DVE - LIVRO 2 - DEGUSTAÇÃO! E...

נכתב על ידי marjorylincoln

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Ao crescer com a pressão de ser filho e neto de militares da força aérea brasileira, Tay, que era um garoto e... עוד

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PROMOÇÃO 9 por 1

A ordem natural das coisas

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Escritório de ADM, Base 05. 04:05hs AM. Manaus.

- Posso ver o relatório? Vai fazer o curso aonde?

Laura me questiona na administração.

- Está aqui. Farei em Barbacena, minha família está toda lá!

Eu digo e ela afirma me devolvendo o papel.

- Quem vai levar o Hércules, Mounsher?

Ela questiona alto, o sargento Vitor que trabalhava em seu computador totalmente imerso, enquanto colocava café expresso no pequeno copo de isopor.

- Sei lá, tenente, os senhores que decidam...

- O que está no documento dela?

Laura questiona e me oferece um café.

- "... Para transporte pra curso/ O Lockheed C-130, vulgo Hércules: Tem a autorização de comando ás mãos com total responsabilidade militar de segurança, e capacitação comprovada por meio de patente: Segundo tenente Coverick / Segundo tenente Nogueira. Resumindo: Sei lá, tenente, os senhores que decidam."

Mounsher recita como um robô, parte do documento em que nós dois estávamos autorizados á pilotar e Laura ri com sua ironia.

- Você pode levar ela, Laura!

Eu digo e ela concorda.

- Bom, está vendo como foi fácil. Podem assinar o documento de identificação dela e bom, o resto vocês já sabem!!!

Ele se levanta da mesa, nos entrega uma pilha de documentos já bastante comum, e volta para seu computador. Fizemos tudo o que precisava, assinamos tudo e saímos da administração.

- Está segura para pilotar?

Eu questiono no corredor e ela me olha com a cara feia. Como se Laura pudesse ficar feia.

- Temos as mesmas horas de vôos.

- Isso não significa nada!

Eu digo e ela bufa.

- Estou segura, tenente, me sinto segura. Você e meus 80 fuzileiros chegarão em Minas com vida.

Ela diz mas ainda sim parece insegura.

- Matar todas as araras talvez não, mas á mim com essa TPM absurda, pelo amor de Deus! Está quase. Tomou seu remedinho não é?! Não vou ficar presa sete horas contigo, com você nesse humor...

Eu questiono e ela me olha com nojo.

- Cale a boca Coverick, seu imbecil!

- Aonde fará o curso?

Eu rio e questiono.

- Pirassununga.

- Se quiser passar a semana livre em Minas, me dá um toque no telefone. Vamos conhecer os bares de Minas Gerais, eu mesmo não conheço!

- Não, obrigada.

Ela diz sem demora.

- Que droga, vou ter que suportar o empata do Pedro sozinho...

Falo e ergo uma sobrancelha ainda sem olhar pra ela, e mesmo assim pude sentir seu olhar em mim. Eu me sentia á vontade com os dois e então convidei. Pelo menos teria para aonde correr quando minha família surtasse ao descobrir que não sobrou nada de mim mesmo, nada do que fui nos últimos anos.

- Preciso ir ali na administração... Seu ridículo!!!

E lá vai ela mudar o local do curso na última hora. Mulheres são todas iguais!

Laura volta minutos depois com um meio sorriso, ao encará-la descaradamente, o sorriso desaparece e ao entrar no Hércules ela diz:

- Calado!

Como se eu fosse falar alguma coisa. Não. Não pretendia falar nada. Viajamos até o hangar da escola pra cadetes em Barbacena, aterrizamos 12:00hs em ponto. Laura parecia nervosa mas não cometeu um só deslize, durante todo o percurso. Foram sete horas de vôo, apenas duas em modo de piloto automático, ela estava de parabéns, mas nunca ia dizer isso.

- Caraca!

Ela exclama ao pousar, abaixa a cabeça e parece fazer uma prece silenciosa. Ela fica assim por um momento e eu respeito. Olho pra ela e vejo ela respirar fundo. Ela toca o painel da Ave - é assim que chamamos o Hércules da base de Manaus - e parece fazer carinho nela. Todos os pilotos tinham uma maneira diferente de lidar com a nave que pilota, eu por exemplo, tratava o meu Carcará com respeito, primeiro ela, no tempo dela e depois eu. Já Laura falava com a ave.

- Muito bem Havii, muito bem! Chegamos.

Ela diz e tira suas mãos do painel. Começa a desligar os sensores no teto da aeronave e depois me olha sem jeito.

- Você tem medo de voar!

Eu exclamo baixo e ela não me olha nos olhos.

- Como burlou o teste de aptidão que durou quase um ano, Laura???

Eu questiono e ela retira seu próprio cinto.

- Faço de meus medos um desafio. Tenho um dom, Coverick, passei pelo teste mais punk de aptidão do Brasil, passo pelo teste do polígrafo da polícia federal brincando, e sempre consigo tudo o que eu quero.

Ela diz e fico com medo. Ela espera a nave toda desembarcar, e quando enfim chega minha vez, ela espera eu descer do Hércules como o protocolo manda.

- Aí que saudade!!!

Meu pai me abraça ainda na recepção da pista lá dentro.

- Como vai capitão???

Me sinto feliz em vê-lo.

- Vou bem tenente e você? Será que meu filho veio junto?

Max me olha e sorri pra mim.

- Para. Não vou te chamar de pai aqui dentro. Já tem alguns meses que "esqueceram" que sou seu filho, e só por causa disso tenho paz.

Eu digo e ele me olha com aquela cara que significava "vamos conversar depois".

Vejo Laura descer do Hércules e ela se junta á nós.

- Por que não o trouxe dessa vez?

Ele questiona.

- Por nada, eu vi que ela queria trazer, queria se provar e deixei. Capitão essa é Segunda-tenente Nogueira, minha parceira, co-piloto na base.

Mudo de assunto quando Laura nos alcança.

- Capitão.

Laura presta continência ao meu pai e ele olha pra ela.

- Á vontade, tenente.

Os dois se cumprimentam informalmente e Laura enfim sorri.

- Capitão Coverick, é uma honra conhecê-lo, acompanhei sua atuação e grandes feitos na pacificação da Síria e Haiti á alguns anos atrás. É realmente um prazer conhecê-lo!

Laura diz com admiração e eu olho para a cara dela.

- Por que nunca me disse que era do Fã-clube?

Eu pergunto e Laura nem me olha, continua encarando meu pai com os olhos marejados.

- Você não suporta que se aproximem de você por causa do sobrenome, nem pra saber mais sobre ele, nem que fale dele, como eu ia dizer isso?!

- Você me odeia, filho?

Meu pai questiona rindo.

- Não né pai, é que eu nunca sei quando as pessoas querem se aproximar por minha causa ou por causa do senhor, ou me matar por que fiz algo errado ou porque o senhor fez...

Eu digo olhando pra ela e ela sorri zombando.

- Você é chato Coverick, ninguém quer você.

Ela diz e os dois riem.

- Eu mereço...

Eu falo e meu pai me abraça.

- Quanto tempo estão juntos?

Meu pai pergunta enquanto caminhamos para o saguão.

- Com todo respeito senhor, mas o senhor pirou???

Laura questiona e meu pai ri.

- Laura será nossa hóspede, na casa do vilarejo, se não tiver problemas.

Eu digo e ele responde.

- Sem problemas.

Ele bate no meu ombro enquanto anda.

- Só por que eu disse que não queria festa, aproveitaram para ir até o limite e logo decidiram não vir ninguém???

Questiono assim que não vejo ninguém da minha família no saguão do hangar.

- Como eu disse...

Laura resmunga e eu ignoro.

- Tenente Nogueira, a senhorita vai assinar os documentos da ave, te esperamos lá fora.

Meu pai diz.

- Vou sim senhor, está bem.

Ela diz e se encaminha para a administração.

- Sabe o nome do meu Hércules?!
Pergunto curioso já sabendo a resposta.

- Sei o nome, codinome e termos carinhosos de todas as aéronaves de toda a FAB.

Ele diz sério e parece preocupado.

- O que foi? O senhor está bem?

Eu pergunto e ele sorri fraco.

- É seu avô, cada vez piora mais. Tenho esperança de que sua volta melhore tudo... E também tem a Olhos brilhantes, está parindo, então vim correndo.

Ele diz e me sinto mal.

- Nunca devia ter ficado tanto tempo fora, não é?!

Eu falo mais para mim mesmo do que pra ele.

- Se lamentar agora não adianta. Você está aqui agora e é isso oque importa. Ele ficará muito feliz.

Esperamos no carro até Laura voltar, dez minutos depois ela volta e entra no carro. Fizemos o percurso que eu já conhecia até a chácara e consigo matar minha saudade.

- Lulu está aqui?

Eu questiono no carro.

- Não, está viajando em intercâmbio com o colégio!

Ele diz e me sinto mais triste ainda.

Paramos na frente do lago, o lugar todo continuava o mesmo, a mesma beleza, o mesmo charme e eu havia me esquecido do tanto que eu amava aquele lugar.

- Que lugar lindo!

Laura diz sorrindo. Seus cabelos escuros começava a se soltar do coque por causa do vento. Ela ajeitava a sua boina e olhava tudo. O dia que começava á raiar ajudava á deixar tudo ainda mais lindo e Laura notava isso.

- Comprei pro meu bebê quando ele tinha uns treze anos, não me lembro ao certo. Tinha acabado de voltar da Síria e queria agradá-lo!

Meu pai comenta com ela.

- Belo presente, senhor!

- Bom, na época ele amou...

Ele diz sorrindo.

- Ainda amo pai!

Eu digo chateado e começo a andar com os dois na minha cola. Subo as escadas e abro a grande porta na minha frente, e eis a surpresa. Minha família grita alto: SURPRESA!!!
vó, meu vô na cadeira de rodas, mãe, Lulu, Nina, Rafa e os gêmeos. Todos estavam lá no meio das bexigas e bandeirinhas.

- Meu amor...

Minha mãe corre pra me abraçar, Lulu e tia Nina depois, e depois do abraço triplo, eu me adianto para me ajoelhar na frente do meu avô. Ele parecia abatido e fraco demais, velho demais, mas tinha em seu semblante um sorriso que devia ser grande.

- Oi vô!

Eu digo, beijo minha vó e volto para dar atenção pra ele.

- Como o senhor está?

Ele me olha e chora, eu o abraço e consigo chorar com aquilo. Fazia tempos que eu não chorava por qualquer motivo, posso dizer que faziam anos.

- Está tudo bem vovô, eu tô aqui! Desculpe pela demora! Eu estava trabalhando demais...

- Me... Perdoa! Me perdoa...

Ele resmungava fraco com sua voz que quase não saía mais e eu faço 'shhh' como quando a gente tenta silenciar uma criança.

- Eu te amo, vô!!! Eu te amo muito! Não tem que me pedir perdão por nada! Eu só queria te orgulhar, vivi minha vida para te orgulhar, era o mínimo que eu podia fazer... Por que eu te amo! Entendeu??? Não se desculpe!

Eu me negava voltar pra casa para não ser cobrado por ele, nem vi que o tempo passou, que ele envelheceu, que todos aqueles discursos que eu dizia ser um 'pé no saco', era só a forma dele de me amar e me proteger. Um jeito meio torto mas era o jeito dele. E eu me recusei á olhar com olhos de ternura para seus cuidados, por pura bobagem e egoísmo. Engraçado como o tempo passa e a gente vê as bobagens que a gente faz por nada, agora o tempo passou, meu avô estava indo embora e eu me sentia um lixo. Esperei ele se acalmar e me levantei do chão, meu pai estava me esperando para um abraço e não pude evitar chorar igual uma criança enquanto todos nos assistiam.

- Pai o que eu fiz???

Eu pergunto baixo e acredito que ninguém ouviu.

- Está tudo bem Tay, tudo bem!!!

Ele diz baixo também e aperta seu abraço ainda mais.

- Eu tentei ser o melhor e fui o pior neto do mundo, eu fui o pior neto que ele podia ter.

Eu resmungo chorando e sinto meu pai fazer 'não' com a cabeça.
Lulu se aproxima fazendo a gente se separar e também chorava. Ela faz a gente se soltar e eu encaro meu pai com vergonha.

- Chega de choro pelo amor de Deus. Vem cá me abraçar direito, meu maninho, eu senti tanta saudade!!!

Ela diz sorrindo ao me abraçar e eu me lembro de algo importante de etiqueta e que no calor do momento acabei me esquecendo.

- Ah, gente... Desculpa Laura! Essa é Laura, minha parceira e co-piloto, não somos namorados, nem ficantes, nem nada, antes que alguém solte uma piadinha sem graça. Na verdade ela só veio por causa do curso e ofereci uma das casas do vilarejo para ela se hospedar. Laura essa é minha irmã Luisa, minha mãe Hella, meus avós dona Jô e seu Luiz, ele é Major aposentado, minha tia Marina que mais parece irmã de tão gata e jovem, o marido dela Rafa, os gêmeos - Chego perto e me ajoelho por que ainda não tinha falado com eles -
Gustavo e Gabi, e bom, acho que acabou...

Eu digo ainda chorando um pouco e me levanto depois de dar um beijo em meus primos, Laura acenou para todos mas só se aproximou de meu avô.

- Major.

Ela diz enquanto ainda se aproxima.

- Á vontade tenente.

Meu avô resmunga com dificuldade e estende o braço pra ela. Ela o segura e sorri.

- É um enorme prazer, me sinto honrada em estar aqui. Seu neto não vai gostar de ouvir o que vou dizer mas tenho uma foto sua junto com o nosso antigo marechal do ar Rubens, em meu armário. És uma inspiração para a minha carreira.

Laura diz sorrindo e meu avô olha pra mim.

- Eu gostei dela, não vou te obrigar á nada... Mas é uma ótima opção!

Ele resmunga baixo e todos riem alto.

- Você não me é estranha... Me lembra alguém!

Ele diz e Laura sorri.

- Sou filha da sargento Nogueira, foi com o senhor para a Cuba na década de setenta, morreu em combate servindo o apoio de tropas brasileiras assim que nasci. Naquela época eu ainda usava fraldas, mas cresci ouvindo no seu nome, nas suas histórias, nos seus grandes feitos como militar, como pessoa, o senhor foi uma lenda, Major!

Ela diz e meu avô fica sério demais, mas ainda zomba.

- Retiro o que eu disse, por favor, case-se com ela hoje.

Meu avô faz todo mundo rir e Laura entra no embalo.

- E aí vovó... O que cozinhou pra mim?

Eu pergunto me sentando ao seu lado.

- Ah, meu filho, eu não ando cozinhando mais... Agora sua mãe assumiu meu lugar!

Ela diz sorrindo e finjo lamentar.

- Se reclamar passará fome, menino abusado!

Hella diz fingindo revolta e meu pai vai abraçá-la. Fico olhando para os dois por um momento e consigo sentir dali o amor que os dois sentem um pelo outro, e é imenso! Qual seria o segredo de tantos anos juntos? Era tão lindo vê-los assim. Os dois se olham apaixonados o tempo todo, dão beijos carinhosos discretamente e não conseguem se desgrudar, meu pai parece ter uma aura que á ilumina, parecia que minha mãe dependia de sua presença para brilhar, parecia que com ele ali perto, Hella era mais feliz, e parecia que com minha mãe ao seu lado, meu pai ficava ainda maior, ainda mais simpático, uma versão melhorada dele.

- Sim, eles ainda são um grude até hoje. Não podem ficar no mesmo ambiente que parecem um imã, se agarram e não se soltam nunca mais!!!

Luisa senta ao meu lado no sofá e olha para nossos pais.

- Como você está?

Eu pergunto.

- Melhor agora, com você aqui, obrigada!

Ela sorri pra mim e meu coração se desmancha.

- E você?

- Me sinto feliz e péssimo ao mesmo tempo, me sinto incompleto faz muito tempo, me sinto pela metade e mesmo aqui, ainda não encontrei o pedaço que perdi de mim. Talvez eu nunca consiga encontrar.

Eu digo sobre meus sentimentos com uma facilidade e depois paro pra pensar no que falei, quando eu ia me desculpar, Lulu me abraça com os olhos cheios de lágrimas e eu ainda não entendia o porquê falei tudo aquilo pra ela, para uma garota de 13 anos.

- Tudo bem, seu segredo está guardado comigo maninho, eu não ouvi nada.

- O que anda fazendo?

Eu pergunto mudando de assunto e ela me solta.

- Eu treino luta com o Rafa na academia mas só nas horas vagas. Poupo a mesada que você e o papai me dão aplicando na bolsa, e passeio com a escola de vez em quando.

Ela diz rindo e secando os olhos.

- Como aprendeu a fazer isso???

Pergunto impressionado e ela sorri.

- Vídeo-aulas no YouTube! Não é difícil não, é só curtir o assunto!!!

Ela ri e eu a abraço de novo, era tão bom quanto ruim estar em casa. A parte ruim era me despedir de minha irmã querida.

- Papai, vamos ou não???

De repente ela fala com meu pai e se levanta.

- Aonde?

Ele se solta da minha mãe e questiona.

- Ver a olhos brilhantes né, já tinha te falado, ela vai ter bebê!!!

Luisa diz abraçando minha mãe e as duas sorriem, juntas dava para ver que tinham o mesmo sorriso, os mesmos traços, os mesmos olhos, só oque mudava era a cor do cabelo, pareciam irmãs.

- Vamos minha princesa mais linda do mundo, vamos ver como ela está! Já tinha até me esquecido dela.

Ele resmunga e ela ri.

- E então, vai me levar até a casa que tinha me dito?

Laura se senta do meu lado e pergunta.

- Por que não fica com a gente Laura? Vamos fazer um churrasco na clareira. Não precisa ficar sozinha!

Minha mãe se senta no outro sofá e eu olho para Laura esperando ela decidir.

- O que acha tenente?

Ela pergunta sinceramente.

- Fica ué, você vai gostar! Acho que terá moda de viola, sei que você adora!

Eu digo sério e faço todos rirem. Não entendo o porquê, não era pra ser engraçado, era para envergonhá-la.

- Quem disse isso???

Laura se desespera.

- Vai falar mal de moda de viola dentro de uma chácara cheia de caipiras assumidos???

Eu questiono sério de novo e Laura fica vermelha.

- Para Coverick, ridículo!

Ela diz baixo e a casa toda ri mais ainda.
Gustavo começa andar pela sala e se aproxima de mim aos poucos. Coloca um aviãozinho de brinquedo no meu joelho e fica uns quinze segundos olhando para minha cara e eu não sei o que fazer.

- Oi Gustavo, agora você quer falar comigo?

Eu questiono e ele balança a cabeça, tem quase cinco aninhos, uns quatro e meio.

- Entendi.

Eu digo e sorrio pra ele.

- Gosta de aeronaves?

Ele pergunta com sua vozinha fina.

- Deixa seu primo, descansar Gustavo!

Meu avô resmunga e eu consigo sorrir só pela surpresa.

- Está tudo bem vô! Olha Gustavo, eu meio que preciso gostar já que piloto um deles todos os dias...

Eu digo e ele arregala os olhos, seus cabelos loirinhos e olhos azuis são um charme, ele era a cara de Nina.

- Qual você pilota???

Ele pergunta ainda surpreso.

- Eu piloto um R-35A Learjet, é um jato que uso para tirar fotos da mata fechada e cuidar da Floresta amazônica! Ele se chama Carcará, que é uma ave de rapina que tem uma visão incrível. Já ouviu falar nele?

Eu pergunto e ele diz:

- Claro que já, não é vovô?! Eu sei tudo sobre aeronaves! Mas o que você faz lá???

Ele questiona e eu sorrio.

- Eu cuido da floresta pra ver se não tem ninguém fazendo mal pra ela, levo medicamentos para as aldeias, transporto pacientes doentes para os hospitais da cidade, levo as provas do Enem para os índios estudarem... Vixi! Um milhão de coisas, Gu!

Eu bagunço seu cabelo liso e ele sai correndo imitando um avião.

- Dessa vez seu avô não tem culpa, é Gabi que não fala em outra coisa!

Rafa diz rindo e Gabi esconde o rosto no colo de Nina.

- Ela gosta de aviões?

Pergunto curioso.

- Não, ela é fissurada em aviões, acho que vai fazer engenharia, seu pai comprou um boing pra ela que se desmonta em um milhão de peças e ela monta e desmonta de olhos fechados, ela é brilhante!

Nina diz cheia de orgulho e Gabi olha pra ela sorrindo.

- Bom, vamos ver aonde você vai ficar Laura, estamos tão felizes por Tay estar de volta que fomos mal educados, nem acomodamos você!

Nina se levanta e Laura acompanha minha tia.
Eu dou um beijo nos meus avós e vou até o lago deixando Rafa cuidando das quatro crianças.

- Como você está? Você está bem?

Minha mãe questiona ao meu lado. Não envelheceu um ano, continua linda e charmosa.

- Eu tô bem! E você e meu pai?

Eu pergunto e ela sorri olhando o lago.

- Estamos bem. Ele continua recebendo convites informais para partir e me deixar, continua recusando todos, mas tenho medo de chegar o dia em que ele precisará aceitar um deles.

Ela diz e olha triste pra mim.

- Ele nunca fará isso.

Eu digo com certeza absoluta.

- Eu também acho, mas suspeito de que terei medo disso acontecer pra sempre.

Ela resmunga e eu a abraço trazendo ela pra perto de mim.

- Mas não devia. Devia ficar tranqüila. Ele te adora, continua olhando para você com a mesma devoção que olhava quando eu era criança, sem contar que ama Luiza de paixão. Impossível abandonar vocês aqui.

Eu digo e ela ri.

- Ele está nervoso...

Ela diz de repente.

- É? Por que? Pelo vovô???

Eu pergunto já sentindo o estresse.

- Não. Com você. Diz que você deu indícios ter sofrido em Manaus. Acha que você teve sérios problemas, está preocupado. É natural não é!? Depois de tudo o que ele passou, ele se preocupa com você.

Ela diz e olho para o lago.

- Bobagem.

- Quer me contar alguma coisa?

Minha mãe me olha com seus olhos profundos e parece ver minha alma.

- Não tem nada mãe, não se preocupe!!!

Eu falo e decido sair dali.

- Implicaram com você por ser de família de militares, por ter esse sobrenome, por ser o melhor, essas coisas???

- Entendeu a parte que não quero falar disso? Ninguém implicou comigo, não houve nada mãe!

Eu digo e ela sorri.

- Judiaram do meu bebê? Me diz que vou até Manaus colocar aqueles nojentos pra correr!!!

Ela zomba apertando minha bochecha e me abraça.

- A gente só se preocupa. Olha pra mim! Eu te amo tanto, mas tanto, mais que minha própria vida! Eu queria tanto que tivesse ficado em casa, estudado outra coisa, mas mesmo assim me sinto tão orgulhosa de você! Tay, você vai ser sempre meu bebê amado, aquela criaturinha pequena que só me fazia sorrir! Meu bebê pra sempre! Minha vida! E se eu souber que você sofre ou que sofreu naquele lugar por qualquer motivo que seja, eu tiro você de lá nem que seja a última coisa que eu faça na minha vida!!! Você é minha vida, meu príncipe querido, meu primeiro filho. Te dei a minha vida á anos atrás e estou disposta á fazer quantas vezes forem necessárias. Você é meu, nasceu daqui, faz parte de mim, e não importa que agora seja um homem, seja velho demais para ser o " bebezinho da mamãe", aos meus olhos será sempre meu bebê Tay, meu pequenino e vou te proteger!!!

Minha mãe diz e eu me seguro para não chorar como um bebê.

- Minha rainha! Eu te amo!!!

Eu digo e ela sorri.

- Mas agora me diga, o que tem com essa Laura?

Ela questiona eu sorrio.

- Nada, exatamente nada. Ela meio que está destinada ao meu amigo!

- Mas você gosta dela?

- Gosto sim, é uma amiga legal. Mas é só. Não consigo amar ninguém mãe, me relaciono com garotas mas é só coisa de pele, atração física. Não sei o que é gostar de alguém...

Eu digo e ela me faz um carinho.

- Quando ver a Ellen isso talvez mude.

- Ellen? Ellen ainda está aqui???

Eu questiono e ela afirma.

- Sempre esteve, continua morando no vilarejo, foi estudar em BH mas agora trabalha aqui para seu pai, no caso pra você. Em breve vai vê-la, espero que seja especial, bebê! Vai falar com tua amiga, vou atrás de meu marido, ainda não consigo ficar mais de vinte minutos longe dele!

Minha mãe diz, me abraça e depois de me recuperar do choque que ela disse, sobre Ellen ainda estar aqui, eu olho para o casarão e vejo Laura na janela.

- Gostou da suíte, madame?

Entro no quarto de hóspedes e lá está ela olhando pela janela. Ela veste uma calça jeans, tênis, tem seus cabelos soltos em cachos rebeldes e bonitos, e parecia uma menina. Seu corpo parecia ser uma delícia, só de olhar eu já queria provar, era loucura eu sei, ela era uma colega de base, mas que eu queria muito ah, eu queria.

- Gostei da vista!

Ela resmunga sorrindo e eu olho para a linda vista de seu bumbum na calça jeans.

- Eu também gostei.

Eu digo olhando pra ela. Ela sorri mas não me olha, continua olhando para o lago e mexe em sua medalha de identificação no pescoço.

- Não vamos ter nenhum tipo de relacionamento físico aqui, você sabe disso, então por que está me elogiando tenente?

Ela diz e pela primeira vez na vida me faz sorrir, Laura nunca teve graça. Ela me olha gostando de me ver rir também e continuamos sorrindo juntos.

- Eu sei que não vamos, mas você é muito gostosa, mais gostosa do que eu imaginava e eu sempre tive muita vontade de te ver nua e saber como você é na cama. Na verdade ainda tenho, preciso dizer... Trabalhamos juntos, te vejo todos os dias, te conheço melhor do que ninguém... Precisamos dar um passo á mais nesse nosso relacionamento, se é que você me entende!

Eu falo mas ela me interrompe.

- Cala a sua boca, que nojo!

Ela diz rindo e eu olho curioso.

- Tem nojo de mim?

Eu questiono realmente impressionado e ela fica sem graça quando toco sua cintura e me aproximo.

- Não de você em si, mas dessa possibilidade. Te vejo como um irmão, estamos juntos desde quando você ainda tinha espinha. Nunca vai me ver nua, muito menos transar comigo.

Ela diz e eu confirmo.

- Mas que eu queria, eu queria, precisava dizer isso, espero que me entenda. Pedro é um cara de muita sorte!

Eu resmungo baixo e ela sorri.

- Já teve uma época em que eu senti curiosidade á seu respeito. Mas isso foi á muito tempo!

Ela diz e me olha vermelha.

- Cala a boca, mulher!!!

Eu falo, sorrio pra ela e a abraço por trás. Laura é cheirosa e me deixa excitado, mas antes deu pensar em jogá-la na cama, me solto dela e penso bem antes de fazer uma besteira das grandes. Se eu trepasse com aquela mulher ali, como seria conviver com ela depois? Será que ela ia deixar aquilo enterrado e lidar normalmente? Ou ia se apegar e me dar trabalho? Bom, melhor não arriscar. Dou um beijo demorado em seu pescoço e desço, deixando ela sozinha.

Na sala, encontro apenas meus avós..

- Cadê todo mundo?

Pergunto e minha vó levanta os olhos pra mim.

- Eu não sei filho, mas acho que uma égua está dando cria. Eu não gosto de ver, então, foram todos pra lá.

Ela diz e fico curioso.

- Está bem, vou lá ver.

- Espera.

Meu avô que eu pensei estar cochilando de repente chama a minha atenção, assim que virei as costas.

- Que foi vovô?

Eu me aproximo dele e me ajoelho.

- Quero te dizer que já chegou a hora, em breve não estarei mais aqui, chegou a hora de você viver tudo o que você quis viver e impedi você, te privei de ser feliz. Agora não consigo mais gritar e te colocar de castigo, então se aproveite disso, esqueça um pouco de FAB e carreira militar, você já foi longe, você já me deu orgulho, você é o melhor da sua base, já orgulhou sua família, seus ancestrais. Agora viva pra você e por você! Você merece!

Ele diz e não consigo entender.

- Por que o senhor está me dizendo tudo isso???

Eu questiono e ele dá de ombros.

- Porque agora temos silêncio por aqui... Vá ver a égua! Vai...

Ele diz e não me convenço. Fico preocupado, olho para minha vó e ela assente afirmando que posso sair. Dou um beijo nele, respiro fundo, mas permaneço agoniado.

Sigo para o estábulo e vejo todos do lado de fora, olhando para dentro da cocheira.
Me aproximei, vi a égua deitada, e uma moça perto de sua cabeça fazendo carinho e conversando com ela. Ela vestia uma calça jeans que deixava suas coxas em evidência, suas botas de salto quadrado marrom vinha ate o joelho, seus cabelos escuros eram brilhantes e longos e sua blusa larga de manga comprida tinha seu cordão frouxo e deixava seu decote em evidência de um modo discreto mas que muito me atiçava. Parei para reparar na égua que agonizava antes de parir, e notei que ela parecia chorar... Era o esperado, devia estar sentindo uma dor tremenda.

- O que tá havendo? Ela vai parir mesmo?

Pergunto para Rafa e ele mal consegue falar.

- Vai, é bizarro não é?!

Ele diz e eu volto á olhar a égua.

- Bizarro não, é a coisa mais linda que existe na natureza, uma mãe dando a luz! A ordem natural das coisas, a mágica da vida!!!

A moça se levanta, olha para nós de relance e começa a colocar água em uma bacia. A égua de repente começa á relinchar, levantar o rabo, e soltar um líquido pela genitália e eu começo a entender a situação espiritual de Rafael que acabava de sair dali quase correndo.

- Esse Rafa é um frouxo mesmo.

Meu pai diz e todo mundo dá risada. Apenas Nina que bate forte no braço dele e finge estar emburrada com seu comentário.

- Não fala nada pai, por que tô quase fazendo a mesma coisa.

Eu digo e ele ri mas finge ficar bravo. Nesse momento vejo a garota que cuidava da égua, parar de mexer nos instrumentos cirúrgicos e olha pra parede, foi numa fração de segundos mas eu notei. Rapidamente ela volta á si como se nada tivesse acontecido e continua examinando a égua.

- Temos quanto tempo, doutora???

Meu pai questiona parecendo impaciente e a mulher se levanta para olhar pra ele. Ela é a mulher mais linda que já vi na minha vida.

- Max, da última vez que perguntou faltava uns vinte, agora falta dezenove.

Ela diz fazendo minha família toda zombar do meu pai, eu olho pra ele curioso e noto algo raro, uma garota tinha feito meu pai sorrir descontraído.

- Estou pensando seriamente em contratar outra veterinária...

Ele diz e ela volta seu olhar para meu pai.

- Melhor do que eu não encontrará.

- Olha Papai!!!

Luisa aponta para a égua e a cabeça do potrinho já aparecia.

- Nossa que demais!!!

Tia Nina resmunga e todos concordam.

O potrinho escorrega e seu pescoço já aparecia com as patas dianteiras, depois o restante do corpo, e logo as patas traseiras. Ele tentava levantar e se aproximar de sua mãe, mas suas patas não ajudavam, ficava cambaleando e cambaleando o tempo todo. A veterinária retirou a placenta que estava pendurada, guardou em um saco de lixo devidamente lacrado, e continuou seu trabalho.

- O cordão umbilical? É você quem corta?

Eu pergunto e ela não me olha nos olhos para responder.

- Não, o intuito é a olhos brilhantes se levantar e ele romper na hora, mas se ela não fizer isso, é meu trabalho resolver!

Ela dizia com cordialidade, mas não tanto quanto como falava com meus familiares. E assim que eu paro de pensar nisso, a égua se levanta e rompe o cordão. Penso que ela vai olhar pra mim e dizer "eu falei" como qualquer um faria mas a veterinária gata me ignora completamente. Meu pai me olha de um jeito que não entendo e eu ignoro.

- Como vamos chamá-lo Lulu?

Ela chama minha irmã do jeito que só eu chamo e Luisa sorri pra ela.

- Que tal Sereno? Ele pareceu bem Sereno, nem chorou ao nascer!

Ela diz fazendo todos sorrirem.

- Então Max, ela vai ficar em repouso, por três á quatro dias, vou ficar na cabana esses dias e com o rádio ligado caso você note algo diferente e eu esteja na clínica. Vou mudar a dieta dela só pra feno e cenoura, e me certificar de que o potrinho mame o colostro, alguns bebê se recusam assim que nasce e é de extrema importancia que ele já mame desde agora então vou cuidar disso, de resto, agora é aguardar. Olhos brilhantes e Sereno ficarão bem...

Ela diz e sorri para meu pai e minha mãe.

- Você é veterinária???

Eu pergunto e ela me olha rapidamente. É simpática e educada na medida certa, mas não me dá muita bola, e não gostei nada nada disso, não estava acostumado a ser tratado sem assédio por mulher nenhuma, desde que me conhecia por homem, toda mulher que eu me aproximava - tirando as da minha família - ficavam de pernas bambas.

- Sou, cursei na UFMG trabalho aqui faz alguns anos. Na verdade desde criança, eu meio que moro por aqui... É provável que você não se lembre!

Ela fala de um jeito que meu coração sangra e na mesma hora a vontade de chorar me invade de uma maneira quase incontrolável. Como eu poderia não reparar no cheiro de lavanda que invadia aquele lugar? Como ignorei os sinais que estavam ali? Me recomponho mais lentamente que ela, obviamente ignoro a dor em meu coração, mantenho o foco e respondo.

- Se a gente se viu quando criança com certeza me lembrarei, chega aqui mais perto de mim, deixa eu olhar pra você!

Ela que estava abaixada, pareceu meio que travar na hora, mas logo se recompôs, pois é, Ellen era rápida. Minha família de repente "desapareceu" e eu só enxergava nós dois ali.

- Claro...

Ela diz, se levanta, limpa as mãos na calça jeans e se oferece para me cumprimentar. Aperto sua mão macia e meus olhos vão da sua mão estendida até seu decote decorado com um colar da medalha de nossa senhora aparecida que pertenceu á minha mãe, e o anel que dei pra ela, cujo seu par estava até hoje pendurado junto com a minha placa de identificação da FAB, no meu pescoço - naquele momento, mais precisamente, dentro de minha blusa - . Eu travo, me sinto estranho e a pequena história que tive com aquela mulher passa pela minha cabeça naquele mesmo momento, nossa noite juntos, nossa viajem, nossas mensagens e declarações gostosas e tão juvenis, e por último a noite em que eu parti seu coração de uma forma cruel. Mas ali na minha frente não tinha mais uma roceira inocente, apaixonadinha pelo filho dos patrões de seus pais. Ali na minha frente tinha uma mulher linda, forte, educada, inteligente, feminina, sexy, e com o olhar mais misterioso que já vi na minha vida. Ellen só me olhava e eu já queria tomá-la pra mim, queria levar ela embora dali para que ninguém olhasse pra ela, pra que ninguém a tocasse, ninguém pudesse machucá-la de maneira nenhuma e fosse propriedade minha, pra sempre. Eu estava completamente perturbado.

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