Viúva Negra
- Foi muito bom! - o corpo exausto do homem nu, estendido na cama do quarto escuro, reluzia com as luzes publicitárias da cidade.
- Claro que foi - disse ela com desdém, encostada às cortinas da varanda, admirando a fragilidade humana. Tão ingénuos, tão sensíveis, tão fáceis de caçar, chegam a ser entediantes.
- Quando vamos nos ver de novo? Tu não és fácil de esquecer. Gostaste da nossa noite, amor? - ele levantou-se e foi ter com ela. Chegou perto daquele corpo violão, negro, nu e fascinante, e acariciou o cabelo frisado até as costas - Desculpa, nem perguntei o teu nome. Eu sou o Carlos.
- Me ver de novo? Como foi a minha noite? - ela virou-se e pela primeira vez sorriu. Os seus caninos afiados brilhavam incandescentemente e em uma fracção de segundo, o homem estava um palmo acima do chão, suspenso no ar pela mão extraordinariamente forte da vampira. Este tremia de terror e de asfixia, e o seu sangue fresco corria avidamente pela jugular.
- Meu caro, amor é para os fracos e não te preocupes quanto a te esqueceres de mim. Eu sou a última coisa que os teus olhos verão.
Impiedosamente, ela cravou os dentes aguçados no pescoço de sua vítima e em grandes sulcos sugou o líquido da vida enquanto o corpo moribundo tremia convulsivamente. Carlos não é o primeiro que se curvara a tais hipnóticos encantos. Ela, insaciável, bebeu até a última gota e ele caiu seco e sem vida num baque mudo.
- Ah! E antes que me esqueça - disse ela limpando os lábios carnudos com as costas da mão esquerda A noite foi aceitável, medíocre para ser mais exacta. E o teu nome, meu caro - sorriu cinicamente mais uma vez - Realmente não me interessa.
Preferiu sair rastejando. E as suas escamas viscosas reluziam à luz da lua em quarto minguante.
Tão traiçoeira, tão venenosa, tão fatal.
Kira é o seu nome.