O Menino debaixo da minha cama

By oipedroguerra

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Sophia é uma garota de dezesseis anos comum, diferentemente de seus problemas. Sua irmã está grávida do namor... More

RECADO
O LIVRO ESTÁ DE VOLTA!
INTRO
PREFÁCIO (não deixe de ler!)
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
MÚSICA
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Capítulo 57
Capítulo 58
Capítulo 59
Capítulo 60
Capítulo 61
Capítulo 62
Capítulo 63
Capítulo 64
Capítulo 65
Capítulo 66
Capítulo 67
Capítulo 68
Capítulo 69
Capítulo 70
Capítulo 71
Capítulo 72
Capítulo 73
Capítulo 74
Capítulo 75
Capítulo 76
Capítulo 77
Capítulo 78
Capítulo 79
Capítulo 80
Capítulo 81
Capítulo 82
Capítulo 83
Capítulo 84
Capítulo 85
EPÍLOGO
LIVRO NOVO!
LIVRO FÍSICO

Capítulo 50

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By oipedroguerra


Mia aproximou-se de Cecília assim como um pecador aproxima-se da cruz.

– Aonde você vai? – perguntou a general enfraquecida.

– Não te interessa. – respondeu a grávida.

Mia aproximou-se dela, puxando-a com força. Quase corri para ajudar a minha irmã. Aquela mulher, que usualmente era chamada de mãe, havia enlouquecido. Acho que a sua paciência com relação à nossa tarefa em ignorá-la havia acabado.

– Escute-me, mocinha. Você está na minha casa, são as minhas regras. A culpa não é totalmente minha se eu não me encontrava no momento em que meu filho teve uma crise asmática, pois isso pode acontecer a qualquer hora. Você deveria parar de culpar-me por um momento e observar que já tem vinte e um anos, idade suficiente para agir como adulta nestes casos. Se a menininha pensa que vai ficar culpando-me pelo tempo que desejar dentro da minha própria casa, saiba que você pode fazer as suas malas agora mesmo, ok?

Cecília olhou para a mulher um pouco assustada, mas não perdeu a pose. Gustavo desceu as escadas gritando.

– Mia, pare! Largue-a! – ele ordenou. – Você está alterada. Tome os seus remédios. – a voz dele foi sumindo.

– A conversa não é com você agora. – ela falou para o pequeno e depois voltou a olhar para a grávida. – E você vai sair com os seus irmãos essa noite. Vá para longe. Não estou pedindo, estou ordenando. Você não vai me deixar mal, entendeu?

Era claro entender tudo: Mia, a durona, estava ameaçada de perder seus poderes. A única vez em que pisou em falso, foi acusada e ficou tentando defender-se sozinha, sem sucesso. Em sua cabeça ela estava sempre certa, e ninguém nunca a poderia deixar mal, ou fazer sentir-se culpada. Ela era perfeita. Minha mãe não perderia uma guerra, muito menos quaisquer batalhas que a compusessem. Ela sempre destacava-se, saindo por cima de todos, mesmo que fosse preciso pisar em qualquer um. Até em seus filhos. Efeitos da sua bipolaridade, acrescentada às características que faziam parte de sua personalidade: Individualista, egoísta e insensível. Você pode pensar que pessoas assim não existiam no mundo, mas acredite em mim: Há piores, e eu lamento por isso.

A loira alta estava de volta no jogo, e seria difícil demais para que os inúteis e fracos peões derrubassem a rainha. Xeque Mate.

– Não temos para onde ir. – falou Cecília, tentando não gaguejar.

– O problema não será meu. Preciso da casa vazia. Preciso de um tempo para mim. – sua voz grossa era forte e irrevogável.

Desci uns degraus da escada, encarando-a. Eu estava cansada de tudo aquilo, queria falar tudo que guardava para mim há dezesseis anos. Era impossível suportar qualquer minuto mais tendo que ser adulta ou mãe de meus próprios irmãos, quando a responsabilidade era toda dela. Aquilo era patético, caricato até demais. Mia parecia uma vilã de novela, e das piores. Mas a mulher estava em minha frente, ela existia de verdade. Ela não viraria boa no final – se existisse um – ou iria presa. Aquilo era a vida real acontecendo diante dos meus olhos, e eu simplesmente não a suportava mais. Eu não importava-me se ela sofria de um transtorno ou qualquer outra doença. Sabendo das alterações de humor que faziam parte de si, ela deveria correr atrás para lidar com isso.

– Podemos saber para que? Você irá trazer um de seus amantes para aproveitar que Greg está fora? – joguei da maneira mais suja possível. Quis irritá-la de verdade. – Vamos, diga logo quem você é quando está escuro e ninguém pode te enxergar.

– Sua filha da... – ela falou, aproximando-se de mim com certa rapidez.

Mia ainda apontou o dedo para mim, subindo o primeiro dos degraus. Senti medo obviamente, mas permaneci no lugar. Correr seria infantil e demonstraria fraqueza demais. Eu precisava ficar imóvel, esperando ser devorada pela rainha da tribo.

– Você pretende dizer puta? Pois aí você só estará catalogando a si própria.

Gustavo subiu as escadas correndo, passando por mim. Cecília agarrou a mulher por trás, impedindo-a de me arrancar a cabeça. Eu nunca a havia visto assim. Quando a sua troca de humor ocorria, eu apenas abaixava a cabeça. Agora era diferente.

– Com quem você pensa que está falando, sua inútil? Eu sou sua...

– Eu não ousaria dizer mãe. – a interrompi de novo. – Porque obviamente isso você não é. – eu tinha mais ainda. – Fiquei muito tempo calada, Mia. Apenas esperando o momento em que você cometesse seu primeiro erro. Pode não ter sido dos grandes, mas para alguém que se julga perfeita, foi um dos piores. Você fracassou, admita isso.

Se ela fosse um leão de verdade, eu diria que ela tinha rugido.

– Você está oficialmente expulsa dessa casa, sua órfã! – gritou em minha direção, pensando que me ofenderia. – Não esperarei mais dois anos!

Coloquei a mão no peito, em sinal de agradecimento.

– Eu estou muito lisonjeada pela sua atitude, 'mamãezinha'. – foi a primeira vez que a chamei de mãe, mesmo que tenha sido uma ironia. – Acredite, a partir de amanhã mesmo você não me verá nessa casa. – eu lamentei por dentro. Aquela casa era o refúgio de meu namorado fugitivo. Agora parece que o parque perto dali teria uma nova moradora. – E não finja que você nunca soube que eu queria ir embora daqui, porque você sabe que eu nunca gostei de dividir o mesmo ambiente que você. Em um ringue não há lugar para dois competidores fortes. Um tem que cair, e eu não vou esperar calada até o dia em que você pare de respirar. Estou agradecida por você finalmente tomar o primeiro passo, cujo eu não tive coragem. Você conseguiu deixar sua filha, agora abandonada, feliz.

Ela parecia mesmo rugir nos braços de minha irmã. Cecília não acreditava que estava presenciando a briga do século, então em sua primeira atitude como adulta, tentou reparar aquilo.

– Chega, Sophia! – gritou também. – Mia, ninguém vai sair dessa casa. Tome seus remédios, pense no que está falando! Você não pode abandonar uma adolescente de dezesseis anos.

– O que? Ela tem medo da rua?! – gritava a mulher. – Para jogar-me na cara que sou uma péssima mãe ela não teve medo. Pegue seu cachorro e saia da minha frente, garota! Não me faça te humilhar mais do que você já está, pirralha. Você não agüentaria.

– Eu agüentei muito, durante muito tempo. Adeus, mamãe.

Virei de costas, olhando antes para Cecília. Fui até o nosso quarto e bati a porta com força. Pude ouvir minha irmã gritando com minha mãe no primeiro andar.

Percebi que meu irmão estava sentado na cama da grávida, segurando o bebê no colo. Odiei-me por ter que faze-lo escutar tudo aquilo, mas o fim estava próximo. Eu daria um jeito de salvar os meus irmãos, mesmo que agora eu só tivesse algumas roupas e um parque abandonado como abrigo.

– Parabéns. – Gus falou com a voz calma. – Conseguiu sua liberdade.

Parei de jogar todas as minhas roupas na mala e cheguei perto do pequeno, ajoelhando-me para igualar as alturas.

– Voltarei para buscar vocês, eu prometo.

Os seus lábios curvaram-se.

– E iremos para onde? Acorda, Sophia. Peter Pan não vai aparecer na nossa janela para nos levar para a Terra do Nunca. Não vamos conseguir ajuda da Fada Madrinha para sermos felizes. Quando Greg se foi, ele levou a nossa última esperança de cultivarmos uma família normal. E você acha que ele vai voltar? Aquela viagem não passou de uma desculpa para nos abandonar. Somos nós contra ela agora. E, apesar de estarmos em maior número, somos mais fracos quando ela está alterada. E agora você a irritou, despertou a fera.

Era ridículo ver como aquela casa – ou melhor, a dona dela – transformava as pessoas. Eu estava olhando para uma pessoa de nove anos que parecia ter mais que o dobro.

– Não diga isso! – eu tinha lágrimas nos olhos agora. – Ele vai voltar para nos buscar e fugiremos daqui, você está me ouvindo?

– E se ele demorar? – perguntou com os olhos secos.

Eu o olhei por um longo tempo.

– Teremos que inventar nosso conto de fadas.

Um barulho veio da janela. Não era Peter Pan, e sim Jonas. Ele ficou estático ao perceber que Gustavo tinha reparado sua presença. Não sabia o que fazer. Entrar ou sair. Era tarde demais para a segunda alternativa.

– Você pode entrar, Jonas. Gustavo já sabe de tudo.

Meu irmão olhou para o meu namorado com estranhamento. Depois de forçar um pouco os olhos – acho que estava o analisando – suavizou o olhar e ofereceu-me uma cara fechada. O pequeno aproximou-se de meu ouvido e sussurrou:

– Afaste-se dele. – disse. – Você vai se machucar.

– Que? – não havia entendido. – Jonas é perfeito para mim, e eu nunca poderia ficar mais machucada do que já estou. Desculpe se você não gostou dele, não é minha culpa.

Olhei para o meu namorado e o ofereci um de meus sorrisos, como se estivesse tudo bem.

– Então, você escutou tudo? – perguntei para Arie enquanto arrumava a mala novamente.

O meu irmão suspirou.

– Sim. – ele falou constrangido.

Coloquei a última peça de roupa do armário e fechei, amassando tudo.

– Onde você estava ontem?

– Te esperando.

– Mas... Você ainda não foi para 'lá' ainda, certo? – quis saber.

Ele balançou a cabeça.

– Como eu disse, estava te esperando.

Sorri.

– Somos você e eu agora. – falei.

O garoto abraçou-me com seus braços longos.

– Cuide bem dela. Se é que você pode fazer isso. – falou o meu irmão.

Jonas não entendeu, mas mesmo assim piscou para Gustavo. O pequeno estava sendo rude. Sei que ele queria me proteger, mas não podia julgar o meu namorado apenas na primeira vez que o visse. Ok, segunda.

– Você não pode ficar na casa do seu amigo? Não quero que você vá para... 'O outro lá'. – ele referia-se ao parque.

– Quero distância. Não posso ficar no meu vizinho, seria quase o mesmo.

– Já tenho um lugar onde poderemos ficar. Não tem móveis, mas...

– A sua casa. – adivinhei.

Ele abraçou-me forte novamente.

Agarrei a minha mala pesada, sem saber o que fazer exatamente.

– Vamos? – perguntou Jonas.

Afirmei com a cabeça. Dirigi-me até a janela e joguei o peso de minhas mãos no gramado logo abaixo. O garoto do parque ficou esperando-me ali.

Olhei para Gus, sentindo pena por deixá-lo. Voltei e ajoelhei-me outra vez, segurando em uma de suas mãos – a outra segurava o bebê -. Antes que pudesse dizer algo, a porta do quarto abriu atrás de nós. Não pisquei e não respirei, pensando que fosse Mia, pronta para atacar-me.

– Você vai fazer isso mesmo? – Cecília quis saber.

Balancei a cabeça.

– Não agüento mais. Você sabe há quantos anos nós...

– Eu sei. – ela falou.

Fitei Arie na janela. A garota não havia percebido a sua presença ali, então não falei nada. Assim que ela o visse, eu contaria tudo. Agora nada mais importava mesmo.

– Irei até a casa de uma amiga minha para pedir se você pode ficar lá por uns dias.

– Não precisa, minha irmã. – avisei. – Ben tem... Ben tem um amigo. – não ousei olhar para a janela. – Ele disse que posso ficar lá sempre que quiser.

Ela entendeu.

– E vocês? – perguntei.

– Acho que ficaremos na casa de Marga até a fera acalmar-se um pouco. – falou ela. Depois, aproximou-se um pouco de mim, falando baixo. – O motel já era. Terei que encontrar alguma coisa nova. Aí terei dinheiro para sairmos daqui.

– Isso vai levar tempo. Temos que rezar para que Greg volte logo, ele é o único que pode dar um jeito. Você quer sair daqui mesmo? – perguntei, ainda trocando palavras em voz baixa.

– Você não é a única que cansou. Essa é a nossa oportunidade.

Olhei-a nos olhos e depois a abracei. Era a primeira vez que Cecília e eu estávamos no comando da situação juntas, então precisaríamos ser fortes se quiséssemos conseguir chegar a algum lugar.

– Gus, vá pegar alguns brinquedos. Vamos passar a noite na casa de Marga. Isso é, se ela deixar.

O garoto deitou suavemente o seu irmão menor ainda na cama e fez o que lhe foi pedido. De volta, com uma mochila nas costas, o pequeno-grande disse estar pronto. Adivinhei o que havia ali dentro: Banco Imobiliário e alguns jogos de lógica. Isso eram os seus brinquedos.

Agarrei a mão de minha irmã e depois observei a janela que já estava livre, pensando que provavelmente Jonas esperava-me no gramado ao lado da casa roxa. A grávida abriu a porta do quarto, e então respiramos um pouco, antes de descer as escadas. Dessa vez ela levava o bebê nos braços.

Descemos degrau por degrau fitando a mulher de costas para nós na cozinha. Ela sorvia uma das bebidas mais caras de Greg, e isso o deixaria transtornado se ele estivesse presente. Paramos quando os degraus chegaram ao fim. Cecília a olhou por alguns segundos, eu apenas observei com o canto do olhar. A mulher não virou para nós, apenas continuou fitando a rua pela janela.

– Estamos saindo. – disse a grávida.

Como previsto, nenhuma resposta. Abri a porta principal e abracei os meus irmãos, falando que no dia seguinte os veria novamente. Bati a porta com força, desejando nunca mais ter de voltar. Eles atravessaram a rua, chegando até a casa de nossa vizinha. Dirigi-me para o lado da casa roxa, onde encontrei meu namorado. Eu disse que fazia questão de carregar a minha mala, Jonas não ousou discordar. Ele faria tudo que eu desejasse para agradar-me. As suas mãos livres serviram para acalmar-me.

Caminhamos pela rua, com o dia terminando atrás de nós. O pouco do fraco sol que restava nos iluminou. Arrisquei olhar uma última vez para a casa roxa. Pela janela da cozinha, enxerguei a silhueta da mulher que dizia ser minha mãe, observando eu e meu namorado abandonando-a. Ela encarava-me com o copo de bebida na mão direita. Imóvel, quieta, pensativa. Uma bipolar em silêncio.


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