Minha Doce Menina CAPÍTULOS...

By Lucy_Benton

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Mia viu o pai poucos vezes ao longo da vida, a última delas há mais de cinco anos. Então não sabe qual a razã... More

Capítulo Um
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
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Capítulo Dois

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By Lucy_Benton

Drew

Amo o meu trabalho, a maior parte do tempo ao menos. Mas, como toda profissão tem seu lado ruim; a minha não fica atrás.

Esse é um dos momentos em que eu me sinto cansado de uma forma que não posso descrever. Eu posso me deparar com os piores bandidos e as mais difíceis situações, tiro de letra. Nada afeta a minha concentração, ninguém é capaz de tirar a minha frieza necessária em momentos de tensão. Mas, se colocarem uma criança nisso tudo, indefesa, negligenciada, as coisas mudam. Tenho trabalhado nesse caso há meses, de forma exaustiva e calculando cada um dos meus passos de forma milimétrica.

Eu investiguei Joseph Anderson por muito tempo, isso exigiu de mim uma imensa quantidade de paciência. Posso dizer que anotei cada respiração que ele deu. Ele está bem longe de ser um dos chefões dessa operação. Na realidade, eu o descreveria apenas como um idiota, ambicioso e preguiçoso o bastante para se envolver com as pessoas erradas e não medir seus próprios passos. Ao que parece, a imprudência sempre esteve atrelada a ele.

— Posso ficar um momento a sós com a senhorita Anderson? — pergunto à Claire.

— Claro. — Ela pega a pequena Chloe nos braços e sai, seguida por Thompson.

Estamos sozinhos na sala agora, mas ela nem percebe, perdida em seus próprios pensamentos. Ao que parece; totalmente chocada com a situação que acabamos de lhe apresentar.

— Amália! — eu a chamo, me aproximando um pouco mais.

Ela tira lentamente as mãos do rosto, enxugando as poucas lágrimas que derramou nesses segundos. Eu poderia lhe dizer que seu pai não merece sua tristeza, nem o sal das suas lágrimas, mas eu me calo.

— Mia. — Ela me corrige com voz fraca. Seus lindos olhos verdes, vermelhos agora.

— Mia. — Eu repito, testando a sonoridade de seu nome em minha boca. — Pode me chamar de Drew.

Eu realmente não deveria ter lhe dito isso, foi quase involuntário da minha parte. Mas se quero fazê-la confiar em mim, preciso deixá-la à vontade.

— Andrew?

Aceno em concordância, cruzando os braços em seguida. Anos de treinamento para esconder minhas emoções e estou quase derrubando minha máscara impassível, ao pensar que Mia não levará a irmã para casa hoje.

— Posso imaginar o quanto tudo isso seja chocante. — Digo de forma calculada. — Mas, percebe o que irá acontecer com sua irmã se não ficar com ela?

Isso é quase uma chantagem, eu sei, porém, são as cartas que me restaram. Então, prefiro encarar como uma negociação.

— Eu sei. — Ela afirma. — Mas, sendo totalmente sincera, eu não posso levá-la comigo.

— Por quê? — eu sei o porquê e ela claramente sabe também, mas faz parte do meu jogo fazê-la duvidar de suas decisões.

— Porque não posso cuidar dela.

— Entendo que você pense assim, mas tudo o que possa oferecer a ela, será infinitamente melhor do que a espera se sair por aquela porta sozinha.

— Eu não posso. — Ela diz pausadamente. — Sinto muito, muito mesmo.

Já estou sem paciência, tudo o que quero é ir para casa e dormir por uns dois dias, talvez mais. Uma pena que seja algo que não poderei fazer com o caso em andamento.

— Ao que parece, seria temporário. — Acrescento, passando a mão pelo cabelo. — Chloe tem uma avó materna que mora em Londres, estamos tentando encontrá-la desde essa manhã.

— Eu tenho o meu trabalho, meus horários, a minha vida. — Mia diz exasperada. — Como eu irei encaixar uma criança nisso tudo?

Não faço ideia, por isso me calo. Não sei nada sobre crianças, apenas que ao longo dos anos vi coisas que jamais me esquecerei.

Eu sei como o sistema funciona, se Chloe ficar aqui será mandada para um lar temporário, com muitas outras crianças. Na melhor das hipóteses, ela será ignorada por sua mãe adotiva, que só se interessará pelo dinheiro que o governo possa lhe dar. E ela é tão pequena. Sua vida poderá ser transformada de forma definitiva, com marcas permanentes; apenas porque as pessoas que deveriam protegê-la não foram responsáveis o bastante.

— Eu não deveria lhe dizer isso, Mia. — Eu me aproximo mais e digo em tom de confissão. — O sistema é horrível, ele realmente não funciona. Chloe não ficará bem, isso eu posso te afirmar com convicção. O mundo infelizmente não é um lugar cor de rosa.

Mal termino de falar e ela levanta totalmente o rosto para mim, o queixo erguido em desafio, os olhos verdes sustentando os meus com coragem. Eu disse algo errado, ou certo, porque ela me olha quase furiosa agora.

— De todas as pessoas no mundo, eu sou a que aprendi isso há muito tempo. — Ela afirma, com voz firme. — Acredite em mim, eu sei que o mundo não é nada cor de rosa.

— Eu posso imaginar, com o pai que você tem.

— Eu não tive muita sorte com minha mãe também, eu diria que minha vida está mais para cinza ou totalmente escura.

Não sei se ela está contando isso a mim, ou a ela mesma. Seus olhos parecem perdidos por um instante, como se estivesse se lembrando de algo, e esse algo não a faz feliz.

— Foi seu pai quem pediu para que eu te ligasse. — Conto. — Ele também pediu que cuidasse de sua menina, era uma grande preocupação dele que você fosse a única pessoa a fazer isso.

Ok... Mais chantagem emocional, mas eu só quero o bem de Chloe.

— Ele poderia ao menos ter me contado sobre ela. — Ela recita quase para si mesma, como se não tivesse me escutado. — Ele se casou e teve uma filha, e eu nem fazia ideia.

Não há muito o quê eu possa dizer a respeito disso, a não ser que Chloe e ela não merecem um pai como o delas. Isso se nós pudéssemos mesmo chamá-lo de pai.

— Eu gostaria de tê-la conhecido antes. — Mia continua e eu percebo que são apenas divagações. — Espero que meu pai tenha sido melhor para ela do que ele foi para mim.

— Bom, ela parece bem cuidada, — eu puxo uma cadeira e me sento à sua frente. — mas, infelizmente a sua mãe Rebecca é uma usuária de drogas.

— Verdade? — ela demanda em choque. — Tão ruim assim?

— Sim, seu pai também, embora ele não pareça tão viciado como a esposa.

— Meu Deus, por que ele fez isso? — ela pergunta, cobrindo o rosto outra vez e balbuciando em suas mãos. — Ele nunca foi um poço de responsabilidade, mas isso é demais até para ele.

— Eu sinto muito. — Digo, segurando suas mãos e as afastando do seu rosto. — Exatamente porque tudo é tão errado, você precisa fazer o certo para a sua irmã.

Ela se afasta lentamente de mim, ficando em pé e caminhando pela sala pequena por alguns minutos. Posso dizer que está pensando tanto, que espero que não desmaie.

Eu a deixo fazer o que precisa, enquanto fecho os olhos e solto uma respiração pesada... Isso está demorando mais do que pensei, geralmente sou muito bom em convencer as pessoas.

— Se eu levá-la será por quanto tempo? — ela finalmente pergunta.

— Alguns meses, para ser mais sensato, talvez menos. — Respondo.

— Me parece muito tempo. — Mia pondera, sem olhar para mim.

— Precisamos esperar o julgamento do seu pai. — Explico, com calma. — O que minha experiência diz que não irá demorar.

— Você acha que ele será condenado? — há preocupação em sua voz, um pouco disfarçada, mas há.

— Para dizer o mínimo. — Eu espero que ele apodreça na cadeia, mas seria crueldade acrescentar essa esperança.

— E então, o quê acontece com a Chloe? — ela me pergunta, se sentando outra vez.

— Talvez a sua avó queira ficar com ela, — dou de ombros. — ou até lá, Claire possa encontrar uma boa família adotiva que seja capaz de cuidar bem dela.

Ela volta a caminhar, posso dizer que está lutando consigo mesma, seu rosto me diz o quanto está tocada com a situação. Embora, eu já tenha conhecido dezenas de pessoas que apenas virariam as costas para a criança sem pensar duas vezes, posso afirmar que Mia não é uma delas.

E quando ela se senta pela segunda vez e mantém os olhos fixos em mim, sei que já se decidiu.

— Tudo bem, eu farei isso. — Ela murmura, com um pequeno sorriso e pouca convicção. — Não sei como, mas, vou cuidar dela.

Graças a Deus e todos os anjos, isso tira um peso imenso de minhas costas. Não sei explicar ao certo, mas eu me sinto muito comovido com a situação de Chloe. Não posso dizer o que o futuro lhe reserva, mas seus pais ficarão na cadeia por um longo tempo, sua mãe um pouco menos talvez, mas será um longo caminho até que ela os reencontre.

— Você tomou a decisão certa, por mais difícil que pareça. — Toco sua mão, em um gesto de conforto. — Vocês duas ficarão bem.

— Como você sabe Drew? — ela recita meu nome com um pouco de deboche, e um sorriso mal disfarçado. — Você não me conhece e eu poderia ser como o meu pai.

— Sou um policial, Mia, sei ler as pessoas e você me parece cem por cento confiável.

Ela sorri, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha. Seu sorriso a deixa mais bonita, iluminando todo o seu rosto de uma forma que captura o meu olhar.

O que eu não lhe digo, é que fiz uma pequena pesquisa a partir do instante em que seu pai nos falou sobre ela.

Sei quase tudo sobre Amália Anderson, desde onde trabalha, até o número do seu seguro social, e ela vive de forma segura, sem nenhuma mancha em seu currículo. Não lhe confiaria a sua irmã de três anos, se o resultado da pesquisa fosse outro. Entretanto, eu diria, baseado somente nesses poucos minutos que estamos conversando, que ela trilhou o seu caminho para ter uma vida completamente oposta a do seu pai.

— Posso ir embora agora? — ela indaga com ansiedade.

— Vou chamar a Claire.

Saio rapidamente da sala, buscando por Claire e a encontro na recepção, com Chloe em seus braços, comendo um chocolate.

— Ela deveria comer isso a essa hora? — pergunto, apontando para o chocolate pela metade na mão rechonchuda de Chloe.

— Não deveria. — Claire responde com um sorriso sem culpa, antes de continuar. — Mas, ela merece depois de todo esse pesadelo.

Não posso contradizê-la e balanço a cabeça, sorrindo pela primeira vez no dia.

— Como foi lá dentro? — ela me questiona com expectativa.

— Ela ficará com a irmã, — conto, soltando a respiração com lentidão. — por enquanto.

— Por enquanto é tudo o que precisamos.

Aceno em compreensão — Sim, eu sei.

Ela se levanta, colocando a nossa pequena bailarina no chão e segurando a sua mão, começa a voltar para a sala.

— Vou preparar tudo. — Diz, quando passa por mim.

Fico em pé, vendo as duas desaparecerem dentro da sala.

São quase três da manhã e eu estou acordado desde às sete, porém, posso dizer que meu cansaço é muito mais emocional que físico. Coloco a mão esquerda na testa, sentindo o início de uma dor de cabeça se formar. Esse é um dos ônus que o dia agitado me deixa.

Sento-me com uma garrafa de água na mão e engulo metade do seu conteúdo de uma vez, junto com dois analgésicos.

Espero pacientemente que Claire acerte as coisas com Mia e eu possa finalmente ir para casa. Na verdade, eu poderia ir agora mesmo, mas, quero esperar e ter certeza de que ela não mude de ideia. Sei que é uma grande responsabilidade para alguém tão jovem... Bom, acho que o melhor seria dizer que é uma grande responsabilidade para qualquer pessoa, ter uma criança caindo de repente em seu colo.

Entretanto, meu instinto me diz que Mia é a pessoa indicada para estar com Chloe, não somente pela ligação sanguínea que ambas dividem. A questão mais importante é que Mia fez um grande trabalho ao cuidar de si mesma, e sei que fará o mesmo pela irmã.

Quinze minutos depois, já estou quase adormecendo quando todos saem da sala. Chloe segurando a mão da irmã, com timidez. Ela é uma criança muito doce, o que com certeza será um bônus para Mia.

Quando chegamos até sua pequena casa hoje de manhã, com um mandado de prisão para os seus pais, nós a encontramos na cozinha comendo cereal sozinha. Sua mãe no quarto, esparramada na cama, mais inconsciente do que uma porta, provavelmente depois de ter passado a madrugada toda se drogando. Seu pai estava no quintal falando ao telefone e não parecia nem um pouco preocupado com a filha pequena.

Eu disse a Mia que Chloe parecia bem cuidada e isso é verdade a olhos nus, é claro. E ela foi submetida a vários exames depois de estar sob nossos cuidados. Mas a verdade é que essa criança já viveu muita coisa que não deveria, e eu espero que ela tenha mais sorte a partir de agora.

— Tudo certo, — Claire diz, parando ao meu lado. — por enquanto.

Ela deu ênfase no por enquanto, como eu fiz agora a pouco. Não existe nada de definitivo nessa situação. Tudo é apenas temporário e só Deus sabe como irá terminar.

— Então, boa sorte! — eu digo a Mia, estendendo a minha mão. — Espero que fique tudo bem.

— Eu também espero. — Ela aperta a minha mão e me dá um rápido sorriso, mordendo os lábios em seguida.

Mia é uma mulher muito bonita, com um sorriso doce e olhos expressivos. Chloe e ela formam um conjunto lindo, e provavelmente sejam as únicas coisas boas que Joseph Anderson tenha feito em toda a sua vida.

— Você está dirigindo? — pergunto a ela.

— Não, vim de táxi.

— Então Thompson pode levá-la — Ofereço, fazendo um gesto para o meu companheiro. Eu poderia levá-la, mas não me parece uma ideia muito boa no momento.

— Seria ótimo, obrigada. — Ela me dá um último olhar, antes de ajeitar a bolsa com as coisas de Chloe e caminharem juntas até a saída.

Dou um leve aceno de despedida para a criança, então coloco as mãos no bolso e espero que desapareçam pela porta principal. Vou para a minha sala, pego meu celular, casaco e as chaves do meu carro, e saio pela entrada dos fundos.

Minha dor de cabeça passou totalmente e tenhocerteza de que terei um pouco de paz... Por enquanto!    

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