OBS: Tinha publicado o capítulo incompleto sem querer, agora está certo, então caso alguém tenha visto antes leia a parte final que tava faltando.
- Segura isso.
Demoro alguns segundos para assimilar que Alice está me entregando uma arma. Me surpreendo até que ela saiba usar uma, embora mais nada nela devesse me surpreender a essa altura.
- Não vou atirar em ninguém. - Digo.
Ela me olha impaciente.
- Só segure, seu pai é guarda, aposto que sabe como segurar uma arma. - Alice diz.
Cedo e tiro a arma da mão dela. Ela me explicou o plano segundos atrás.
Alice vai atirar para algum lado e eu me escondo, ela vai gritar pelos homens, vai dizer a eles que eu fugi e mandar procurarem em certa direção que dirá que me viu sair, enquanto isso vai pedir para os dois outros homens ficarem com Marid enquanto ela vai procurar por mim também. Ela me esconde no carro e vamos.
Primeiro, temos que torcer para dar certo. Segundo, tentarmos chegar antes do anúncio de Eadlyn.
- Vá para aquele canto perto da saída do fundo que eu mostrei. - Ela manda. - A chave do meu carro, espera por mim nele, você decide o que fazer comigo depois, pode me entregar para os guardas ou me deixar ir, mas não me deixe aqui.
- Ok, chefe. - Ironizo.
Não gosto de obedecer a ela, não gosto da arma em minha mão, mas gosto de pensar que em pouco tempo vou estar de volta e impedindo Eadlyn de arruinar a monarquia, então isso me faz ir até o esconderijo e esperar a ação dela.
Ela é fria, autoritária e eles realmente a escutam, tanto que sai tudo como planejado. Alice os faz acreditar que eu fugi, que está preocupada com Marid.
- Procurem por ele agora! - Ordena. - Não pode ter ido longe, mas está com a arma do Marid. E vocês dois fiquem com Marid enquanto olho pego o carro e dou uma olhada aqui nas redondezas.
Saio enquanto eles ainda estão de costas, reconheço o carro de Alice perto da entrada e entro nele rápido. Estou tentado a ligar esse carro e sair sem ela, talvez ela mereça, mas tenho consciência de que talvez não consiga chegar longe sozinho. Não sei o que fazer depois com as opções que ela me deu, entregar aos guardas ou deixá-la ir.
Demora mais de um minuto para que ela apareça e bata a porta do carro com pressa.
- Não levante até estarmos em uma distância segura. - Avisa ligando o carro e saindo com ele. - Quando eles perceberem minha cabeça vai estar a premio.
- Não espere que eu diga que lamento.
Na verdade eu faço, eu queria que ela tivesse escolhido um caminho diferente. Vamos em silêncio por boa parte do caminho até que ela diz que posso me levantar, eu ainda nem vejo as luzes de Angeles aparecerem, só o nada ao nosso redor.
- Não vai dar tempo. - Suspiro.
- Claro que vai. Não vai deixá-la fazer isso, não é? - Ela pergunta. - Eu não devia ter feito isso com você, você é um homem bom, eu sabia disso na primeira vez que te vi mesmo sem ter falado com você.
- Na televisão? No baile? - Pergunto.
Ela balança a cabeça negando, mas sem tirar o foco da direção.
- No jardim, você estava com o General, eu tinha ido dar um ultimato em Erik porque ele estava se negando a ajudar, ele sempre dava um jeito de me deixar entrar. - Ela conta. - Estava quase saindo quando vi vocês, vocês pareciam ter um tipo de compreensão, eu ia sair, mas fiquei olhando e então você olhou em minha direção. Eu fugi. Então quando fui ao baile e escolhi você para me aproximar não foi ao acaso, eu queria conhecer você.
- Missão cumprida. - Ironizo.
- Você foi dela desde aquele beijo na Seleção não é?
É uma pergunta difícil, eu não percebi o quanto estava envolvido, entregue, eu só me deixei levar.
- Talvez eu já fosse muito antes. - Respondo.
Ela abre a boca como se tivesse mais alguma coisa a dizer, mas desiste e volta a ficar quieta. Angeles logo se aproxima e entramos na cidade, mas ela para o carro antes de estarmos perto do palácio.
- Alice temos que chegar lá. - Reclamo.
- Você tem que chegar. - Ela fala. - Eu só tenho que chegar se você for me denunciar, é aqui que você escolhe.
Queria poder decidir isso com calma. Quem sou eu para julgar uma pessoa que cometeu um erro, mas decidiu voltar atrás e tentar ajudar, mesmo que talvez seja tarde? E de alguma forma eu não estaria feliz sabendo que Alice está presa ou sendo punida de maneira pior por traição.
- Os outros com Marid logo virão atrás de você, como vai escapar? - Pergunto me permitindo me preocupar com ela.
Ela dá um leve dar de ombros.
- Vou pro aeroporto, minhas malas tão aqui eu compro uma passagem para o primeiro voo para Bankston e de lá o primeiro voo para algum lugar fora do país. Eu vou ficar bem, vou me virar, é o que sempre faço. - Alice explica.
- Ok, mas me dê noticias, não sei como ou vou ficar preocupado que te alcancem.
- Tudo bem.
Alice abre o porta luvas e tira um papel e caneta, anota algo rápido e estica a mão para mim.
- Alguns endereços onde nos encontrávamos, varios lugares pelo país, espero que ajude. - Diz. - Agora vá, provavelmente Eadlyn vai começar ou já começou, precisa correr até o palácio daqui em diante. Vá!
Eu fico olhando para ela. Tenho a estranha sensação de que nunca mais vou vê-la, não porque algo grave vai acontecer a ela, mas porque ela é uma alma livre, quando ela se for de Illéa não voltará mais.
- O que está esperando? Vá! - Ela insiste.
- Adeus Alice.
Desço do carro e corro o mais rápido que consigo pelas ruas muito iluminadas de Angeles. Acho que deveria me exercitar mais e ser menos teórico porque em menos de dois minutos estou cansado e suando. Mas faço meu melhor e estou lá em menos de cinco minutos.
- Ele está aqui!
Um guarda na entrada diz me reconhecendo antes mesmo que eu me aproxime dos portões.
- Avise os outros! Vamos levá-lo para dentro!
Em um segundo vários homens me cercam, eu estou ofegante, mas preciso dizer.
- Onde está Eadlyn?
- A rainha está se pronunciando. - Um guarda diz.
- Não, droga, preciso ir até lá. Saiam! - Dou um jeito de empurrar quem está a minha frente e corro.
Algumas pessoas parecem surpresas em me ver enquanto corro, outras felizes, mas eu não paro, não até chegar ao estúdio.
- Eu não sou perfeita, mas se eu errei foi por amor ao homem que agora é meu marido, e agora eu tenho que pensar mais do que em Illéa, tenho que pensar nele e no filho que estou esperando. - Eadlyn diz controladamente, embora eu perceba o nervosismo em sua voz. - E agora eles levaram Kile, e me pediram algo em troca, e eu espero que entendam...
Paro atrás do câmera, ela não me viu, apenas ela. Não sei o quanto ela já falou, mas aparentemente ela já contou sobre nós. Maxon e América se aproximam, assim como meus pais, Josie, Kaden, de repente vira uma bagunça de gente me perguntando onde eu estava, o que houve, se estou bem, atrapalhando a transmissão. Por cima do abraço da minha mãe vejo Eady paralisada no centro do estúdio como se não acreditasse que eu estou mesmo aqui.
- Não. - Falo para ela. - Não precisa falar.
Ela suspira e desvia o olhar de nós, quase como se não quisesse observar. Algo não está certo.
- Me pediram para abolir a monarquia, e meus pais, meu irmão, toda minha família entenderia se eu fizesse isso por amor, mas Kile acaba de estar de volta então isso não é necessário. - Ela fala. - Porém, toda essa situação me fez perceber que talvez esse grupo não seja o unico que não me queira, então eu coloco o futuro de Illéa nas mãos de vocês.
O estudio fica em silêncio novamente, os que se aglomeravam ao meu redor voltam a olhar somente para ela. O que você está fazendo Eadlyn? Acho que todos se fazem a mesma pergunta.
- A monarquia ainda existirá, mas cabe a vocês decidirem se eu serei sua rainha ou se vamos buscar um novo representante dentro da monarquia. Quando as eleições forem feitas para elegerem os representantes essa também será uma pergunta que terão que responder. - O olhar dela é firme. - Eu ainda quero ser a rainha de vocês, e uma melhor do que fui até aqui, por isso eu acabo de ser honesta com vocês. Boa noite.
Demora alguns segundos antes que as câmeras desliguem. Os ombros dela relaxam, ela tira a coroa e finalmente acelera seus passos até mim, assim que estamos próximos o suficiente eu a seguro em meus braços. Ele segura meu rosto.
- Você está aqui, droga, isso foi uma tortura, eu achei, eu achei... - Ela não consegue falar porque lágrimas saltam de seus olhos.
A trago mais perto e a embalo em meus braços.
- Shh, está tudo bem, eu estou aqui. - Sussurro. - O trouxa voltou, ele sempre volta.
Eadlyn ergue o olhar.
- Que bom, eu não posso viver sem ele. - Murmura. - Não faça isso de novo.
O tapa leve dela em meu braço não dói, mas quando olho para onde ela bateu noto que estou um lixo, sujo, suado, esgotado desse dia e eu sei como todos querem saber o que houve, mas eu só preciso estar sozinho com ela agora.
- Será que a gente pode ter uns minutos? - A questiono baixinho.
Ela olha ao redor. Eu preciso falar com os guardas, ela precisa começar a conversar com conselheiros e família sobre o que acabou de fazer.
- Você pode ter o que quiser agora trouxa. Principalmente um banho, você está cheirando mal.
Essa é minha Eady, não importa quanto tudo pareça mal, ela sempre vai dar um jeito de jogar a superioridade dela na minha cara, é claro que agora faz isso por amor.