Proibido (Capítulos Atualizad...

Par wurdig

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Arthur é um estudante de Economia, carismático, determinado e um pouco introvertido. Gustavo é o Diretor Fin... Plus

Apresentação
Pôster Promocional / Apresentação dos Personagens
Sobre o autor
01. A Família Lobo
02. Rumores
03. Viagem De Negócios
04. Berlim
05. Tolstói
10. Xeque-Mate

06. Aposentadoria

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Par wurdig



Na segunda-feira de manhã, Arthur tateou pela mesa de cabeceira, procurando pelo som do despertador. Havia sido uma noite difícil de dormir, sabendo que todas as respostas das perguntas que pairavam em sua mente nos últimos dias seriam finalmente respondidas naquela manhã. Antes de levantar, se permitiu perder alguns minutos olhando para o teto, revivendo as lembranças de Berlim em sua cabeça. A luz entrava de maneira tímida pelas fendas da cortina, anunciando um céu cinzento, que ameaçava trazer a chuva a qualquer momento.

"Que Deus me ajude a sobreviver ao dia de hoje." — Arthur pensou, suspirando sonoramente ao se levantar e ir para o banheiro. O banho levou mais tempo do que o necessário, e ele sabia, no fundo, que estava postergando o máximo que podia para aquele dia começar.

Ao surgir na cozinha, viu Samuel de costas, mexendo no fogão. O aroma itenso de café pairava sobre o ar, preenchendo o ambiente de forma agradável.

— Bom dia, flor do dia. — Samuel desejou, se virando e fitando Arthur ao perceber sua presença.
— Bom dia. — Arthur murmurou, se sentando à mesa com a cara de poucos amigos.
— Arthur... O que a gente combinou? Nada de desânimo. Se por acaso o pior cenário acontecer, o que eu duvido muito, pra ser sincero, você volta pra casa, a gente se empanturra de sorvete e chocolate e assiste algum filme leve e bobo dos anos noventa pra distrair sua cabeça. O que tiver que acontecer, vai acontecer. E seja lá o que for, a gente vai resolver juntos.
— Eu não sei o que eu faria sem você, Samuca.
— Eu sei. Você tem maior sorte em ter um melhor amigo tão incrível como eu. — Samuel disse, se vangloriando, mais como brincadeira do que como um lampejo característico de vaidade.
— Eu queria ser uma mosquinha pra estar naquela reunião. Não me conformo que eu não pude estar lá.
— Você sabe que, se caso tudo der certo, grande parte do mérito é seu.
— Bom, eu sei disso. O problema é que o resto da empresa nunca vai saber.
— Você se preocupa demais com o que os outros pensam, Arthurzito. No dia em que você aprender a ligar o foda-se, sua vida vai ser muito mais fácil.
— Esperando ansiosamente por esse dia. — Arthur disse, rindo em sincronia com Samuel.

O barulho da campainha os pegou de surpresa, fazendo-os se entreolhar, curiosos.

"Quem poderia ser antes das oito da manhã?" — Arthur se perguntou, andando a passos largos até o interfone.

— Pois não?
— Entrega para Arthur Dantas.

A voz desconhecida fez Arthur pensar duas vezes em descer e verificar quem e o que era. Porém, antes mesmo de terminar de falar para Samuel que havia um pacote para Arthur numa segunda-feira de manhã cedo, os dois desciam as escadas, afobados, com Samuel puxando Arthur pelo braço.

Ao chegarem no portão, um buquê extravagante de rosas brancas e um embrulho em papel-pardo, envolto com uma fita de barbante que formava um laço rústico e caprichoso, fez o coração de Arthur bater um pouco mais forte.

Na parte frontal do bilhete, a mensagem:

"Os cavalos fogosos conhecem-se pelo porte e as pessoas apaixonadas pelos olhos." —  Liev Tolstói.

Arthur tentava processar o que significava aquela frase no contexto da vida real, quando virou e se deparou com outro texto no verso do bilhete:

"Espero que goste desse presente. Encare como uma forma de agradecer o seu empenho na breve estadia em Berlim. Graças a você, fechamos o contrato mais importante da história do Grupo Lobo. Você foi uma das mais gratas surpresas que a vida me deu. Espero que isso seja apenas o começo de algo muito duradouro.

Com carinho,
Ricardo."

Samuel pegou o bilhete das mãos de Arthur, lendo ainda mais rápido que seu melhor amigo. Ao passar os olhos de forma apressada, não conseguiu segurar o grito de incredulidade, levando a mão na boca, após Arthur o advertir com um "shhhhh" longo e sonoro.

— Você arrebatou o coração do Lobo Pai. Quem é você e o que você fez com o meu amigo?

Arthur parecia não ter ouvido o que Samuel havia falado, pois, ao abrir o embrulho, se deparou com um exemplar de Anna Karenina, com a data de publicação indicando o ano de 1877.

— É um exemplar da primeira edição. Eu não posso aceitar isso. Só vai me complicar ainda mais.
— Deixa de ser careta, Arthur! É falta de educação rejeitar presentes assim. Ainda mais aqueles caros pra caralho.
— Eu não preciso de uma edição de 1877. Eu já tenho a minha. E está de ótimo tamanho.
— É o seu livro preferido, em uma das edições mais raras de se encontrar. Deixa de ser orgulhoso e para de cena. Não vou deixar você fazer essa desfeita para o daddy mais gostoso da alta sociedade paulistana. E a julgar pela forma que o filho dele te tratou, acho que você estava escolhendo o Lobo errado.

Arthur olhou em desaprovação para Samuel, mas sabia que, no fundo, queria ficar com o livro. Sabia que, se fosse comparar sua contribuição para aquela viagem de negócios, merecia muito mais do que um livro, pra ser sincero. Mas devolver o presente significaria começar um novo drama do qual ele não estava com ânimo de fazer parte. Por isso, decidiu seguir o conselho de Samuel (por mais improvável que aquilo parecesse para ele).

Ao chegar em frente ao prédio do Grupo Lobo, sentiu seu estômago protestar violentamente. De repente, trabalhar ali já não era nada com o que se parecia, menos de uma semana atrás. Em certo ponto, nem mesmo Arthur aguentava mais as lamurias que atormentavam sua cabeça; ele sabia, muito bem até, que se envolver naquele jogo era perigoso demais.

Jogo.

Era aquilo que toda a situação se mostrava ser, cada dia mais.Um jogo, no qual Arthur era a presa, e os Lobos, os predadores. E o vai-e-vem daquela história já lhe deixava nauseado. Precisava que sua vida voltasse ao normal.

Ao chegar em seu andar, mais cedo do que todos os outros, como de costume, aproveitou a sensação agradável de paz e silêncio que as mesas vazias e as luzes apagadas causavam. Era uma espécie de vantagem para que ele pudesse se preparar para o abatedouro, todos os dias, mas em especial, naquela segunda-feira, quando os colegas curiosos viessem perguntar os detalhes das negociações e, consequentemente, da viagem.

Inconscientemente, Arthur olhou para a porta do escritório de Gustavo, entreaberta, nenhum sinal de movimentação. De repente, se perguntou se ele apareceria mais cedo. E, quando ele chegasse, como seria entre eles.

" Como você acha que vai ser, Arthur? Vai ser normal, porra. Ele é apenas seu chefe. Do jeito que deveria ser. E quanto antes você enfiar isso nessa sua cabeça inconsequente, melhor pra você".

Derrotado, Arthur se sentou e ligou seu computador, determinado a dissipar aquela nuvem insistente que havia estacionado sobre sua cabeça. Checou os e-mails, e eram muitos, o suficiente para que logo sua cabeça mergulhasse no trabalho e deixasse todo aquele drama pra lá.

Por volta das nove, sua cabeça já latejava, e uma pausa para movimentar o pescoço e estralar os dedos indicavam que a manhã estava sendo mais produtiva do que uma segunda-feira geralmente permitia. Uma notificação surgiu na tela de seu computador, o que fez com que ele passasse o mouse e se perdesse por um momento ou dois. As notícias já estavam por todas as partes. Nas manchetes dos principais jornais, a fusão do Grupo Lobo com o Grupo Stier despontava como um dos negócios mais megalomaníacos da história do mundo corporativo do país. Nas fotos, Ricardo e Gustavo apertando as mãos com os três empresários que Arthur havia conhecido em Berlim. De repente, Arthur sentiu um gosto azedo em sua boca, muito semelhante ao que seria o gosto do despeito. Em um misto de sentimentos que lhe atropelaram em um tempo relativamente injusto, Arthur pensava em como todo seu mérito havia sido roubado e trocado por um livro. E, por isso, talvez Tolstói havia deixado de ser seu autor preferido, assim, na velocidade da luz. Ou, ao menos, na velocidade de um voo de Berlim para São Paulo.

— Terra para Arthur! — Ícaro falou, estalando as pontas dos dedos em frente ao rosto de Arthur, se materializando ao seu lado de um jeito que apenas ele sabia fazer. Arthur estava quase se acostumando com aquilo. Olhou para o relógio, espantado do quão rápido o tempo estava passando.

— Oi, Ícaro. Desculpa, eu viajei aqui.

— Eu percebi. Deve estar cansado da viagem. Jet Leg ou algo do tipo.

— É, algo do tipo. — Arthur resmungou, dando um sorriso amarelo, rindo da piada interna menos engraçada do mundo.

— Você recebeu o memorando? Ricardo mandou todo mundo se reunir no auditório em quinze minutos. Acho que ele quer comunicar oficialmente a fusão da empresa.

— Ele tá um pouco atrasado. — Arthur disse, um tanto ranzinza, virando a tela de seu computador e mostrando a notícia para Ícaro.

— Caramba! Ele não vai gostar nada disso.

Arthur assentiu, por pura educação, enquanto se juntava a Ícaro para o caminho do auditório, localizado no décimo primeiro andar. O local, com capacidade para oitocentas pessoas, era todo revestido em madeira clara, assentos estofados em cinza-escuro em material semelhante a veludo e um palco consideravelmente maior do que o necessário para o propósito que havia sido construído. Porém, quando se tratava da megalomania dos Lobo, nada era grande ou luxuoso demais, principalmente para as demonstrações de poder que eles gostavam de fazer, mesmo nos detalhes mais sutis do dia-a-dia. E aquilo ficava cada dia mais perceptível, mesmo com tão pouco tempo usando aquele crachá.

Arthur e Ícaro se sentaram na terceira fileira, e observaram o lugar encher lentamente. Os rostos cansados e curiosos dos funcionários das diversas áreas do conglomerado se entreolhavam e conversavam baixo, quando Ricardo surgiu, imponente e vestindo um sorriso inabalável, andando de maneira graciosa até a ponta do palco, acenando de maneira contida, mas simpática. Gustavo vinha logo atrás, com o rosto de poucos amigos. Seus olhos procuraram Arthur pela multidão, e quando eles se encontraram, foi como se um milhão de fogos de artifício tivessem sido lançados em um céu nublado, apenas para falharem no meio no caminho. Arthur olhou para suas mãos, pousadas sobre suas pernas, e teve uma vontade incontrolável de ir embora. Sua boca tornou a ficar com um gosto horrível, mas dessa vez não era por despeito, mas sim por algo pior, talvez o mais assombroso de todos os sentimentos: o arrependimento.

— Bom dia, pessoal. Sei que acabei pegando todos vocês de surpresa com essa convocação de última hora, mas como vocês me conhecem bem, não poderia deixar de fazer dois comunicados muito importantes, mesmo que, como acabei de ficar sabendo, talvez um deles não seja assim tão novidade para alguns. No fim de semana, fui para Berlim dar assistência a Gustavo em uma negociação muito importante, talvez a mais importante até hoje, da nossa empresa. E o resultado é o melhor possível. Conseguimos adquirir o Grupo Stier, após dois anos e meio de negociações, o que significa que teremos uma fusão entre o Grupo Lobo e o principal conglomerado financeiro da Alemanha.

O auditório foi inundado por palmas eufóricas e rostos orgulhosos, e por um momento, quase ninguém naquela sala acreditava no patamar que a empresa estava prestes a alcançar. Arthur se juntou aos outros, aplaudindo, mesmo que seu rosto não se comunicasse muito bem com sua expressão corporal. Gustavo, a alguns metros de distância, compartilhava da mesma expressão, e não desprendia seus olhos dos de Arthur por um segundo sequer, por mais que fosse visível o quão difícil era para ele. Ocupado demais para perceber qualquer movimentação paralela, por mais sutil que fosse, Ricardo continuou:

— Porém, eu sinto que, para essa comemoração, temos um lugar sobrando aqui, em cima do palco. E esse lugar pertence ao Arthur, nosso tão recente assistente da parte financeira, e que foi protagonista das negociações preliminares na viagem em Berlim. Graças ao empenho dele, tivemos sucesso na finalização do contrato. Por isso, gostaria de convidá-lo para se juntar a nós, aqui em cima.

Em menos de um segundo, todos os rostos do auditório se voltaram para Arthur. Ele, por sua vez, não sabia se saía correndo para fora ou se tentava cavar um buraco no chão, tão fundo que nunca mais conseguisse achar o caminho de volta à superfície. Mas, em vez disso, acatou os comandos de sua cabeça, que por milagre, operou no modo racional, e fez com que suas pernas andassem em direção ao palco. As palmas eram mais tímidas do que as do anúncio anterior, mas ainda assim estavam lá. Arthur, no entanto, só conseguia pensar no que se passava nas cabeças de toda e qualquer pessoa presente ali, naquele auditório.

Ignorando seus pensamentos obstinadamente autossabotadores, Arthur se juntou ao lado de Ricardo, apertando a mão do Presidente da Empresa, e fingindo que a existência de Gustavo era tão insignificante quanto a sua provavelmente era para ele.

— Parabéns e muito obrigado, Arthur.

— Eu que agradeço, Senhor Lo... Ricardo.

Ricardo riu, sabendo que, naquela altura do campeonato, cobrar informalidade de Arthur era uma batalha perdida.

As palmas se intensificaram, e mesmo que Arthur soubesse que eram mais para Ricardo do que para si mesmo, ele não se importou muito. Sabendo sua deixa, Arthur deu dois passos para trás e se juntou ao lado de Gustavo, enquanto Ricardo aprofundava, com o auxílio de uma apresentação elaborada de planilhas e gráficos no grande projetor ao fundo do palco, as explicações dos próximos passos e das expectativas de resultados após a fusão.

— Você fez um ótimo trabalho lá, Arthur. Meus parabéns.

— Fico feliz em ter sido útil lá, mesmo que por tão pouco tempo.

— Arthur, sobre a viagem, eu...

— Eu não sei se é uma boa ideia tocarmos mais no assunto da viagem, Gustavo. Você é meu chefe e nada mais. Eu alcancei o propósito da viagem, vocês finalizaram e todos saíram ganhando. Fim da história. — Arthur falou, o semblante impenetrável, a boca se movendo com uma calma espantosa até mesmo para ele. Seu rosto continuava para a frente, mas suas mãos, entrelaçadas em frente ao corpo, começavam a suar.

— Você sabe que temos um assunto inacabado.

— Não, não temos.

— Arthur, por favor.

— Gustavo, estar aqui em cima desse palco com você do meu lado me dá náusea. Eu não sei o que aconteceu lá, e olha que não foi por falta de esforço para entender. Você conseguiu o que queria e me mandou embora. Acho que nunca me senti tão usado na minha vida, em muitos sentidos. Sinceramente, eu torcia para não ter que chegar assim tão perto de você tão cedo, mas ai eu lembrei que você é meu chefe, então eu preciso voltar pro mundo real e deixar tudo pra lá. Para o bem da minha saúde mental.

— Eu acho que mereço uma chance pra pelo menos tentar me explicar. Você sabe que não precisa ser assim.

— É claro que precisa. Você sabe que o que aconteceu lá em Berlim foi um erro. O maior erro da minha vida. E isso vai assombrar minha cabeça pra sempre. Acho que pra mim, já é castigo mais que suficiente.

Os cochichos abrasivos foram interrompidos por outra salva de palmas, indicando que a apresentação de Ricardo havia acabado. Ricardo olhou para Gustavo e Arthur, visivelmente estimulado pelos afagos constantes em seu ego. Por isso, decidiu prosseguir:

— E assim, chegamos no nosso segundo e último comunicado. Esse, a imprensa não conseguiu estragar, o que, pra ser honesto, me deixa muito feliz. Pois essa notícia precisava ser dada a vocês pessoalmente. O Grupo Lobo sempre foi o meu maior triunfo, ao lado, é claro, da família espetacular que eu criei. Ver essa empresa chegar aonde está chegando me preenche de orgulho, ainda mais depois de perceber que caminhamos para algo histórico. Por isso, acredito que não exista momento mais oportuno para anunciar que estou me aposentando. Acho que está na hora de passar a tocha para alguém, e o resultado que obtivemos em Berlim me provou que a pessoa que eu escolhi está a altura para a função. Gustavo, venha até aqui, por favor. — Ricardo pediu, estendendo a mão para seu filho, que o olhou, estupefato. Lentamente, Gustavo andou até seu pai, piscando e tentando raciocinar.

— Pai, como assim?

— Você sabe que eu já pensava nesse assunto a um tempo. E você sempre foi minha opção mais óbvia. Minha, e do Conselho.

Outra enxurrada de palmas, e dessa vez, mais fervorosas do que nunca. Fosse por genuinidade ou por estratégia, as centenas de funcionários de todos os níveis comemoravam o momento histórico e testemunhavam Gustavo se tornar o novo Presidente do Grupo Lobo. Arthur assistia a tudo ao fundo, em uma mistura de sentimentos atordoados. Ricardo, passando a mão nos cabelos de Gustavo, finalizou:

— Por isso, teremos uma festa no fim da semana, para comemorar não apenas a fusão, mas principalmente, o fato de que vocês vão se livrar de mim. E não finjam que eu não sei que isso é verdade.

O cômodo sorriu de forma breve e educada, e quando todos voltaram a ficar em silêncio, palmas lentas e perturbadoras voltaram a ecoar no ambiente, revelando um homem de cabelos loiro-escuros, camisa social e calças de alfaiataria bem ajustadas ao corpo.

— Que cena linda! Muito, muito comovente.

— Diego, o que você tá fazendo?

— Estou parabenizando vocês, ué. Os protagonistas da empresa. Os titãs, inalcançáveis, perfeitos.

— Você não consegue ficar sem armar um circo, né, Diego? Tá no seu sangue. — Gustavo disse, sentindo seus nervos se exaltando.

— Engraçado você vir falar de sangue, Gustavo. Logo você, que não tem o mesmo sangue que eu ou o pai. O seu pai, né? Pois claramente, pra ele, só existe você. Eu e a Leona somos coadjuvantes, servindo de apoio para que o protagonismo vá todo pra você e seu passado tristinho.

— Se eu fosse você, teria muito cuidado com o que fala. — Gustavo vociferou, enquanto Diego subia até o palco, andando tão lentamente ao ponto de causar agonia.

— Por quê? O que você vai fazer? Acha que eu tenho medo de você, Gustavo? — Diego respondeu, o amargor em suas palavras se transformando em um riso de escárnio. — Você é apenas um bastardo, um pobre coitado que nunca foi e nunca vai ser visto como um Lobo de verdade. E nem mesmo um cargo novo poderia te dar o que você nunca vai ter.

Diego estava perto o suficiente para sentir a respiração alterada de Gustavo, quase que pedindo para que as provocações se transformassem em contato físico. E assim foi. Gustavo, com os olhos lacrimejantes, desferiu o primeiro soco em seu irmão, que caiu no chão, sorrindo satisfeito. Gustavo pegou vantagem e segurou Diego no chão, acertando mais dois golpes, antes de Ricardo e Arthur apartarem a briga.

— Já chega, vocês dois! Por Deus, vocês não conseguem ficar sem brigar nem mesmo aqui, dentro da empresa? — Ricardo perguntou, erguendo Diego pela gola da camisa e colocando-o de pé. Diego, por sua vez, encostou em sua boca, que sangrava, e olhou para a mancha vermelha nas costas de sua mão.

— Não se preocupa, eu não vou mais estragar o momento de vocês. Vou voltar para a minha mesa de merda, pra fazer o meu trabalho de merda e não ser reconhecido por nada que eu faço nessa empresa de merda. Mas uma coisa eu te garanto, pai. No dia que você morrer, eu não vou me dar ao trabalho de aparecer por lá. Vou deixar isso para o filho preferido, ele com certeza vai adorar ter toda a atenção que você sempre roubou de mim e deu pra ele.

Diego fez seu caminho até a saída do auditório, o olhar rancoroso e ressentido enquanto se afastava do pai e do irmão. Gustavo se sentia envergonhado, e Ricardo, como sempre, buscava se segurar às aparências, para salvar o momento.

— Vamos, por favor, fingir que nada disso aconteceu. Tenho certeza que os aspectos familiares não vão mais se misturar aqui dentro. E não se esqueçam da festa, no sábado à noite. Faço questão da presença de todos.

Tentando seu melhor para não transparecer o constrangimento da situação, os funcionários seguiram para a mesa de comes e bebes, localizada perto do palco. Arthur, como era de se esperar, não estava com o apetite para ficar por perto, e decidiu voltar para sua mesa mais cedo do que os demais.

— Caramba, que drama, né? — Ícaro disse, andando apressado para alcançar Arthur. Trazia consigo dois pratos pequenos de plástico, com pastéizinhos folhados e mini-croissants. Entregou um deles para Arthur e, a julgar por suas bochechas rosadas, aquilo não havia sido o ato mais corajoso de sua vida até então.

— Nem me fale. Tô começando a achar que trabalhar aqui deveria adicional de insalubridade ou algo parecido. Eles tem um dom especial de arrastar todo mundo para o olho do furacão.

— Essa história é antiga, Arthur. Desde que eu entrei aqui, já vi cenas como essa mais do que você possa imaginar. Diego é atualmente o Diretor da área de Tecnologia, e apesar de não ser necessariamente o pior emprego do mundo, ele gostaria da validação e do afeto que o Gustavo recebe do Ricardo. Apesar de ser um pouco descompensado, Diego tem lá suas razões. A diferença no tratamento dos três filhos é gritante. Fico imaginando como é viver dentro daquela casa.

— Uma dica? Pelo bem da sua saúde mental. Nem tente imaginar.

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