EMMA
Subimos a escada do avião e estamos em uma sala. Os funcionários estão em pé esperando o comando do Sr. Adam e Nicole me ajuda falando o nome e a função de cada funcionário
— São cinco ambientes internos, além uma aérea exclusiva para descanso dos tripulantes e uma Suíte Master —Ela explica.
Andamos mais a frente e saímos em uma sala bem espaçosa. As paredes são um branco perolado, a mesa um marrom conhaque, as poltronas são de couro também marrom conhaque e no canto tem um sofá vermelho.
— A suíte ficará com meus pais, já a gente iremos nos acomodar nos demais espaços, onde há sofás que podem ser abertos e transformados em uma cama de casal. Com exceção da cozinha e banheiro, claro.
Eu exalei uma respiração que continha muitas vogais e balancei a cabeça, completamente abismada com o que o dinheiro era capaz de comprar.
Deus, por que não permitisse que eu chegasse a esse mundo rica?
— Porra, quem disse que dinheiro não traz felicidade mentiu com cabeça enfiada no próprio rabo— Eu disse.
Nicole ri alto, então bate no ombro do
irmão quando ele se aproxima.
— Eu esperei muito por isso. E não imaginava o quão doce seria ao saber que você está ferrado. — Ela disse em meio ao riso.
Eu fiquei esperando por uma resposta dele, mas Nicolas ofereceu nada além de um olhar indeciso apontado para a irmã. Mas foi rápido em se recuperar.
— Vem, vou te mostrar onde ficaremos—Ele me chama.
Entramos no pequeno corredor e Nicolas me guia até o último espaço.
O ambiente é pequeno, sua decoração se resume no preto e branco, com alguns móveis.
— É maravilhoso—Digo respirando fundo para captar o cheiro bom de sândalo que rescende no local.
Deito no sofá e meu maxilar chega a doer de tanto sustentar o sorriso gigante que se estende em meu rosto.
— Que bom que gostou. Mas se quiser dormir no chão, eu não vou me opor. —Brincou.
— Oh, não. Eu preciso acordar amanhã com um humor maravilhoso para aguentar mais um dia ao seu lado. E ter seu corpo enrolando o meu é um ótimo animador de ânimo.— Brinquei sorrindo.
Ele riu também e então, sem que eu percebesse, estávamos gargalhando juntos. Mas, quase ao mesmo tempo, nossa risada diminuiu e eu a flagrei olhando para minha boca.
— Você tem uma boca linda.—Ele disse quase me levando à óbito.
— Você acha? — Eu perguntei, incapaz de esconder a minha surpresa.
Ele estava dando em cima de mim? Eu ia precisar dizer novamente a ele que nós nunca teríamos nada além de uma relação profissional?
— Sim, mas não preocupe essa sua linda cabecinha comigo dando e cima de você, Srta. Bennett. Isso foi apenas um elogio— O sorriso arrogante de merda que se estendeu pelo seu rosto de fez calor inundar minhas bochechas.
— Obrigada. Eu realmente aprecio isso, seu idiota do caralho— Eu rosnei e ele apenas aumentou seu sorriso.
— Sabe, quem não te conhece acha que você é uma pequena flor delicada que qualquer um poderia esmagar. Mas isso é um tremendo engano.
— Ah é ? —Eu sorri falsamente.
Ele assentiu.
— Você é uma coisinha dura quando tem que ser.
— A vida fez isso comigo —Eu respondi antes que pudesse me parar.
— Não é assim para todos?— O tom de suas palavras me surpreendeu.
Eu percebi que, dentro de sua declaração, havia uma visão sobre o seu próprio caráter. Eu não podia deixar de imaginar o que a vida lhe fizera. Mas eu tinha a sensação de que era mais fácil pular desse avião sem paraquedas e sobreviver do que descobrir os segredos de Nicolas Schiller.
— Desculpe atrapalhar o casal vinte, mas estamos todos a espera de vocês na sala. — Mayara irrompeu do espaço.
— Nós já estávamos indo. —Nicolas me estende a mão e me ajuda a ficar de pé.
De mãos dadas, seguimos juntos até onde sua família está. Chegando lá, recebemos alguns sorrisos sugestivo.
— Sempre os últimos a se juntarem. Por que será? — Bruno é o primeiro a provocar.
— Porque foder é melhor que ouvir pessoas idiotas como você defecar pela boca. — Nicolas respondeu com uma piscadela.
Eu gaguejei de vergonha ao ouvir suas palavras. Podia sentir o calor subir pelo meu pescoço e inundar minhas bochechas.
Cretino.
— Tio Nick, o que é foder? — Um menino louro e idêntico a Bruno perguntou.
— Azael! —Nicole repreendeu o filho. — Nunca mais repita essa palavra. E esqueça o que seu tio disse, querido. Ele não sabe o que fala. —Ela enviou um olhar mortal para o irmão antes de se voltar para o pequeno.
— Foder é o mesmo que exercitar — Hanna, filha de Mayara, disse como se entendesse muito sobre assunto.
— É mesmo? E como você sabe disso? —Nicolas perguntou, um sorriso cínico nos lábios.
— Eu ouvi o papai chamar a mamãe para foder, e quando perguntei o que significava ele disse que era o mesmo que exercitar —Ela deu de ombros. — Papai e mamãe se exercitam muito.
— Jesus! —Noemi tampou a boca com a mão
A risada quis explodir em minha garganta e tive que morder o lábio para segurá-la.
— Pelo visto, tio Nick e tia Emma também, não é mesmo papai? —Agora foi a vez da filha de Deive dizer, me deixando mortificada.
Jesus, o que andaram dando aquelas crianças?
— Eu não sei, querida, pergunte a eles. — Deive respondeu e a criança me olhou a espera de uma resposta.
— Sim, se exercitar faz bem para os músculos. —Eu soltei antes que pudesse pensar melhor.
O coro de risada ao meu redor foi alto, até as crianças que não faziam ideia da mensagem subliminar, riram as minhas custas. Sem graça, foquei o olhar em meus pés, desejando que o chão do avião se abrisse e me puxasse pelo meu embaraço.
Puta merda, o que há de errado com meu cérebro?
— Emma, querida, já vi que você foi feita na forma dos Schillers. —Noemi disse passando os braços ao redor de meus ombros.
Deixei que ela me guiasse até o sofá, e me sentei ao lado de Nicolas, mas me recusei a levantar a cabeça e encarar ele ou qualquer outra pessoa. A vergonha ainda estava me surrando e eu sentia meu rosto palpitar de tão quente que estava.
— Hei— O dedo de Nicolas no meu queixo me fez estremecer. — Está tudo bem?
Minha respiração ficou presa na garganta e meu coração bateu
ferozmente contra o peito.
— Sim. — Me afastei do seu toque rapidamente, como se tivesse sofrido uma queimadura.
Olhei rapidamente ao redor da sala e todos já estavam absorvidos em outra conversa, sem perceber o que acontecia entre nós.
— Você tem certeza? —Nicolas insistiu em um voz baixa, não para manter um segredo, mas porque parecia genuinamente preocupado.— Se alguma coisa te incomodar você deve me dizer, certo?
— Está tudo bem, ok?— Eu olhei em seus olhos e e senti meu coração subir pela garganta.— Eu só fiquei com vergonha, não é nada demais.—Dei de ombros desviando o olhar para a TV que mostrava um desenho animado antigo.
— Se você não gostar das brincadeiras me diga, eu darei um jeito nisso. — Ele me surpreendeu quando me puxou para seu peito.
— Está tudo bem, eu gosto do humor deles. — Respondi, aliviada por minha voz sair sem tremer.
— É bom saber disso — Senti seus lábios macios pousarem em minha testa, e inexplicavelmente, minha vergonha foi substituída por algo mais calmo, mais quente e infinitamente mais doce.
•••
— Então, espera aí—Luan disse, puxando uma cadeira para se sentar.— Vocês namoraram por praticamente seis meses e nem mesmo os abutres de Nova Iorque ficaram sabendo?
— Sim— Eu e Nicolas respondemos juntos.
— E você é a assistente dele há muito tempo? — Continuou, os olhos brilhando com desconfiança.
— Três anos—Nicolas respondeu e Luan coçou o queixo.
— O que aconteceu com a Beth? Eu juro tê-la visto na festa do ano passado.
—
Oh, ela foi promovida.—Respondi tentando soar o mais sincera possível.
— Claro— Murmurou ainda desconfiado.
Eu sorri, imaginando o pescoço de Nicolas sendo esmagado por meus pés.
De onde esse idiota tirou que seria fácil enganar a sua família?
Eu me sentia como uma assassina diante do FBI.
— Por que tanta desconfiança, Luan?—Nicolas riu um pouco da expressão do irmão.— Você acha que eu teria coragem de inventar tudo isso?
— Você é um filho da mãe manipulador, então qualquer coisa vindo de você me causa desconfiança.
— Na verdade, eu era um filho da mãe.
— Era um filho da mãe? Seu uso do verbo no passado é adorável— Deive entrou na conversa— Eu acho que você ainda é um pouco filho da mãe.
— Eu sei que acha isso. Acontece que você sempre se esquece de como você era antes deconhecer Ana.
— Não é verdade —Ele protestou com o seu raro sorriso grande.— Eu sei que eu era um cretino.
— Exatamente. —Ana concordou se aproximando junto com Nicole— Ainda me pergunto como me apaixonei por você.
— Acredita que eu também? —Nicole sorriu sarcástica — Eu tenho que parabenizar você e Emma pela paciência. Ficaram com os piores Schillers.
— A serpente que crio entre as pernas compensa toda minha chatice, não é mesmo, amor? —Deive brincou olhando para a esposa.
— Deive! —Ela acertou um soco no ombro dele.
— Qué pasa, mi amor? —Ele perguntou em espanhol e os olhos de Ana brilharam.
— Oh, cacete. É tão lindo quando fala assim.—Ela se inclinou e beijou o marido.
Um beijo com mais língua do que o apropriado.
— Oh, não —Luan gemeu de frustração.— Nem comecem com as suas preliminares aqui na mesa. Arrumem um quarto.
Atrevida, Ana beijou seu marido mais uma vez antes de voltar a atenção para nós, que estávamos todos com sobrancelhas arqueadas.
— Gente, qual o problema em um beijo apaixonado?
— Dizer que o beijo foi apaixonado é um grande eufemismo do caralho. —Nicolas indagou— Aquilo foi praticamente pornor ao vivo.
— Aff, vocês são hiperbólicos demais. —Ela revirou os olhos.— Foi apenas um beijo, como o de outro qualquer casal.
— Se vocês se beijam assim em público, brevemente teram problemas na justiça por ato obsceno em público. — Nicole disse com uma careta.
Deive mostrou seu dedo médio para ela e puxou o pescoço de Ana para beijá-la novamente, mas foi, felizmente, interrompido quando uma Naty impaciente entrou no cômodo.
— Somente sobre o meu cadáver nosso filho vai se chamar Neo ou Blue— Naty bufou.
— O que diabos há de tão errado com esses nomes?—Marlon perguntou
Naty não respondeu. Em vez disso, ela simplesmente lançou um olhar mortal.
— Está bem, está bem. —Marlon passou o braço em volta da sua cintura e a puxar para mais perto dele.— Você escolhe o nome.
— Isso —Ela sorriu para ele.
— Vocês já sabem se é menino ou menina?—Perguntei e Marlon negou com a cabeça.
— A criança definitivamente tem o DNA de Naty. Foi teimosa o suficiente para impedir que os médicos olhassem o sexo.
— Não é nada disso. — Naty protestou — Deve ser uma menina, e já sabe desde cedo que não deve se expor.
— Claro, não tem nada haver com o seu terrível sangue latino. — Nicolas provocou e dei um tapa em seu ombro.
— Não esqueça que seus futuros filhos também terão esse sangue terrível. —Brinquei e Nicolas murmurou algumas coisas antes de me puxar e dar um beijo barulhento em minha têmpora.
Deive deu risada.
— Puta merda, Nicolas, eu estou vivo para ver você ser carinhoso. É surreal.
— Concordo. —Luan disse sorrindo.
E graças aos céus, ele já não parecia tão desconfiado.
— Eu estou como sempre foi. —Nicolas deu de ombros.
— Não é verdade.— Nicole disse — Você está mais tranquilo.
— É o efeito Emma! — Luan alfinetou e, para minha surpresa, Nicolas assentiu, como se essa resposta fosse verdadeira.
— Onwt, meu amor. Você também me acalma—Eu disse inclinando a cabeça para sorrir para ele.
Nicolas balançou a cabeça enquanto dava um risinho tenso, inclinando-se para beijar o topo da minha cabeça. Mas não se retirou imediatamente, então aproveitei o momento e me apoiei em seu corpo sólido e tranquilizador, engolindo um sorriso enquanto seus braços me envolviam.
— Bom, a conversa está muito boa, mas o corpo já pede cama — Deive disse levantando-se.
— Já, amor? —Ana fez beicinho.
— Sim. —Repondeu agarrando suas pernas.
— Deive!!! — Ana deu um gritinho enquanto ele a jogava por sobre o ombro, levando-a para o quarto.
— Eu também vou indo. —Marlon disse e caminhou na direção dos quartos, acompanhado da esposa e irmãos.
Virando-se para mim, Nicolas sorriu e bateu as palmas das mãos.
— Os jurados da sua escola eram péssimos e merecem sofrer de uma terrível de barriga por terem privado o universo de conhecer a incrível atriz você é.
— Obrigada, eu acho.— Agradeci em dúvida se ele estava sendo sincero ou debochado.
— Você quer algo para beber?—Perguntou se aproximado do frigobar.
— Sim —Balançei a cabeça em afirmativa.
Depois de ver o que havia no frigobar, ele pegou um litro de suco de laranja e me olhou questionando minha vontade.
— Pode ser.—Respondi simplesmente, observando cada movimento seu.
Atenta, observei seu antebraço flexionando-se enquanto ele girava a tampa, que suavemente se soltou da garrafa.
— No que você está pensando agora, enquanto me observa?—Ele quis saber, erguendo o olhar assim que encheu dois copos com suco.
— Só estou… olhando. —Respondi e não pude deixar de notar quando a expressão no seu rosto mudou.
Engoli em seco com a intensidade do seu olhar queimando no meu. Eu não sabia como algo tão inocente havia mudado para algo tão ilícito e perigoso. Desde a noite em que tínhamos compartilhado a cama, tudo tinha mudado entre nós. E a simples lembrança do seu corpo contra o meu enviou uma dor se espalhando entre as minhas pernas.
— Não olhe para mim desse jeito— Ele veio lentamente em minha direção, segurando duas taça parcialmente cheia de suco.
— Como eu estou olhando para você? — Eu aceitei um copo.
— Como se você quisesse me foder. —Rosnou e suspirei.
A eletricidade no ar ao nosso redor crepitou e bateu no mesmo ritmo do meu coração. Eu sabia que devia me virar e fugir. Eu tinha um trabalho a fazer com ele e sua família, um que não incluía transar com o patrão. Embora eu soubesse que estar com Nicolas seria uma experiência incrível, tinha toda a certeza do mundo que eu não poderia escapar emocionalmente ilesa. Tudo dentro de mim gritava para me afastar dele e ir para o quarto.
Acontece que ser coerente não é sempre fácil.
E quando Nicolas continuou a olhar para mim como um predador faria com a sua presa, eu não queria mais nada do que ser consumida por ele.