Os Óculos Indesejados de Ilya...

By carlosmrocha

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🏆 VENCEDOR "THE WATTY 2019" NA CATEGORIA FICÇÃO CIENTÍFICA 🏆 Ilya Gregorvich tem uma mente brilhante para... More

Mapa e avisos antigos - ATUALIZADO(2)
Prólogo
Parte 1
1 - Os óculos, o veterano e a garota
2 - Espelhos, trens e memórias.
4 - Turma do alojamento
5 - Broncas e memórias de broncas
6 - Masha Flammoc
7 - Clínica Podco
8 - Caminho para Kassev
Parte 2
9 - Incrimindados
10 - O segredo de Orgeila Bertonk
11 - O sonho de Ilya
12 - Mik
13 - Confronto no bosque
14 - O maltisseíta
15 - Reencontro com Marya
16 - Enfermaria
17 - O travesti
18 - A agenda de Wolchkin
19 - Confronto com o Monstro
20 - De volta ao Campus
21 - O segredo de Ilya
22 - Fuga impossível
23 - Passado sombrio
24 - Kólia Semiónytch
25 - O Retorno do Agente Oleksei
Parte 3
26 - A Usina
26 - A usina (estrutura antiga)
27 - Caverna do dragão
28 - Retorno a Voln
29 - Marya em apuros
30 - Rapto esclarecido
31 - Confronto final
Epílogo
Nova capa e novidades
Aviso importante II - ATUALIZADO
Vencedor do Wattys 2019

3 - O funeral de um estranho

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By carlosmrocha

As recordações de Ilya o distraíram por tempo suficiente, fazendo a viagem passar num instante. Havia chegado à estação do Bom Gênio, ponto final daquela linha. Saindo da estação, Ilya avistou o cemitério no alto de uma colina. Verificou o horário no relógio da torre da estação. Ainda estava em tempo, mas o enterro seria logo mais. Subiu a colina a passos largos e, apesar do frio cortante no rosto, suava por debaixo das roupas.

A entrada do cemitério era um arco de mármore com estátuas dos quatros sábios Elkins, cabeças do movimento que expulsou os Wlegdars há muitos séculos. Elkins e Wlegdars não eram humanos, mas tinham formas semelhantes. Eram seres magros, de crânios protuberantes e mãos com apenas quatro dedos alongados.

Na medida em que avançava para o grande agrupamento de pessoas, sentia um forte frio na barriga. Estava ansioso quanto a encontrar a pessoa para quem iria devolver os óculos e o que diria. Mas, inconscientemente, o nervosismo o dominava, pois ali também era o local onde seus pais foram sepultados. Em instantes, Ilya sentiu-se como um peixe fora d'água. Não conhecia ninguém ali, tão pouco se sentia vestido para a ocasião.

Numa placa lia-se "Orgeila Vassilyvich Bertonk". Ilya procurou espaço entre as pessoas para penetrar na saleta na qual o corpo de Orgeila era vigiado. O caixão de madeira escura estava fechado. Ao seu lado, uma senhora idosa com um lenço vermelho sobre a cabeça apoiava uma das mãos sobre a madeira lustrosa do tampo. Sua expressão era de tristeza. Olhava para baixo e murmurava algo, possivelmente um mantra.

Ilya tomou coragem e interpelou-a.

Ela o examinou como se tentasse lembrar quem era aquele rapazote. Depois de um momento de pausa e de desistir de adivinhar quem ele era, retrucou – Sim?

– Meus pêsames pela perda do Sr. Bertonk.

– Obrigada.

– Eu vim para devolver isto. – Ilya ofereceu os óculos para a senhora. Ela aceitou com certa curiosidade.

Enquanto ela os examinava Ilya deu uma olhada a seu redor. A câmara tinha um piso escuro e lustroso iluminado pelo reflexo de fracas lâmpadas taumatônicas no lugar de velas de um par de grandes candelabros. Aquele cheiro forte de desinfetante incomodava um pouco.

– Do que se trata? – ela perguntou.

– Os óculos do Sr. Bertonk.

– Óculos de Orgeila? Como assim?

Antes que Ilya pudesse falar, teve que aguardar enquanto a senhora recebia condolências de pessoas do trabalho de Orgeila. Uma delas ficou olhando muito para os óculos fechados nas mãos da viúva. Ilya então pode retornar e explicou que o sobrenome dele estava gravado na parte interna da haste.

– Oh, é verdade, mas não me lembro destes óculos. Como se chama, rapaz?

– Ilya Gregorvich.

– Tome Ilya, não quero isto.

As orelhas do rapaz ficaram muito vermelhas de raiva, ou então, de vergonha. Todo o trabalho que teve, a consulta médica cancelada, e agora isto? Relutantemente, Ilya pegou os óculos de volta.

– De qualquer forma, – disse a senhora chorosa – obrigada pela atenção e pelo trabalho de vir até aqui.

– Por nada. – disse e virou-se. A surpresa foi chocante. Ilya deparou-se com um retrato exposto de Orgeila afixado na extremidade oposta da sala. Era um homem gordo, de fartas barbas e totalmente diferente do homem que havia visto morrer no dia anterior. Como se duvidasse de seus olhos, perguntou a um homem que estava diante de si.

– Com licença, senhor, mas aquele retrato é do Sr. Bertonk?

O homem fez uma careta de estranhamento e respondeu – Sim! Como não?

Várias possibilidades correram a mente do rapaz naquele momento. Seria apenas uma coincidência? Coisa mais esquisita! Um homem magro bate as botas e deixa cair um par de óculos com o nome Bertonk gravado. No mesmo dia, morre outra pessoa com o mesmo nome.

– Desculpe-me, – perguntou a um homem mais jovem – o Sr. Bertonk faleceu quando?

– Na noite de antes de ontem.

– A causa da morte?

O rapaz fez uma careta e em seguida deu com os ombros – Acidente de trabalho. Uma descarga de energia, pelo que dizem. Algo defeituoso na subestação do prédio do ministério.

– O Sr. trabalhava com ele? – indagou Ilya.

– Sim.

Ilya mostrou os óculos – Já viu o Sr. Bertonk usando estes óculos?

– Sim, sim! Em algumas ocasiões nos últimos meses.

– Tentei devolver para ela, – indicou – mas ela não quis. Parece até que ela nunca havia visto os óculos.

– Pobre viúva. A Sra. Bertonk está passando por um momento difícil. Talvez por isso não tenha aceitado os óculos.

– Entendo.

– Mas como achou os óculos?

Ilya respondeu com outra pergunta – De qual ministério falava mesmo?

– Ministério da Energia.

– Pois, então, achei-os próximo de sua entrada. – mentiu Ilya – O Sr. Bertonk deve tê-los deixado cair.

– Entendo, mas como veio parar aqui rapaz, pode me responder?

– Havia um nome gravado nos óculos...

– Sim?

"Pense! Pense rápido!" Ilya batia os pés de nervosismo – Eu fiz uma ligação e me informaram de seu falecimento.

– Ah sim, claro.

– Bem, preciso ir.

Alguma coisa estava errada, ele sabia disto. Não fazia ideia do que era, mas sabia. Ao sair do local, percebeu que um homem também saiu vindo em sua direção. Foi um dos que interrompeu sua conversa com a viúva. Andava de uma maneira peculiar, que Ilya achou gozada, em princípio. Vestia um chapéu e sobretudo negros.

– Ei, rapaz. – chamou com uma voz grave e rouca que aparentava mais idade.

Ilya parou – Sim?

– Como conhecia o Sr. Orgeila Bertonk?

Ilya sentiu-se intimidado, não só pela aparência, mas também pela atitude do homem.

– Não conhecia.

– Então, o que faz aqui, posso saber?

O rapaz sacou os óculos e segurou-os sobre uma das lentes, deixando a outra à vista.

– Vim devolver estes, mas ganhei-os de presente.

– Mesmo? – o homem se aproximou até ficar incomodamente próximo.

– Sim. – Ilya engoliu seco.

– Posso vê-los? – ele estendeu a mão com a palma para cima.

Ilya deu com os ombros e, no momento em que passou os óculos para a mão do homem, viu algo que provocou calafrios. Através da lente, o rapaz viu, no lugar da mão e dedos sadios do estranho, um esqueleto coberto por carne purulenta.

O homem examinou os óculos, sem perceber a súbita perplexidade do jovem.

– Muito bonitos! Gostaria de comprá-los.

– É mesmo? Que bom.

– Que tal cem Firas?

– Cem? Não sei. Parece coisa de colecionador. Eu pensei em levá-lo a uma loja para avaliá-lo.

– Que tal quinhentas Firas para poupar-lhe este trabalho? – sugeriu o homem deixando transparecer certa avidez.

– Uma boa oferta, mas não. – Ilya tomou os óculos da mão do homem. Neste momento, as pessoas começaram a sair do velório para o cortejo final.

– Tome, rapaz, fique com este número. Gostei muito dos óculos e gostaria de comprá-los. Quando souber seu valor, não deixe de me ligar.

– Claro! Obrigado, senhor, agora tenho que ir.

Ilya saiu apressado descendo a colina enquanto o homem ficou a observá-lo com uma expressão sinistra. O cartão dele estava gelado em suas mãos. Ilya teve uma sensação funesta e teve certeza: aquele homem não era uma pessoa normal. Antes de guardar os óculos, ele fingiu amarrar os cadarços e aproveitou para dar uma olhada através das lentes misteriosas. A visão foi chocante e fez sua respiração acelerar. No lugar do homem, havia um monstro de olhos perversos. O que era aquilo? Ilya levantou-se assustado e não conseguiu evitar acelerar o passo. Depois de passar pelo arco de saída, viu-se a correr loucamente para a estação. Estava apavorado!

Já a bordo do trem, sentiu-se mais seguro. Havia alguma coisa com aqueles óculos. "Sim!", ele pensou "É um artefato taumatônico. Mas onde estará sua bateria?".

Ilya examinou os óculos procurando por uma bateria manótica, sem sucesso. O coração ainda pulsava acelerado. O que seria aquele monstro afinal? Ao trazer imagens da criatura à sua mente, foi afligido por uma forte dor de cabeça. Tão forte que fez curvar-se sobre si mesmo. Guardou os óculos no bolso e sua vista escureceu. Havia desmaiado.

Ao despertar, viu vultos e percebeu que havia uma aglomeração de pessoas ao seu redor.

– Olhe, ele está acordando. – uma voz disse.

– Ei, rapaz, você está bem? – indagou a voz de um senhor idoso.

As pessoas ao seu redor estavam fora de foco, mas percebeu que ainda estava no trem por causa da vibração que sentia nas costas deitadas no pavimento.

– Sim, acho que sim. – Ilya disse aceitando ajuda oferecida para levantar-se.

– É tão magrinho. – escutou uma senhora comentar da parte posterior do vagão. – Isso é falta de alimentação, é isso que é.

– Obrigado. – disse e sentou-se ao lado do senhor que ofereceu ajuda. Passou a mão contra a testa. Sua face estava vermelha e veias altas saltavam-lhe nas têmporas.

– Tem certeza de que está bem? Pois não parece... – o senhor barbudo e grisalho estava preocupado.

– Sim, sim. Já vai passar. – retrucou Ilya tentando transparecer normalidade, mas no fundo estava assustado e não se sentia tão bem assim.

– Devia ver um médico. – sugeriu o senhor.

– Sim, na realidade, perdi uma consulta hoje.

– Então, rapaz, cuide-se e não perca suas consultas!

– Obrigado, novamente.

– Imagine! – retrucou o velho.

Assim que as dores de cabeça diminuíram, Ilya levou as mãos ao bolso preocupado. Ficou aliviado em perceber que estavam intactos. "Ótimo! Não quebraram..."

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