Vomitei Borboletas Mortas [EM...

By llaryoliveira

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Já sentiu as famosas "borboletas no estômago?" Eu também. Mas as minhas expectativas foram frustradas, meu co... More

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Capítulo II
Capítulo III
Capítulo IV
Capítulo V
Capítulo VI
Capítulo VII
Capítulo VIII
Capítulo IX
Capítulo X
Capítulo XI
Capítulo XII
Capítulo XIII
Capítulo XIV - Parte 1
Capítulo XIV - Parte 2
Capítulo XV
Capítulo XVI
Capítulo XVII
Capítulo XVIII
Hey ❤️💥

Capítulo I

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By llaryoliveira

Se trocar de sala é horrível, imagina trocar de escola todos os anos? Prédio novo, professores novos, colegas novos, ser a aluna nova e todos os acréscimos.

Meio metro e meio quilo de muitas histórias. Algumas finalizadas e outras ainda sendo escritas.

...

Ainda estava no ensino fundamental quando eu caí no ônibus em uma viagem da escola cantando em árabe What's Makes You Beautiful, descendo um degrau de cada vez, só que... na minha cabeça, é claro. Não deu tempo de pensar, nem de fingir um desmaio, porque eu já tinha caído e deveria fazer algo quanto a isso.

...

Pausa para a dica.

Quando cair, você tem três opções:

1) Se a galera estiver rindo, ria junto, "autozoação" costuma tirar o foco do mico.

2) Se a galera ficar só olhando, reclame do braço, cotovelo ou até do dente, se possível. Você pode não ter quebrado nada, mas tirar o foco da queda e chamar a atenção para a dor, mesmo que ela não exista, também ajuda a tirar o foco do mico.

Apertando o play.

...

Eu sorria igual uma girafa com gases, mas quando a graça aparentemente já tinha acabado..."boatos" que eu tinha quebrado o pé. E adivinha quem fez a g-e-n-t-i-l-e-z-a de me levar até a calçada? O crush.

...


Na época eu nem sabia o que era crush. Nem era dele que eu gostava. A vida tem dessas coisas, né? A pessoa errada na hora certa enquanto a pessoa certa não está muito aí. 

A gente titula as pessoas assim, sendo que na época, era só o meu melhor amigo.

...

Em uma das escolas que estudei, os professores recebiam aquelas cadernetas com os nomes dos alunos. Cada aluno tinha uma página, nessa página havia uma planilha com a seguinte legenda: C - Conversa, SM - Sem Material, ST - Sem Tarefa. Dependendo do que acontecesse em sala, os professores marcavam com um X os quadradinhos. Tudo bem até aí. Até inventarem colocar um campo para observações, e pior, todo final do mês essa folhinha maravilhosa era enviada para os pais juntamente com um informativo chamando CIENTE, que deveria ser apresentado no dia seguinte devidamente assinado, porque senão, não assistiríamos aula. Esse CIENTE foi o meu MAIOR pesadelo por um bom tempo e confesso que até hoje eu tenho uns sonhos tensos com ele. Mas uma manha é uma manha, e como toda boa aluna, eu sabia o que dizia a 4 lei de Newton: Levando em conta as circunstâncias, tudo é válido para não tomar uma surra da mãe. Então, o que eu fazia? Corretivo e xerox. E entregava com o coração na mão aquela folha linda, branca e imaculada. Fico feliz de está colocando isso para fora, pelo menos não contei isso em voz alta.

Sempre fui muito amiga dos meus professores, mas também nunca tive freios na língua. E eu falava mesmo, batia o pé mesmo, porque quando eu estava certa eu gostava de mostrar o porquê.

Meu melhor amigo, coitado, sofreu.

De vez em quando penso nele, se ele continua sendo aquele cara idiota e insuportável que durante muito tempo foi meu porto seguro.

...

Nós fazíamos tudo juntos, mas nem sempre foi assim. No início eu era só a novata e ele o cara legal, o piadista, o engraçado.

...

Eu tenho uma mania de só lembrar das coisas ruins, dos piores dias, das palavras malditas, estou sempre esperando o pior para lembrar depois, para desconfiar do que parece bom demais, bonito demais, certinho demais. Eu não gosto disso, na verdade, eu odeio. Porque minha vida não são apenas decepções, por mais que eu pense assim, no fundo eu sei que não é.

Queria lembrar com clareza da primeira coisa legal que ouvi da sua boca ou do primeiro abraço. Mas só consigo lembrar dos detalhes da primeira vez que ele me decepcionou.

...

O Sol já estava se pondo quando entrei no Orkut para passar o tempo, tudo parecia do mesmo jeito, depoimentos dizendo coisas falsas, vindos de pessoas mais falsas ainda e gente reclamando da vida. Até alguém me chamar no bate-papo, já achei estranho aquela garota me chamar porque primeiro, não tínhamos assunto nenhum e segundo, eu não gostava dela.

—  Alguma merda pensei alto.

E realmente era.

Já ta sabendo que o Caio será pai?

Pai? Confesso que ri alto. Pelo amor de Deus, sem condições nenhuma. 

Impossível. 

Aquele moleque? 

Não mesmo.

Pai? Como assim?

Perguntei.

Pois é, e como vocês são amigos, achei até que você sabia, mas por via das das dúvidas resolvi avisar.

Não, ela não achou.

Eu e o Caio não nos falávamos desde o início das aulas e olha que já era quase meio do ano quando rolou essa história.

Ele tinha mudado, assim como eu. Nossa amizade já não existia. Cada um tinha o seu lado da sala com novos amigos. No fundo, a culpa era minha e eu sabia disso. Ele tinha cansado. Cansado de ser apaixonado por mim. Sim, apaixonado. Pelo menos foi o que ele disse várias vezes e em todas as vezes eu consegui ser pior. Ele era bom demais pra mim. E bom, eu não sabia que era apaixonada por ele. Mas todos pareciam saber.

Eu me recusei a acreditar naquela história e estava decidida a contar a mentira que estavam falando sobre ele. Estava disposta a engolir o meu orgulho, pedir perdão e dizer que eu também gostava dele, dizer o quanto eu senti sua falta e o quanto estava arrependida por tudo que eu falei, por todas as vezes que o machuquei. Dizer que eu fui burra e orgulhosa mas que tudo seria diferente. Meu coração transbordou de esperanças e planos, quase não dormi com tamanha ansiedade. 

Criei muita expectativa e ele frustrou todas elas.

~

Cheguei cedinho na escola e procurei por ele, ele estava subindo as escadas com seus amigos e nem preciso mencionar minha opinião sobre. Cutuquei seu ombro e por um segundo pensei em desistir, mas resisti. Ele me encarou por um tempo. Como ele estava mudado, corte de cabelo, roupas e até o jeito de deixar o maxilar rígido. E então ele fez sinal para eu falar. Por quanto tempo eu estava olhando? Não faço ideia.

Eu sei que estamos sem nos falar há meses, sei que você agora me odeia, mas não importa, eu ainda sou sua amiga e tenho que dizer que essas pessoas com quem você anda, estão falando coisas sobre você, inventando mentiras, falaram até que você será pai, que você engravidou uma menina daqui da escola. 

Enquanto eu tagarelava, ele só me encarava. Seus olhos não tinham reação, emoção, surpresa, raiva, nada.

— É mentira, não é?

Depois que perguntei, eu senti que não deveria estar tão convicta de que seria mentira.

Por que se importa? Sim, é verdade. Não que isso seja da sua conta, claro.

...

Criar expectativas deixou de ser uma opção para mim. Eu senti raiva. Não dele, do fato ou da garota que me contou, fiquei com raiva de mim. Não aquela raiva que sentimos quando esquecemos algo importante em casa ou quando perdemos o horário.

Eu me senti uma besta, uma grande idiota. Uma idiota completa.

Eu não podia culpá-lo, já não era da minha conta. O que eu podia fazer? Bater o pé? Tentar matá-lo com a minha carteira? Não, eu não podia fazer nada. Então eu chorei. Chorei porque precisava esvaziar.

...

Os dias passaram e sua fama passou de cara legal para pegador. Suas notas caíram, assim como sua calça que só andava no meio da bunda, eu me perguntava como era possível alguém mudar tanto.

Meu coração contraía toda vez que subia a janelinha informando que ele estava online no MSN. E eu ficava horas encarando aquela janela, esperando aparecer um "digitando" ou um "janela errada". Mas isso nunca aconteceu.

Os dias tornaram-se meses e lá estava eu sorrindo e fazendo de conta. 

Não demorou muito e chegou o último dia de aula. Todos trocando abraços longos, escrevendo mensagens clichês nas camisas, comendo, bebendo, relembrando os melhores momentos do ano e fazendo planos para o próximo. 

Eu não esperei um abraço, um pedido de desculpas, um aperto de mão e muito menos um olhar na minha direção. Pelo menos dessa vez minhas expectativas não foram frustradas, até porque eu não tinha criado nenhuma. Apenas o observei, estava do mesmo jeito, com o mesmo corte de cabelo, a mesma calça folgada, sorrindo à toa. Eu não fazia falta, eu já não significava nada.

~

Mal podia acreditar que as férias tinham acabado. Mais um primeiro dia de aula no mesmo colégio, com as mesmas pessoas. Confesso que não estava muito empolgada, o trio do qual fazia parte tinha sido desfeito, aquela dupla de três seria só de duas pessoas mesmo.

Fiquei me olhando no espelho, pensando no que mais estaria diferente, e foi instantâneo. Meus pensamentos tornaram-se memórias, e lá estava a imagem do dia em que as coisas, que já não estavam boas, conseguiram piorar. Balancei a cabeça negativamente e terminei de me arrumar.

Já não importava, pelo menos era o que eu tentava me convencer.

Passar por aquele portão foi tão familiar, aquele cheiro de materiais recém comprados, pessoas desconhecidas procurando suas salas, sorri ao me dar conta que seria meu último ano no Ensino Fundamental II.

Meu sorriso não durou muito, mas meus olhos não desviaram, engoli em seco e quase fiquei boquiaberta quando ele esboçou um sorriso. Não consegui sorrir de volta, continuei andando até a sala e sentei na primeira carteira.

...

Eu não queria ser fraca, nem frágil, nem nada disso, não na frente dele, não outra vez. As pessoas podem ser cruéis quando demonstramos demais.

...

Nenhum aluno novo, apresentações e piadas de sempre, os professores de sempre, tudo parecia igual.

Eu já estava incomodada com tamanho tédio. Primeiros dias de aula são sempre um saco ou eu estava um saco? Já tinha riscado toda a minha carteira quando ergui os olhos e ele estava me olhando como no primeiro dia de aula há três anos. Fiquei desconfortável, desviei os olhos e continuei a desenhar algo que nem tinha nome, na verdade, eu nem sabia e continuo sem saber se existe, mas me mantive ocupada.

A voz da professora soava longe, meu corpo estava ali, mas minha mente estava voando até o arrastar das cadeiras me trazer de volta a realidade. 

O sinal tinha tocado finalmente. 

Coloquei os fones antes de selecionar a música.

Estranhei minha atitude, era o primeiro dia de aula, todos estavam contando as novidades, matando a saudade e eu, pela primeira vez não quis fazer parte do círculo, não quis fazer parte do grupo, eu só queria ouvir uma boa música e molhar a garganta até o intervalo terminar. Pelo menos era o que eu queria, porque antes de sair da sala, fui surpreendida por braços em volta da minha cintura, ao mesmo tempo que senti meu rosto ser pressionado contra o peito de alguém que ainda não sabia quem era, até sentir o perfume.

Era ele.

Ele estava me abraçando.

...

Do quebra cabeça de mil peças, aquele abraço foi a peça que faltava. Sabe aquela peça perdida que mesmo você olhando para ela, você não a reconhece, você nem tenta porque na sua cabeça já é certo que não se encaixa? Então. A palavra "impossível" estava tão fixa na minha mente, que por uns segundos, achei que era sonho.

...

Fechei os olhos e senti como se estivesse voltado para casa. Mágoa, rancor, dor, tudo tinha ficado para trás, tudo que um dia nos separou já não existia. Fechei os olhos e deixei que me abraçasse o mais forte que conseguisse, eu precisava daquilo, nós precisávamos. Não sei quanto tempo durou, mas foi o suficiente para nossos colegas comentarem entre si, e, quer saber? Eu não estava nem aí. Não teve pedidos de desculpas, acusações ou "lavagem de roupa suja", o abraço serviu como ponto final.

Voltamos a conversar como se nunca tivéssemos parado, quem conhecia a história do início soltava umas piadas que me fazia sorrir, sorrir de verdade. Porque eu estava bem, ele estava ali e meu coração que nunca tinha parado de bater por ele, estava em ritmo de escola de samba.

...

Eu sei que deveria ter dado meia volta, gritado, questionado, exigido uma explicação, mas não consegui fazer nada disso, na verdade, até hoje não sei o que de fato aconteceu. O suposto filho nunca apareceu e sobre a tal menina, bem provável que nem ele saiba por onde anda.

O primeiro amor a gente nunca esquece.

Eu levei um bom tempo para entender isso. Entender que eu não iria esquecer. Hoje eu sei que não vou esquecer o primeiro beijo, que por sinal foi roubado, a primeira briga e muito menos o último carinho, tampouco o nosso ultimo dia. A diferença é que com o tempo eu iria amadurecer e isso aconteceu. Não é a dor que lembra, mas um gosto, um cheiro e talvez alguém parecido na rua. Talvez eu lembre com arrependimento ou com a certeza de que fiz a coisa certa. No final, tudo ainda está aqui, só que ocupando outro lugar na minha vida.

O problema foi o tempo que levou para isso acontecer.

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