- Levanta, vamos repassar os golpes de novo.
- Você tá tentando me matar? - Perguntou a Experiência, estirada no tatame depois de perder outro round para Natasha. - Estamos nisso o dia todo, não dá pra vencer você.
- O Rogers já conseguiu, e você é ele... numa versão mais feminina, ruiva e jovem...
- Eu não sou ruiva. - A garota falou com impaciência. - E também não sou o Rogers.
- Mas resmunga como ele. - Brincou para então estender a mão e ajudar a mais nova a se levantar. - Vamos de novo, com mais agilidade e menos dessa classe e cordialidade que você inspira.
A garota mal tinha se posto em pé quando o primeiro golpe atingiu suas costelas, deixando-a sem folego.
- Pense menos, aja mais. - Natasha falou, desferindo outro golpe que foi bloqueado no ultimo segundo pela mais nova.
- Você é maluca.
- E você soa como uma criança choramingando. - Natasha retorquiu, atingindo um chute na coxa direita da mais nova, fazendo-a tombar. - Não vai durar dois segundos em campo se continuar assim.
- Não estou choramingando. - A jovem rebateu enquanto se levantava a contragosto e balançava a perna atingida. - Só estou constatando os fatos, você é maluca e precisa de terapia, ponto.
- Eu esperava mais de uma rata de laboratório como você. - Falou com zombaria. - Talvez devêssemos te entregar logo pra esse grupo russo, deixar que fritem seu cérebro...
O semblante da Experiência mudou no mesmo instante, os olhos acastanhados pareciam escurecer ao passo que a jovem partia pra uma sequencia de socos e chutes.
- Ou que te prendam por mais uns 20 anos...
Mais socos e chutes que por pouco não atingiram o rosto de Natasha.
- Acho que magoei seus sentimentos.
Era a primeira vez em horas de treino que Natasha sentia a verdadeira força da garota experimento e precisava aproveitar o máximo possível desse pequeno acesso de raiva para descobrir até onde ela podia chegar.
Tentou um golpe aéreo que foi facilmente bloqueado pela mais nova. Com as costelas e a panturrilha esquerda comprometidas Natasha perdeu parte da força de ataque dando mais uma brecha para a Experiência que agora a prendia em uma chave de perna bem posicionada.
- Pelo visto vocês se entenderam. - Steve falou entrando na sala de treinamento.
- Acho que foi algo que eu disse. - A mais velha comentou com um gemido de dor.
- Ela parece furiosa. Acho que está bom por hoje.
- Não seja careta. - Natasha falou quase sem folego, quando conseguiu finalmente escapar das pernas da mais nova. - Estamos nos divertindo aqui.
- Você parece cansada. - Ele continuou. - E acho que tem alguma coisa errada com a sua perna esquerda.
- Impressão sua. - Ela respondeu recuando e ficando na defensiva.
- Converse menos e aja mais. - A Experiência zombou.
- Eu criei um monstro. - Natasha falou com indignação.
Aproveitando a distração da mais velha, a Experiência partiu para mais um ataque conseguindo acertar o rosto de Natasha com o joelho e aplicar com perfeição o golpe de pernas que ela tanto usava contra seus oponentes, jogando-a contra o tatame.
- Okay. - Steve falou, apressando-se em parar a mais nova que já estava pronta para atacar novamente. - Foi o suficiente por hoje.
- É, você bate com força, quando quer. - Natasha brincou, se levantando e limpando o sangue que escorria de um ferimento nos lábios.
- Desculpe, eu não quis machucar você. - A Experiência falou voltando a si.
- Já estive pior. - Natasha falou dando de ombros. - Tome um banho e vá descansar. Nos vemos amanhã no mesmo horário, vamos treinar uma coisinha chama autocontrole.
- Eu... realmente não quis...
- Se você pedir desculpas de novo, eu juro que te faço passar a noite treinando. - Falou perdendo a paciência.
- Okay, desculpe, quer dizer... Eu, já vou. Boa noite pra vocês. - A jovem falou corando e deixando a sala de treinamento.
Esperando até que o som dos passos da garota desaparecesse, Natasha começou a cuidar dos próprios ferimentos e só tornou a falar quando ouviu o elevador deixando o andar.
- Ela é forte. Tanto quanto imaginei. - Comentou preocupada. - Você estava certo. Ela estava controlando a força dos próprios golpes durante os primeiros rounds, tentando não causar tanto estrago.
- Ela sabe que é forte...
- Mas não conhece os próprios limites. - Continuou a ruiva. - Por isso tem medo de perder o controle.
- Ela precisa de mais treino, precisa descobrir até onde pode ir e quando deve parar. - Steve concluiu.
- Talvez não seja só isso. - Natasha falou, encarando os olhos azulados e confusos de Steve enquanto a lembrança de um passado bem distante tomava sua mente, desperta pelos olhos castanhos e culpados da jovem experiência. - Preciso dos registros salvos daquele laboratório, a ficha completa da Experiência. - Algo me diz que vamos encontrar um borrão vermelho no meio de toda essa alvura.
Horas depois, sentada no divã de seu quarto e debaixo de um emaranhado de cobertas, a jovem Experiência observava as luzes da cidade abaixo com distração. O incomodo do braço direito adormecido pelas varias horas na mesma posição e as dores dos hematomas causados pelo treinamento eram incapazes de penetrar no caos da sua mente que repassava novamente os acontecimentos daquele dia.
Atacar Natasha naquele ultimo round tinha desenterrado lembranças a muito tempo esquecidas, lembranças essas que agora a impediam de ter uma noite de sono tranquila.
Sacudindo com força a cabeça, obrigou-se a jogar as cobertas para o lado e se levantar. Foi até o banheiro e lavou o rosto na esperança de clarear os pensamentos. Voltando para o quarto observou as paredes com certa fobia, e por fim decidiu que uma caminhada talvez ajudasse a colocar tudo em perspectiva.
Saiu do quarto vestindo apenas seu pijama improvisado, uma calça de moletom vários números acima de seu manequim e uma blusa preta de alças que tinha ganhado junto com o conjunto de roupas para treinamento, e usando as escadas de emergência desceu até a área de lazer dos vingadores.
O andar inteiro parecia vazio. Sem saber pra onde ir, andou a esmo passando pelas poltronas espalhadas perto do bar, atravessando a sala de jantar e encontrando sem querer a cozinha. Era grande, limpa e cheia de equipamentos eletrônicos que piscavam de tempos em tempos. Mesmo sem fome foi até a geladeira e encheu um copo com leite, sentou-se numa banqueta giratória e apoiou os cotovelos na bancada a sua frente enquanto bebericava o conteúdo do copo e encarava o forno à frente.
- Isso é hora de criança estar acordada? - Tony perguntou mal-humorado entrando na cozinha com o rosto amassado de sono.
- Me deixa adivinhar, o J.A.R.V.I.S. te acordou, não é?
- Ele está preocupado, acha que talvez você esteja sofrendo de insônia.
- Dedo duro. - A garota murmurou, lançando um olhar ameaçador para as paredes como se o sistema de inteligência artificial pudesse vê-la.
- Não o culpe. - Ele defendeu, indo até a geladeira e se servindo de um copo de suco. - Depois de um dia agitado como o de hoje, você deveria estar no décimo sono e não perambulando por ai.
- O treinamento desenterrou alguns fantasmas.
- Fantasmas. - Repetiu com desdém, sentando-se na banqueta ao lado da garota. - Todos nós temos alguns.
- Eles também não te deixam dormir?
- Às vezes.
- Os meus me enlouquecem. - Ela desabafou, soltando um suspiro tremulo e escondendo o rosto nas mãos.
- Os meus sabem como me irritar. - Tony falou dando de ombros e tomando um gole de suco. - Ok. Vamos acrescentar mais um tema as nossas conversas instrutivas. Já ouviu falar de Resiliência?
- Resiliência? - A jovem repetiu erguendo os olhos e encarando-o com curiosidade e confusão.
- Sim, resiliência. A capacidade de se adaptar e evoluir positivamente frente às adversidades e fatalidades da vida. No nosso caso, não deixar que os problemas do passado ou presente nos enlouqueçam.
- Não é assim tão fácil, Tony. - A Experiência falou, sacudindo a cabeça com tristeza. - Ainda que eu pudesse ignorar o que aconteceu no passado, a culpa ainda estaria sobre meus ombros.
- Entenda uma coisa. - Tony falou se aproximando mais da garota, o cotovelo na bancada e a cabeça apoiada na mão. - Às vezes cometemos erros, e às vezes falhamos ao lidar com o erro dos outros, em ambas as situações tudo o que podemos fazer é carregar o fardo da culpa como aprendizado e garantir que o erro não se repita.
- São suas palavras? - A Experiência perguntou, tentando não parecer tão estarrecida com o que acabara de ouvir.
- Boa parte. - Respondeu com falsa modéstia, pegando os copos e levando-os até a pia. - Agora quero que espante seus fantasmas, volte pra cama e durma. Teremos muito trabalho pela frente.
- Tudo bem. - Falou indo até ele e surpreendendo-o com um beijo inocente no rosto. - Obrigada pela conversa.
- Não me agradeça. - Respondeu pouco embaraçado. - Agora vá dormir.
- Tenha uma boa noite. - A garota falou deixando a cozinha. - E agradeça ao J.A.R.V.I.S. por ser tão intrometido.
Os passos da garota já tinham desaparecido quando Tony se permitiu sorrir, um sorriso bobo e despretensioso que o fez rolar os olhos em seguida, sentindo-se um tanto idiota por reagir dessa forma a um beijo tão simplório.
- Criaturinha melosa. - Resmungou. - Melosa e fofa.
N/A: Olá queridos!
Eu sei que demorei horrores pra postar esse capitulo, mas o mês foi complicado. A boa noticia é que a partir do dia 17 estarei de férias e poderei postar com mais frequência.
Espero que estejam gostando da nossa querida Experiência.
Com carinho,
M.Menezes