Uma Nova Cor [DEGUSTAÇÃO]

By Ami_ideas

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VENCEDOR DO MELHOR FINAL NO PROJETO 12 MESES. Continuação da história Para Além da Beleza trazendo a históri... More

Na Amazon finais de Abril
Prólogo
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
19. Uma Nova Cor (Final)
Epílogo
Em Maio Na Amazon
Já Na Amazon

Capítulo 1

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By Ami_ideas

Os óculos escuros tinham sido o único presente que Lorenzo lhe dera em dois anos de namoro, eram uns Ray-Ban Clássicos que Jamie muito insistira em ter. Agora, vendo por trás daquelas lentes, não lhe valiam de nada. O namorado estava no café de sempre, bebia cafés e se divertia numa mesa com os colegas de trabalho e uma bela jovem loira, de olhos azuis e sorriso apaixonado para um dos amigos de Lo. Supôs ser o mesmo que arranjara emprego para sua prima, na dita mansão Beauchamp, mas isso não tinha como confirmar.

Jurou ter ido ver o namorado apenas para agradecer a nova oportunidade dada à Darcelle, visto que a mesma tinha sido mandada embora e resgatada em pouco tempo. Um trabalho daqueles não cairia do céu! Isso, apesar daquele maldito Christian Dash ter aparecido a sua porta. Odiara o nefasto "porta-voz" da bendita notícia.

Tinha-lhe chamado de gorda indiretamente, mas tinha, e por muito que fingisse não estar afetada, tal referência lembrava seu corpinho de modelo há anos atrás e como este se tinha transformado, causando desgosto inclusive em Lorenzo.

Nossa que barriga é essa? E esses braços? Tem que comer menos e fazer uma dieta rigorosa! Depois dizes que não quero passear contigo desse jeito não tem como! Parecia um mantra muito bem caprichado pela forma como repetia essas frases depreciativas sempre que se viam. Assim meu pau murcha.

— Jamie? — Os lábios do filho do dono do Jornal se mexeram do lado de dentro do café, tendo ficado vermelho quando os amigos pareceram questioná-lo qualquer coisa. Ainda assim levantou num salto e correu para fora antes que a namorada se dignasse a entrar. — Jamie! — A voz soou em alto e bom-tom agora, e ela quase se esqueceu o que tinha ido ali fazer quando o viu andar na sua direção, com o corpo magro e os caracóis a volta da cabeça. Tinha uma beleza quase infantil, mas não se comparava ao Christian Dash.

— Lo. — Pestanejou acordando dos pensamentos um quanto indignada. Por que raio estava a compara-lo com aquele idiota? Mordeu a língua! Tinha de se concentrar. — Vim aqui agradecer por teres feito com que Darci ficasse no trabalho.

— Para isso era só mandar uma mensagem, e eu não fiz nada, aquele ali — Apontou para o jovem abraçado a loira bonita. — Quer subir de cargo no jornal, e fará de tudo para me agradar. Eu sou um Wright, lembra? Herdeiro daquilo tudo.

— Mas em todo caso é por sua causa e não posso esquecer — insistiu e quis abrir os braços para o abraçar, mas desistiu pela distância imposta pelo jornalista.

Quando se mudaram para a cidade, as duas Johnson ainda ficaram alguns anos a trabalhar num café para juntar dinheiro para a universidade, e logo que Jamie conseguiu entrar para a medicina, Darcelle respondeu a uma vaga num jornal para trabalhar como babá. Assim conheceram os Wright, família de classe média alta e donos do Jornal Tempo.

— Já te pedi várias vezes para não apareceres assim do nada, e eu realmente não gosto de surpresas! — Estava impaciente, olhava para os lados e por cima do ombro.

Na noite passada, antes daquela figura do porta-voz ter aparecido na casa delas, sua prima lhe dissera umas verdades sobre aquele namoro, as quais fingira não se incomodar, mas bem lá no fundo sabia ser a mais pura verdade.

— Tens vergonha de mim? — Perguntou de súbito, e viu a face do suposto amado se contrair numa expressão de negação. Deu dois passos para frente mas parou por aí, com uma cara pirateada de indignação.

— Eu amo você com todas minhas forças e sabes bem disso. Nunca estive com nenhuma mulher depois que te encontrei. — Olhou para o relógio e depois para os amigos que o olhavam de forma inquisidora do lado de dentro.

— Posso entrar com você? Conhecer seus amigos? — Queria muito aquilo, poder provar que estava errada e que as palavras confortantes há pouco ditas eram verdadeiras.

— O que diz de jantarmos por estes dias? Num restaurante de luxo no bairro nobre? Só nós dois? — Sugeriu e se apressou a lhe dar um beijo mais rápido que a velocidade da luz. — Tenho de ir agora, te ligo depois.

Podia segui-lo! Fazer como a prima faria, se impor diante dos amigos deles, obriga-lo a ser mais homenzinho, mas isso o deixaria furioso e sem falar com ela, e não era o que queria agora, pois não?

Andou até a paragem de transportes públicos decidida a ir ao hospital mesmo estando longe do horário do seu turno. Sentou num dos bancos afastados da confusão, e se sentiu triste enquanto via as ruas passarem por seus olhos através das lentes polaroid. Cobiçou um casal que andava de mãos dadas pela rua com sorrisos, sem se importar com o resto do mundo. A verdade é que começava a ficar desgastada de tantas desculpas esfarrapadas de Lorenzo, e isso começava a matar inclusive os seus sentimentos por ele. Não conseguia olha-lo como antes, cega de paixão. Agora via exatamente o que o namorado era: Um idiota preconceituoso.

O telefone vibrou no bolso, era um Nokia já fora de moda, sendo que o jornalista usava agora um iPhone 6 e estava na expetativa para o lançamento do 7. Riu de desgosto, não reconhecendo o número e por um momento imaginou ser Lo. Atendeu na ansiedade.

— Alô?

Alô, Jamie minha filha. — Uma voz masculina parecia se arrastar do outro lado da linha.

— Tio Tony? O que você tem? — Silêncio.

Meu irmão António não é seu pai!

— Ah, Joe. O que quer? Eu não tenho dinheiro para lhe dar e já pedi para não ficar ligando.

Estou morrendo, Jamie. Qualquer dia só vai ouvir dizer que seu pai morreu e não vais poder fazer mais nada, escreve o que lhe digo!

— Vou escrever. Tchau! — Desligou na cara daquele a quem chamava de progenitor e sentiu uma angústia no peito. A ausência de figuras masculinas que a amassem sempre a incomodou, mesmo quando tio Tony a acolheu, e sempre tentou fazer com que sentisse não haver diferenças no amor dado às duas, afinal não deixava de ser o pai de Darcelle e não seu.

Limpou uma lágrima atrevida e se preparou para descer na paragem do hospital. Era bem em frente e por isso não precisou andar muito para adentrar no caos que era aquele lugar. Havia sempre correrias, pessoas aleijadas em macas, médicos e enfermeiros de um lado para o outro, gritos e choros e o cheiro a desinfetante.

— Johnson! — Rosa se aproximou com um sorriso e olhou para as horas. — Chegaste cedo hoje.

— É. Nada para fazer, Darci começou um trabalho e tenho ficado mais sozinha em casa. — Desculpa esfarrapada e sem nexo, pois a prima sempre trabalhara e ela nunca se importava em estar sozinha, aliás, até gostava. Viu a colega franzir o cenho. — Alguma novidade?

— Bem, sim! O Doutor Gostosão está a fazer uma cirurgia assistida a quem quiser participar. É uma remoção de um tumor. — Estava empolgada e tinha um sorriso bem estampado no rosto bonito e cor de café. Puxou os óculos mais para junto do nariz.

— Tem melhor que isso? Vou-me mudar e já volto! — Acenou com a cabeça, e correu para o quarto de vestir, tirou a roupa que trazia e usou a bata branca, o crachá e os chinelos de borracha que tanto gostava. Normalmente as cirurgias assistidas pelos alunos eram quando o hospital oferecia a mesma sem custos para o paciente, e assim os estudantes podiam participar. Sentou junto de Rosa, e ficou atenta naquilo que mais queria fazer na sua vida: curar pessoas.

Respondeu às perguntas seguidas do Doutor Gostosão sem errar uma sequer mostrando para todos os colegas o que ela valia, mas ainda assim quando foi para escolher dois estudantes para entrarem no fim da cirurgia, dois rapazes caucasianos e com sobrenomes especiais foram escalados.

Lo Amor

Qua 11:20

Jantamos amanhã? Xoxo.

Aquela mensagem tinha demorado um mês inteiro para chegar. Lorenzo sabia o quão Jamie estava zangada e tentava a todo custo se redimir. Estava há dois dias de plantão e há um mês completo sem ver o namorado.

— Tem certeza que ele namora com você? Nunca vi esse tipo de relação, ainda mais enquanto vivem na mesma cidade. — Rosa deu um palpite enquanto verificava o velho Robô, como era conhecido um idoso em estado vegetativo cujos filhos não queriam desligar as máquinas pois o mesmo tinha deixado toda fortuna para uma casa de caridade em caso de morte.

— Prefiro não falar sobre isso. — Esquiva como sempre, terminou de fazer a troca da algália e levou a bolsa de urina para longe, sem deixar de torcer o nariz ao cheiro. Nunca se acostumava. Estava cansada e preocupada com sua prima a trabalhar com o famoso Monstro Du Camp, a sua fama não era das melhores e Darci era altruísta demais. As duas tinham tentado encontrar fotografias dele com a parte estragada do rosto, sem sucesso. Foram evacuadas da internet, restando apenas as antigas quando ainda era um jovem belo.

Se livrou das luvas, da urina e lavou as mãos com o sabonete antisséptico.

— Paciente na sala dois! Acidente na esquina Central, motorista sem lesões graves. — A médica do plantão lhe passou a ficha do paciente e correu com outro grupo para um caso de incêndio que acabava de chegar à entrada das Urgências. Jamie suspirou com a mão a tremer, mesmo estando no Top 3 dos melhores alunos e no quinto ano, ainda a tratavam como incapaz, dando lugar a filhos de pessoas com algum nome valioso. Quando fora aceite na residência do Hospital Central, não imaginava ser tratada daquela maneira, mesmo tendo passado com notas altas em tudo, o desprezo pela sua pessoa era camuflado mas notável.

Bateu a porta no quarto antes de entrar e estacou ao ver o petulante do mês passado sentado na cama com a testa aberta e o lábio a sangrar. Algo dentro de si se remexeu, mas a médica tratou de ignorar.

— Ora, ora se o mundo não é redondo! — Não resistiu a espicaçar enquanto abria a ficha e se apressava para ler o relatório da médica chefe. O sorriso nos lábios cheios estava indeciso entre escapar ou não.

— Oh, não! Tens cara de tudo menos de médica! — Exclamou e reclamou da dor no lábio. — Quero ser atendido por outra pessoa. Aposto que vais me envenenar!

— Vieste parar no hospital público, não é como se tivesses muitas escolhas — Vociferou Jamie, a segurar-se por estar no local de trabalho. Virou para ele sem deixar de o analisar, tinha até cara de mocinho filhote de papai, mas as ações azedas não condiziam em nada. — Nenhuma fractura ou lesão, nem ameaças de sangramento interno. Preciso lhe suturar a ferida e lhe dar analgésicos.

— Em que ano estás, primeiro? — Ironizou ao ver a mesma lhe ditar os procedimentos a serem feitos. — Não é uma profissão a condizer com a sua postura.

Quinto. A segunda melhor da residência. — Virou o corpo com o peito erguido cheio de orgulho. A garganta ardeu pelo esforço de engolir a saliva. — Infelizmente pessoas como eu, não têm muita sorte quando existem pessoas como você que dizem que a medicina não é uma profissão condizente comigo.

Chris sentiu a anestesia ser aplicada e fechou os olhos. Por alguma razão se enveredara pelo campo organizacional da coisa. Quis poder voltar atrás com as palavras.

— Não gosto de hospitais públicos. Ninguém viu o meu cartão de saúde? Eu deveria ter sido transferido — Trocou de assunto, ainda levemente desconcertado pela indireta anterior de Jamie. Manteve os olhos fechados, e a sensação da agulha não era o que mais se destacava, e sim o cheiro de mulher que exalava do corpo parado a sua frente. Não cheirava a flores e nem a perfumes caros, era natural e inebriante.

— Para onde? A Dash & Dash Private Pratice? — Jamie estava a brincar quando disse aquilo, e aceitou o silêncio estranho como resposta. Terminou de suturar a ferida e pela primeira vez viu os olhos verdes no rosto angular, quando se aproximou para limpar os lábios e os agrafar. A saliva escorregou pela sua garganta com dificuldade, e suas mãos só não estremeceram por conta da profissão, mas os lábios delicados e bem contornados pareciam um convite para a perdição.

Ela foi até a mesa passar uma receita e quando abriu novamente a ficha para copiar o nome do paciente é que abriu a boca. Christian imitou um olhar irónico, com um sorriso vitorioso nos seus lábios. A Dash & Dash era a maior clínica médica do país, com sucursais em vários locais. Respirou fundo.

— Eu ia aconselhar algum descanso, senhor Dash. Mas deve preferir ir para a sua clínica privada — murmurou, sua postura se transformara em séria e se levantou para lhe entregar os papéis. Lembrava de Darcelle ter pronunciado aquele nome, contudo, não o associara ao famoso nome médico. — E a próxima que beber não dirija!

— Não sou nenhuma criança para que me diga o que devo ou não fazer — resmungou a levantar-se. Sentia como se tivesse uma abóbora em cima da cabeça.

— Não parece.

— Nem tudo o que parece é. Veja, julguei que fosse uma barraqueira das festas e me aparece aqui de bata branca... — Aproximou o rosto para identificar o crachá com o nome dela, mas não pôde deixar de reparar no volume dos seios que se impunham por trás da bata. — Jamie!

— Ah, mas também sou uma barraqueira das festas. Nisso, acertaste! — Cruzou os braços de forma desafiadora, esquecendo que se tratava de um paciente.

— Quero ir embora, senhorita Johnson! Não acidentei de propósito só para lhe ver.

— Faça-me o favor! — Assinou a receita médica um quanto irritada. Se a sua letra já era horrível antes, naquele momento ficou pior. Entregou-a à Christian que lhe arrancou das mãos e em resposta ela tirou a língua de fora.

Onde tinha ficado toda sua ética médica?

Enfiada no... dele! Pensou Jamie.

Na manhã seguinte o fim da carga horária parecia uma bênção, e Johnson cantarolava baixo sem esconder a felicidade enquanto arrumava suas coisas. Rosa estava deitada numa cama no quarto de vestir, estava cansada como nunca e preferia dormir antes de ir para casa. Muitos estudantes faziam isso.

— É possível pensar em alguém que te irrita e te excita ao mesmo tempo? — Perguntou por alto, sem deixar nada esclarecido, apenas queria ouvir lago imparcial longe das questões concretas de Darcelle.

— Lorenzo?

Todo mundo pensava que vivia em função do namorado, não sabiam sequer que o sexo tinha-se tornado escasso e já não era tão bom como antes. Faltava alguma coisa, se fosse comida saberia ser um tempero por identificar, mas quanto ao sexo, Lo parecia um pau duro que não conhecia outras posições, que não sabia se aventurar num carro ou numas escadas. Era só cama e até ele gozar, enquanto Jamie ficava a querer mais.

— Atração a primeira vista, acredita? — Perguntou fechando seu cacifo a chaves e segurando sua bolsa sem marca por cima do ombro.

— Claro. Tem pessoas que às vezes é só bater o olho que o coração treme — respondeu a colega meio ensonada, a voz se arrastava. Tinha passado a noite inteira a acompanhar cesarianas.

— Até amanhã. — Despediu com um meio sorriso idiota, agradecendo por Rosa nunca ser tão enxerida em certos assuntos. Estudavam juntas desde sempre, e havia ali um entendimento básico entre as duas.

O Telefone tocou. Outro número estranho! Várias vezesrecebera chamadas iguais àquela nos últimos dias, mas Jamie não tinha interesseem atender. Precisava comprar uma roupa nova e se arrumar para jantar com onamorado.   

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