Véu dos Mundos, vol. I - Sang...

By FelipeLReis

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Kia Samuels não é nada mais do que ordinário, ou pelo menos se esforça para ser. Com olhos de cores diferente... More

Notas do Autor: Personagens
Prólogo
UM - Incendeia-me
DOIS - Enlouqueça-me
TRÊS - Conheça-me
QUATRO - Identifique-me
CINCO - Alerta-me
SEIS - Seduza-me
SETE - Questiona-me
OITO - Traduza-me
NOVE - Cura-me
DEZ - Revela-me
ONZE - Observe-me
DOZE - Confunda-me
TREZE - Perturba-me
CATORZE - Retrate-me
QUINZE - Mova-me
DEZESSEIS - Perca-me
DEZESSETE - Estrangula-me
DEZOITO - Mate-me
DEZENOVE - Esclareça-me
VINTE - Ensina-me
VINTE E UM - Questiona-me
VINTE E DOIS - Ameaça-me
VINTE E TRÊS - Distraia-me
VINTE E QUATRO - Aqueça-me
VINTE E CINCO - Enfeitiça-me
VINTE E SEIS - Entenda-me
VINTE E SETE - Flerte-me
VINTE E OITO - Encontra-me
VINTE E NOVE - Clareia-me
TRINTA - Intriga-me
TRINTA E DOIS - (Des)Vincula-me
TRINTA E TRÊS - Surpreenda-me
TRINTA E QUATRO - Abala-me
TRINTA E CINCO - Ataca-me
TRINTA E SEIS - Estraçalhe-nos
EPILÓGO - Lilith
Agradecimentos
Lembrete

TRINTA E UM - Presenteia-me

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By FelipeLReis



Darrell Moyer observava o sorriso bobo nos lábios de Kia com atenção, fazia dias que via uma sombra cobrir o olhar do rapaz e isso o preocupava, era a mesma coisa que tinha ocorrido depois da morte de Donna, mas agora a sombra desaparecera quase por completo. Ele estava, hoje pelo menos, com um adolescente normal. Estupidamente perdido em algum pensamento banal, mas de suma importância para sua sanidade de seu mundo próprio.

Darrell também sabia que Skye tinha um olhar parecido tempos atrás, mas ele havia ido embora, estava agora com uma expressão sempre preocupada, disfarçada entre os sorrisos e as frases de galanteio que sempre estavam na ponta da língua. Ele era prova que uma maçã não caia longe da árvore, era a cópia – ainda alegre – do seu avô.

– Não adianta comer rápido, Kia. Ele não vai a lugar nenhum que você não possa acompanhar.

Comentou Darrell sobre o que todos sabiam pairar no ar como se comentasse sobre o sabor do café ou do clima.

– O que?

Perguntou Kia confuso.

Era verdade. Ele ainda pensava no beijo. Tinha sido bem diferente do que esperava e principalmente do que conhecia. E um fervor estranho o aquecia desde então. Mas para sua sorte ou azar Zedd havia se transferido para escola na sexta-feira e agora ele tinha todo o fim de semana antes de encontrá-lo casualmente pelos corredores da Prescott High.

– Você tinha que ter vistos eles na festa de Halloween pai, ou ontem no vestiário. Kia está se saindo um belo devasso, devo acrescentar. Nosso filhinho está crescendo... Finalmente.

Skye comentou mordendo um croissant, gesticulando com as mãos em pura felicidade. Kia ficou vermelho automaticamente depois daquilo. Sentindo os líquidos em seu estômago borbulharem de nervoso e surpresa.

– Não foi bem assim.

Respondeu ofendido, tentando esconder o sorriso.

Darrell tomou um gole de café para esconder o seu.

Kia era muito discreto, sempre fora, e era difícil ele demonstrar ações tão normais para sua idade, e Darrell se sentia bem ao ver aquilo. Era um sinal de como aquela casa tinha se tornado um lar para ele. Lembrou de Ricky e como havia sido a infância dos dois. O irmão era dez anos mais novo, o que fazia só dez anos mais velho que aqueles rapazes. Ainda jovem o suficiente para se aventurar.

Ricky não era nada como Kia, era desinibido e um rebelde sem causas, mas com o passar dos anos na adolescência, desenvolvera uma sombra triste no olhar. E isso matava o irmão mais velho lentamente. Tinha sido Darrell a conseguir um emprego para Ricky em São Francisco e providenciou tudo para que ele se mudasse, até ajudou a pagar as contas nos primeiros meses, já que o pai dos dois tinha sido totalmente contra.

Ricky tinha dezoito anos e tinha sido reprovado na escola. Ele não ajudaria em nada. Mas Darrell sabia o porquê, era a tristeza de não poder ser quem nasceu para ser que eventualmente acabaria com seu irmão, e não qualquer fraqueza que seu pai via nele.

Hoje Ricky estava bem, e Darrell queria fazer o mesmo por Kia, e sentia bem ao ver como Skye tinha o mesmo pensamento. Eles eram como irmãos a vida inteira, e por causa disso Kia havia se tornado como um filho. E juntos, naquela mesa, ele tinha toda família que precisava reunida.

Dois filhos que amaria incondicionalmente e dois rapazes que o amavam da mesma forma.

E por um breve lampejo pensou na ex esposa, mordendo os lábios por dentro e deixando esvair o pensamento pelas bordas da sua consciência.

– Só tome cuidado para não pegar todos do time de lacrosse nesse ritmo.

Skye acrescentou com um olhar insinuante, Darrell compreendeu parte da conversa. Skye havia contado a ele o que fizera quando tinha doze anos. Ele sabia tudo sobre o beijo, e tinha sido assim que descobrira sobre Kia e sua sexualidade, desde aquilo dia tanto Skye quanto Kia sabiam que poderiam contar com ele para tudo, porém, fora Skye, Darrell não sabia de mais nenhum jogador do time que Kia tivesse se envolvido.

– Ele faz parte do time?

Perguntou tentando parecer calmo e desinteressado.

– É o novo atacante, a treinadora mudou algumas pessoas de suas posições, obviamente eu continuo como capitão, e como o Zedd era titular na antiga escola ele conseguiu a posição que estava vaga desde de toda a grande confusão – disse ele com aspas nas últimas duas palavras – Três, certo?

Perguntou agora segundos antes de tomar um gole de suco, Kia arrancou um pedaço de pão e tacou contra o amigo, enquanto chutava o ar e acertava Skye com uma fraca rajada telecinética.

Essa doeu, pensou ele rindo por dentro e por fora.

– Três?

Darrell perguntou dessa vez sem conseguir esconder a curiosidade emergente.

– Hector Prescott, filho do diretor.

Kia comentou envergonhado, era a primeira vez que contava a um adulto que ele se importava sobre a existência de Hector.

– Filho da Catalina Prescott? – perguntou o senhor Moyer claramente surpreso, Kia fez que sim com a cabeça – Mulher adorável, marido repugnante – acrescentou ele terminando sua segunda xícara de café – A vi algumas vezes nas festas da empresa, seu pai é um sócio no escritório de advocacia. O que significa que é bem presunçoso.

Completou, e claramente os senhores Prescott e Moyer não eram nem longe colegas.

– Eles tiveram um casinho, acabou. Assunto, encerado.

Skye comentou percebendo que não gostava mais do assunto.

– Ele namora agora, uma garota.

Kia acrescentou tentando não manchar sua felicidade pensando em Sonya e borrar tudo com ciúmes.

Darrell perdeu a vez de falar quando Skye foi mais rápido que ele.

– Você não sabe?

Perguntou surpreso, tinha presumido que Kia não tivesse conversado sobre o assunto por que era difícil e não por que não sabia.

– Do que?

– Hector terminou com Sonya no dia que a treinadora desmaiou.

Comentou Skye olhando para o prato, não parecia certo soltar aquilo naquela conversa e perto do pai, mas ele tinha que dizer já que era verdade.

Kia ficou parado, mudo e surdo. Era novidade para ele.

Pensou em Sonya pela primeira vez em semanas sem raiva, tentando encontrar em sua mente momentos que tivesse visto ela passar pelo corredor ou dividido uma aula, mas durante toda semana ela não havia aparecido. Mesmo Hector não tinha passado tanto tempo pelos corredores como antes, ele só não tinha percebido.

– Você parece bem surpreso, Kia.

Darrell comentou, a expressão de Kia era clara, ele ainda tinha afeição pelo rapaz em questão, mesmo que tivesse nova afeição por esse rapaz novo.

– Só fui pego de surpresa. Não imaginava que ele fosse terminar com ela.

– Ele continua solteiro, aliás.

Skye comentou desejando que o assunto desaparecesse.

– Mas e esse novo rapaz, ainda nem sei seu sobrenome.

– Riesen – comentou Skye voltando a se alegrar com o rumo retornado da conversa – Zedd Riesen, para ser completo. Mais alto que eu, cabelos grisalhos, piercings, unhas pintadas e tatuagens... E um delineado abdômen.

Comentou essa parte por fim dando uma piscadela para Kia que voltou a ficar com bochechas rosadas.

– Ah, eu vou terminar no meu quarto.

Disse Kia se levantando com um prato com frutas em pedaços e correndo para fugir da mesa onde todos os seus segredos íntimos estavam sendo jogados.

Skye esperou que Kia desaparecesse do corredor e que não pudesse mais ouvir seus passos na escada antes de falar.

– Pai, posso te pedir um favor, para essa quinta?

– Se não envolver algo ilegal, acho que posso ajudar.

Disse curioso.

–––

Kia parou de andar no meio do corredor que dava para seu quarto, sentindo algo estranho no ar. Magia. Força celestial para ser completamente exato.

Ele pois o prato sobre uma mesinha redonda ao lado do jarro de flores, deixou o brilho circular preencher seu olhos e sentiu a pele das costas coçar e se atiçar.

Andou devagar até a fonte da energia e abriu a porta devagar sem sacar a katana e a encontrou deitada sobre sua cama com uma camisa social antiga que Kia tinha ganhado, só que duas vezes maior que ele, e que havia ficado esquecida em seu armário até aquele dado momento.

– Finalmente!

Disse ela empolgada pulando da cama e caminhando a seu encontro de forma sensual, com seus belos seios quase saltando para fora e a pele de suas pernas perfeitamente lisas e rosadas. Kia se perguntou se angelicais em forma feminina nasciam sem pelos ou tinham que se depilar como as mortais.

Auriel só parou de andar quando seus seios quase encostavam no peitoral de Kia e passou seus dedos sobre seu rosto.

– Já vi muitos seres com olhos coloridos antes, mas nunca assim.

Comentou maravilhada com o abismo de escuridão e mar.

– Obrigado, mas não acho que seja esse o motivo de estar semi nua na minha cama, ou é?

– Não, claramente, não. Só que eu esperava que seu amiguinho mortal fosse vir junto alguma hora, e como eu não posso vir te ver à toa não quis perder a oportunidade.

– Está tentando seduzir o Skye?

Perguntou Kia surpreso, seu melhor amigo era além da beleza normal, mas tanto assim para chamar a atenção de uma arcanja caída?

– Você não entenderia meus motivos, não é pela beleza, que eu aposto que você está pensando ser o motivo, mas tenho certo dom. Percepção, para ser mais exato. A minha é bem aguçada. Vejo mais que as pessoas vêm nas outras coisas, e nas próprias pessoas. Por isso sei que você é feroz por dentro e que aquele garoto se tivesse nascido sobrenatural seria um comandante entre os seus. Gosto disso.

– Então está tentando agenciá-lo?

Perguntou ainda mais confuso.

– Não, claro que não. Principalmente por que ele é só um mortal, e eu não perderia meu tempo transformando ele em outra coisa.

Comentou abrindo o armário de Kia e vasculhando o restante de suas peças.

– Você poderia?

Perguntou surpreso, sabia que existiam mais coisas além de angelicais, demônios e conjuradores, mas não sabia exatamente como e quais.

– Sim, é complicado, mas é possível transformar alguém intencionalmente, porém, o resultado é quase sempre desastroso. Seres transformados se tornam assim por que são seus destinos, perecer ou engrandecer, forçar isso geralmente é demais em mortais, principalmente por que não ocorreria de modo progressivo como ocorre normalmente.

Disse ela por fim já desinteressada no assunto.

Kia olhou para o espelho e viu seus olhos cintilando e se perguntou que se fosse dado lhe a chance de ser um nefilim enquanto ainda era mortal, ele aceitaria.

A maior parte de si sabia que a resposta era não, mas a parte que já tinha se acostumado, dizia que sim.

– Mas por que está aqui então se Skye era só a desculpa?

– Vim lhe trazer um presente, não é meu é claro, de Ambrose na verdade.

Comentou ela apontando para o pequeno objeto marrom sobre a cabeceira da cama.

Kia levou a mão para o ar e o objetou voou a seu encontro, ele tirou a faca da bainha e sentiu a fraca magia dentro do objeto cravado de símbolos que lhe pareciam runas, mas não eram.

– Marcas de transferência – disse Auriel olhando para ele – Esses em questão são símbolos angelicais. As marcas de transferência são símbolos de uma das três raças místicas que são postos em objetos concedendo assim a eles absorver e guardar magia. Claro que a dessa adaga precisa ser recarregada, como a maioria das coisas elas não duram para sempre.

– Já tenho uma arma.

Comentou sentindo a katana dentro dele vibrar.

– Não é para você, Ambrose conseguiu essa para seu amigo mortal.

Disse novamente com aquela entonação engraçada, ela sabia o nome de Skye, só não falava.

– Ah, sim. Ele vai precisar, mas o que ela faz então?

– Foi feita para absorver fogo celestial e expelir essa energia quando entra em contato com matéria negra. Só que como eu disse, está sem energia e Ambrose achou adequado que eu viesse aqui lhe dar e ajudá-lo a preencher com fogo celestial já que sou uma arcanja e tenho parte dos poderes que você herdou, do arcanjo Riviel, seu pai.

Disse ela novamente o nome que nunca era dito.

– O que eu faço então?

– Segure na palma das duas mãos e as acenda com fogo, a lâmina absorve sozinha qualquer chama a base de magia celestial perto dela.

Kia olhou para o objeto sem acreditar que ele fosse capaz de fazer isso realmente, parecia tão inofensivo.

– Assim – comentou ela depositando o objeto em suas mãos – Você sabe como acender seu fogo, não sabe?

Perguntou curiosa e Kia afirmou que sim, Ambrose havia lhe contado como sua magia funcionava e agora ele estava cheio da motivação que precisava. Fechou os olhos e se lembrou com detalhados momentos cada beijo que dera em Zedd e em cada momento que sentira os dentes do rapaz em seu pescoço ou em sua orelha.

O calor se iniciou em sua boca e desceu pela garganta se dividindo nos ombros, passando pelos dois braços até chegar na pontas dos dedos e as chamas brancas se acenderem. Ele abriu os olhos sentindo a raiva de seus poderes totalmente controlada. As mãos de Auriel também brilhavam, mas suas chamas eram mais amareladas do que as de Kia, como ele já tinha percebido que a luz de Ambrose era mais acinzentada do que a dele. Traços daquilo que significa cair.

Continuaram parados em silencio por mais dez minutos até a adaga esquentar tanto que incomodava a mão de Kia.

– Está pronto, pode guardar na bainha. Ela estabiliza a adaga.

Disse ela e ele fez, deixando a arma no mesmo lugar que encontrou.

– É só isso?

Perguntou, a presença de Auriel mesmo que não fosse ameaçadora e sim familiar, ainda era estranha de processar.

– Não, tem mais uma coisa que você precisa receber, pois essa adaga é só uma precaução primária, seu amigo precisará de uma arma mais adequada a ele.

Comentou tirando um pergaminho do vazio que existia atrás de suas costas.

Kia o pegou sentindo a magia da adaga nele.

– Estude-o, vai precisar dos conhecimentos descritos ai para criar as armas que dará para proteção do seu amigo. Só que leva tempo para fazê-las e certo nível de aperfeiçoamento. Então vai com calma.

– Muito obrigado.

Disse ele pondo o pergaminho ao lado da adaga.

– Você parece que quer me fazer uma pergunta.

Comentou-a se sentando novamente na cama a sua frente.

Kia olhou para ela sem entender.

– Não quero.

Disse sério e preciso.

– Ele realmente te magoou os abandonando.

Comentou ela com um sorriso surpreso.

– Arael vai e vem, logo ele vai voltar e me dizer o que fazer como vem feito desde que apareceu, não me preocupo com o desaparecimento dele. Nem o primeiro, nem o atual.

– Arael realmente está ocupado com coisas um pouco mais importantes que você no momento, mas não é dele que eu estou falando. É do seu pai.

Disse ela por fim fazendo a expressão séria de Kia se quebrar.

– Faz tempo que eu não o chamo assim, ou o considero assim.

Comentou se virando, escondendo uma lágrima que quase se derramou.

– No meu mundo somente os homens podem procriar como a sua espécie procria, e somente com uma mulher dessa espécie em questão e eles nunca ficam com seus filhos ou ao menos os conhecem, então eu nunca entendi o porquê de conseguirem realizar isso.

Disse ela apertando o estômago sentindo um vazio de algo que nunca teve ou poderia ter.

– Você queria ser mãe?

Perguntou ele reconhecendo a cena como um sinal clássico da perda de um bebê ou da ânsia de não poder ter um.

– Ser mãe? É um sonho que nenhuma mulher no reino dos Céus pode ter, pois nossos corpos são imutáveis e por isso não geramos vida. Somente existimos ao lado dos homens como iguais, é solitário nesse aspecto em especifico. Mas que angelical, não é?

Perguntou ela rindo e se virando para o mesmo espelho que Kia antes olhava.

– Só conheço três.

Comentou com um sorriso fraco.

– Se ajuda, também não vejo seu pai desde a época que ele teve você com sua mãe. E acho realmente que ele gostava dela. Não como os humanos amam, avassaladoramente e destrutivamente, mas tinha carinho, da forma que nós podemos ter pela sua raça.

– Obrigado por contar, mas você não disse que ele tinha carinho por mim, então por que tocou no assunto, se eu era o foco?

– Não costumo mentir, e como disse, não vi Riviel desde que você estava no ventre de sua mãe, então não posso afirmar o que não sei, e nem quero que você crie falsas expectativas. Mesmo quando nos importamos fazemos coisas idiotas. Lealdade para nós é maior que os sentimentos. Posso lhe garantir isso.

– Como?

Perguntou irritado.

– Pois eu carrego em mim essa marca.

Respondeu ela se levantando e pondo seu rosto perto do de Kia. A cicatriz em formato de uma mão surgiu em sua pele.

– O que aconteceu com você?

Perguntou assustado, a cicatriz voltou a sumir logo depois.

– Posso te mostrar se quiser, mas vai ter que entrar na minha mente para ver.

Comentou pegando as pequenas mãos receosas do rapaz e as pondo perto de seu rosto.

Kia fechou os olhos e estendeu seus pensamentos até tocar na mente de Auriel, o jeito a qual ela funcionava era completamente diferente dos mortais, mais rápida, mais confusa, mais complicada, mas ele sentiu um caminho se abrindo e o caminhou.

As memórias vieram de uma vez. A masmorra. O demônio torturador. A mão flamejante de fogo azul. As asas assustadoras, e a dor quando a lâmina ondular atravessou o corpo dela e ela caiu ao chão soando frio e tremendo.

– Ele matou você. Samael, matou você por que você não disse nada sobre mim. Mas como ele estava aqui?

Comentou apavorado, se lembrando de cada frase.

– Ele é forte o suficiente para possuir o corpo de humanos fora das Tríades – comentou ela revelando uma nova faceta do poder demoníaco a Kia – Seu avô havia posto uma runa antiga em mim, em tese a runa deveria me ajudar a fugir da morte ilesa, se ela viesse das mãos dos nossos altos inimigos. Porém, ela se quebrou depois que morri e eu acordei com essa cicatriz no rosto e uma no estômago onde a espada de Samael me acertou, mas estava viva.

– Então você não disse nada por que sabia que não iria morrer, não por lealdade.

Comentou se levantando irritado e cansado.

– A runa deveria me salvar ilesa, e mesmo assim, só em teoria, nunca tinha sido testada. Eu não sabia de nada. E bem, tive sorte que Samael não resolveu me queimar viva, pois estaria aqui hoje como um cadáver ambulante totalmente queimada, e sem conseguir me mexer direito. Mas é o que ganho por me esgueirar por lugares que não deveria.

– Então teve sorte.

Comentou quase cuspindo ao ar, não fora proposital, mas tinha saído desse jeito.

– É, tive. Pus uma runa de disfarce em mim, e ela faz a cicatriz desaparecer, mas a lealdade é o que somos, e amar e o odiar é o que os humanos são. Entende isso agora?

– E o que os nefilins são?

– Os insanos – comentou ela se afastando lentamente para janela – Para alguns, pela loucura que herdam dos anjos a ira que herdam dos arcanjos, para outros por serem angelicais capazes de amar e quebrar a lealdade se assim seu amor for quebrado. Mas o que eles são para você, nefilim mestiço?

Perguntou, então a porta de seu quarto abriu, Skye entrou sorridente, mas Auriel não o viu, só a camisa de Kia restava jogada ao chão, e nada mais de Auriel ou seus enigmas e perguntas complicadas.

– Pensei ter ouvido você conversar com alguém, estava no telefone?

Perguntou Skye a Kia, mas o garoto ainda estava de costa a ele.

– Não exatamente. Mas você vai gostar de saber que lhe deixaram um presente, há alguns minutos.

– Quem? E o que é? É maneiro, por que se não for você, pode ficar.

Disse ele empolgado e animado.

–––

– Disse para você levar a adaga não enigmas familiares, para o Kia.

Disse Ambrose sentado em uma poltrona de couro vermelho, Auriel observou ele curiosa. Ambrose tinha surgido cedo em sua casa pedindo que ela fosse até Kia e lhe desse a adaga e o explicasse tudo pois ele estaria ocupado, resolvendo algo mais importante. E agora estava aqui, sabendo de tudo que tinha ocorrido lá.

– Só estava sendo eu, aliás você estava nos observando, sério? Qual a necessidade disso?

Perguntou ela pegando uma camisola perdida sobre uma mesa retangular e a pondo sobre seu corpo nu.

– Aparentemente, toda.

– Me pergunto como você estava xeretando, estava nos ouvindo ou vendo? – pergunto sorrindo com seus cabelos ruivos ainda mais cacheados – O feitiço do Observador de espelhos, eu presumo. Arael foi seu professor de magia antiga enquanto eu era em ser um caído, e ele adora esse feitiço.

– Ele o pois para a proteção dele – comentou confirmando o que ela suspeitava, o feitiço do observador de espelhos enfeitiçava todas as superfície reflexivas de um local e as fazia de canal para um outro espelho receptor, onde tudo poderia ser monitorado – E por que falou de Riviel?

– Por que fiquei curiosa, sabemos como filhos abandonados são dramáticos e eu queria saber onde Kia está nessa linha. Fiquei cinco anos fora, perdi muito desse garoto e eu quero saber tudo o mais rápido possível. Mas você não deveria estar nos túneis, tentando convencer Aya a finalmente aceitar nosso convite?

Perguntou ela confusa, mas Ambrose não respondeu.

Auriel encarou sua expressão por alguns segundos e pegou um cortador de cartas que ficava sobre a mesa do lado oposto aquela que ela tinha pego a camisola, a casa que ela se encontrava era cheia de coisa antigas que ninguém mais usava.

Olhou uma última vez antes de fazer e lançou o objeto bem na direção da testa de Ambrose e todo ele desapareceu em fumaça branca e depois retornou ao local, escondendo o cortador de cartas que tinha adentrado a camada interna do couro.

– Feitiço da miragem, muito bom.

Disse ela batendo palmas.

Ambrose não estava realmente ali, ainda estava em sua missão nos túneis, era somente uma projeção de seus pensamentos trapaceando Auriel.

– Obrigado. Agora por favor, proteja-o. Volto logo.

– Protegi antes e me sacrifiquei antes, posso fazer isso por um fim de semana, idiota. Vá e tente trazê-la dessa vez. Precisamos dela. Só pode ser ela.

– Vou trazê-la. Bem ou mal, ela é minha irmã.

Comentou antes de desaparecer de vez.

– Irmã ou não, há muito tempos vocês não têm as mesmas asas.

Acrescentou ela arrancando o cortador de cartas da poltrona com as mãos deixando pequenos pedaço do revestimento cair e o metal frio fazer cócegas em sua pele.



Espero que tenham gostado do capítulo, gostaria de aproveitar esse momento para pedir a ajuda de todos que puderem com a minha Vakinha Online para revisão e nova capa para o livro Fumaça&Cinzas, pois há algum tempo alguns leitores vem me encorajando a apostar em publicações online como Amazon/Kindle e finalmente acho que é o momento, contudo preciso da ajuda de todos para conseguir entregar um material mais profissional possível. Qualquer quantia é bem vinda, não importa o quão pequena possa parecer. A meta final é de 1000 reais para pagar a revisão e a nova capa, que pode parecer pouco para alguns, mas é muito dinheiro para mim que trabalho, pago aluguel e todas as contas da minha casa sozinho. Agradeço desde já a todos que puderem ajudar, e para aqueles que também não puderem, pois estamos em tempos difíceis e eu sei disso.

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Chave pix: 2932227@vakinha.com.br

Outras formas de ajudar são por boleto, crédito e afins. Lembrando que qualquer valor, mesmo R$ 1,00, já ajuda a realizar meu sonho galera.

E caro leitores, para aqueles que queiram perguntar, criticar, reclamar ou elogiar, sintam-se livre para me chamar tanto por aqui, quanto pelo meu whatsapp (021997643001).

Só chamar lá, e ficar a vontade.

Felipe L.

Bjos.

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