LINHAS DO DESTINO (Prêmio Wat...

By lettiesj

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✅ PRÊMIO WATTYS 2016 ✅ COMPLETO ✅ Registrado na CBL e BNB (Brasil), na IGAC (Portugal) e no AVCTORIS. São pr... More

💖Apresentação - Elenco
💖 Prólogo
💖 Capítulo 1
💖 Capítulo 2
💖 Capítulo 3
💖 Capítulo 4
💖 Capítulo 5
💖 Capítulo 7

💖 Capítulo 6

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Angélica

Abri os olhos e vi o teto do meu quarto. Suguei o ar com força e me sentei abruptamente. Os meus cabelos caíram sobre o rosto enquanto tentava levar ar aos pulmões bloqueados. O meu peito soltou um chiado feio e só depois de mais duas tentativas foi que senti o alívio de voltar a respirar normalmente.

Levei a mão à garganta para ter a certeza de que não havia nada enrolado ao pescoço, sufocando-me.

Eu sabia que não havia nada. Nunca mais voltei a usar nenhum tipo de cachecol, echarpe ou qualquer outro adorno no pescoço. Ainda assim, uma coisa era saber que não havia nada e outra totalmente diferente era fazer a minha mente traumatizada acreditar naquilo.

Senti uma vontade louca de chorar, mas controlei-me por causa da minha mãe. Não queria de maneira alguma que ela desconfiasse que eu ainda tinha pesadelos por causa do que havia acontecido há mais de dois anos.

Foi quando lembrei que aquele era o dia da apresentação no colégio, quando os alunos conheciam os novos colegas de turma, os professores, todas as regras do ano letivo e mais um monte de blábláblá.

— Oh, Deus! Não quero ir à aula hoje! — suspirei, tremendamente cansada de tudo.

Caí para trás e afundei de novo no travesseiro. Só de pensar que aquele era o primeiro dia de um ano letivo inteiro, já me sentia mais cansada ainda.

Olhei para o relógio na mesa de cabeceira. Eram sete e meia da manhã e as aulas começavam às oito e meia. Eu precisava me levantar, mas a minha vontade era de ficar em casa e não ter que aturar ninguém daquele colégio estúpido!

Ainda pensei em negociar com o relógio alguns míseros minutos a mais para descansar, mas infelizmente estava no limite do horário de me levantar da cama. Não demoraria muito para a minha mãe vir me chamar.

Virei-me na cama e procurei pelo Thor por debaixo dos lençóis. Depois de umas apalpadelas aqui e acolá, encontrei-o e mergulhei o nariz no pescoço macio, adorando o calor suave sobre a pele do meu rosto.

— Humm, amo o seu calorzinho com este frio. — Entreabri os olhos na penumbra do quarto e olhei-o com carinho.

O meu ursinho de pelúcia devolveu o olhar em silêncio, continuando com a cabeça no travesseiro.

De súbito, tive flash do sonho daquela madrugada e arregalei os olhos.

Como pude me esquecer?

Tentei me lembrar apenas das partes boas do sonho, esforçando-me para esquecer todas as outras coisas que faziam aqueles sonhos serem um pesadelo.

Ele havia estado lá outra vez! Eu tinha a certeza daquilo, só não conseguia me lembrar dos pormenores.

Agarrei o Thor com mais força e sussurrei no ouvido dele.

— Você viu que voltei a sonhar com ele? — Encostei o nariz no focinho castanho. — É uma pena que nunca consigo ver quem é ou que às vezes até me esqueça dele.

Eu ainda não sabia como era possível encontrar apenas em sonhos o único rapaz que fazia o meu coração bater acelerado. Para minha grande tristeza, aquilo acontecia comigo há bastante tempo. O pior de tudo era que eu não conseguia namorar outros rapazes, sempre à espera de que algum deles balançasse o meu coração daquela maneira.

Quase em cima de fazer os meus memoráveis dezoito anos, tudo o que eu mais queria era que ele aparecesse na minha vida real. Eu já estava me tornando motivo de zombaria entre os meus colegas por não viver pendurada no pescoço de um rapaz diferente a cada verão.

Oh! Vão todos à merda!

Eu não pretendia me agarrar com qualquer um só para calar a boca daqueles idiotas.

— Angélica? — Ouvi a minha mãe antes mesmo que a porta do quarto se abrisse. — Querida, hora de se levantar ou vai se atrasar.

— Já estou acordada, mãe. Estava só com preguiça de me levantar com esse frio. — A minha voz saiu abafada debaixo das cobertas.

Ela se enfiou sob os lençóis, abraçando-me e ao Thor.

— Ora, ora, se esse rapaz também não está com preguiça de se levantar hoje — ralhou com o Thor, dando um beijo no alto da minha cabeça e fazendo-me rir.

Depois ficamos caladas e quietinhas, aproveitando um breve momento juntas antes de corrermos feito loucas para a nossa rotina diária.

— Recebi ontem à noite uma mensagem da sua tia Augusta. O seu primo Saulo vem morar com a gente a partir de janeiro. Vamos passar o Natal no Rio e ver os detalhes. O consulado vai liberar o visto dele em breve.

Virei-me para a olhar de frente.

— É sério isso?

A notícia foi um choque total. Eu via o Saulo nas redes sociais e ele estava sempre surfando nas praias cariocas ou viajando de moto com uns amigos esquisitos do clube dele, sempre rodeado de mulheres. Não imaginava como é que ele ia conseguir viver na calmaria da nossa cidade.

A minha mãe suspirou, resignada. Desconfiei de que algo não havia corrido bem no Brasil, mas achei melhor não a forçar a contar mais nada. Eu sabia que ela me contaria tudo no momento certo.

— É sério e complicado também, por isso vamos preparar tudo. Ainda não sei se ele vai ficar aqui no Norte ou se vai preferir viver sozinho em Lisboa, já que é maior de idade. Saberemos no Natal.

Ela se levantou, foi à janela e abriu as cortinas. Fiquei observando-a com carinho, sentindo muito orgulho da mulher forte que ela era. Um exemplo perfeito para mim.

A minha mãe tinha os olhos e os cabelos castanho-claros, era alta e magra, mas sem deixar de ter as curvas nos lugares certos, em um estilo bem brasileiro. Era uma mulher bonita, mas nem de longe se comparava à beleza do meu pai, um catarinense descendente de alemães que não resistia a um rabo de saia. Havia sido dele que herdei os cabelos de um louro-claro e os olhos azuis.

— Para o colégio, mocinha!

Esperei ela sair do quarto, peguei o meu celular e enviei uma mensagem para a minha prima Cassandra.

"Sonhei com ele de novo :)"

Tamborilei com os dedos no visor, esperando a resposta.

"Viu a cara dele dessa vez?"

"Não :("

"Que merda!"

"Mas vi uma tatuagem na mão dele (suspense...)"

"Diz logo, sua ridícula. Quero saber de tudo!"

"Conto antes da aula. Estamos atrasadas. Beijo."

"Você é uma vaca, mas eu te amo :) Beijo."

Joguei o celular em cima da cama e fui pegar a minha roupa. Quando estava indo para o banheiro ouvi mais uma mensagem entrar. Fui olhar e era de Pandora, a minha outra prima.

"Cass avisou do sonho. Tem cuidado. Hoje é aquele dia tenso que falei."

Bati com a mão na testa diante da minha burrice. Nem me lembrava mais daquilo!

Digitei rápido uma resposta.

"Me esqueci completamente, Pan. Mas que merda! Logo hoje no dia da apresentação? Posso ficar em casa e faltar :( O que acha?"

"Vamos juntas! Quem pode vencer as meninas superpoderosas? Hahaha!"

Meneei a cabeça, rindo. Era uma louca varrida aquela minha prima!

"Estamos mais para bruxas de Eastwick à procura do homem ideal, kkkk."

Na infância, nós três éramos as Meninas Superpoderosas, por causa da cor dos nossos cabelos. Como a Pandora era ruiva, ficou sendo a Florzinha, a líder inteligente do trio. Eu era a loura Lindinha, sempre meiga e boazinha como a do desenho. Só que, no meu caso, era preciso acrescentar que também era boba até dizer basta. A sensação que eu tinha era de que todo mundo se aproveitava de mim de alguma forma. Por fim, a Cassandra, sendo morena, ficou sendo a Docinho, sempre desbocada e durona. O engraçado era o fato de sermos exatamente assim na vida real, o que nos divertia muito.

Eu sentia muitas saudades daqueles tempos, quando a vida parecia ser bem mais simples.

"As meninas cresceram e se transformaram em bruxinhas superpoderosas, querida. Nos vemos no colégio. Te amo, Lindinha :)"

"Também te amo, Pan."

Será que a Pandora tinha razão e algo muito tenso ia acontecer comigo naquele dia? O meu sonho teria sido um presságio?

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