tabbys, retoricamente. – Esta é a disciplina de Pergaminhos e Runas e como atividade da primeira aula, a renascença da água atacará a do fogo, que enquanto se defende, atacará a renascença do vento, este deverá atacar a terra que se ocupará de atacar a água. Tudo isso enquanto ministro a aula. Alguma pergunta válida? Eu acho que não. Sendo assim, me impressionem!

- Moustre Tabbys, - chamou Nathan, levantando sua mão. – perdão, mas qual o sentido de nos fazer lutar uns contra os outros?

- Selecionar os melhores que subirão ao próximo nível e quem sabe, um dia, chegar a ser um Septo. – Tabbys respondeu friamente, dando as costas para o garoto franzino e voltando a caminhar. - Então se preocupe em defender sua renascença... Se puder.

O peso de tais palavras ecoaram na mente do garoto que abria o envolto e retirava o pergaminho de borda cinza. O momento finamente havia chegado.

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