6 - Masha Flammoc

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Uma semana se passou e a vida de Ilya retomava o eixo da normalidade. A consulta médica revelou que o tumor estava estabilizado e, ao retornar à sua medicação, regularmente, as fortes dores de cabeça cessaram. O trabalho que o professor Svenka solicitou estava quase concluído e seus projetos pessoais estavam reunidos na gaveta de baixo a caminho do esquecimento. Estavam adormecidos: seus teoremas, o caso dos óculos e sua determinação em ver Marya.

Depois da turbulência, até mesmo seu dente estava de volta, quase perfeito. Sob olhar atento, ficava evidente que era mais branco que os demais, mas quanto a isso o dentista garantiu que em anos a diferença já não seria notável. Assim como a recuperação dos dentes, o tratamento médico recebido fez efeito e seu rosto já não mostrava as marcas da surra ou mesmo do desmaio. Estivesse Ilya em qualquer cidade além de Voln ou Kassev, com medicina e odontologia menos avançadas, sua sorte não seria a mesma. Estava quase tudo perfeito, exceto pelo de retorno de Halle, sempre pronto para perturbá-lo.

– Oi, frangote! Estou de volta.

– Ah, olá...

Halle aproximou-se e bateu com o jornal em cima da escrivaninha cobrindo a papelada e equações do rapaz.

– Olha a reportagem que saiu ontem. – Halle apontou uma coluna no canto da página que dizia: "Funcionário do Ministério da Energia é homenageado".

Ilya leu: "Orgeila Bertonk recebeu homenagem póstuma em cerimônia realizada na sede do ministério. O dedicado servidor foi responsável pelo projeto de expansão das linhas de transmissão de energia que aumentou a cobertura da malha energética em 30% nos últimos quatro anos. Orgeila faleceu no último dia 25 de Brizárnio devido a um acidente de sobrecarga na estação central de Voln".

– Tá, e daí?

– Não é o que diz na reportagem, idiota! Olha a foto.

Ele estava um pouco distraído e não havia reparado na foto antes, mas viu no bolso a haste dos óculos. Afinal, os óculos estavam mesmo com ele e não com o cara que bateu as botas no dia da parada. O rapaz abriu a gaveta, pegou os óculos e comparou a haste. Sem dúvida eram os mesmos óculos.

– Vejo que sua matemática fez se esquecer deles.

Ilya respondeu com um olhar que confirmava o que Bremmen dizia.

– Vamos, frangote, eu consegui um horário com uma colega no laboratório de Engenharia Taumatológica.

– Mas logo agora que finalmente ia retomar o trabalho no meu teorema? – Ilya tinha acabado de se livrar das tarefas chatas dadas por seu orientador. Mas na verdade, disse aquilo apenas para tentar se livrar de problemas.

– Deixa disso, moleque! Esses números aí não vão fugir, vão? Veste logo um casaco e vamos nessa. Tô curioso com essa história toda e aposto que você também está.

Ilya relutou um pouco, girou o jornal para lá e para cá. Olhou algumas manchetes: Tensão aumenta em torno da ilha Hoksa. Navio de carga impedido de atracar por vaso militar de Perz Quonzil. Importações de Salzbragg crescem causando déficit. Ilya empurrou o jornal de lado, Halle estava certo: sua curiosidade acabou por impelí-lo e logo ambos cruzavam o campus, agora coberto de neve, para chegar até o prédio da engenharia. Era um belo edifício branco de cinco andares, um dos mais antigos do campus. Diante dele, havia uma enorme estátua de bronze representando a figura de Rupert Aren. As mãos do estudioso postavam-se abertas e espalmadas para cima. Uma representação do modelo atômico na mão esquerda. Na direita, a chama da magia essencial capturada no interior de um cristal semi transparente, que era aceso todas as noites, conferindo um brilho alaranjado muito bonito aos contornos da metade direita da estátua.

Os Óculos Indesejados de Ilya GregorvichNơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ