Tatiana estava trancada em seu ateliê faziam horas. Brigitte Bardot,Twiggy e Naomi Campbell estavam sendo suas únicas companhias desde aproximadamente dez da manhã, horário que havia trancado a porta do estúdio para não sair até então. Ela vinha estudando cuidadosamente algumas fotos das supermodelos,que estavam presas por tachinhas coloridas em seu mural, tentando achar algum tipo de inspiração.
— Inspiração é como dinheiro, é algo que não pode se deixar perder assim tão facilmente. - ela sussurrou, como se conversasse com as fotos.
Ela pegou novamente o papel preso à prancheta, coisa que já tinha feito um milhão de vezes em poucos minutos. Fitou o papel em branco posto a sua frente, quase hipnotizada, rezando para que alguma coisa ali se materializasse.
A partir de que momento de sua vida ficou tão difícil fazer o seu próprio trabalho?
Ser designer de moda era algo que ela amava. Usar sua vasta imaginação para desenhar roupas e acessórios, fazer criações seguindo as tendências do mundo da moda e transpor os limites do mundo fashion. Ela se orgulhava tanto por ter vestido algumas das modelos mais famosas do mundo.
E agora olhe para ela.
Isolada em seu ateliê, observando desde as rusgas do papel em branco até os descascados das paredes.
Então ela se pergunta novamente, desde quando ficou tão difícil?
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Ela descobriu quando isso começou.
Foi desde que veio para esse país. Para a Rússia.
Tatiana, como uma boa estadunidense, adorava seu país. Adorava os fast-foods, adorava as partidas de futebol americano, adorava a Disney e os desfiles do Victoria's Secret. Era lá que sua imaginação fluía, a criação de novas peças de roupas acontecendo de forma quase industrial.
E o que ela tinha aqui? Nada.
Sua inspiração foi embora na mesma velocidade que o flocos de neve caiam do céu de Moscou.
Maldita hora em que abriram uma filial russa da Aphrodite's Child, ela pensava num mantra constante desde que chegou ao país.
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Uma semana se passou. Tatiana se sentia como um zumbi, emanando desânimo por onde passava,com os passos lentos e grunhidos mal humorados. A reunião com os sócios da Aphrodite's Child, grande grife em que ela trabalhava, aconteceria daqui a duas semanas, e ela ainda não havia criado praticamente nada.
Era isso que chamavam de bloqueio criativo? Seja lá o que isso fosse, fez com que Tatiana realmente desejasse ser um zumbi.
Comer cérebros nem deve ser tão ruim assim, ela divagou.
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Alexandra foi um verdadeiro anjo.
Desde que Tatiana veio para Rússia à negócios, ela passou a se sentir muito sozinha. Quem diria não é mesmo? Logo ela que desde pequena era considerada uma borboletinha social, agora passava quase todos os dias do rigoroso inverno russo trancada em sua casa, com seu gato de estimação, ou em seu ateliê, onde tentava rabiscar algo para sua nova linha de roupas.
Foi então que Alexandra apareceu, sendo uma grata surpresa em meio ao inferno astral pelo qual Tatiana passava. Eram horas perdidas - ou ganhadas, como Alexandra costumava dizer - conversando com a jovem alemã. Elas tagarelavam sobre homens, dinheiro, novelas e vodca. Foi em uma dessas conversas que Alexandra, como um anjo de luz, deu a ideia que Tatiana tanto precisava.
— Sabe, porque você não usa a própria Rússia como fonte de inspiração para suas novas roupas? - ela comentou – Saia por aí! Veja como as pessoas se comportam, o que elas fazem em seu dia a dia, o que elas vestem. Talvez passar menos tempo presa no seu ateliê ajude a você se inspirar. E você sabe que estou certa.
E ela estava.
Tatiana passou tanto tempo presa em seu mundinho que não conseguiu olhar para além das paredes de seu próprio ateliê.
Estava tudo debaixo de seu próprio nariz.
Agora, ela só tinha certeza de duas coisas: que os desenhos de suas roupas fluiriam como água, e de que ela estava prestes a dar um beijo na boca de Alexandra de tão agradecida e feliz que estava.
A vodca faz essas coisas.
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Tatiana passou a observar o povo russo e seus costumes, chegando a quase admirá-los. Os observava com tanto afinco que nem ao menos notou ser observada.
Tatiana não imaginava, mas em meio a confusão de pessoas, àquelas as quais ela passou espiar com o canto dos olhos em meio as ruas abarrotadas de neve, shoppings e praças da cidade, existia alguém que a havia escolhido.
Escolhido para ser sua nova boneca.
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A reunião tinha sido um sucesso. As roupas desenhadas eram fabulosas, e os sócios adoraram.
Estamos ansiosos para fazer um desfile com suas novas peças, eles falaram empolgados.
Não esperávamos menos de você, alguém disse na sala de reuniões.
Sempre nos surpreendendo, falou um terceiro.
Ela não poderia negar, seu ego estava inflado. E isso pedia uma comemoração. Uma comemoração com Alexandra.
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Alexandra a levou a um bar tipicamente alemão. Um pequeno tesourou descoberto em meio a terra russa. Elas beberam, comeram e se beijaram um pouco mais.
— Dessa vez a culpa não foi da vodca. - Alexandra disse risonha.
— Não, foi do chucrute que comemos. - Tatiana riu, parcialmente bêbada, e completou – Acho que precisamos comer chucrute mais vezes.
Ela estava enganada quando disse que não havia nada para ela aqui na Rússia. Ela tinha Alexandra afinal.
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Tatiana se considerava uma pessoa bastante inteligente. Olhe para onde ela chegou, o império que estava construindo! Uma pessoa burra não conseguiria fazer tudo isso. Infelizmente o álcool era uma de suas maiores fraquezas, fator que a fazia cometer os maiores enganos e burrices, como por exemplo, chegar da noite anterior – da maravilhosa noite com Alexandra – deixando a porta de seu apartamento destrancada.
Como ela poderia imaginar que quando acordasse, semi afogada na poça de baba de seu travesseiro, um homem aterrorizante estaria em pé, ao lado de sua cama, observando-a com os olhos vidrados.
— Olá queridinha. - ele falou, sua voz soando como o sibilar de uma cobra.
Não houve grito. Não houve tempo. Tatiana apenas sentiu o punho do homem ir de encontro ao seu rosto, quebrando parcialmente seu nariz.
E tudo ficou escuro.
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Tatiana despertou.
Ela não conseguia se mexer. Estava amarrada com cordas cordas bem firmes.
Olhou então a sua volta. Era algum tipo de sótão velho e empoeirado.
Havia mais sangue no chão, sangue que não era dela.
Ela notou uma porta entreaberta, algo parecido com um pequeno armário de vassouras. Forçou os olhos, tentando enxergar algo pela pequena fresta, e teve a estranha impressão de ver um corpo ali escondido, embrulhado entre diversos sacos plásticos.
Seu estômago revirou.
— Viu, você não estará sozinha. - o homem surgiu como uma assombração, se esgueirando nas sombras e assustando Tatiana – Você terá uma nova amiga aqui.
Ele caminhou lentamente e ajoelhou-se ao chão, ao lado de Tatiana.
— Me desculpe, não queria estragar seu rosto. - ele disse, suas mãos acariciando o pescoço de Tatiana – Prometo que vou arrumá-lo assim que tudo isso acabar. Você será uma boneca linda.
Tatiana se apavorou.
E gritou.
E gritou.
E gritou.
Sentiu as mãos do homem se fechando sobre seu pescoço e hematomas sendo formados por seus dedos. Ela se debateu, as unhas se fincaram nas palmas de suas mãos de tal forma que filetes de sangue saiam pelas minúsculas feridas.
Antes de se entregar a escuridão, Tatiana apenas desejou que Alexandra ficasse bem, e que não ficasse triste.
Sinto muito Alix.
Quando o coração de Tatiana finalmente parou de bater, o homem relaxou suas mãos.
— Bem-vinda a coleção. - ele disse com um sorriso no rosto, observando o corpo inerte de Tatiana que jazia ao chão.
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Hey!
Olá gente, tudo suave na nave, firmeza na represa, legal no bananal?
Pois bem, vocês sabem que eu tinha dito que só postaria os contos nas quartas-feiras e aquele blá blá blá todo, mas a verdade é que hoje, depois da surpresa que tive ao ver meu conto no ranking do Wattpad, fiquei tão feliz que tive que vir postar algo em forma de agradecimento.
Então voilà, aqui está mais um conto pra quem quiser ler.
Mas agora eu juro que vou me controlar pra não postar o resto tão rapidamente. (a não ser que vocês me surpreendam novamente. hehe :D)
É isso.
Não se esqueçam de comentar, votar, deixar críticas construtivas e tudo o mais.
Nos vemos na próxima.
BYE BYE CICLE!