Respirei fundo três vezes, ensaiando para tocar a campainha do pequeno apartamento que eu ainda nem conhecia. Quando finalmente tive coragem de apertar o pequeno botão a minha frente, senti minhas mãos ocupadas suarem e me vi vergonhosamente nervoso.
Desejei acender um cigarro para desestressar ou para ter algo em minhas mãos que não soasse tão patético quando aquela caixa de pizza e o sorvete, principalmente quando ouvi sussurros e vozes se aproximando. Bati o pé rapidamente contra o chão até que o som que indicava que a porta estava sendo aberta me fez paralisar.
– O que você está fazendo aqui? – os olhos perfeitamente azuis e levemente irritados de Perrie me fitavam em surpresa.
– E-eu. – me endireitei e tossi, limpando a garganta como uma forma de fazer minha autoconfiança voltar. – Vim fazer uma visita a Elisa.
– Eu não quero você aqui. – a beta iniciou, mas foi interrompida pela voz de sua pequena.
– Zayn! – a garotinha disse animada, vindo correndo até a porta. – Isso é para mim? – ela disse apontando para o que estava na minha mão.
– Depende, você gosta de pizza e sorvete? – ela assentiu freneticamente, me fazendo abrir um sorriso. – Então vamos deixar sua mamãe decidir se eu posso entrar ou não. – nós dois olhamos piedosamente para a garota, que me fuzilou com os olhos antes de dar passagem, sem ainda me dizer uma palavra.
– Nós podemos comer na sala, mamãe? Por favorzinho... – a garotinha de pijamas pulava de um lado a outro, chamando a atenção de Perrie que ainda parecia extremamente desconfortável.
– Tudo bem, nós podemos. Eu só vou conversar rapidinho com o Zayn, nos espere aqui, tá amor?
Deixei as coisas sobre o balcão de entrada rapidamente enquanto ela me puxava pelo braço em direção à cozinha, me fazendo sorrir maliciosamente, mesmo que meu estômago estivesse fazendo loops esquisitos.
– Isso é tão nostálgico, Pezz. – disse em referência ao fato dela ter feito a mesma coisa no dia da festa.
– Primeiro, não me chame de Pezz! – ela finalmente me soltou, soltando toda a sua fúria. – Segundo, por que você acha que pode vir até a minha casa e subornar a minha filha por causa de uma transa. Ah, me poupe, Zayn, você é melhor do que isso. – eu ia respondê-la quando Elisa entrou no cômodo, nos encarando com olhos assustados.
– Vocês estão brigando? – ela caminhou hesitante na direção na mãe, abraçando suas pernas logo depois. – Nós podemos comer na cozinha, não precisa brigar com o Zayn por causa disso, mamãe. – sua voz estava embargada, fazendo um sentimento até então desconhecido por mim, brotar em meu interior.
– Nós não estamos brigando, pequena. – eu disse me ajoelhando ao lado dela.
– É, meu amor, está tudo bem. – Perrie completou. – Eu vou guardar o sorvete e já volto para a sala para jantarmos, tudo bem? – Elisa assentiu. – Por que não mostra seu novo quebra-cabeça ao Zayn? – seu rosto pareceu se iluminar e ela agarrou minha mão.
– Terei direito de resposta mais tarde? – eu perguntei a Perrie que assentiu ainda com expressão séria e eu me deixei ser puxado pela garotinha a minha frente.
Peguei Elisa em meu colo, jogando-a para o alto no processo, fazendo-a soltar um gritinho agudo e rir logo depois. Fiz cócegas em sua barriga e gargalhamos juntos antes de colocá-la no chão.
– Olha, Zayn, mamãe me deu um quebra cabeças do Homem de Ferro hoje, nós estávamos montando. – eu me sentei no chão ao lado dela, que estava animada demais mostrando as dez peças grandes espalhadas pela sala. – Você quer me ajudar?
– Claro que sim, mas eu não sou muito bom nisso, você terá que me ensinar. – ela bateu palminhas animadas concordando.
– Venha também, mamãe.
Perrie se sentou do outro lado da garota e ela foi nos guiando para a montagem do quebra-cabeça, me deixando extremamente impressionado com sua inteligência para a idade.
Era engraçado ver a carinha brava de Elisa quando eu encaixava uma peça errada, um biquinho fofo se formava e ela falava decidida e mandona como a mãe. Mas quando eu fazia uma expressão triste, ela corria para me dar um beijo na bochecha e dizer que iria me ensinar a fazer certo.
Elisa era alguém inexplicável, que fazia nascer em mim sentimentos que eu desconhecia, mas que amava como nunca amei antes. Eu era alguém melhor perto da pequena garota de olhos azuis e eu não queria mais me afastar.
Nós comemos após terminar de montar o brinquedo e foi engraçado ver a pequena bagunça que Elisa fez, ganhando reclamações de sua mãe. A hora do sorvete foi a melhor e eu descobri que o meu sabor de sorvete favorito, também era o da garotinha. O que fez Perrie reclamar por ser voto vencido ao gostar de chocolate e não morango como nós dois.
Elisa pegou dois de seus bonecos de ação, Thor e Mulher Maravilha, dando um para que eu brincasse com ela, enquanto sua mãe, limpava a sujeira que tínhamos feito.
– Você gosta muito de heróis, não é? – eu questionei.
– Sim, muito. Mais do que das princesas.
– Mas você é uma princesinha. – eu disse a encarando e vendo-a negar com a cabeça.
– Eu sou uma heroína! É o que a mamãe me diz todos os dias. Ela diz que eu salvei a vida dela e eu quero salvar o mundo todo. – ela fez um grande círculo com os braços e eu senti meu coração acelerar em felicidade.
– Posso te contar um segredo? – ela assentiu e eu a puxei para que sentasse em meu colo, com seu rosto curioso em frente ao meu. – Você salvou o meu dia hoje também. – nós trocamos sorrisos felizes. – Eu estava triste e sozinho e agora eu estou aqui brincando com você, com sua mamãe e vendo esse sorriso lindo que você tem. – apertei sua bochecha e ela gargalhou.
– Zayn, eu posso te chamar por um apelido? – ela disse enquanto suas mãozinhas gordas apertavam minhas bochechas e acariciavam meu rosto. – Seu nome é muito sério. – eu ri fazendo um biquinho de peixinho enquanto ela me apertava.
– Do que você quer me chamar? – Perrie se sentou no sofá próximo a nós e me lançou um olhar de advertência, afinal, nós dois sabíamos no que essa conversa podia resultar, embora eu não tivesse mesmo me importando com isso.
– Zayne? Zee? – ela parecia confusa, enquanto continuava a explorar meu rosto com suas mãozinhas.
– Minha irmã mais nova costumava me chamar de Zayne, antes de achar que é grande o suficiente para não precisar mais disso. – eu ri.
– Vou usar os dois. – ela disse decidida. – Nós podemos assistir Frozen agora?
– Achei que você preferisse os heróis às princesas.
– Eu prefiro, mas é a Elsa! – ela disse como se isso por si só dissesse alguma coisa.
– Já está tarde, Lisa. – Perrie interferiu. – Você tem que dormir. – ela passou as mãos pelos cabelos da filha.
– Por favorzinho, mãe! Nós nunca temos visita. – senti meu coração afundar no peito e olhei para a beta, que desviou o olhar, visivelmente constrangida. – Me deixe aproveitar hoje.
– Por favorzinho, Pezz! – eu usei seu apelido e a vi revirar os olhos.
– Tudo bem. – a garotinha bateu palminhas, comemorando. – Mas vocês vão ter que ficar quietinhos assistindo, ok?
Nós dois assentimos juntos e ela riu, indo colocar o filme escolhido pela filha. Me ajeitei no sofá quase me deitando sobre ele, já que Elisa continuava em meu colo e se ajeitava sobre meu peito para se concentrar no filme. Eu a abracei ainda mais sobre mim e nós ficamos em silêncio, sob o olhar agora doce que ocupava os olhos de Perrie.
Eu não sei quando exatamente acabei pegando no sono, mas acordei depois de um tempo, com o sussurro de Pezz próximo a meu ouvido, fazendo meu corpo arrepiar-se. Eu abri os olhos lentamente e a encontrei próxima a mim, olhei para baixo e vi que Elisa dormia sobre meu peito, agarrada ao tecido de minha camisa.
– Eu tenho que levá-la para o quarto. – a beta insistiu.
– Deixa que eu faço isso. – eu disse com a voz um pouco rouca pelo sono rápido e ela assentiu.
Levantei-me lentamente, tomando cuidado para não acordá-la e segui a mãe da garota pelo corredor pequeno do apartamento. Entramos um quarto que tinha a iluminação mais baixa, apenas feita por abajures, as coisas estavam extremamente organizadas, principalmente os brinquedos e ursos de pelúcia.
Tentei deitar a pequena garota no berço com lençóis e cobertores com detalhes de ursos coloridos, mas sua mãozinha agarrava minha camisa muito forte, o que fez com que eu e Perrie ríssemos enquanto tentávamos fazê-la desgrudar de mim. Quando finalmente a deixei sobre o colchão, acariciei seus cabelos e sussurrei um "boa noite" antes de dar espaço para que a mãe beijasse os cabelos e terminasse de ajeitar a filha.
– Nós podemos conversar agora? – eu pedi quando já estávamos de novo na cozinha.
– Olha, Zayn, está tarde, acho melhor você ir embora.
– Não, eu não vou embora antes de conversar com você e esclarecer as coisas, quer dizer, você me acusou de me aproximar de você por causa de sexo e colocar sua filha no meio disso tudo. Que tipo de canalha você acha que eu sou? – aquilo realmente tinha me ofendido.
– Eu só acho que você tem que ter consciência de que eu não posso trazer qualquer um para a vida da minha filha. Você viu o que ela fez. Ela é carente, ela se apega às pessoas. Eu não posso trazer o caso de uma noite para a vida dela e vê-lo partir na manhã seguinte. E você já fez demais! Eu nem quero pensar no que vou dizer para ela quando você não aparecer mais.
– Aí é que está. Por que eu tenho que sumir? Qual o problema de continuar na vida dela?
– Não ache que eu sou idiota, Zayn. – sua voz estava realmente magoada agora. – Eu já fui idiota o suficiente uma vez e já paguei por isso.
– Eu não estou te pedindo em casamento. Pelo menos não ainda. – ela revirou os olhos. – Eu só quero que você me dê uma chance. Eu sei que eu sou um idiota, naquele dia mesmo eu fui um idiota por te deixar lá e nem procurar saber seu nome direito. E acredite, eu já fiz coisa muito pior para muita gente. Eu sou egoísta, mimado e um grandessíssimo idiota, eu sei de tudo isso. Sei que você deveria procurar alguém de verdade, talvez um alfa ou beta bem colocado socialmente, mais velho e responsável, e que realmente sabe o que quer da vida. – eu confessei, suspirando ao ser atingido por aquilo que nem eu mesmo pensava que carregava comigo. – Mas algo em você me faz querer mudar. Algo em Elisa me faz querer mudar! Eu sei que estou te pedindo muito e entenderei se você disser que não. Eu até te prometo que nunca mais chego perto de vocês duas se você disser não. Mas eu estou pedindo encarecidamente para que você não saia da minha vida e para que não tire Elisa dela. – nos encaramos por longos segundos, ela parecia avaliar minhas palavras ao mesmo tempo em que me deixava um pouco mais apaixonado por me perder em seus olhos profundamente azuis.
– Não faça com que eu me arrependa, Zee. – ela usou o apelido que eu ganhei mais cedo e sorriu, antes de me puxar pela camisa e colar seus lábios aos meus.
Essa noite, eu selei meu compromisso de mudança. Essa noite, eu conheci minha nova vida. Essa noite, eu enterrei meus fantasmas do passado e me encontrei com meu futuro e ele vinha em forma de uma bela dama e uma garotinha sorridente que salvou não só o meu dia, mas a minha vida toda.
X
Eu não sei se ficou claro o suficiente, mas eu quero dizer que a responsável pela mudança do Zayn é a Elisa, a Perrie apenas faz parte do processo.
A Elisa ainda é novinha, mas eu não gosto muito de escrever/ler sobre bebês que falam errado, então eu coloquei apenas alguns elementos.
Sobre o Zayn, tenho certeza que ele será o melhor pai do mundo <3
Espero que tenham gostado.
XO