Uma Nova Cor [DEGUSTAÇÃO]

By Ami_ideas

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VENCEDOR DO MELHOR FINAL NO PROJETO 12 MESES. Continuação da história Para Além da Beleza trazendo a históri... More

Na Amazon finais de Abril
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
19. Uma Nova Cor (Final)
Epílogo
Em Maio Na Amazon
Já Na Amazon

Prólogo

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By Ami_ideas

10 Anos atrás

Era o último cigarro, prometia a si mesmo enquanto adentrava o espaço do jardim da casa de seus pais, atirando a beata ao chão e passando com a sapatilha gasta por cima desta. Cheirava a rosas, estavam na primavera e o hábito de jardinagem era um passatempo que a sua mãe cultivava desde sempre. Flores representam a vida, ela costumava dizer, o quanto são coloridas e belas mas ainda assim morrem cedo. Tal como a vida de um ser humano, por muito bonita e cheia de cor, poderia terminar num suspiro. Uma cirurgiã a falar como era óbvio.

Os dois estavam no alpendre feito de madeira e pintado de branco com trepadeiras verdes e enroladas por todo lado como uma cobertura de um bolo. Igor Dash era um homem forte, lábios escondidos nos bigodes fartos e um olhar verde gelado. Estava concentrado a ler The Economist com o mesmo ar de sempre de poucos amigos. Anabela servia o chá num conjunto de porcelana que pertencera a tataravó, se orgulhava tanto dele mais que o diploma de médica pendurado no quadro da grande sala da casa.

— Andou fumando? E esse cabelo e essa barba? — O pai embirrou, soltando perdigotos a medida em que falava. O desapontamento era visível nos olhos amargos.

— Igor meu bem, não estamos aqui para brigar. — A mulher intercedeu com um meio sorriso, era toda alta e magra, com umas mão firmes de quem estava habituada a passar horas e horas numa sala de cirurgia.

— E Constance? — Sentou e aceitou receber o maldito chá de família com gosto a xixi de gato. Fez uma careta, mas os pais insistiam em como era bom e saudável.

— É por essa razão que chamamos aqui você, meu filho. — Desta vez a senhora Dash olhou para o marido um tanto apreensiva ao falar. Os dois acenaram em concordância antes de prosseguir com o discurso. — Queremos acabar com essa rixa de família. Vamos esquecer o passado.

O jovem rebelde riu, afastando a chávena pequena que mais parecia de uma casa de bonecas. Sentiu o ar ameno lhe roçar o rosto, sentido de longe a presença de um futuro verão maravilhoso.

— Esse é um assunto ao qual prefiro não falar! — Deixou claro e olhou para o relógio de pulso, revelando o total desejo de partir daquele lugar. Odiava cada lembrança da infância vivida ali.

— Eu deserdei sua irmã — O pai foi breve como sempre. Aquele tom sempre neutro em explorar certos assuntos parecia ferver com a irritação do filho. — Você é meu único herdeiro agora.

— Credo — riu de um jeito zombeteiro e negou com a cabeça. — Estão a falar a sério? Chamaram-me aqui para dizer que deserdaram minha irmã mais velha? E única.

— Se acalme, Christian — pediu a mãe, a voz doce e com mais tato possível. Olhando para o marido em busca de aprovação para prosseguir. — Ela... gosta de mulheres.

— E?

— Como e? — O mais velho na mesa rosnou, achando impossível que não visse a gravidade da coisa. Sentia os espíritos de seus antepassados rebolarem nas tumbas.

— Não seria pior se gostasse de animais? — Retrucou cheio de graça. A verdade é que já sabia daquilo há muito tempo, e nem conseguiu disfarçar a falta de surpresa. — Só tenho a dizer que sinto muito, deserdaram a vossa única filha capaz de aguentar seguir os passos da família, afinal é a única a terminar pelo menos o curso de enfermagem.

— Como assim? — Igor se irritou. Podia ver a veia enorme na testa começar a pulsar sem parar. Atirou a revista para cima da mesa, num ato claro de raiva.

— Estou largando a medicina, pedi hoje equivalência para o curso de Psicologia — respondeu sem hesitar, tinha um grande sorriso no rosto bonito. Esse não durou muito, pois seu pai lhe atirou o amado bule de chá de porcelana contra a sua cara.

— Parem! — Anabela levantou com as mãos para o ar, se colocando no meio dos dois. Não conseguia olhar para o filho já em pé, pronto para desafiar o pai, afinal já não era uma criança. Tinha vinte e um anos agora.

— Não percebo tamanha fúria. Afinal um psicólogo tem direito a uma sala e bata branca — O rosto estava molhado com o chá odiado, mas o impacto só foi forte quando o bule de chá caiu ao chão e se desfez em pedaços.

— Deixa de piadas seu infeliz! Nos desonram! — Gritou Igor. Tinha os olhos vermelhos injetados de raiva.

— Nem terminei de contar que seguirei pela Psicologia Organizacional. — Procurou o cigarro dentro dos bolsos, e tinha um leve tremor nas mãos. Acendeu na frente dos pais, causando ainda maior espanto. — Podem ficar com a vossa herança.

Levantou o cenho franzido e ainda se dignou a apanhar a outrora bela peça de porcelana, ou o que restava dela. Abandonou o recinto às passadas largas enquanto seus lábios insistiam em recitar impropérios nada dignos em memória dos pais que ficaram parados a vê-lo partir.

O telefone vibrou. O nome de Constance vibrava na tela.

Alô, Chris? Não sabe o que os seus pais fizeram! Meus cartões foram cancelados, minhas contas bancárias estão a zero. Vão parar de pagar a renda e de dar mesada. Eles descobriram! — Chorava do outro lado, arrancando um pedaço do coração do irmão querido.

— Não se preocupe, eu vou ajudar você. Prometo. — Tentou passar segurança com toda sua incerteza da vida. Ainda assim, sabia ser inteligente demais para falhar. Tinha entrado na universidade com dezasseis anos por alguma razão.

Eu odeio eles. Eu tenho o estágio agora, e eles tinham a referência. — Um insulto escapou do outro lado da linha, dirigido aos pais. — Bando de preconceituosos!

— Giovana Beauchamp é uma grande enfermeira. Ela lhe encaminhará o estágio, eu vou falar com o Damien. Tudo bem assim? E farei uma transferência para a tua conta corrente, não se preocupe. — Garantiu enquanto subia na moto, tinha o peito a bater com força, e precisava relaxar.

— Obrigada mano. Eu amo você.

— Eu também.

Desligou ainda com os pensamentos perdidos em algum lugar da sua cabeça. Sua infância desde sempre fora diferente de todas outras. Não podia brincar, correr dentro de casa, falar em voz alta. Eram obrigados a ler, e estudar quase por vinte e quatro horas. Constance e Chris tinham momentos divertidos, durante a noite quando um escapulia para o quarto do outro, e debaixo do lençol inventavam histórias sobre lugares onde as crianças podiam brincar e se sujar. Algo que não acontecia naquela casa.

Tinha dito a Lola, sua namorada, que chegaria mais tarde. Pensava que a reunião em casa dos pais fosse ser prolongada, e mais uma vez tinha sido um enganado. Usou o capacete e saiu a conduzir para longe do casarão, sentindo o quão bom era ser livre das amarras dos Dash. A família perfeita por gerações, mas que agora tinha maculado aquela com o nascimento de duas aberrações. Odiaram-no por namorar Lola, uma asiática e que mancharia a descendência de futuras gerações, mas agora parecia ser pior, uma vez que a irmã não correspondia aos padrões supostos da sociedade.

Christian comprou um ramo de flores junto a um rapaz que vendia num semáforo, e acelerou sorridente rumo ao seu destino. Ia fazer uma surpresa a sua amada, com quem dividia um simples apartamento num bairro no centro da cidade. Não queria pensar no absurdo que ouvira dos progenitores, só queria seguir sua vida em paz.

Abriu a porta num assobio, lutando para segurar o capacete para não cair. Ainda não era um jovem rico, mas sabia deter de capacidades para chegar lá sem precisar dos pais.

— Lola? Lola! Cheguei! — Pousou as coisas em cima do balcão da cozinha e passou pelo corredor estreito, com um soalho velho de madeira e umas paredes recém-pintadas para criar um aspeto mais agradável. Ouviu um gemido, e logo a seguir outro.

Caminhou em bicos dos pés, imaginando encontra-la num ato de masturbação mas ao abrir a porta do quarto principal, a visão foi devastadora e diferente do que imaginava.

— Chris! — Lola gritou, se afastando nua do corpo masculino muito bem conhecido por todo o grupo de amigos. — Oh meu Deus, oh meu Deus!

— Quer se juntar? É que ainda não acabamos. — Daniel Winter esboçou um sorriso vitorioso, ignorando por completo o desespero da mulher que se enrolava num lençol azul e branco listrado. O mesmo onde o namorado costumava deitar-se.

— Filhos da mãe! — Foi tudo o que Chris conseguiu dizer, sentindo um terror se alojar em seu peito e subir em forma de água para os olhos. Negou com a cabeça sem ainda conseguir acreditar no que seus olhos viam.

— Christian por favor — pediu Lola num desespero agudo. Esperava que Dash gritasse, esperneasse e a agredisse no mínimo, mas nada disso aconteceu, se não a deceção total e completa nos olhos verdes.

Winter tinha graduado em medicina na mesma altura em que Dash decidira trocar de curso, e agora procurava a especialização. Era mais velho, mais bonito e mais cafajeste, e por sua vez Lola frequentava ainda o segundo ano.

— Vou mandar alguém vir buscar minhas coisas. — Advertiu, antes de correr porta a fora, pegar nas chaves e no capacete e abandonar o apartamento.

A respiração custava-lhe no peito, seus olhos ardiam como se tivesse sido exposto ao fogo, e o corpo em contrapartida estava gelado. Uma mágoa sem fim. Vagueou perdido pela cidade, e parou num bar a fim de afogar suas mágoas, virou a noite, bebeu uma garrafa e meia de vodka, sentia os olhos pesarem e o telefone não parava de tocar desde então. Várias chamadas perdidas, e não teria atendido nenhuma se Jacqes Beauchamp não estivesse na lista.

— Alô, senhor Beauchamp? — Tentou parecer lúcido assim que a chamada foi atendida do outro lado da linha, após chamar várias vezes.

Christian meu filho. — Aquela voz. Estava pesarosa e amargurada.

— O que aconteceu? — Questionou, recuperando a lucidez quando mais uma vez em menos de vinte e quatro horas seu coração parecia acumular muito medo.

Venha rápido... o seu amigo, o Damien... ele... — Pela primeira vez ouviu um homem daquela idade chorar. Um homem de respeito e pai do seu melhor amigo. — Damien sofreu um acidente grave.

Todo álcool pareceu evaporar de seu sangue. Tamanha dor tinha atingido sua alma. Foi um dia por recordar.

— Ele acordou!

— Acordou?

— Graças a Deus. Vamos lá!

— Só podem entrar dois de cada vez, prioridade aos familiares. — A enfermeira se aproximou, tinha um ar cansado mas autoritário.

— Eu sou residente aqui. — Christian se aproveitou e olhou para o pai que estava mais atrás, exigindo um direito com o olhar embora não se valesse mais dele.

— Tudo bem. Relaxem os ânimos. — Igor concordou em grandes dificuldades. — Damien está confuso, peço que se acalmem. Os resultados não são muito favoráveis.

— O que quer dizer com isso? — Giovana Beauchamp se exaltou em todo seu esplendor. Tinha acompanhado de perto os últimos dias de cirurgias e complicações.

— O nosso filho está vivo, é tudo o que importa! — Jacqes tentou ser positivo, mas o medo corroía o rosto do maior criador de cavalos.

Seguiram para o quarto amplo e com toda uma vasta gama de aparelhos avançados. Viram Damien de olhos abertos e com o rosto coberto por faixas.

— Bianca? — A primeira pergunta pesava num remorso que não lhe competia. A culpa não tinha sido dele, e sim do camionista bêbado que perdera o controlo na estrada.

— Têm um braço e uma perna partida, nada que algumas fisioterapias não curem. E como você está se sentindo hoje meu filho? — Igor se aproximou, analisando os sinais dos sistemas e escrevendo tudo numa paleta. Acendeu uma lanterna e apontou para os olhos azuis do paciente, avaliando seus sinais cognitivos.

— Quero... Quero sair daqui! — Esbravejou e reclamou de dor com os movimentos. Ouviu o choro da mãe, se sentindo ainda pior por isso.

— Boa tarde, sou o doutor Hassan, responsável pelo domínio de cirurgias plásticas e este é o meu assistente Daniel Winter. — Um homem baixinho, de origem árabe adentrou o recinto. — Vamos retirar as faixas e avise-me se sentir dor.

O momento era de tanta expetativa que Chris se limitou a ignorar toda a raiva que sentia por Winter, e pela lembrança do seu rosto junto de Lola, nos dias anteriores. Limitou-se a ficar calado, e assistiu com impaciência a remoção das faixas e descobriu o horror ao ver a parte direita ainda em carne viva e completamente irreconhecível. Giovana gritou em desespero sendo afastada do quarto pela enfermeira.

— O que... O que se passa? — Damien quis saber, mas quando um espelho foi delicadamente colocado a sua frente, a expressão aterrorizada foi o suficiente para destruir toda a alegria por ter acordado. Desejou morrer.

— Segurem-no, e por favor, saiam! — Ordenou Igor com firmeza, pois o paciente começara a gritar e a tentar tirar os tubos do soro e de sangue dos seus braços, um deles, igualmente enfaixado.

Quando foi visitar o amigo pela milésima
vez em dois meses, percebeu a total falta de alegria no rosto obstruído. Colocou flores no jarro que estava em cima da cabeceira e se sentou numa das cadeiras junto a cama. Tinha passado por mais duas intervenções no rosto.

— Para quê flores? Eu ainda não morri. — Havia uma pequena esperança no fundo dos olhos cor de céu.

— Sarcasmo a essa hora, Beauchamp? Quando for ao seu enterro levarei tudo menos flores. Alguma garrafa de vodka, talvez — respondeu em completo desalinho. Tentava parecer normal, mas lá no fundo, uma parte de si estava machucada.

— Quero que seja administrador em meu lugar. Meu pai precisa de alguém de confiança e eu não poderei fazê-lo. — A voz saiu quase muda, escondia a tristeza.

— Isso até sair daqui. Ainda tens duas pernas, dois braços, metade de um rosto e um cérebro inteiro — redarguiu tentando tirar certa piada daquela desgraça.

— Não pretendo voltar. Estou contratando você!

— Deixa disso, idiota! Por que não irias voltar? A Beauchamp é sua vida. Ou pretendes seguir a carreira militar depois da Academia?

— Christian. — Desta vez sua voz rouca soou com seriedade. — Não tenho coragem de voltar. Farás isso por mim ou posso contratar outro?

Demorou a responder, pois sabia o quanto o amigo podia ser exigente.

— Por enquanto tudo bem. Depois revemos isso, pode ser assim? — Sugeriu com calma e paciência. Os dois pareciam ter crescido muito nos últimos tempos após o acidente.

— E a Bianca? — Quis saber. O orgulho não aceitava ser engolido. Ela nunca tinha ido visitá-lo.

— Eu estou aqui. Certo?

Viu Damien concordar com a cabeça num silêncio resignado.

— Preciso que sejas o meu rosto e a minha voz. Pelo menos até tudo se minimizar — pediu e tentava segurar o choro que insistia em morar na sua garganta. — Está certo.

***


10 Anos depois

Christian sempre se manteve firme após o acidente do melhor amigo. Várias vezes teria insistido para Damien sair, o obrigava a conviver e a ser feliz, mas as pessoas não pareciam cooperar.

Logo nos primeiros meses visitaram vários especialistas, tentaram as reconstruções faciais, enxertos e todos métodos possíveis para lhe dar uma aparência menos grotesca. A esperança foi arrasada completamente pelos resultados e desilusões. O grupo de amigos deixou de enviar convites para Damien, os empregados engoliam em seco quando o encaravam, a própria mãe se mudou para França. Todos desistiram.

Dash trabalhava na área de Psicologia Organizacional, mas entendia bem da emocional e por isso sempre apoiou o amigo. Com os anos, o jovem Beauchamp deixou a única porta aberta para Chris e se tornou como um porta-voz de seus desejos.

"Isto não deveria fazer parte!" Concluiu a estacionar o luxuoso carro de dois lugares em frente a um dos vários prédios geminados e cor de tijolo. Era antigo e precisava de algumas reformas. Usou os óculos escuros e subiu para o endereço indicado. Tocou a campainha.

— Sim? — Uma jovem negra com cara de poucos amigos lhe abriu a porta.

— Boa tarde, procuro pela senhorita Johnson. Vive aqui? — Perguntou um quanto impaciente. Tinha outros assuntos a tratar, podiam ter telefonado apenas, mas a nova noiva do amigo, Emma, e mais uma das inúmeras dos ridículos casamentos arranjados, começava a soltar as asinhas, teria insistido para Chris ir recuperar a sua assistente pessoalmente. Não era culpa sua que Damien tinha decidido manda-la embora.

— Depende. — Ela o perscrutou de baixo para cima, isso sem abrir muito a porta. — Eu também sou senhorita Johnson.

— Uma mais magra — declarou sem hesitar, e viu quando a mulher estreitou os olhos ao ouvir a resposta.

— Nem a mais magra e nem a mais gorda recebem idiotas! — Retorquiu em alto e bom-tom, e a apontar o dedo no rosto de Christian.

— Calma. Se não gosta de umas verdades pelo menos vá a um ginásio — sugeriu num tom zangado, como se o ofendido da vez fosse ele. A suposta Johnson revirou os olhos.

— Meu bem, estou de bem com o meu corpo. Se puderes fazer algo pela tua falta de tato, seria bom.

Aquilo doeu. Não era um homem de falta de tato, já não poderia dizer o mesmo da figura para a sua frente.

— Não sou seu bem e não vim aqui falar sobre o teu corpo. Preciso falar com a senhorita Johnson. A outra. — A impaciência parecia ter chegado ao limite.

— Mas para além de mal criado, és abusado. Nenhuma Johnson lhe vai dirigir a palavra. Saia já daqui! — Bateu com a porta na sua cara, mostrando uma verdadeira falta de educação. Ele bafejou cheio de fúria e tocou a campainha novamente, pressionando o dedo, fazendo o som estridente soar sem cessar.

— Mas o que vem a ser isto? — Praguejou ao abrir a porta de novo e o encontrou com o dedo no botão de chamar da porta. — Estás louco?

— Boa tarde, procuro pela senhorita Johnson. A mais magra e mais educada. — Chris não sorria mas algumas rugas na testa mostrava o quão irritado estava, embora tentasse parecer calmo.

Viu a bonita jovem abrir a boca para o responder, só que a voz da assistente que procurava se sobrepôs à da outra.

— O que está a acontecer? — Trazia uma camisola de lã grande e pantufas. O cabelo preso num elástico. — Senhor Dash?

— Boa tarde senhorita Johnson, estava a sua procura. — Ele deitou um olhar para a primeira, era incrivelmente mais bonita mas parecia uma pantera no cio de tão furiosa que estava. — Venho transmitir a vontade da senhorita Charlton para que volte a trabalhar na mansão.

As duas se olharam em simultâneo, deixando uma curiosidade ao psicólogo sobre o que poderiam estar a pensar.

— Moço dos recados? — Provocou a que lhe abrira a porta, com certo desdém, antes de se afastar para os deixar a sós. Não sem antes ver uma sobrancelha escura subir acima dos óculos escuros e caros de Chris.

— Quer entrar? — A assistente por quem realmente procurava, o convidou abrindo mais a porta.

— Apenas me dê uma resposta. — Olhou para o relógio de pulso, enquanto tentava a todo custo não trespassar aquela porta e estrangular a outra Johnson.

— E o senhor Beauchamp?

Os olhos reviraram por trás dos óculos escuros.

— É só evitar se cruzar com ele no corredor.

— Ótimo! Então eu aceito. — Quando se despediram, Christian saiu dali, mas jurava que iria voltar para acertar as contas com aquela intrometida.

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