Eu nunca irei superar o olhar de Liam. Ele costuma dizer que meus olhos são a coisa mais linda que ele já viu no mundo todo. Mas ele só diz isso porque não pode ver seus próprios olhos.
Liam é um daqueles seres humanos raros, com o coração maior do que o mundo, que se sensibiliza com histórias tristes e tenta não demonstrar, principalmente por seu status. Mas seus olhos nunca mentem.
Eu consigo ler cada emoção neles. Posso vê-los sumir em meio a inúmeras ruguinhas em um sorriso de felicidade. Posso vê-lo compadecido diante do sofrimento alheio. Posso vê-los brilhar um pouco mais intensamente quando me olha apaixonado.
Eu sempre abusei de sua bondade, sempre fiz birra para conseguir o que queria e sempre consegui. Era o mais novo das duas famílias e demonstrava minhas qualidades de ômega desde cedo, o que me rendeu muito mimos, principalmente por parte dele.
Acho que por isso me doeu tanto ter sido traído. O alfa sempre fez tudo o que eu queria, sempre me tratou como a coisa mais preciosa do mundo e talvez, para ele, eu fosse. Mas ele me contrariou. Pela primeira vez ele não fez o que eu quis e pela primeira vez ele olhou para alguém com os mesmos olhos que olhava para mim.
Liam era meu. Ele não podia, de repente, após uma vida toda cedendo a meus caprichos, me deixar. Ele era meu e a possibilidade de não tê-lo mais agora batia a minha porta todas as vezes em que eu fechava os olhos.
Por isso foi difícil deixar que ele voltasse ao quarto de hóspedes na noite em que nossos pais foram embora. Seu olhar era como o de um enorme cachorro arrependido por ter roído o pé do sofá.
Eu tive vontade de pular sobre ele e pedir para que ficasse, para fazer amor comigo e esquecer tudo isso. Mas eu me limitei a virar as costas e me trancar no banheiro, deixando as lágrimas escorrerem.
Meu maior medo era de que Liam não me tocasse mais como antes. Medo de que ele imaginasse Zayn ou qualquer outro enquanto estivesse comigo. Tinha medo de terminar essa história ainda mais magoado. E medo de que ele partisse por pensar que eu não o quero mais.
Meus sentimentos estavam totalmente bagunçados, confusos e cheios de insegurança.
Acho que meu choro foi alto o suficiente para que ele escutasse, ou talvez fosse só uma consequência da mordida, já que nós sentíamos um ao outro.
Pois antes de sair para ir ao quarto ao lado, ele bateu calmamente na porta, disse que estava saindo, mas que estaria sempre ali para mim. Ele foi novamente o homem fantástico pelo qual eu sempre fui apaixonado.
Eu acho que parecia mesmo bem cansado na manhã seguinte quando desci para o café. Pois ele me olhou cheio de preocupação e tentou me animar, embora eu tenha ficado dois dias em uma luta interna em relação a meus sentimentos, completamente fechado em mim mesmo, sentindo o olhar inquieto do meu alfa sobre mim.
Eu estava deitado em meu quarto, ocupando a ínfima parte que cabia a mim na enorme cama de casal. Coberto pelo grosso edredom e tentando me distrair dos trovões e raios que se anunciavam junto à ventania da forte tempestade que caia do lado de fora da casa.
Eu nunca fui um grande fã de tempestades, elas sempre me assustavam e os trovões reverberavam em meu ouvido com seu som aumentado, me fazendo saltar assustado. Quando eu era criança, corria para o quarto de meus pais, pulava no meio dos dois e dormia protegido.
Quando mais velho, pedia para que Liam ficasse comigo naquelas noites e acabava abraçado a ele, sentindo a proteção de seus braços fortes. E agora, atados, não era diferente, ou talvez fosse, já que a sensação de proteção triplicada, potencializada pela mordida.
Revirei na cama novamente, cobrindo minha cabeça rapidamente assim que um barulho alto de trovão cortou o céu. Cheguei a meu limite.
Nem acendi as luzes da casa, apenas corri o mais rápido que pude ao quarto a frente do meu, encontrando a porta aberta e me enfiando em meio a confusão de cobertores que Liam sempre fazia.
Ele acordou assustado com a movimentação e me olhou confuso, com os olhos cheios de sono, mas assim que outro trovão ecoou, ele pareceu entender do que se tratava, pois se acalmou, deitando novamente no colchão e abrindo os braços para que eu me aconchegasse.
– Shhh, tá tudo bem. É só a chuva, amor. – ele disse com a voz rouca pelo sono, beijando meus cabelos em seguida.
– E-eu sei, mas eu não gosto de trovões. – eu afundei meu rosto em seu peito.
– Já vai passar, você vai ver. – o alfa me puxou para mais perto, fazendo com que nossos corpos se unissem mais e eu me acalmasse, sentindo a sensação se segurança tomar conta de meu corpo. – Rose não quer que o papai sinta medo.
– Rose? – eu disse confuso, afastando-me dele um pouco.
– Eu pensei em Rose para o nome do bebê, você não gosta? – ele explicou.
– Eu gosto. – disse pensativo, repetindo o nome dentro de minha cabeça para ver como soava. – Mas e se for menino?
– Que tal Jack? – eu comecei a gargalhar, fazendo com que ele risse junto e a sensação de medo de segundo atrás fosse transformada em uma felicidade sem nenhum motivo específico.
– Liam, você quer dar os nomes de Titanic aos nossos filhos? – eu ainda ria descontroladamente.
– Por que não? É um de meus filmes favoritos. – ele tentou se justificar, embora também estivesse rindo.
– Você está falando sério?
– Sim, por que não? Eu sei que você também adora o filme.
– Eu adoro, mas isso não significa que eu queira dar o nome dos personagens ao meu filho.
– Poxa... – ele soltou um muxoxo triste.
E novamente eu fui tomado pelo poder que seus olhos tinham sobre mim. Ele me encarou com um semblante triste, embora mantivesse o sorriso em seus lábios. Talvez, depois de tantos anos, fosse a minha vez de ceder um pouco aos caprichos de Liam.
– Tudo bem, Rose e Jack são lindos nomes, tenho certeza que todos irão adorar. – eu selei seus lábios rapidamente e abri um sorriso tímido, vendo seu rosto ser tomado por uma alegria infinita e um enorme sorriso se abrir, fazendo seus olhos sumirem.
–Eu te amo. – ele disse em meio a euforia que tomou conta de seu corpo.
– Eu também. – sussurrei tímido, afundando novamente meu rosto corado em seu peito, escondendo-me de seu olhar. – Volte para nossa cama amanhã, ela é grande demais sem você. – minha voz saiu abafada, mas pelo aperto em seu abraço e a felicidade que ele exalava, eu sabia que ele tinha ouvido tudo o que eu disse.
– Ni. – ele disse após um tempo em silêncio. – Eu estive pensando no que você disse, sobre ficarmos aqui em Londres e eu continuar a estudar. – eu voltei a encará-lo. – Acho que você tem razão. Nossa vida de casados é aqui e eu realmente gostaria de continuar estudando.
– Eu sei que sim. – passei a mão sobre seu rosto, sentindo meu coração apertar ao imaginá-lo perto de Zayn novamente, mesmo tendo sido eu que o influenciei a isso.
– Eu tinha conversado com nossos pais para trabalhar na empresa deles e eles toparam. Eu vou fazer a parte jurídica e burocrática de tudo, então trabalharei aqui em casa mesmo, fazendo tudo online e por email. O que acha?
– Acho fantástico. – abri um sorriso sincero. – Eu sei que nossos pais sempre contaram com você e Greg para dar continuidade os negócios das famílias. O Greg já faz a parte da engenharia, será bom ter você cuidando de toda a parte jurídica e administrativa.
– Sabe o que é melhor nisso tudo? – eu deitei minha cabeça em seu peito e ele passou a acariciar meus cabelos. – Eu vou sempre trabalhar em casa, o que dará muito tempo de ajudar a manter tudo organizado e para ficar com o bebê. Você poderá até trabalhar depois que ele nascer e tudo já estiver meio encaminhado. – eu me levantei rapidamente, apoiando-me em um braço e o encarando. – Eu não voltei atrás com a minha palavra sobre isso. – ele se justificou.
– Você está falando sério? – eu o inquiri, cheio de excitação na voz.
– Sim. Você iria dar aula de música, não é? Eu não vejo problema algum... – eu o interrompi pulando sobre seu corpo para um abraço, fazendo-o gemer de dor e rir logo após. – Cuidado, Niall. – ele me repreendeu, fazendo-me levantar. – O bebê.
– Tem razão, me desculpe. – eu acariciei minha barriga ainda sem nenhum sinal aparente. – E me desculpe, Rose. – eu sorri grande. – É que eu realmente estou feliz por isso.
– Rose? Acha que será menina?
– Sim, é algo como intuição de mãe... ou de pai, eu já não sei mais. – o alfa gargalhou, me puxando delicadamente para deitar em seu peito novamente. – Você acha que eu ficarei muito estranho gordo? – eu comentei pensativo.
– Eu acho que você ficará ainda mais lindo. E eu não nego que estou muito ansioso para isso acontecer.
– Para ser sincero, eu também. Eu não vejo a hora de ver o rostinho dela. Como a gente pode amar tanto algo que nós nem conhecemos ou vimos?
– Eu não faço ideia, chega até a ser assustador.
– Sim! – eu respondi, segurando a mão de Liam e a guiando até minha barriga. – Imagina que emocionante poder sentir o bebê aqui. – nós ficamos em silêncio, até eu o ouvir fungar, me fazendo encará-lo e encontrar seus olhos marejados, fazendo meu coração aquecer.
– Eu já me sinto tão realizado por poder sentir seu cheiro, nem imagino como será poder senti-lo se mover. – sua voz demonstrava sua emoção. – Espero que aconteça logo.
Era incrível o quanto Liam tinha mudado após tudo isso e principalmente após a notícia de minha gravidez. Ele estava visivelmente mais sensível, carinhoso e protetor. Além de toda a evolução que ele havia aprendido com Louis. Parece mesmo que os dias bons voltarão a reinar entre nós.
– Eu também. – concordei. – Li, é melhor nós dormimos, você tem faculdade amanhã cedo. – eu me aconcheguei a ele novamente.
– Eu posso te beijar? – ele disse em um sussurro próximo, me fazendo arrepiar.
Eu não respondi a sua pergunta, apenas o encarei com olhos esperançosos, aguardando o momento em que seus lábios tocariam os meus e ele o fez.
Sentir seu beijo novamente após tanto tempo era como se fosse a primeira vez, como dois garotos inocentes que estão descobrindo os prazeres da vida.
Nossos lábios e língua se movimentavam de maneira lenta, como se quisessem redescobrir cada canto, cada gosto. Uma de minhas mãos foi a sua nuca, prendendo-o ali por mais tempo e permanecendo após o fim do beijo, colando nossas testas.
– Boa noite. – ele sussurrou, ainda com os lábios próximos aos meus.
– Boa noite, amor.
X
Eu disse que tudo voltaria a dar certo para Niam e olha só, está funcionando u.u
Eu realmente acho que o sorriso do liam que faz seus olhinhos sumirem deveria ser considerado uma das maravilhas do mundo, ao lado dos olhos do Niall, das covinhas do Harry, a bunda do Louis e, enfim, vocês entenderam.
Eu provavelmente volto no domingo ou na segunda, então aguentem firme!
espero que tenham gostado.
XO