Os Óculos Indesejados de Ilya...

By carlosmrocha

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🏆 VENCEDOR "THE WATTY 2019" NA CATEGORIA FICÇÃO CIENTÍFICA 🏆 Ilya Gregorvich tem uma mente brilhante para... More

Mapa e avisos antigos - ATUALIZADO(2)
Prólogo
Parte 1
1 - Os óculos, o veterano e a garota
2 - Espelhos, trens e memórias.
3 - O funeral de um estranho
4 - Turma do alojamento
5 - Broncas e memórias de broncas
7 - Clínica Podco
8 - Caminho para Kassev
Parte 2
9 - Incrimindados
10 - O segredo de Orgeila Bertonk
11 - O sonho de Ilya
12 - Mik
13 - Confronto no bosque
14 - O maltisseíta
15 - Reencontro com Marya
16 - Enfermaria
17 - O travesti
18 - A agenda de Wolchkin
19 - Confronto com o Monstro
20 - De volta ao Campus
21 - O segredo de Ilya
22 - Fuga impossível
23 - Passado sombrio
24 - Kólia Semiónytch
25 - O Retorno do Agente Oleksei
Parte 3
26 - A Usina
26 - A usina (estrutura antiga)
27 - Caverna do dragão
28 - Retorno a Voln
29 - Marya em apuros
30 - Rapto esclarecido
31 - Confronto final
Epílogo
Nova capa e novidades
Aviso importante II - ATUALIZADO
Vencedor do Wattys 2019

6 - Masha Flammoc

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By carlosmrocha

Uma semana se passou e a vida de Ilya retomava o eixo da normalidade. A consulta médica revelou que o tumor estava estabilizado e, ao retornar à sua medicação, regularmente, as fortes dores de cabeça cessaram. O trabalho que o professor Svenka solicitou estava quase concluído e seus projetos pessoais estavam reunidos na gaveta de baixo a caminho do esquecimento. Estavam adormecidos: seus teoremas, o caso dos óculos e sua determinação em ver Marya.

Depois da turbulência, até mesmo seu dente estava de volta, quase perfeito. Sob olhar atento, ficava evidente que era mais branco que os demais, mas quanto a isso o dentista garantiu que em anos a diferença já não seria notável. Assim como a recuperação dos dentes, o tratamento médico recebido fez efeito e seu rosto já não mostrava as marcas da surra ou mesmo do desmaio. Estivesse Ilya em qualquer cidade além de Voln ou Kassev, com medicina e odontologia menos avançadas, sua sorte não seria a mesma. Estava quase tudo perfeito, exceto pelo de retorno de Halle, sempre pronto para perturbá-lo.

– Oi, frangote! Estou de volta.

– Ah, olá...

Halle aproximou-se e bateu com o jornal em cima da escrivaninha cobrindo a papelada e equações do rapaz.

– Olha a reportagem que saiu ontem. – Halle apontou uma coluna no canto da página que dizia: "Funcionário do Ministério da Energia é homenageado".

Ilya leu: "Orgeila Bertonk recebeu homenagem póstuma em cerimônia realizada na sede do ministério. O dedicado servidor foi responsável pelo projeto de expansão das linhas de transmissão de energia que aumentou a cobertura da malha energética em 30% nos últimos quatro anos. Orgeila faleceu no último dia 25 de Brizárnio devido a um acidente de sobrecarga na estação central de Voln".

– Tá, e daí?

– Não é o que diz na reportagem, idiota! Olha a foto.

Ele estava um pouco distraído e não havia reparado na foto antes, mas viu no bolso a haste dos óculos. Afinal, os óculos estavam mesmo com ele e não com o cara que bateu as botas no dia da parada. O rapaz abriu a gaveta, pegou os óculos e comparou a haste. Sem dúvida eram os mesmos óculos.

– Vejo que sua matemática fez se esquecer deles.

Ilya respondeu com um olhar que confirmava o que Bremmen dizia.

– Vamos, frangote, eu consegui um horário com uma colega no laboratório de Engenharia Taumatológica.

– Mas logo agora que finalmente ia retomar o trabalho no meu teorema? – Ilya tinha acabado de se livrar das tarefas chatas dadas por seu orientador. Mas na verdade, disse aquilo apenas para tentar se livrar de problemas.

– Deixa disso, moleque! Esses números aí não vão fugir, vão? Veste logo um casaco e vamos nessa. Tô curioso com essa história toda e aposto que você também está.

Ilya relutou um pouco, girou o jornal para lá e para cá. Olhou algumas manchetes: Tensão aumenta em torno da ilha Hoksa. Navio de carga impedido de atracar por vaso militar de Perz Quonzil. Importações de Salzbragg crescem causando déficit. Ilya empurrou o jornal de lado, Halle estava certo: sua curiosidade acabou por impelí-lo e logo ambos cruzavam o campus, agora coberto de neve, para chegar até o prédio da engenharia. Era um belo edifício branco de cinco andares, um dos mais antigos do campus. Diante dele, havia uma enorme estátua de bronze representando a figura de Rupert Aren. As mãos do estudioso postavam-se abertas e espalmadas para cima. Uma representação do modelo atômico na mão esquerda. Na direita, a chama da magia essencial capturada no interior de um cristal semi transparente, que era aceso todas as noites, conferindo um brilho alaranjado muito bonito aos contornos da metade direita da estátua.

No interior do prédio, havia um silencioso elevador movido por um sistema hidráulico e alimentado por energia ígnea, a mesma distribuída e utilizada em todas as províncias do estado de Durkheim. Ilya e Halle tomaram o elevador a partir do pátio central que terminava no alto em uma cobertura de vidro e estrutura metálica.

– Se prepara, frangote, porque você vai babar. – disse Halle excitado.

– Hein?

– A Masha é a pesquisadora mais gata de toda a universidade.

– Certo, e daí?

– Daí que você vai babar, moleque! – disse Halle sacudindo Ilya pelos ombros.

Ilya rolava os olhos se perguntando se era possível alguém ser mais inconveniente que Bremmen.

A entrada do laboratório era restrita. Os estudantes apresentavam seus crachás e anotavam seus dados no livro de registros. O porteiro chamou pelo interfone.

– Srta. Flammoc? Aqui estão os senhores Bremmen e Gregorvich para vê-la. – após uma pausa – Perfeitamente. Podem entrar.

Ilya passou pelas duas pesadas portas de madeira e um cheiro estranho invadiu suas narinas.

– Cheiroso, não? – zombou Halle.

Havia uma dezena de pessoas ali, estudantes, pesquisadores e professores. No centro do salão, algumas máquinas circundadas de muitos fios e mangueiras. Um monte de coisas que Ilya sequer conseguia supor o que era. De trás de uma daquelas geringonças, surgiu uma moça sorridente. Ela vestia um jaleco verde, botas grossas, capacete e óculos protetores. Não era um traje muito feminino, mas ainda assim sua beleza era notável. Os cabelos negros e lisos, da mesma cor de seus olhos, que sorriam junto com os lábios, deixaram o rapaz um pouco abobado.

– Oi, Masha. Esse aqui é o Ilya Gregorvich, o geniozinho da matemática de quem lhe falei.

– Olá, Ilya, como vai? – indagou Masha fazendo o coração de ambos bater mais forte.

– Tudo bem, quero dizer, quase...

Masha ergueu as sobrancelhas como se perguntasse qual era o problema.

Ilya tirou os óculos do bolso do sobretudo e os ofereceu à moça.

– Parecem comuns, digo, um desenho peculiar, mas comuns.

– Sim, mas de duas uma: isso não é exatamente comum ou meu amigo Ilya está sofrendo alucinações.

– Bem, verifiquemos. – Masha seguiu para o canto do laboratório no qual havia uma máquina com a aparência de um forno. Introduziu os óculos, fechou a porta e ligou alguns botões.

Ilya sentiu os pelos de sua nuca se arrepiarem – O que é isso? – Ilya perguntou curioso.

– Um manômetro. Vai medir a existência de energia manótica e seu comportamento ao receber diversos feixes de extratos manóticos. Isso vai levar uns minutos...

A máquina zumbiu e houve um silêncio constrangedor. Masha observou Ilya com cuidado, como se realizasse um exame. O rapaz desviou o olhar e corou. Halle tomou coragem para suas investidas.

– Então, moça linda, – começou Halle – que tal minha proposta de exploração na tumba de Emzimer-von?

– Vai ser não, de novo, Bremmen.

– Barzinho?

– Não.

– Jantar? – ele sorria.

Ela não sorria – Não, Bremmen, ano que vem, quem sabe?

Halle sorriu. Aquilo já era um progresso.

– Pronto. – a moça disse. – Vejamos...

Uma longa fita de papel rabiscado saiu de uma fenda horizontal ao lado da porta. A moça examinou a fita, fez uma ou duas expressões mostrando-se intrigada e surpresa e, finalmente, abriu a porta para examinar os óculos. O objeto saiu do forno deixando um rastro de fumaça esverdeada.

– Está quente? – indagou Ilya.

– Pelo contrário, bem gelado!

– O que significam as leituras? É comum?

Uns dois alunos curiosos chegaram perto e ficaram observando a conversa.

Masha cutucou com o indicador a ponta do nariz – Não, nada comum. Mas também, não sei o que é.

– Seria uma relíquia Wlegdar? – perguntou-se Halle.

– Suponho que não. – a moça retrucou. – Nunca soube de um Wlegdar ou Menodrol que usasse óculos.

– Até porque Menodrols usam máscaras, incompatíveis com algo assim. – concluiu Halle.

– As lentes! – a face de Masha se iluminou – São feitas de cristal de sargentium dilapidado.

– Mesmo?

– Parece que sim. E, ao que parece, elas acumularam pequenas quantidades de energia.

– Como uma espécie de bateria nas lentes? – sugeriu Ilya.

– Na mosca, garoto! – confirmou a moça e virou-se – Professor Zatchev, veja isto!

Um senhor idoso aproximou-se. Parecia muito sério e possuía um olhar distraído e distante, como se estivesse sob efeito de drogas. Em nenhum momento olhou diretamente para Masha, Halle ou Ilya. Fixou o olhar sobre os óculos por alguns instantes e depois voltou a encarar ora a parede, ora o teto, ora o chão.

– Deixe-me ver. – solicitou Zatchev estendendo a mão esquerda. Masha entregou-lhe os óculos e aguardou. Zatchev examinou o objeto minuciosamente e pediu – As análises?

Masha, habituada ao comportamento do professor, entregou os papéis cheios de linhas e pontos.

– Hum. – comentou o professor, deu as costas e dirigiu-se para outro canto do laboratório. Masha seguiu e indicou com um gesto para que Ilya e Halle viessem junto. Os dois outros estudantes curiosos os seguiram. Ilya estava embaraçado e desconfortável com toda aquela situação, ao mesmo tempo, Halle estava feliz de seguir Masha de perto e não conseguia tirar os olhos dela.

Zatchev colocou os óculos sobre uma bancada e remexeu numa pilha de grossos cadernos de anotações. Folheou um dos volumes até que parou em uma página e disse – Aqui está! Orlando Bertonk. Orientador: Grão Mestre Exull. Linha de pesquisa: visão extra sensorial.

Antes que Masha pudesse retrucar, Zatchev entregou-lhe os óculos e disse – Mas que boa fortuna! Tome, Srta. Flammoc, recomendo que visitem o Grão Mestre Exull, assim que possível. Apesar de enfermo, ainda está vivo e estou certo de que poderá lhes ajudar.

– Obrigada, professor Zatchev.

– Claro, claro... – o velho dispensou-os retornando aos seus afazeres.

– Grão Mestre Exull? – indagou Ilya.

Masha respondeu – Um mestre Elkin, catedrático de engenharia taumatônica.

Masha entregou os óculos a Ilya e disse – Bem, boa sorte!

– Como é? – estranhou Halle.

– É, o Grão Mestre não vive em Voln. Mesmo que ele não esteja tão longe, não posso me afastar do meu experimento. Ao menos não antes de três semanas.

Ilya sentiu excitação – Como podemos encontrá-lo? Você tem o endereço, Srta. Flammoc?

– Apenas Masha, querido. Sei que é em algum lugar em Dusseloris... Acredito que na secretaria do departamento essa informação esteja disponível.

– Muito obrigado, Srta. Masha. – foi o mais informal que Ilya conseguiu ser.

– Ah, que é isso... Não foi nada, docinho.

Ilya corou e Halle fechou a cara.

– Escuta, Ilya. – continuou Masha – Então, este experimento que estou conduzindo tem uma parte de cálculos bem chata e complicada. Quem sabe você não volta para me dar uma ajudinha?

Ilya empolgou-se de pronto. – Claro, é claro! É só me avisar.

– Então, me dá seu número que eu te ligo.

Ilya forneceu seu cartão de visita.

– Ótimo! Depois te ligo e te conto os detalhes.

Halle estava muito incomodado, na realidade, enciumado e explodiu – Ah, dá um tempo, Masha! O garoto é menor.

– É mesmo? Juventude é tudo de bom! Vamos fazer o seguinte, eu te ligo daqui a um mês então, está bem gracinha? – Masha piscou para Ilya que, imediatamente, ficou tão vermelho que parecia que ia explodir.

– Vambora, moleque! – Halle puxou Ilya – Isso já tá indo longe demais. – Halle empurrou o rapaz para fora do laboratório.

Antes de saírem, Bremmen disse – Masha, você perdeu o senso? Vai acabar magoando o moleque.

– Bremmen, vê se cresce! Se eu gostei do seu amigo isso não é nada da sua conta!

Halle não retrucou. Engoliu seu impulso e apenas disse antes de sair – Ah, deixa estar...

Ilya olhou com um sorrisinho nos lábios para a cara fechada de Bremmen.

– Ela gostou de mim.

– Ah, frangote! Cai na real, acha que ela gosta de tipos efeminados?

– Você está com ciúmes, Halle.

– Eu vou te dar uns sopapos se não cortar esse assunto agora mesmo!

Ilya ficou quieto e riu-se por dentro. Ver Halle afetado assim até que era bem divertido.

– E então, Mestre Exull? – disse ainda sorrindo.

– Isso! Vamos passar na secretaria. É no segundo piso.

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