— O quê? — a dor que atormentava no topo da cabeça de Oliver simplesmente desapareceu, anestesiada pelo impacto das palavras escassas que Jake proferiu.
— Bom... — Jake se ergueu desajeitadamente e começou a caminhar em direção ao armário de Oliver, sem motivo aparente.
— De onde você tirou isso? — Oliver indagou, encolhendo os joelhos em direção ao peito, fixando seus olhos em Jake.
— Eu comecei a perceber há algum tempo que você talvez não tivesse interesse por garotas, mas você nunca tocou no assunto, e eu não quis bisbilhotar.
— Agradeço por respeitar isso, mas por que, Jake? Por que escolher você para ser o meu primeiro? — Oliver deixava as palavras saírem dele quase de forma automática, ainda em estado de choque com tudo que estava acontecendo.
Jake hesitou antes de responder: — Eu pensei que, bem, eu achei que seria melhor eu ser o seu primeiro... você sabe.
— Você é gay? — Oliver soltou a pergunta que o pegara de surpresa.
— Não, não exatamente... quer dizer, eu não sei bem. — Jake pareceu ponderar por um instante antes de responder.
— O que isso quer dizer? — Oliver não estava satisfeito com a resposta e pressionou.
— Eu não sinto atração por garotos. — Jake explicou.
— Então você não é gay. — retrucou.
Um breve silêncio se instalou entre eles. Em seguida, Oliver virou-se para encarar Jake, retomando a conversa onde a tinham deixado: — Por que você ficaria irritado se eu não concordasse em fazer isso com você primeiro?
Oliver achava tão vulgar repetir aquilo.
— Porque eu sei que não te machucaria, Oliver. Eu não confio em mais ninguém para tocar em você. — desabafou Jake e Oliver respirou fundo antes de prosseguir.
— Então, o quê? Eu preciso da sua aprovação?
Jake se aproximou lentamente, dirigindo-se a Oliver com ternura enquanto arrumava seu cabelo, cujo o sangue já tinha secado.
— Você não precisa de mais ninguém além de mim.
Oliver não conseguia compreender. Jake não era atraído por garotos, mas havia algo naquela situação que talvez trouxesse à tona uma nova perspectiva.
— Eu não entendo. Você não sente atração por garotos, mas talvez, de alguma forma, possa ser gay? — Oliver mordeu nervosamente o lábio inferior, ainda levemente inchado pelo soco de Aiden. Aguardando ansiosamente pela resposta de Jake, que hesitou.
— Eu não sei. — ele murmurou, virando-se para sair. Contudo, no meio do caminho, ele parou. — Promete que não vai sair?
Oliver ponderou sobre as opções, mas rapidamente percebeu que o único lugar para onde iria era o hospital, tentando se recuperar do choque.
— Só... por favor, lembra disso. Não saia. — Jake se virou para encará-lo, os olhos marejados.
Um desconforto tomou conta do estômago de Oliver. Ele odiava ver Jake daquela maneira; isso só acontecia quando Jake estava profundamente triste ou genuinamente preocupado.
— Por que você está chorando? — perguntou Oliver, preocupado.
— Só me prometa.
— Eu prometo... Jake. — as palavras saíram de sua boca enquanto Jake já se afastava, e logo ele ouviu o som do motor da caminhonete enquanto ele partia.
Jake tinha ido embora.
***
— Ressaca é uma merda. — comentou Bianca, deixando-se cair desajeitadamente no sofá, ainda vestida com seu pijama, o que levantou uma dúvida inevitável na mente de Oliver: Como ela tinha conseguido sair de casa daquele jeito? Seus óculos de sol estilosos apenas acentuavam seu visual.
— A culpa não é minha, agora coma, você precisa de comida. — Oliver ofereceu, empurrando um prato com dois suculentos sanduíches na direção de Bianca. A resposta dela foi uma dramática lamentação.
— Ah, perfeito! Mas, falando nisso, como você conseguiu chegar em casa, afinal? — ela indagou, curiosa.
— Bem, na verdade, essa é uma história bem engraçada. — Oliver começou a responder, mas foi interrompido imediatamente por Bianca.
— Só um minuto, estou morrendo de vontade de dar uma boa mordida nesse sanduíche.
— O que você realmente precisa é de um remédio.
— O que eu preciso mesmo é me alimentar!
— Meu Deus, você é doida. — Oliver suspirou, entregando o prato a ela antes de se acomodar ao lado dela no sofá.
— Pode ser, mas você me ama. — Bianca sorriu. — Agora, me conte.
Bianca finalmente deu uma mordida no sanduíche de peito de peru e, inevitavelmente, seu rosto se iluminou com prazer, levando-a a gemer com entusiasmo.
— Para resumir a história, um cara me salvou de uma situação... digamos que complicada.
— Mmm! Ele era bonito? Ele te deu o número dele? Você se apaixonou?
— Sim, sim e não. Na verdade, eu nem sei se ele é gay.
— Mas ele te salvou, ele foi o seu herói. Eu queria que Brian fosse assim, mas ele só pensa em futebol. Talvez eu devesse terminar com ele e encontrar um príncipe encantado como nos filmes. Eu tenho beleza suficiente para ser uma princesa, não acha?
— Você ainda está bêbada? — Oliver perguntou, zombando.
— Talvez! — ela respondeu. — Mas agora você precisa ligar para ele. Ele balançou a cabeça.
— Não vou fazer isso. — Oliver zombou, esticando as pernas sob a mesa de centro.
— Vai sim! Liga, liga, liga, liga! — Bianca insistiu, terminando seu sanduíche e colocando o prato no chão. Em seguida, ela agarrou os braços dele e o apertou no sofá como se estivesse prestes a beijá-lo.
— Ok, ok! Fique longe de mim! — ele cedeu.
— Me chame de rainha! — Bianca brincou.
— Tudo bem, você é uma rainha! Agora pare!
Ela se sentou novamente, sorrindo satisfeita. Com um suspiro, Oliver pegou o celular. O garoto misterioso havia nomeado seu contato como "você vai descobrir em breve". Realmente uma escolha criativa.
— Você ainda não ligou. — Bianca insistiu, sacudindo-o. — Anda!
— Você precisa de ajuda. — ele comentou enquanto começava a fazer a ligação. No terceiro toque, o garoto atendeu.
— Uau, você demorou, hein... — sua voz soou divertida do outro lado da linha.
— Você finalmente vai me dizer o seu nome? — Oliver perguntou.
— Você vai me dizer se aquele garoto, Jacob, é o seu namorado? — o garoto misterioso riu.
— Primeiro você. Qual é o seu nome? — Oliver não conseguiu evitar revirar os olhos, apreciando a ousadia do garoto misterioso.
— Tudo bem, meu nome é Noah. Sua vez.
Oliver pensou consigo mesmo quão interessante seu nome soava.
— Noah... soa bem. E não, Jacob não é o meu namorado. Finalmente é bom saber o seu nome.
— É. — houve um constrangedor silêncio entre eles antes de Noah retomar a conversa. — Então, meus pais estão organizando um jantar...
— Espera, você ainda mora com seus pais? — Oliver perguntou involuntariamente.
— Eu tenho apenas dezoito anos, isso é um problema? — Noah respondeu com um irritado rosnado.
— Bem, não precisa ficar tão irritadinho! Eu só pensei que você fosse mais velho, Sr. Atrevido. — 'Atrevido?' Oliver podia sentir suas bochechas ficando quentes com as próprias palavras.
— Atrevido? Eu não sou atrevido!
— Ok, continue com o que estava dizendo, Sr. Atrevido. Você mencionou algo sobre um jantar?
— Chega disso. Sim, teremos um jantar na minha casa esta noite. Eu estava prestes a ligar para você antes, mas quanto aquela pergunta sobre o tal Jacob, eu não gostaria de brincar com o brinquedo de outra pessoa. No entanto, acho que agora eu quero! — Noah terminou, deixando Oliver confuso com a sua analogia.
— Entendi, então... a que horas?
— Quando eu passarei para te pegar. Bem, pode ser agora, ou mais tarde, ou talvez nunca.
— Que horas, Sr. Atrevido?
— Esteja pronto antes das oito, e eu gostaria que você parasse de me chamar assim! — ele pareceu irritado.
"Espera um segundo, isso é um encontro?" Oliver pensou consigo mesmo. surpreso. Bom, afinal, qualquer um poderia ser cavalheiro e amigável, mas com todas essas perguntas estranhas, Noah havia perguntou sobre Jacob? Ele definitivamente é gay e provavelmente está convidando Oliver para um encontro. Ele presumiu.
— Bianca?
— O que foi? — ela respondeu enquanto mantinha os olhos grudados na TV.
— Acho que tenho um encontro.
***
— Deus, quando é que ele vai estar aqui? — Bianca estava claramente se sentindo melhor, pulando freneticamente na cama, agitando os braços de forma quase infantil.
— A qualquer momento. — Oliver resmungou, ajustando sua camiseta cinza. Será que é ruim ele estar tremendo? Acho que ele está bem. Seus nervos estavam surpreendentemente calmos.
Jake invadiu os seus pensamentos enquanto Oliver se olhava no espelho. Jake saiu de sua casa ontem à noite como se tivesse visto um fantasma. O jeito como ele tem agido desde que descobriu que seu melhor amigo é gay... é tão estranho. Quer dizer, mais estranho do que o normal, considerando que estamos falando do Jake, não é mesmo? O que ele quer dizer com ser o primeiro a transar com Oliver, mas não ser gay?
— É ele? — Bianca suspirou impaciente, sua voz soando aguda.
Noah estava na varanda abaixo deles. Seu cabelo castanho avela quase preto brilhava na luz fraca do sol de agosto. Não era possível ver completamente seu rosto, mas seu corpo bem definido estava visível sob sua camiseta preta. Uma jaqueta de couro cinza envolvia seu torso, parecendo sempre confortável nele, e as mangas dobradas revelavam duas pulseiras penduradas em seu pulso.
Noah era realmente impressionante.
— É-é ele... — a mandíbula de Oliver se mexeu rapidamente.
— Eu realmente preciso reavaliar minha vida.
— Bem, eu acho que vou in...
— Não antes de você me apresentá-lo! Quem sabe ele também é bi? E você já tem o Jake, não seja egoísta! — ela agora tinha saltado nas costas de Oliver, dando-lhe leves tapas na parte de trás da cabeça. "Que droga!" Pensou ele.
— Sai de cima de mim, sua vaca! — ele a empurrou para baixo, rindo.
— Amo você, divirta-se! — ela gargalhou no chão.
— Não roube nada! — disse Oliver enquanto corria escada abaixo.
— O que eu roubaria aqui? Seus livros chatos? — disse Bianca com escárnio. E Oliver abriu a porta para um Noah sorridente.
— Então, foi tempo suficiente? — resmungou Noah. Tão atrevido. — Antes que você nos faça perder mais tempo, vamos embora. — ele segurou o pulso de Oliver e começou a puxá-lo em direção ao carro. Sua ação brusca fez o coração de Oliver acelerar mais do que o normal.
No carro, Oliver comentou sobre o visual de Noah.
— Você está lindo. — disse Oliver, assim que prendeu o cinto no banco.
Noah riu e olhou para Oliver.
— Não tão lindo quanto você. — disse Noah.
Oliver não tinha percebido, mas Noah ainda estava segurando seu pulso.
— Ah, desculpe. — disse Noah rapidamente, seu rosto passando de branco a vermelho em questão de segundos.
— Tudo bem, Sr. Atrevido. — disse Oliver.
— Pare com isso! — Noah pediu, girando o volante, fazendo com que o corpo de Oliver se inclinasse em sua direção e pegando-o surpresa. Oliver apenas começou a rir.
— E o atrevido está ficando violento. — ele comentou com um sorriso.
— Não! E sim, o Noah.
O celular de Oliver começou a tocar, e nem passaram dez minutos desde o começo do encontro! Oliver pegou o celular para ver quem era e lá estava o nome de Jake na tela. Recusando a ligação, ele colocou o celular no modo silencioso.
— Tem certeza de que vocês não estão juntos? — perguntou Noah se inclinando para olhar para o celular de Oliver.
— Cem por cento. Ei, tenho uma pergunta, por que você estava naquela rave? — Noah sorriu quando ouviu a pergunta de Oliver.
— Bem, estava lá para salvar minha princesa, é claro! — Noah brincou e imediatamente, o rosto de Oliver corou de vergonha e ele deu um soco leve no ombro de Noah.
— Não preciso ser salvo o tempo todo! — disse Oliver, se acomodando no assento.
— Você devia dizer isso ao seu amiguinho que... — começou Noah.
— Será que podemos, por gentileza, não falar sobre Jacob? — disse Oliver.
— Tudo bem. — disse Noah. — Eu fui naquela rave inicialmente com um casal de amigos. Porém, eu me perdi deles poucos minutos depois e foi quando acabei cruzando o seu caminho.
— Entendo. — disse Oliver.
— E quanto a você? Por que estava lá? — perguntou Noah.
— A princípio, tinha planos de ir a um show. — disse Oliver.
— Então, em vez de ir ao show, você optou por uma rave inútil? Que escolha madura. — disse Noah com um sorriso.
— Eu sei! — disse Oliver. — Minha amiga, Bianca, tinha os ingressos, mas ela mudou de ideia de última hora. O que mais eu poderia fazer?
— Bater nessa tonta talvez. — disse Noah.
Oliver sorriu. Noah era um homem incrivelmente atraente, com personalidade cativante e um estilo impecável. Um suspiro escapou de Oliver involuntariamente.
Noah fez uma curva à esquerda, revelando diante deles uma bela casa de dois andares. Oliver ficou impressionado com a grandiosidade da construção; as paredes exibiam uma tonalidade creme diferenciada, com um toque mais escuro.
— A sua casa é linda. — disse Oliver.
— Ela é. — disse Noah. — Mas confesso que prefiro algo mais modesto.
— Tipo o quê? — perguntou Oliver.
— Uma cabana na floresta já seria o suficiente para mim. — disse Noah com uma risada.
Ele estacionou o carro e saiu do veículo. A porta de Oliver foi prontamente aberta antes mesmo que ele desfizesse o cinto de segurança.
— Vamos lá, princesa. — disse Noah.
Oliver revirou os olhos, enquanto o sorriso no rosto de Noah só se ampliava.
— Claro, Sr. Atrevido! — murmurou Oliver, aceitando a mão estendida, e Noah o ajudou a levantar delicadamente.
— Prepare-se... — disse Noah com um brilho sugestivo nos olhos.
E Oliver se preparou para o que quer que fosse que Noah tivesse planejado.
***
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