Alfonso conduziu Anahí pelo jardim certificando-se de que ninguém os tinha visto.
- Marido... Você tem certeza que não nos viram? - Anahí perguntou e a lembrança do que haviam acabado de fazer bastou para deixa-la constrangida.
- É claro, meu amor, não vê que o jardim está deserto? - ele parou e virou de frente para ela. - Não se preocupe ok? - a beijou. - Além do mais somos marido e mulher, não estávamos fazendo nada demais.
- Oh sim, não fizemos nada de errado. - desdenhou.
Alfonso riu de sua observação e a trouxe pra perto. Seus lábios cobriram os dela num beijo mais demorado.
O barulho de alguma coisa se quebrando os fez se afastar.
- O que foi isso? - Anahí olhou em volta.
Alfonso olhou em volta procurando a origem do som. Passos foram ouvidos e Christian saiu da escuridão, a forma desequilibrada com a qual andava, quase derrubando um vaso, deixou claro seu estado.
- Ora, ora! - ele sorriu debochado, segurando uma garrafa. - Aproveitando o baile?
- Está bêbado primo. - Alfonso observou desgostoso.
- Você também estaria se estivesse no meu lugar. - resmungou. - Mas ao contrário de mim você se casou com uma dama. - usou a garrafa para apontar Anahí. - Pelo menos é o que todos acreditam. - debochou.
- Não vou permitir que ofenda minha esposa. - Alfonso levantou o tom de voz, colocando Anahí atrás de si.
- Todas as mulheres não prestam, você acredita que ela ama você? - Christian se inclinou na direção de Alfonso. - Só se casou com você pelo seu dinheiro, primo. Assim como a Angelique.
- Vou desconsiderar o que está dizendo devido ao seu estado, mas não volte a repetir tais calunias. - Alfonso respondeu, e apesar da raiva estava conseguindo manter a calma.
Anahí encarou Christian e a única coisa que sentiu foi pena. Sabia muito bem o que era casar-se obrigada, pelo menos ele tinha na bebida uma forma de se consolar.
- É melhor entrarmos, marido. - Any cochichou para Alfonso.
- Não posso deixa-lo assim. - Alfonso se virou para ela. - Entre você, meu amor, não irei me sentir bem se meu primo voltar ao baile e fazer um escândalo. Isso pode prejudicar meu tio e toda nossa família.
- Está bem, mas o que digo se me perguntarem sobre você?
- Diga que não demoro.
Christian resmungou alguma coisa e se apoiou no vaso, as pernas bambas incapazes de mantê-lo de pé. O vaso tombou para o lado se partindo em pedaços, fazendo Christian ir ao chão.
- Oh meu Deus! - Anahí exclamou.
- Volte para o baile, vou ver o que posso fazer pelo meu primo.
- Deixe-me em paz Alfonso. - Christian tentou empurrá-lo.
- Creio que já bebeu o suficiente, vamos. - Alfonso o puxou, obrigando-o a ficar de pé.
Anahí suspirou quando os dois passaram por ela. Com Christian abominando tanto aquele matrimônio, Angelique acabaria sofrendo as consequências.
Quando Anahí voltou para o castelo as pessoas ainda dançavam, bebiam e conversavam. Viu uma família de Duques se despedir de Angelique e do rei e da rainha. Pela expressão no rosto de Filipe, ela percebeu que o sumiço de Christian estava começando a ser notado. Provavelmente na manhã seguinte todos na cidade estariam comentando sobre a forma como Angelique fora abandonada no próprio baile.
- Como se sente querida?
Anahí virou-se para Elizabeth desviando sua atenção de Angelique.
- Bem, não voltei a me sentir enjoada. - sorriu e acariciou a barriga.
- Que bom, fico feliz em saber. Meu filho onde está?
- Ele está cuidando de algo, não vai demorar. - sorriu. - Sogra, quando estava grávida de Alfonso sentia-se muito indisposta? - usou a pergunta para distraí-la.
- Nos primeiros meses sim. Eram muitas náuseas, enjoos e às vezes sentia muito sono. No final da gestação tinha muita dificuldade para dormir. Alfonso, mesmo quando estava em minha barriga era muito agitado. Mexia-se a todo momento quanto eu me deitava. - sorriu.
- Não vejo a hora de ver minha barriga crescer e sentir o bebê mexer.
- Ah querida não se preocupe. Quando se der conta estará com seu bebê nos braços. - sorriu.
- Espero que mesmo que não demore. - encarou a barriga e a cobriu com ambas as mãos.
Alfonso pegou a xícara de chá que estava na mesa e entregou à Christian.
- Não quero! - seu primo resmungou.
- Não estou perguntando se queres. Os convidados estão começando a ir embora, precisa estar bem para pelo menos despedir-se deles. Este chá de ervas irá despertá-lo.
- O que está havendo aqui? - Christopher perguntou ao entrar na cozinha.
- Nosso primo bebeu além da conta, ajude-me para que ele possa voltar ao baile. Ou ao que restou dele.
Christopher se aproximou e junto com Alfonso os dois obrigaram Christian a beber todo o chá. Por fim os três voltaram ao baile conseguindo aproveitar os últimos momentos da festa.
Horas mais tarde após banhar-se e vestir-se com a camisola Angelique foi deixada no quarto que dividiria com Christian. Ao entrar em seu aposento, ela ficou deslumbrada com o tamanho do quarto, a cama, a cômoda e o guarda-roupa. Ao abrir as portas duplas seus olhos brilharam ao ver a quantidade de vestidos.
A porta se abriu assustando-a e Christian entrou.
- Não se preocupe, apenas vim buscar minhas vestes de dormir. - respondeu sem encará-la.
Angelique o encarou enquanto Christian ia até o guarda-roupa. Sem lhe dar atenção ele pegou algumas roupas e fechou a porta bruscamente.
- Boa noite! - desejou friamente e foi em direção à porta.
- Não irá passar a noite comigo?
- Não! - Christian se virou e a encarou pela primeira vez.
- Mas é nossa noite de núpcias!
- E por que devo preocupar-me? Encarregou-se muito bem para que eu a tomasse como esposa muito antes de ser seu marido. - Christian a encarou cheio de ironias. - Já és uma princesa, tens o que queria, não há mais nada em que eu possa servi-la. - se curvou diante dela, e em seguida lhe deu as costas.
Quando a porta bateu e Angelique ficou sozinha no quarto, lágrimas começaram a escorrer pelo seu rosto, mas ela não soube dizer porque estava chorando.
Na manhã seguinte Filipe e Isabel levantaram-se de sua cadeira quando as portas se abriram e Derrick entrou. Em sinal de respeito ele se curvou diante dos dois.
- Majestades!
- Como vai senhor James? - Filipe perguntou.
- Bem majestade. - Derrick sorriu. - Perdoem-me aparecer assim, mas tenho um assunto urgente para tratar com ambos e a verdade é que não posso mais esperar.
- Por favor, qual é o assunto importante?
Derrick respirou fundo e soltou o ar devagar, preparando-se para o que estava prestes a dizer.
- Gostaria de pedir a permissão de ambos para cortejar a senhorita Maite.
- Cortejar minha filha? - Filipe questionou.
- Sim majestade. - Derrick assentiu.
- Mas eres um camponês e minha filha uma princesa. - Filipe respondeu sentindo-se insultado. - Maite deverá casar-se com alguém da mesma posição que ela, um jovem de posses, talvez herdeiro da coroa, para que assim, ambos os reinos selem um acordo através do casamento.
- Majestade não sou mais um mero plebeu, se me permite, gostaria de lhe mostrar isto. - Derrick lhe estendeu um pergaminho.
Filipe tomou o pergaminho da mão dele e desfez o laço que o mantinha fechado.
- Compraste um título de nobreza. - Filipe o encarou com desdém.
- Sim, sei que não é muito, infelizmente só pude comprar o título de Conde. Vossa majestade sabe que para conseguir os outros é necessário grau elevado de parentesco. Mas como Conde posso oferecer um futuro digno para sua filha.
- Como pode chamar de futuro digno rebaixá-la desta maneira? - Filipe jogou o pergaminho no chão. - De Infanta, na linha de sucessão da coroa à Condessa? Só podes estar zombando de mim.
- Majestade, eu lhe juro que amo sua filha e ela corresponde à meus sentimentos.
- Virgem Santíssima. - Isabel suspirou manifestando-se pela primeira vez.
- Agora percebo o grande erro que cometi acolhendo vossa família. Primeiro meu filho desposa sua irmã e agora queres fazer o mesmo com minha filha? Isto eu não irei permitir. Não irei aceitar ser humilhado desta forma, ver minha filha e toda uma geração rebaixados desta maneira.
- Majestade...
- A partir deste momento rapaz está proibido de entrares neste castelo e aproximar-se de minha filha. Não vais arruiná-la, não permitirei que outro filho meu tenha seu nome espalhado por toda a cidade.
- Majestade, por favor, escute-me, estas cometendo um grande erro, meus sentimentos por sua filha são sinceros, assim como os dela por mim.
- Guardas! - Filipe gritou e três homens entraram. - Levem este rapaz daqui e certifiquem-se de que ele não irá se aproximar do castelo. Se desobedecer minha ordem, irei manda-lo ao calabouço imediatamente.
- Majestade não faça isso. - Derrick argumentou, mas foi em vão. - Está cometendo uma injustiça. - suplicou enquanto os guardas o levavam a força.
- Santo Deus! - Filipe suspirou se sentando. - Sabias disso? - encarou Isabel.
- É claro que não, marido. - Isabel negou com a cabeça.
- Agora entendo porque ele quis dançar com ela durante o baile. Como sendo a mãe dela não notaste nada?
- Nossa filha dançou com o filho do Arquiduque e da Arquiduquesa Gusman, acreditei que havia se simpatizado por ele. Não me culpe marido. - Isabel defendeu-se.
Em resposta Filipe cerrou os punhos, não permitiria em hipótese alguma que Maite e Derrick ficassem juntos. Christian arruinara as chances de conseguir um bom casamento com alguém da coroa, não permitiria que com Maite acontecesse o mesmo.
Angelique acordou com a porta se abrindo e sorriu acreditando ser seu marido. Decepcionou-se ao ver que era um dos empregados do castelo trazendo uma bandeja de café da manhã.
- Jovem princesa! - a mulher se curvou. - Trouxe-lhe o desjejum.
- Onde está meu marido? - resmungou sentando-se na cama.
- Perdoe-me senhora, mas creio que seu marido passou a noite fora.
- Como disse? - Angelique a encarou furiosa.
- Vi quando ele saiu à cavalo ontem à noite e ainda não regressou. A baia de seu cavalo está vazia, nenhum emprego os viu agora de manhã e eu mesma arrumei os quartos de hóspedes. As camas estavam intactas seu marido não dormiu em nenhum dos quartos.
- Pode se retirar, quero ficar sozinha. - ordenou furiosa.
- Com licença. - a empregada fez uma reverência e saiu.
Furiosa Angelique jogou longe a bandeja com o café da manhã, a louça espatifou-se no tapete.
Maite estava terminando de se arrumar quando Filipe entrou em seu quarto, seguido de sua mãe.
- Algum problema, senhor meu pai?!
- Aquele rapaz, Derrick, veio pedir minha permissão para cortejá-la. Ele me assegurou que tem sentimentos por você e que você corresponde à eles. - Filipe disparou.
- É verdade, senhor meu pai. - Maite assentiu, apesar de estar assustada. - Estou apaixonada por ele!
- Como podes dizer tamanha sandice? - Filipe a encarou furioso.
- Não é sandice é a verdade. Apaixonei-me por ele e ele por mim.
- Perdeste o juízo? Queres arruinar com toda nossa família? Não bastasse a besteira que seu irmão fez, você também quer nos arruinar, jogar nosso nome na lama?
- Eu só quero ser feliz, como você e a mamãe.
- Como podes ser feliz com simples camponês? Tens ideia do que isso pode provocar a todos nós?
- Ele é um conde agora!
- Que seja um conde, como podes querer rebaixar-se dessa maneira? Eu criei você para que se casasse com um príncipe, para que assim pudesse me unir a algum outro reino pelos laços sagrados do matrimonio.
- Então estava querendo me usar sem se importar com minha felicidade? - Maite rebateu.
- Não fale assim com seu pai, nós dois nos casamos pela mesma razão e hoje somos felizes, queremos o mesmo para você filha. - Isabel intercedeu.
- Pois eu não irei ser feliz com outro homem sem ser com o senhor James.
- Só podes estar louca! - Filipe esbravejou, andando de um lado pro outro do quarto. - Irei conversar com o Arquiduque Gusman, você e o filho dele ficarão noivos.
- Não pode me obrigar a casar com ele. - Maite respondeu, apavorada com a ideia.
- Como rei e seu pai, eu posso é isso que irei fazer. - Filipe decidiu.
- Se me obrigares, fujo de casa! Vou-me embora daqui, como a tia Mariana fez. - ameaçou.
- Não se atreva a desacatar as minhas ordens Maite. - Filipe respondeu elevando o tom de voz.
- Não se atreva o senhor a querer obrigar-me a casar com um homem apenas porque lhe convém.
- Cale-se! - Filipe gritou, levantando uma das mãos.
- Marido, por favor! - Isabel entrou na frente dele apavorada. - Não faça uma besteira, por Deus. - segurou sua mão.
Maite encarou o pai assustada, era a primeira vez que o via tão furioso. Filipe respirou fundo e por fim abaixou a mão, Isabel suspirou aliviada antes de soltá-lo.
- Vais ficar trancada dentro deste quarto até que aprendas a me obedecer. - Filipe respondeu.
- Não podes fazer isso comigo! - Maite implorou aos prantos.
- Só irá sair deste quarto, depois que eu decidir o que irei fazer com você. Vamos Isabel!
- Marido, por favor, não é necessário que a deixe trancada. Nossa filha falou tudo isso porque está agitada, não leve em consideração, por favor.
- Vamos Isabel! - Filipe a puxou pelo braço sem lhe dar ouvidos.
- Papai, por favor, não me deixe aqui! - Maite suplicou indo até ele.
- Não se atreva a dar mais um passo. - Filipe advertiu se aproximando da porta.
- Marido! - Isabel suspirou.
Filipe não respondeu e puxou Isabel pelo braço. Fechou as portas do quarto e as trancou.
- Papai, por favor, abra essa porta! - Maite correu até a porta, suplicando. - Não podes me deixar aqui, abra, por favor. - esmurrou as portas de madeira.
- Ela só vai sair quando eu ordenar, entendeste? - Filipe encarou Isabel e guardou a chave no bolso.
- Papai! - Maite gritou.
Filipe deu as costas e seguiu pelo corredor. Isabel encarou a porta chorando, os gritos de sua filha eram como facadas em seu coração. Mas o que mais lhe doía era saber que não podia fazer nada para ajudá-la.