Tédio. Essa era a palavra que definia meus dias nas últimas semanas. A monotonia me alcançou e meus dias se tornaram todos iguais, um sendo a exata cópia do outro, tudo cinza e sem cor.
Apenas alguns momentos me faziam sorrir brevemente e traziam algum colorido a minha vida. O primeiro deles ao encarar o sorriso orgulhoso de meu pai ao me encontrar todos os dias no escritório.
O segundo ao encontrar Louis e seu mais novo jeito de lidar com o mundo, xingando tudo a sua volta e usando roupas um pouco mais escuras. Ele também comprou sua própria carteira de cigarros e não estava tão falante quanto antes, o que obviamente era um reflexo de sua briga com Harry e o sumiço do alfa.
O terceiro e mais prazeroso era o semblante mandão de Perrie ao me passar as atividades do dia e seus olhos semicerrados ao me flagrar encarando-a. Eu não tinha culpa que ela sentava logo a minha frente e que era uma modelo linda para meus desenhos.
Cheguei até a ficar um pouco envergonhado quando em uma tarde eu estava distraído finalizando o desenho de seu rosto que fiz mais cedo quando ela apareceu a meu lado.
– O desenho é lindo, eu estou honrada por tê-lo inspirado, mas você não tinha uma pesquisa jurisprudencial para fazer, Zayn? – eu a encarei por alguns segundos sentindo minhas bochechas corarem.
– Eu me distraí, desculpe. Tem uma garota linda sentada a minha frente e eu não posso evitar olhar para ela o tempo todo. – lancei-lhe uma cantada que a fez revirar os olhos.
– Ótimo, vamos ter que trocar você de lugar. – seu tom autoritário voltou. – A partir de amanhã você senta no lugar do Bradley, ok? – ela deu as costas e caminhou até o final na sala, para conversar com o garoto que trocaria de lugar comigo.
Eu suspirei derrotado e irritado por novamente ter sido rejeitado. Eu simplesmente não entendia, no dia da festa, nós dançamos juntos por um longo tempo, foi agradável e tivemos um papo legal. Até demos uma escapada para trocarmos beijos nada ortodoxos do lado de fora do salão.
E agora ela era fria, me tratava como todos os outros. Como se não me conhecesse, como se eu não fosse especial de algum modo.
Até conversei com meu pai sobre ela, ele disse que ela tornou-se chefe dos estagiários em pouco tempo e principalmente pela seriedade que levava o trabalho, que tinha ótimas defesas e que em breve assumiria uma das cadeiras principais.
Também me mandou ficar longe dela, para não prejudicar o futuro da garota e não levantar boatos sobre ela ser privilegiado por estar saindo com o filho de um dos chefes. Pelo que ele dizia, todos gostavam muito dela por lá. Mas essa parte da conversa eu resolvi ignorar.
Era nisso que estava pensando quando a vi. Louis estava deitado no gramado e eu estava sentado, acendendo um cigarro. Ela caminhava de mãos dadas a uma garotinha, usava o mesmo estilo de roupas que usava para trabalhar, as duas estavam relativamente longe, mas eu a reconheceria em qualquer lugar.
Me despedi de Louis rapidamente e comecei a correr em sua direção, eu não podia perder a chance de encontrá-la fora do ambiente de trabalho, já que lá ela não abria nenhum brecha para aproximação.
– Puts, vai com calma. – eu exclamei quando já estava perto o suficiente, fazendo-a virar assustada ao me ver e me encontrar ofegante, com as duas mãos nos joelhos, tentando recuperar o fôlego. – Eu realmente preciso parar de fumar, meu Deus. – tentei quebrar o gelo, enquanto ainda recuperava o fôlego. – Oi, Perrie, você não devia estar no trabalho?
– Eu estou ocupada, não posso conversar agora. Até mais tarde, Malik. – foi tudo o que ela disse antes de pegar a garota no colo e se virar, voltando a caminhar rapidamente.
– Ei, ei. – eu corri a sua frente e travei seu caminho. – Calma, eu só quero conversar.
– Eu não tenho tempo, Malik! – ela gritou, visivelmente transtornada, me fazendo encará-la surpreso.
– Quem é ele, mamãe? – a garotinha em seu colo escondeu o rosto no pescoço da beta, amedrontada.
– Não é ninguém, meu amor. – eu olhava de Perrie para a garotinha em seu colo freneticamente, tentando encaixar as últimas palavras proferidas pelas duas em minha mente.
As semelhanças eram visíveis, por isso minha dedução anterior era de que se tratava de sua irmã. A garotinha que agora me encarava curiosa enquanto mantinha parte de seu rosto encoberto, me permitia analisar seus olhos incrivelmente azuis como os da mãe, além do formato do rosto, dos lábios e os cabelos loiros.
– Meu Deus, você é casada. – eu afirmei, ainda atônito. – É por isso que não me deixa chegar perto.
– Não seja ridículo, Zayn. – ela debochou, ajeitando novamente a garota em seu colo e recomeçando a andar.
– Espera, você não acha que você deve ao menos me explicar?
– Explicar o que e por quê? – ela voltou a mim. – Eu não devo satisfação da minha vida a ninguém, Malik. Muito menos ao filho do meu chefe que se acha o máximo só porque trocamos uns beijos um dia. As pessoas têm que parar de achar que eu devo algo a alguém. – uma lágrima escorreu por seu rosto e eu percebi o quanto aquilo a magoava.
– Não chore, mamãe. – a garotinha limpou a lágrima solitária que rolava, ganhando um sorriso da beta, que a colocou no chão e se abaixou para ficar a sua altura. – Grandes garotas não devem choram, lembra? – ela completou.
– Tem razão, meu amor. Grandes garotas não choram. – ela deixou um beijo na testa da garota, fazendo meu coração bater mais rápido.
– Ei, eu me chamo Zayn. Como é seu nome, garota bonita? – eu me abaixei junto das duas, dando minha atenção à garotinha.
– Elisa. – ela disse baixo, com as bochechas coradas.
– Elisa é um lindo nome, combina com você. – eu sorri e ela escondeu seu rosto atrás da mãe.
– Que tal nós tomarmos sorvete, Elisa? Eu, você e a mamãe, hum?
– Eu não sei... – ela disse receosa, voltando seu olhar para a mãe, pedindo autorização.
– Por favor. – eu sussurrei em direção a Perrie.
– Não é bom comer doces antes do almoço.
– Ótimo, então eu posso levar vocês duas para almoçar e depois nós tomamos sorvete.
Elisa comemorou animada, me fazendo sorrir e encarar a beta com um olhar cheio de expectativa. Ela assentiu depois de um tempo, concordando, mesmo que relutante.
Fomos buscar meu carro na universidade e de lá as levei a um restaurante. Mantive uma conversa animada com Elisa, já que sua mãe não parecia à vontade o suficiente para conversar.
– O que você vai querer?
– Qualquer coisa para mim está bom. – ela disse brevemente. – Elisa também come qualquer coisa, mas se puder pedir vegetais, eu agradeço. – suspirei brevemente, analisando o cardápio e fazendo o pedido, voltando minha atenção a ela depois.
– Você pode conversar comigo, sabia?
– Promete que não vai contar a ninguém no escritório, Zayn. Por favor! Me prometa! – havia desespero em sua voz.
– Mas por quê? Ela é linda, tenho certeza que vão adorar conhecê-la...
– Como você é ingênuo. – ela me interrompeu. – Eu sou uma mãe solteira. Ninguém quer empregar uma mãe solteira, ninguém quer abrigar ou ajudar uma beta estúpida que confiou em um alfa idiota e acabou abandonada grávida.
– Oh. – eu suspirei, tentando digerir suas palavras. – Então você não é casada. – ela bufou. – Desculpa, mas foi a primeira coisa que eu pensei quando vi que ela era sua filha.
– Ah claro, pensou que eu era casada e tinha me agarrado a você aquele dia por uma diversão? Ou talvez por ser filho do meu chefe? Nossa, obrigada.
– Talvez por diversão, eu não sei, você nunca me disse porque fez aquilo.
– Porque eu sou estúpida! E a cada vez mais faço coisas estúpidas.
– Agora eu é quem devo agradecer por chamar a mim de "coisa estúpida". Por que não começamos isso certo depois de comermos, porque eu estou realmente com fome. – dei um jeito de encerrar o assunto antes que isso terminasse em uma briga.
Observei feliz a forma como as duas se entendiam bem, mesmo quando Elisa fazia careta para comer alguns legumes. Elas pareciam conversar e se entender pelo olhar, o que me fez imaginar as coisas que passaram para serem hoje tão unidas.
– Quantos anos ela tem?
– Dois anos e meio.
– Sabe que não precisa se preocupar, né? Eu não vou contar para ninguém.
– Obrigada por isso. – ela me lançou um sorriso tímido. – Me desculpe pelo pequeno surto. É que eu sempre tomei muito cuidado para que ninguém soubesse dela. – ela suspirou. – Você tem razão, Zayn. Ela é maravilhosa e todas as pessoas deveriam conhecê-la, mas eu não posso arriscar. Não agora que tudo está dando certo. Agora que a minha vida se estabilizou, eu comprei um apartamento para nós duas, posso pagar uma boa escola e uma babá caso precise sair uma ou duas noites, posso bancar um bom plano de saúde e me certificar de que não faltará nada. Nem sempre foi fácil...
– E o alfa? – ela riu sem humor algum.
– Casou com uma ômega, a mesma história de sempre. Adoram se divertir com betas durante a adolescência, mas na hora de casar, nós nunca somos o suficiente.
– Mas ele sabe da filha?
– Claro que sim. E fez questão de jogar na minha cara que eu era uma puta que se deitava com qualquer um por aí, mesmo que ele soubesse que ele havia sido o único, disse que era óbvio que a filha não era dele e que eu só queria dar um golpe para que ele ficasse comigo. Afinal, quais são as chances de uma beta engravidar? – ela fez uma pergunta retórica no meio de seu desabafo. – Pois é, mas eu sou a sorteada.
– Ele é um imbecil. – disse sincero, vendo a garotinha se lambuzar enquanto se deliciava com o sorvete.
– O tipo de imbecil que tem em cada esquina. – eu concordei. – Bom, depois disso eu fui expulsa de casa, fiquei morando de favor na casa de uma amiga até Elisa nascer e eu poder trabalhar.
– Seus pais te colocaram para fora de casa? – eu a encarei incrédulo.
– Ninguém quer uma garota solteira com um filho em casa, Zayn. É uma vergonha para a família.
– Eu sinto muito que teve que passar por tudo isso. – segurei sua mão sobre a mesa e trocamos sorrisos sinceros e cúmplices. – Saiba que pode contar comigo a partir de agora. – levei sua mão a meus lábios e deixei um beijo casto, fazendo corar.
– Obrigada, garotinho mimado. – ela me lançou uma piscadela e virou sua atenção à filha, me deixando com um sorriso bobo.
– Mas você não me respondeu. – ela voltou a me olhar. – Por que ficou comigo no dia da festa?
– Você é legal, foi gentil, me divertiu, fazia tempo que eu não ganhava tanta atenção. – ela confessou. – Foi bom ser uma garota normal de novo.
– Você terá a minha atenção sempre. – sentenciei, sentindo a intensidade do olhar da garota incrível sentada a minha frente.
X
Eu sei que foi um capítulo arriscado, mas a fic é toda perigosa. É um universo abo um pouquinho diferente, para não dizer muito. Então eu sinto muito para todos que shippam Ziam e tem aqui Niam e Zerrie. Eu shippo os dois e acabei colocando na fic e acho que devo ser fiel a minhas ideias e minha história, mesmo que isso signifique perder alguns leitores amados </3
Niam é meu amorzinho. E eu coloquei Zerrie porque realmente gosto e porque sinto que precisava dar um final bom ao Zayn. Também introduzi um pouco dos ideais da fic em Zerrie, como o fato da Perrie ser mãe solteira e ter sofrido por isso.
Eu realmente espero que entendam e tenham gostado. Eu sinto muito por não poder agradar a todos, mas sentiria mais ainda se enganasse vocês criando uma história só pelos favoritos e não porque realmente amo e acredito naquilo.
XO