💖 Capítulo 1

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LORENZO

Tivoli, Itália – Anos antes

Eu estava sentado no sofá que ficava em frente à lareira da sala, olhando para baixo e vendo como minhas pernas tinham crescido e meus pés tocavam o chão. Eu já era grande! Tinha acabado de fazer sete anos.

Ouvi minha mãe ao telefone conversando com meu pai e suspirei, triste. Sabia que eles estavam falando sobre o que aconteceu hoje na escola.

— Acabamos de chegar em casa, Vicenzo — ela surgiu à minha frente enquanto caminhava pela sala e sentou-se ao meu lado no sofá macio. — Sim, já está tudo resolvido na escola e só precisaremos depois ir para a reunião com os pais e a Diretora.

Vi sua mão esquerda pousada sobre o colo, a aliança brilhando no dedo, as unhas pintadas de um rosa clarinho. Estava fechada em punho sobre o vestido azul e, sem pensar duas vezes, segurei-a com a minha e levantei a vista para os seus olhos. Ela me fitou com carinho e sorriu, tranquilizando-me, enquanto escutava o que meu falava ao telefone.

— Certo, falamos melhor depois. Addio!

Desligou a chamada e jogou o aparelho para o lado sobre o sofá. Recostou-se e abriu os braços para mim. Não pensei duas vezes em pular no seu colo e aconchegar-me neles.

Mamma está triste comigo pelo que fiz?

Ela esfregou o rosto nos meus cabelos.

— Só um pouquinho, Lorenzo. Afinal, nós já tínhamos conversado sobre você tentar evitar situações como esta, lembra?

Balancei a cabeça em confirmação, chateado comigo mesmo por não ter conseguido cumprir o que combinamos.

— Eu juro que vou me esforçar para não fazer mais isso, mãe — eu prometi e esperava desta vez conseguir cumprir minha promessa.

— Acredito em você e sei que vai se esforçar. — ela prendeu meus olhos dentro do seu olhar, que agora estava muito sério — Mas a mamma precisa que leve a sério isto que estamos combinando agora, porque eu não quero ter de lhe dar nenhuma medicação, entendeu, bambino mio?

Eu já tinha ouvido meus pais discutindo sobre isso e sabia que ela era contra, mas eu não entendia bem o porquê. Mas se ela não queria dar-me nada para tomar, então eu também não ia querer tomar nada, porque não devia ser algo bom para mim.

— Não vou fazer mais — repeti minha promessa, desta vez em um tom mais decidido.

Ela sorriu e assanhou meus cabelos escuros com as mãos macias.

— Não se preocupe, amorzinho, vamos conseguir e tudo vai ficar bem. — ela ajeitou-me melhor em seu colo — Sempre que sentir-se nervoso ou agitado, procure respirar fundo e contar dez carrinhos entrando na garagem, cada um indo para o seu lugar certinho. Lembra disso?

Concordei com a cabeça e comecei a rir alto, lembrando de como treinamos juntos colocar meus carrinhos na garagem que criamos no chão do meu quarto.

— Mas podemos brincar de novo depois, mamma? Assim fica mais fácil de lembrar.

— Oh, seu chantagista! — fez cócegas na minha barriga, fazendo-me rir ainda mais — Certo, vamos brincar mais tarde, mas, por enquanto, não diga nada ao papà sobre não tomar a medicação. Vamos fazer uma surpresa para ele daqui a seis meses, quando você provar que não precisa tomar mais nenhuma pastilhinha.

Fiquei sério de repente quando lembrei da briga dos dois. Meu pai gritou muito alto e disse que eu precisava tomar os medicamentos para ficar mais calmo e prestar atenção às aulas, ou seria um burro.

LINHAS DO DESTINO (Prêmio Wattys 2016) - Angélica & Lorenzo - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora