Neuróticos que somos, inconscientemente, caminhamos para obter exatamente aquilo que mais tememos/repudiamos.
Então, se Liam não queria o pequeno Ômega loiro em sua vida....
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Liam chegou em sua casa exausto, naquele dia em que Niall apareceu na empresa de seu Alpha. O céu já estava escuro demais, ameaçando chuva. Uma brisa gelada tomava seu corpo, fazendo-o arrepiar-se, lembrando ao Alpha que aquele era um clima que ele adorava. Mas, Liam só conseguia se lamuriar e desejar poder ter uma noite decente de sono.
Seu expediente no hospital havia sido estressante e ele estava puto da vida. Algo sobre dois filhotes gêmeos, um casal muito esperto e sorridente de sete anos, levemente intoxicados por uma superdosagem de Ritalina. Aparentemente, seus pais tinham em mãos o diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (o tão conhecido e superestimado TDAH), de ambos os pequenos. E, pelos filhotes estarem muito agitados naquele dia, haviam decidido triplicar e ministrar, por conta própria, a dose errada da medicação.
Liam tinha sentido o desejo de arrancar a cabeça do Alpha e da Ômega com seus dentes, por serem tão irresponsáveis. Pelo que pudera averiguar, ao longo daquele dia que passara na companhia dos filhotes, eles eram apenas muito felizes e um pouco encrenqueiros – algo extremamente normal para a idade – o que não justificava, em hipótese alguma, a agressão dos progenitores. Mas, enfim, infelizmente aquela prática de medicalização desenfreada de filhotes era muito corriqueira, e Liam sentia-se impotente, por não poder acabar com ela de uma vez (N/A: Acredite, Alpha, eu compartilho de sua angústia).
Assim, ele só queria, agora que estava finalmente em sua casa, tomar um banho, comer o delicioso jantar que ele sabia que Zayn já havia preparado, se enroscar com seu Alpha na cama e dormir.
Porém, logo na entrada, Liam se ateve.
Desde que Zayn e ele haviam se mudado para o condomínio, ele mantinha bem próximo à porta de entrada, dois vasos grandes, muito bonitos, requintados e caros, de tulipas vermelhas. Zayn havia questionado, na época, o motivo de Liam querer, a todo custo, quase obstruir completamente a entrada da casa com aqueles benditos e enormes vasos. Mas, o outro Alpha só havia lhe dito que era porquê as tulipas vermelhas eram maravilhosas e carregavam consigo aquele significado sutil do amor eterno e verdadeiro.
Rezava a lenda, que existiu na Turquia um príncipe chamado Farhad que, assim que colocou seus olhos em uma moça que atendia pelo nome de Shirin, automaticamente se enamorou dela. E que, com uma rapidez incrível e inevitável, alimentou uma obsessão pelo amor que sentia. Antes de poder se declarar, porém, Farhad recebeu a triste e arrebatadora notícia de que Shirin estava morta. Assim, o príncipe apaixonado, não suportando a tristeza do disparate, levado pela melancolia, pela dor da perda e pelo amor incondicional que sentia pela jovem, suicidou-se. Farhad jogou-se do alto de um penhasco, levando consigo ao encontro de Shirin todo o amor que lhe consumia, encontrando-a na eternidade, para serem, finalmente, felizes juntos. A curiosidade, e o ápice da história, é que no local onde o sangue do príncipe havia se acumulado, quando de sua morte, tulipas vermelhas haviam nascido e se enraizado. Tornando-se, assim, o símbolo do amor verdadeiro, puro e eterno.
Liam se jogaria do alto de um penhasco, exatamente daquele que costumava brincar com Zayn e os outros filhotes quando eram pequenos, e morreria, se isso fosse levá-lo para a eternidade com o seu Alpha. Mais que isso, o Alpha maior havia, sim, quase obstruído a entrada da casa com as flores, porque queria que seus visitantes, antes mesmo de adentrarem à intimidade do casal de Alphas, acreditassem e tivessem a certeza, de que aquele lar guardava em todos os seus cômodos e pertences a expressão fidedigna e sincera do mais puro dos sentimentos.
Porque Liam morreria amando Zayn.
E Zayn morreria amando Liam.
Mesmo que fossem dois Alphas e que isso fosse errado.
Na ocasião, o Alpha moreno apenas havia sorrido em resposta, com os olhos marejados, a garganta seca e as mãos trêmulas, pela intensidade das palavras de seu companheiro. E, se ele ajudou depois para que as tulipas vermelhas estivessem sempre vivas, assim como o amor deles, Liam apenas retribuiu, enchendo todos os cômodos da casa com a flor sensível, garantindo para Zayn que nunca, em toda a eternidade, alguém seria capaz de destruir o que eles sentiam um pelo outro.
Mas, Liam se ateve naquele dia porque os vasos não estavam posicionados da forma que costumavam ficar. E, ele havia percebido rápido com o seu olhar atento, que alguém, definitivamente, havia mexido nelas e, maluco que era, havia podado algumas das tulipas.
Se Liam estava irritado quando chegou em casa, ele ficou ensandecido quando percebeu que alguém tivera a coragem de se meter com suas tão amadas flores. Assim, ele se adiantou para dentro da casa, marchando, bufando alto e sustentando aquela expressão assassina em seu rosto.
- Zayn?! – Ele gritou, chamando. – Zayn?!
Como não obteve respostas, Liam deixou a mala que carregava em cima do sofá de couro preto da sala e, enquanto folgava sua gravata bordô, ia tomando espaço na casa, e fazendo seu caminho até a cozinha. Ele esperava encontrar o seu Alpha ali, terminando de preparar os detalhes do jantar, mas não o encontrou. Ainda mais irritado, se sentindo muito mais cansado que antes, Liam voltou a marchar, dessa vez para o segundo andar da casa, até o quarto do casal.
Quando Liam entrou no quarto, ele demorou apenas um segundo para perceber um montinho formado sob os cobertores macios que dividia com Zayn em noites frias como aquela, e ouvir o ressonar baixinho de alguém que, obviamente, não era seu Alpha. Atordoado, o Alpha maior se aproximou da grande cama, quase correndo, e parou abruptamente quando seus joelhos se encontraram contra a madeira. Então ele analisou o ser que estava ali dormindo, como se fosse absolutamente natural e corriqueiro fazê-lo em sua cama.
Claramente, ele era pequeno demais para ser um adulto, havia aquela cabeleira loira saindo pelas bordas dos cobertores e, pela tranquilidade e segurança que parecia exalar durante o sono, Liam sabia que o pequeno ser não acordaria tão cedo. O Alpha inalou para dentro de seus pulmões um pouco do ar que pairava no quarto, e conseguiu, sem muito custo, distinguir o cheiro do seu xampu, numa mistura confusa com o perfume do seu sabonete e um leve aroma doce.... Parecido com aquelas balinhas de goma que Zayn vivia comendo quando estava em casa (aquelas, com formato de ursinhos fofos).
Liam sentiu vontade de arrancar a cabeça seu Alpha, naquele momento. Assim como desejava fazer com os pais dos filhotes que atendera mais cedo no hospital.
- O que está fazendo? – Ele saiu de seu torpor, quando ouviu a voz do moreno soando baixinho pelo quarto, mas ainda enérgica, e seus passos cuidadosos estralando contra o assoalho de madeira.
No ato, ele encarou Zayn, com aquela expressão que deixava claro que estava indo para matá-lo, antes de responder.
- Por que tem um filhote dormindo em nossa cama, Malik?! – Ele questionou bravo, quebrando a distância que ainda existia entre eles. – De onde ele saiu?!
- Fale baixo! Assim você vai acordá-lo! – Zayn ralhou, segurando Liam pelos braços, querendo tirá-lo do quarto.
Mas, Liam não se deixou levar.
Ele estava pouco se importando se acordaria ou não o filhote.
Ele só queria saber o que diabos ele estava fazendo ali e de onde, pelo amor de Anúbis, Zayn o havia tirado. Sua cabeça cansada também havia começado a criar uma tríade de teorias, algo sobre o Alpha moreno tê-lo sequestrado (por mais ridículo que isso fosse), ou sobre ele ser um parente distante (por mais diferentes que fossem fisicamente), ou sobre o filhote ter sido abandonado na porta da casa deles (por mais que eles morassem em um condomínio fechado e isso fosse impossível).
Enfim, o Alpha maior precisava de respostas.
- Me solta, Zayn! - Ele bradou, saindo do agarre do outro. – Me explica agora o que esse filhote está fazendo aqui!
Vendo que não teria tanto sucesso, em retirar o maior do quarto, o Alpha moreno encarou seu companheiro e respirou fundo. Um movimento brusco vindo da cama chamou sua atenção e ele encarou a cena. O loiro adormecido remexeu-se sob as cobertas, incomodado pela barulheira que Liam estava fazendo. Mas, diferente do que Zayn temia, abençoadamente, ele não acordou. Apenas se ajeitou, suspirando feliz, resmungando algumas coisas inteligíveis, agora deixando exposta a face bonita e corada.
O Alpha moreno sorriu enternecido. Ele era tão bonito!
Mas, ele não podia ficar contemplando o pequeno, infelizmente. Ele tinha que tirar o seu Alpha do quarto.
- Ele é o meu novo funcionário, lá na empresa – Zayn explicou exasperado, rezando para Liam baixasse o tom de voz antes do "filhote" acordar de vez. – Agora, por favor, vamos sair daqui para conversarmos. Eu não quero que ele acorde!
Muito contrariado, o Alpha maior apenas se resignou e saiu do quarto, logo atrás de Zayn. Ele achava bom que o moreno tivesse uma explicação decente, para o motivo de seu novo funcionário estar dormindo na cama deles. Caso contrário, cabeças rolariam dentro daquela casa, naquela noite.
Eles só pararam depois de descerem as escadas, e se acomodarem na espaçosa sala de estar da casa. Liam simplesmente adorava aquele cômodo em específico, pois Zayn havia decorado por ele mesmo todo o local. Haviam quadros abstratos e maravilhosos pintados por Zayn, todo o arranjo era num estilo rústico, porém muito familiar e aconchegante, e ainda havia a lareira, sempre em funcionamento naqueles dias frios – um convite descarado para se enrolarem no tapete felpudo e macio, enroscados, aquecidos por um cobertor (um daqueles que o filhote estava usando agora, diga-se de passagem), enquanto aproveitavam seu momento juntos.
Mas, ele não conseguiu se ater aos detalhes primorosos daquela vez.
- Já estamos longe do quarto – Liam começou a falar, em tom de deboche. – Seu funcionário não corre mais o risco de acordar. Você pode, agora, me dizer o que está acontecendo?
Zayn o encarou, sabendo que estava em maus lençóis. Ele engoliu em seco, para que sua voz soasse tão firme e convincente quanto desejava, e começou a se explicar.
- O nome dele é Niall. Niall Horan – o Alpha moreno, instantaneamente, sorriu ao dizer o nome, deliciando-se sob a pronuncia macia. – Ele apareceu lá na empresa hoje de manhã, procurando emprego e, bem, eu contratei ele.
Liam bufou.
- Isso eu já entendi, Zayn! – Ele disse, aproximando-se mais. – O que eu quero saber, é o que ele está fazendo aqui! E ainda por cima, dormindo em nosso quarto, em cima da nossa cama!
Zayn ouviu a pergunta demandante e, por um momento, sentiu-se ofendido. Liam estava alterando o tom voz enquanto falava e, de verdade, o Alpha moreno estava cansado demais para ter que lidar com os ataques do outro.
- Niall está aqui porque não tem para onde ir, Liam! – Ele respondeu, deixando-se cair em um dos sofás de couro. – Ele chegou na empresa todo sujo, faminto.... E ainda teve que lidar com a Fletcher, que foi extremamente rude e teve a audácia de usar sua voz de comando com ele. Eu não podia, simplesmente, desampará-lo!
- Como não?! – Liam questionou, incrédulo, sentando-se ao lado de Zayn. – Ele não é o único nessas condições! Isso não justifica você tê-lo trazido para dentro de nossa casa!
O Alpha moreno sabia que Liam tinha razão, mas ele só não conseguiu fazer nada diferente. Depois de ver o menino comendo as rosquinhas que ele havia oferecido, daquele jeito desesperado, como se não comesse há dias, se sujando todo.... Bem, Zayn tinha ficado compadecido. E, ainda, havia toda aquela história de vida do garoto.... O Alpha moreno sabia, por experiência, o que era ser alvo de pessoas de egos mesquinhos e pouco evoluídos.
- Eu sei, Liam! Mas, eu só não podia deixá-lo seguir à própria sorte! – Zayn voltou a se explicar. – Ele me contou que se manifestou como um Ômega ainda na semana passada, que foi enxotado de casa por sua família... E ele estava vivendo em um albergue! Um albergue, Liam!
Ao ouvir aquilo, o Alpha maior sentiu sua respiração falhar por um momento.
- Aquele garoto não é um filhote?! Ele um Ômega?! – Liam rosnou alto, erguendo o pescoço para que o som reverberasse por toda a sala, deixando que Zayn percebesse que ele estava extremamente irritado em saber aquele detalhe. O Alpha não se importava com a indignação que Zayn parecia mostrar com a história do albergue. – Você teve a coragem de trazer um Ômega, um recém-descoberto Ômega macho, para a nossa casa?! Em que merda você estava pensando, Zayn?!
O outro viu como uma veia começava a saltar numa das têmporas de Liam e percebeu também como seu pescoço parecia tenso ao final do movimento. Claramente, o rosnado alto de seu Alpha lhe era indiferente, porém, Niall ainda estava dormindo no andar superior da casa e, bem.... Sim, ele era um Ômega.
- Eu estava pensando em ajudá-lo! – O moreno respondeu direto, começando a se sentir realmente ofendido pelo discurso do outro. – Nada mais que isso! Agora, por favor, pare com essa barulheira toda! Você vai acabar acordando o Niall!
- Zayn, para! – Liam pediu, esfregando as mãos grandes em seu próprio rosto, não conseguindo acreditar que seu Alpha pudesse ser tão ingênuo daquela maneira. – Isso não é justificativa! Você poderia, sei lá, acionar a Assistência Social, ou aquela ONG de defesa dos direitos dos Ômegas! Trazê-lo para cá foi um maldito erro!
O Alpha moreno estreitou os olhos bonitos por alguns instantes, tentando refletir rapidamente qual o ponto de discussão que Liam estava trazendo em seu discurso. Mas, ele não conseguiu.
- Qual é o motivo do alarde, Liam?! – Ele demandou então. – Não há nada de mais aqui! Esse é só um gesto de caridade. Eu só ajudei alguém que estava precisando, de verdade, da minha ajuda.
- Você não pode estar falando sério.... – Liam sussurrou, quase desesperado, levantando-se do sofá. – Para de fingir que isso não é importante, Zayn! Você sabe o que o seu "gesto de caridade" implica para nós!
- Não, Liam! Eu não sei! – O Alpha moreno retorquiu, começando a se irritar com o destempero de seu companheiro. – Já que está tão incomodado, porque não para de ficar dando voltas nas suas reclamações e não me explica o que de tão ruim há no que eu fiz?!
Em resposta, Zayn apenas recebeu uma risada alta e sarcástica e cheia de dor.
- Ele é um Ômega, Zayn – Liam começou a falar, constatando o óbvio e deixando claro para Zayn, em seu tom de voz, que achava um absurdo ter que explicar aquilo para ele -, e nós somos dois Alphas!
Foi então que o Alpha moreno conseguiu entender o que havia feito e o motivo de Liam ter saído dos eixos daquela maneira. Se Zayn fosse sincero consigo mesmo, admitiria naquele momento que estava se sentindo um pouco estúpido.
- Oh...
Claro que Zayn já tinha pensado no quanto levar Niall para dentro de sua casa era arriscado, e já tinha imaginado que o seu Alpha teria reações daquele tipo. Porém, ele descartara logo a possível existência daquele impasse. Zayn havia pensado também que Liam seria um pouco mais flexível a respeito do caso, quando descobrisse os rumos que a vida do pequeno loiro havia tomado. Até porque, como estava muito claro até ali, eles se amavam e tinham jurado que nada, nunca, ficaria entre eles e o amor que sentiam. De forma que ter um Ômega por perto nem era grande coisa.
Mas, era óbvio que ele estava errado.
Liam estava sendo racional demais.
- Certo, Liam – ele começou a falar, concordando com seu Alpha -, há implicações realmente sérias nessa história. Eu realmente estou arriscando muito aqui, trazendo Niall comigo. Mas...
- Fico feliz que você me entenda, Zayn – Liam o interrompeu suspirando, obrigando duramente seu lobo interior a se acalmar. – Por isso, eu acho melhor você se livrar de uma vez desse Ômega.
Havia tanta certeza e tanta frieza na voz de Liam que, por um momento, Zayn sentiu seu coração apertar. Ele admitia sim que havia errado, mas só tinha praticamente resgatado o pequeno Ômega loiro, que aparecera em sua empresa naquela manhã, com a única e exclusiva intenção de ampará-lo. Não havia quaisquer outras possibilidades em cogitação além daquela.
- Eu não vou me livrar dele! – Zayn exasperou. – Ele não tem para onde ir!
- Isso não é problema nosso, Malik! – O Alpha maior voltou a se alterar diante da insistência. – Isso é problema dele!
Zayn arregalou os olhos bonitos.
De onde vinha toda aquela falta de empatia por parte de Liam?
- Problema dele?! – Ele quase gritou. – Eu tenho aqui um raro Ômega macho, tentando sobreviver em situação de risco e você quer que eu, simplesmente, me livre dele?! Onde foi parar aquele seu discurso bonito, sobre como devemos nos tornar pessoas melhores e começarmos a olhar mais para o próximo?! Aquele em que as pessoas devem parar de exaltar seus egos perversos e ensimesmados, para ajudar a desmantelar o mal-estar social?!
Liam sabia que seu Alpha não estava utilizando as referências que ele usava em seu trabalho como um tom de deboche. Mas, não pode deixar de se sentir um pouco ofendido. Ele sabia que, agora, estava agindo completamente contrário aos preceitos que pregava em sua rotina de trabalho, como médico psiquiatra e promotor de bem-estar físico e mental. Porém, Zayn e ele não estavam ali, na sala de estar de sua casa, àquela hora da noite, discutindo um caso qualquer que aparecera no hospital e que precisava de intervenção.
Eles estavam discutindo sua vida pessoal, sua relação amorosa, companheira e juramentada para durar a vida toda – e que, agora, contava com a eminente presença de um Ômega.
- Não use o meu discurso contra mim, Malik! – Liam voltou a se alterar. – Isso aqui é sobre nós, nossa vida! Prestando atenção agora, eu sou capaz de sentir daqui da sala o cheiro daquele Ômega e, não adianta tentar negar, Zayn..,. Eu sei que se não fossemos tão apaixonados, tão ligados e controlados, um de nós, senão nós dois, estaríamos lá em cima agora, rodeando o garoto, fazendo jus à nossa essência Alpha!
- Exatamente, Payne! – Zayn realmente gritou em resposta. – Se fossemos, você colocou bem. Mas, felizmente, nós não somos e eu tenho a certeza de que você é capaz de acreditar em mim, quando digo que, em nenhum momento, tive segundas intenções a respeito de Niall.
Liam ia rebater aquela fala, porque ele tinha excelentes argumentos contra ela. Mas, de repente, ele se percebeu muito consciente do cheiro de balinhas em formato de ursinhos fofos inundando a sala de estar, e pode ouvir passos curtos e apressados trazendo alguém para dentro do cômodo.
Era Niall.
- A-atrapalho?
Zayn virou-se em seu lugar e encarou o grande portal da sala, dando de cara com Niall pela segunda vez naquele dia. O Ômega era o fiel retrato de um ser adorável, de cabelos loiros espetados para todos os lados, os olhos azuis um pouco apagados pelo recente sono, as bochechas magras coradas e o corpo pequeno enrolado em um imenso cobertor verde, que quase o cobria completamente. E ainda havia aquela expressão incerta, de quem realmente cogitou por um longo tempo tomar alguma atitude e que, agora, sente medo.
Se Zayn pudesse, ele tinha certeza, tomaria seu tempo para eternizar aquela imagem de Niall em um de seus quadros.
Mas, ele não podia.
Pois, quase do outro lado da sala, Liam segurava duramente sua respiração. Seus olhos castanho-claros estava tão arregalados quanto possível, ameaçando saltarem de seu rosto e Zayn percebia que ele tremia levemente. O Alpha moreno não sabia qual seria a reação de seu companheiro, agora que estava realmente confrontando o motivo daquela discussão e, assim, temia pelo bem-estar de Niall.
- Na verdade não.
Foi Liam quem respondeu, saindo de seu torpor.
O Alpha, e Zayn o perdoaria por admitir aquilo para si mesmo, nunca em sua vida havia colocado seus olhos em alguém tão bonito. Não que ele fosse se importar com isso, porém.
- Meu Alpha e eu já terminamos nossa conversa – Liam rosnou entredentes, incapaz de se segurar.
Niall, por sua vez, encolheu-se em seu lugar. Aquele rosnado, mesmo que fraco ao ser ouvido do andar superior, já o havia tirado de seu sono. Mas, agora, de tão perto, fazia seus ouvidos doerem. Ele sabia que o Alpha forte e robusto, de quem já ouvira falar de seu novo chefe, estava mentindo. Pois estava cravado em seu olhar a insatisfação, misturada com um pouco de descrença, raiva e.... Surpresa? Porém, ele não teve tempo de falar nada.
- Nós não terminamos e você sabe disso, Payne! – Zayn bradou, voltando a prestar atenção em seu Alpha.
Liam apenas suspirou cansado.
Ele até poderia se sentir inclinado a se compadecer do "falso filhote" em outras circunstâncias. Claro que poderia. Afinal, ele era um médico psiquiatra que cuidava, em essência, da história de vida e do sofrimento alheio. E, a base para seu sucesso clínico, era o tal poder de empatia que tinha, de se colocar realmente no lugar do outro e tentar encontrar, pela perspectiva de seu laço social, uma alternativa para que a qualidade de suas relações internas e interpessoais melhorassem e que o martírio de viver não fosse tão insuportável.
Mas, veja bem, Zayn (o seu Alpha) havia deliberadamente levado um Ômega para dentro de sua casa. Um Ômega macho, raríssimo, que ainda por cima acabara de se manifestar. Dizer que Liam estava se sentindo ameaçado dentro de seu próprio domínio era, em última instância, um eufemismo! O Alpha maior tinha a certeza do amor que Zayn e ele compartilhavam desde sempre. Ele sabia que o laço de sentimentos puros que os mantinha unidos era forte, algo claramente capaz de superar as barreiras do preconceito, do tempo, de suas próprias limitações e diferenças.
Porém, Liam sabia também que havia toda uma dinâmica instintiva, inerente e puramente libidinal que ainda atuava, mesmo que levemente, em seu dia a dia. Pois, eles eram essencialmente lobos. Alphas ainda por cima! De forma que, mesmo que se amassem e que tivessem a certeza disso, ainda corriam o eminente risco de ter que lidar com os desarranjos dos prazeres e da fraqueza da carne.
E, a prova, era que o cheiro do recém-descoberto Ômega estava mexendo com os seus sentidos e ele não conseguia pensar em nada, além do fato de que Niall era uma obra divina. Parado ali, com os olhos azuis temerosos, todo encolhido no cobertor, claramente travando uma batalha interna sobre como agir naquela briga que, ele sabia, começara por sua causa.... Ele era tão bonito!
Seu lobo estava tomado por um repentino comichão, uma súbita vontade de se aproximar e provar para si mesmo, com o toque firme de seus dedos, que a pele rosada daquelas bochechas eram tão macias quanto aparentavam.
Porque, infelizmente, sua relação estava firmada e se se submetia ao fantasma da hierarquia biológica. Mesmo que, naqueles anos todos, Zayn e ele tivessem se mantido fortes, coerentes e agarrados à sua rotina sólida a dois, um Ômega seria sempre um risco.
Então não, o Alpha maior não estava nenhum pouco satisfeito com aquela história e, de verdade, estava pouco se lixando se o recém-descoberto (e raríssimo!) Ômega macho estava desamparado, vivendo em um albergue e mal tendo condições de prover condições básicas de sobrevivência para si mesmo. Era a sua vida pessoal que estava em jogo ali e Liam (re)conhecia os perigosos limites que cercavam a si e seu parceiro. De forma que não pagaria para ver uma possível desgraça devastando tudo o que Zayn e ele, duramente e sozinhos, haviam construído até ali, embasados em suas ideologias e em seu amor.
Assim, tomado pela dor de estar traindo a si mesmo, por alimentar aquele tipo de sentimento novo e repentino, Liam apenas encarou seu Alpha e colocou um ponto final na primeira discussão realmente séria que tivera com ele, naquele tempo todo de relacionamento estável e feliz.
- Eu disse que terminamos, Zayn – ele ditou. – Vou sair agora, e você não precisa me esperar acordado. Se eu voltar, espero que o filhote não esteja mais aqui.
- O quê?! – Zayn perguntou incrédulo, enquanto via Liam começar a caminhar a passos firmes para a porta de entrada da casa, ajeitando a gravata bordô folgada ao redor de seu pescoço. – Você realmente vai fugir, como um covarde?!
Em resposta, o Alpha moreno recebeu apenas o barulho o alto da porta se fechando, ecoando por todo o cômodo e parando exatamente dentro de seu peito, onde algo se quebrava.
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Uma semana depois daquele desentendimento, já num sábado à tarde, Liam sentia seu rosto corar de vergonha, cada vez que se lembrava da briga. Ele ruminava em sua mente, dia após dia, todo seu destempero frente ao seu Alpha e o novo funcionário Ômega dele e, agora de cabeça bem fria, pensava no quão estúpido havia agido. Ter se destemperado daquela forma, por um assunto tão irrelevante, era imperdoável.
Porque Zayn e ele se amavam!
Nenhum Ômega, nunca, seria uma ameaça em suas vidas!
O caso era que o Alpha chegara em casa muito cansado de seu dia no hospital, suas amadas tulipas vermelhas haviam sido abusadas pelas pequenas mãos inexperientes do Ômega loiro (ele descobriu depois) e, ainda por cima, havia sido obrigado a encontrar o outro na cama em que ele fodia com Zayn, seu Alpha, dia sim dia não. Liam não estava pensando. Ele só conseguia se sentir afrontado dentro de sua própria casa, o que era um absurdo!
A sorte, era que ele não havia demorado muito para admitir seu erro.
No outro dia, logo que o sol fez aquele esforço enorme para deixar seus raios brilharem em meios às nuvens cinzas do céu de outono, ele já estava de volta à sua casa, munido de um grande ramalhete de tulipas vermelhas, uma cesta de café-da-manhã e aquela expressão de filhote recém-desmamado, que desarmava até o homem mais frio e filho da mãe do mundo. Zayn acordou naquele dia sentindo o tão conhecido toque macio de seu Alpha em sua bochecha amassada e, muito irritado, tentou mandar Liam para o Inferno quando percebeu que era ele realmente, que não estava sonhando. O Alpha moreno ainda estava ensandecido com a ceninha ridícula que Liam havia feito na noite anterior.
Mas, Liam era um Alpha forte, robusto, orgulhoso e cheio de si. Sempre fora. Liam sabia se impor frente ao seu companheiro. Em hipótese alguma, ele admitiria que Zayn tentasse passar por cima de suas vontades, tentasse ser mais Alpha que ele próprio. Pois, ele já tinha feito muito admitindo seu erro e indo se desculpar rapidamente com Zayn, com todos aqueles mimos. Por isso, quando Zayn levantou-se rápido da cama, descabelado, e começou a gritar, mandando-o ir embora de uma vez, porque não queria continuar vivendo com um estúpido babaca, Liam ergueu seu queixo, olhando o Alha moreno de cima, apertou os olhos, cerrou os punhos ao redor do ramalhete de tulipas e da cesta de café, e preparou sua garganta para o que viria.
- Me perdoa, amor!
Liam caiu de joelhos aos pés de Zayn e começou a chorar.
Chorar!
Pelo amor de Anúbis!
- Eu não queria ter feito nada daquilo! – O Alpha garantiu, chorando ainda mais. – Eu só estava cansado e irritado e triste e me sentindo ameaçado! Eu não queria ter ido embora! Juro que não queria! Me perdoa!
Qual é?!
Ele era um Alpha sim, mas amava Zayn e havia errado com ele!
Dormir longe do calor de seu Alpha, naquele quarto de hotel luxuoso e impessoal do centro de Londres, havia sido toda uma bagunça. Liam estava com vergonha, triste, sentindo como se sua vida estivesse desmoronando a cada maldito segundo que se passava! O Alpha mal conseguia respirar direito! Tamanho era o seu medo de Zayn lhe deixar realmente, por sua culpa! O moreno tinha gritado aquele monte de maldições, tinha aquelas veias saltando de suas têmporas e em seu pescoço bonito, seus olhos incríveis estavam avermelhados e faiscando de raiva, e ele tinha dito, com todas as letras, que Liam era um estúpido, um babaca, e queria que ele fosse para o Inferno.
Não tinha Zayn no Inferno, pelos deuses!
Liam não suportaria!
Então ele chorou mesmo, com toda a força que sua garganta era capaz. Seus olhos bonitos estavam pesando para baixo, por causa das bolsas escuras (resultado da noite mal dormida), seu paletó estava todo amassado, a gravata bordô desleixada em seu pescoço, e ele ainda sentia em sua língua o gosto amargo da bebida que tomara pela madrugada – enquanto chafurdava em sua própria desgraça, querendo Zayn de volta.
Assim, o Alpha maior curvou-se sobre os pés de seu Alpha, implorando, em meio às lagrimas, soluços e engasgos, para que seu amor lhe perdoasse; jurando que nunca mais se comportaria daquela maneira, que jamais ameaçaria sair de casa e que, muito menos, destrataria um Ômega em sua vida novamente.
- Eu vou me comportar, Zee – Liam choramingava, agarrado aos tornozelos de seu Alpha. – Só não me deixa, por favor!
Zayn havia estado atordoado demais, para falar qualquer coisa. Ele sentia o agarre de Liam em seus tornozelos e aquilo estava começando a doer de verdade. Mas, dentro de si, sentia-se vitorioso. Ele tinha seu Alpha enrolado em seu dedo, para fazer o que quisesse depois de tudo. E ter Liam se humilhando daquela maneira, curvando-se para si, implorando seu perdão, era a prova. O Alpha moreno não podia estar mais satisfeito. E, obviamente, iria se aproveitar da situação. Ele queria que Liam pagasse por ter sido tão rude com seu novo funcionário Ômega, que tinha uma história de vida triste.
- Levanta daí! – Ele demandou, agarrando Liam pelos ombros, ajudando-o a se manter em pé. – Pelo amor de Anúbis, Alpha! Pare com essa choradeira!
O outro lhe encarou um pouco perdido, assentindo freneticamente enquanto limpava o rosto molhado pelas grossas lágrimas que caíam silenciosas agora. Os mimos que havia comparado para seu Alpha já tinham sido esquecidos há muito tempo e, de verdade, a única coisa que ele queria era a certeza de que Zayn e ele ficariam bem de novo.
- Você me perdoa, então, Alpha? – Ele perguntou esperançoso, sorrindo um pouco temeroso.
Zayn o observou e quis sorrir junto. Seu Alpha grandalhão e arrogante, que carregava muito orgulhoso o título de psiquiatra, não passava, na verdade, de um simples filhote recém-desmamado e muito perdido na vida. Ele era adorável! Tão adorável quanto Niall, se ele fosse sincero. Mas, ele não sorriu. Zayn ainda queria que Liam pagasse pelo que havia feito.
- Perdoo – ele começou a falar, vendo que seu Alpha parava de chorar completamente, sorrindo largo. – Mas, com uma condição.
Liam assentiu novamente, sem nem pensar. Ele faria, absolutamente, qualquer coisa para ter seu Alpha de bem com ele de novo.
- Depois que você foi embora como um covarde ontem – Zayn deu ênfase na palavra, fazendo Liam se encolher -, eu liguei para o Harry e ele veio, de muito boa-vontade, buscar o Niall. Louis, como é um Ômega que confia muito em seu próprio taco, não se importou de ter outro Ômega ao redor de seu Alpha, sabe?
Liam sabia.
Porque o único que tinha inseguranças pueris naquela história era ele.
Zayn, vendo que seu Alpha não falaria nada, por estar envergonhado demais, voltou a falar.
- Louis vai ajudar o Niall a se instalar em um apartamento que está vago, lá perto da empresa mesmo... E você vai cozinhar um jantar maravilhoso no fim de semana, para recebermos Niall e nossos amigos, e para que você possa se desculpar com o Ômega.
- Absolutamente, amor – Liam disse afoito, já fazendo uma lista mental do que faria no bendito jantar. – Eu vou fazer o melhor jantar do mundo para o Ômega, você vai ver!
- Acho bom mesmo – Zayn respondeu, falsamente desinteressado. – Se tudo correr bem, você estará perdoado.
Depois daquela curta conversa, e daquela cena impagável de Liam chorando aos seus pés (algo que ele contaria, com detalhes, para seu melhor amigo Harry quando chegasse na empresa) o Alpha moreno simplesmente foi para o banheiro do quarto, se aprontar para começar o dia. Liam, por sua vez, alcançou o celular dentro do bolso, ligou para o hospital, dizendo que não poderia ficar de plantão naquele dia e jogou-se na cama.
Liam estava cansado demais, com a mente cheia de caraminholas e esperança. Assim que ele se ajeitou sob os lençóis, automaticamente, esfregou seu nariz no travesseiro e respirou fundo. O cheiro natural de seu Alpha estava misturado a um aroma fraco, porém marcante, daquelas gominhas doces em formato de ursinhos. Se o Alpha dormiu como um filhote cansado de brincar o dia todo, extremamente feliz e confortável, ele não pensou muito sobre isso. Porque ele estava de volta ao conforto do seu lar, com o seu Alpha, finalmente.
E, se ele ficou com aquele cheiro maravilhoso preso em seu nariz durante a semana, só foi se incomodar com o fato naquela tarde de sábado, uma semana depois da briga, enquanto tentava inutilmente temperar uma peça de carne que cozinharia para o jantar. Liam, que tinha um olfato aguçado demais até mesmo para um Alpha, estava quase perdendo a cabeça, pois precisava sentir o aroma salgado da comida, mas só conseguia se concentrar no delicioso perfume doce que, ele sabia, era do Ômega loiro.
Foi por isso que, quando Zayn entrou na cozinha acompanhado por seu melhor amigo Harry, ele presenciou seu Alpha puxando os cabelos fortemente, soltando um rosnado alto e frustrado logo em seguida.
- Apanhando da picanha, amor? – O Alpha moreno zombou, rodeando Liam pela cintura enquanto soltava uma risadinha. – Será que vamos ter que ligar para um restaurante e encomendar o jantar dessa noite?
Liam apenas rosnou de novo, ainda mais alto, quando Harry acompanhou Zayn nas risadas.
- Aproveita que ainda dá tempo de encontrar restaurantes abertos, Zayn – Harry comentou rindo, sentando-se numa das cadeiras sem cerimônia nenhuma, como se fosse de casa. – Estou sem comer nada desde que acordei, só por causa desse bendito jantar! Louis não falou de outra coisa a semana inteira!
- O que esse babaca está fazendo aqui? – Liam perguntou malcriado, sem dar chance de seu Alpha responder, porém se aconchegando em seus braços.
- Olha a boca.... – Zayn disse em tom de aviso, mesmo que estivesse brincando.
Desde que Harry (aquele Alpha absurdamente alto, de cabelos longos e cacheados, olhos verdes e covinhas nas bochechas), havia assumido a vice-presidência de sua empresa, havia também se habituado a frequentar o lar do casal de Alphas. E Liam não tinha gostado nenhum pouco da nova rotina. Porque Harry era um Alpha tradicional demais e não perdia a oportunidade de jogar na rodinha de conversa o quanto era esquisito Zayn, um Alpha, manter um relacionamento estável de tanto tempo com Liam, um outro Alpha.
Zayn levava bem as provocações, por mais que elas fossem ofensivas às vezes.
Pois, apesar de tudo, ele via o real esforço que o Alpha de olhos verdes fazia para entender e, no mínimo, respeitar a dinâmica de sua vida pessoal. E, além disso, Harry o estava ajudando com Niall, seu pupilo, tanto dentro da empresa quanto fora dela. O Ômega havia se mostrado um excelente secretário, um muito melhor que a Fletcher, porém estava enfrentando algumas dificuldades de ordem prática, que Harry fazia questão de ajudá-lo a resolver sempre que possível. De forma que Zayn poderia cumprir sua apertada agenda diária de trabalho, sem se preocupar muito com o Ômega.
- "Olha a boca" o caramba! – Liam respondeu ao seu Alpha, saindo do abraço dele. – Cara chato! Vive enfiado aqui em casa, dando palpite desnecessário!
- Olha, Liam – Harry tomou a fala, ainda divertido -, não precisa ficar com ciúme, sim? Eu tenho um belo Ômega macho, marcado como meu, lá em casa. Do Zayn eu só quero meu gordo salário no fim do mês. O nó dele eu deixo para você! Seu pervertido!
Liam revirou os olhos, enfadado, querendo revidar. Mas, sabia que não adiantava nada discutir.
- Idiota... – Ele resmungou, e voltou-se para Zayn um pouco preocupado. – E o Niall, amor? Que horas ele vai chegar?
O Alpha moreno sentou-se em uma das cadeiras também, ao lado de Harry, e sorriu largo. Ele gostava de ver que Liam estava realmente empenhado em fazer as coisas direito daquela vez. Seu Alpha e seu novo secretário Ômega não haviam se encontrado ainda, depois da briga da semana passada, e Zayn achava bom que seu Alpha estivesse naquele estado de nervos. Ele já havia conversado com Niall, e explicado a situação toda para o loiro. Como era um Ômega macho muito doce e adorável, Niall havia compreendido e ainda tinha se desculpado, dizendo que, de sua parte, tudo estava bem.
Mas, não era como se Zayn fosse contar aquele detalhe para o seu Alpha.
Óbvio.
- Eu conversei com ele ontem na empresa, e ele disse que vem por volta das sete... – Zayn respondeu então. – Eu adiantei uma parte do salário dele, a pedido do Louis, para que ele pudesse comprar roupas novas e tudo.... Os dois devem estar enfiados em alguma loja uma hora dessas.... Niall passou a semana toda muito chateado, sabe?
Liam sabia. E sabia também que a culpa era dele.
- Louis? – Ele perguntou, sem entender, ignorando o aperto em seu peito por causa de Niall. – Não me lembro de você ter ido até a casa desse babaca ontem!
Zayn soltou uma risadinha, vendo seu Alpha apontando o dedo acusadoramente para Harry, que revirou os olhos verdes. Liam era impossível!
- Ele foi lá na empresa no final da tarde, Liam – ele explicou ara seu Alpha -, buscar o Niall para irem tomar um café e conversar, sabe Anúbis sobre o que!
- Eles estão realmente muito próximos – Harry emendou, ignorando a encarada do psiquiatra -, deve ser porque são dois Ômega machos.... Desde a semana passada, quando resgatei o loirinho das suas garras de lobo mau, Liam, eles não se desgrudam. Ficam fofocando por aí.
Liam se remexeu incomodado.
- Espero que Louis e Niall fofoquem sobre o quanto você é um neandertal, idiota – ele resmungou. – Ao contrário de mim, claro, que sou um Alpha muito pra frente e de cabeça aberta.
- Claro – Harry revirou os olhos mais uma vez. – Um Alpha pra frente, cabeça aberta, inseguro, medroso... E que se ajoelha aos pés de outro Alpha, chorando todo ranhento, como um filhote recém-desmamado, implorando perdão. Todo o reflexo de virilidade que um Ômega espera encontrar em um Alpha.
O Alpha maior arregalou os olhos quando ouviu aquilo.
- Eu não acredito que você contou nossa briga para esse babaca, Malik!
Zayn apenas riu abertamente, sendo acompanhado por Harry, ambos fazendo uma barulheira na cozinha.
- Não tinha como ser diferente, Lee – o Alpha moreno se defendeu. – Harry é meu melhor amigo. Óbvio que eu ia contar para ele a ceninha que você fez. Faz parte do seu castigo aguentar as piadinhas dele agora.
- Eu achei que Zayn estava inventando história – Harry voltou a falar, um pouco engasgado pela risada -, sobre você se submetendo a ele.... Mas, você acabou de se entregar, Liam! Eu não posso acreditar num negócio desses! Os Alphas mortos, do mundo inteiro, devem estar se revirando no caixão uma hora dessas! Onde já se viu, um Alpha se humilhar desse jeito?!
- Chega, Harry! – Zayn bradou para o melhor amigo.
Liam parecia se encolher cada vez mais, quase fundindo seu corpo à pia de mármore onde a peça de carne ainda esperava o tempero, e ele corava absurdamente. Harry estava passando dos limites, colocando em dúvida a virilidade de seu Alpha, e Zayn não podia permitir que aquilo se aprofundasse ainda mais.
Por sorte, Harry já estava acostumado a perceber rapidamente as mancadas que dava e parou de rir. Ele encarou Liam, um pouco compadecido dele, e se desculpou. Do jeito dele, claro.
- Oh, mas não tem problema nenhum nisso! – Ele garantiu, olhando Liam nos olhos. – Ainda bem que você só se ajoelha e implora.... Poderia ser muito pior! Imagina se, numa dessas, vocês acham de experimentarem de verdade os seus nós?! – Harry arregalou os olhos ao cogitar a ideia. – Anúbis que me ajude! Eu não socorreria vocês dois nem pagando, credo!
- Nós não precisamos disso – Liam ralhou, querendo colocar um fim naquela conversa. – Não sei se meu Alpha te contou isso também, mas ele chupa meu pau todas as noites, como a perfeita Ômega vagabunda que ele é.
- O que?! – Harry praticamente gritou a pergunta, rindo como nunca tinha feito em sua vida. – Zayn?!
O Alpha moreno sentiu seu rosto pegando fogo. Claramente, Liam estava se vingando dele pelas provocações de Harry. Ele jogava tão baixo às vezes! O Alpha cacheado fazia todo um estardalhaço enquanto ria solto, batendo uma das mãos grandes no joelho, curvando-se sobre seu estômago sem se aguentar. Zayn queria poder matar Liam, só para ressuscitá-lo e matá-lo de novo.
- Seu filho de uma Ômega frígida! – Ele rosnou para Liam. – Pare de ficar contando essas coisas!
Liam riu alto, se sentindo bem pela primeira vez naquela manhã.
- Quem ri por último ri melhor, não é mesmo Alpha? – Ele provocou. – Sumam da minha cozinha agora! E lave bem essa boca, Zayn. Eu quero ela bem presa e molhada no meu pau, antes do jantar.
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Quando Niall chegou à casa do seu chefe naquela noite de sábado, ele sentia seu corpo todo tremendo e suando muito. Suas pequenas mãos seguravam firmemente o caule de uma única tulipa amarela, ajudando-o inconscientemente a tentar manter a calma. Ele já tinha dado seu nome para o porteiro do condomínio, que liberara a passagem, mas agora estava encarando um dos vasos de lindas tulipas vermelhas, que ele havia cuidado na noite da briga, sentindo vontade de chorar e ir embora.
O Ômega havia garantido para seu chefe que estava bem agora, porém, aquilo não era de todo verdade.
Niall estava com medo de encarar o Alpha de Zayn – aquele, que havia rosnado alto para ele, com aquela expressão assassina e surpresa em seu rosto. Zayn tinha sido tão bom com Niall, lhe dando um emprego e lhe apresentando um casal Alpha/Ômega maravilhoso! O casal tinha encontrado para ele um apartamento pequeno e mobiliado, porém muito aconchegante, perto da empresa de Zayn; Harry, o Alpha de olhos ternos, o auxiliava com o trabalho novo; e o seu Ômega, Louis, havia costurado praticamente todos as pontas que ainda estavam soltas em sua vida perdida de recém-descoberto Ômega.
Então Niall não queria correr o risco de ser o pivô de uma nova briga entre o seu Chefe e o Alpha dele.
Niall queria que Liam gostasse dele também, mas não sabia o que fazer para conseguir isso. Ele não sabia como consertaria seus erros....
O erro de ter aceitado ir para a casa de Zayn no dia em que conseguira o emprego; o erro de ter aceitado o banho relaxante, com aquele sabonete muito cheiroso e aquela água quentinha; o erro de ter aceitado dormir verdadeiramente bem pela primeira vez, desde que fora expulso de sua casa, na cama grande de cobertores quentes e macios do Alpha. O erro de não ter tentado parar Liam, para lhe explicar que não era um Ômega qualquer e que não estava tentando tirar Zayn da vida do Alpha, quando ele avisou que estava saindo de casa e que queria Niall fora dali se voltasse.
O caso é que tinha acontecido tanta coisa boa em sua vida desgraçada naquele dia, e Niall estava se sentindo tão bem, tão cuidado, e ainda muito tomado pelo sono, que não fora capaz de falar nada. Nem quando Zayn ligou para Harry e pediu socorro. Nem quando Harry o colocou gentilmente dentro de seu carro e o levou para sua casa, para junto de seu Ômega Louis, sem questionar absolutamente nada.
Durante aquela semana, em que sua vida, milagrosamente, havia se transformado muito e para muito melhor, o Ômega havia se acostumado à presença de Zayn e Harry, com quem convivia diariamente na empresa do Alpha moreno. E, de brinde, havia conseguido um melhor amigo, tão Ômega quanto ele próprio.
Louis era uma pessoa incrível!
Diferente de Niall, o Ômega baixinho e de traseiro avantajado, havia sido muito bem recebido por sua família quando se manifestou aos dezesseis. No meio do caminho que trilhara em sua vida, Louis havia conhecido seu Alpha e agora exibia orgulhoso, para qualquer um que quisesse ver, a marca da mordida de enlace em seu pescoço.
E ele contara, com todos os detalhes que Niall queria e não queria saber, como Harry havia lhe marcado em uma noite chuvosa de verão, depois de um jantar romântico e a primeira noite de amor deles. Como Louis não estava em seu heat, na ocasião, o sexo havia doído como no Inferno. Porque Harry era um Alpha robusto e muito bem-dotado. Sentir seu nó inchando, enquanto entrava e saía alucinadamente de sua pequena entrada virgem, até estar completamente cheio e terminantemente impossibilitado de ser retirado, havia feito o Ômega desmaiar.
E a marca da mordida de enlace, que veio logo em seguida, havia ficado inflamada por um par de semanas – toda avermelhada, ardida e latejante, antes de cicatrizar de vez e virar aquela impressão de dentes bonitos e bem alinhados em seu pescoço fino. Louis mal tinha conseguido mexer seu pescoço durante aqueles dias. Não que ele estivesse reclamando, claro. Pois, ele não estava. Louis amava seu Alpha e, apesar de toda a dor e desconforto (porque aquilo não era um maldito conto de fadas bonitinho e a vida real era sim muito complicada e dolorida), era dele finalmente.
Niall tinha corado muito ouvindo tudo aquilo, mas ainda assim tinha prestado atenção em cada palavra. Seu próprio primeiro heat havia sido uma desgraça total – ainda mais por causa da rejeição de sua família, que não fizera absolutamente nada para lhe ajudar. E ele se sentiu muito desamparado e rejeitado quando Louis lhe contou sobre os tais "cuidados posteriores" que fazia parte do pós-foda. Niall queria ter tido alguém ali com ele depois do heat, lhe segurando, cuidando, afagando e confortando, dizendo que tudo estava bem agora, e que Niall tinha sido um Ômega maravilhoso – assim como Harry tinha feito com Louis.
O loiro não estava esperando ser um Ômega na hierarquia biológica, de forma que não tinha informação nenhuma sobre como proceder, completamente sozinho, numa situação daquelas. O que o levou a chorar doído, sentindo-se abandonado e muito, muito vazio, durante o tempo que seu heat durou. Niall era tão inocente e inexperiente que nem sequer havia cogitado a ideia de tentar aliviar um pouco a dor com seus dedos curtos e rechonchudos. Enfim, o Ômega só esperava não ter que enfrentar aquilo de novo. E ele estava bem feliz agora, porque Louis era um excelente amigo, era marcado, cheio de experiências e havia garantido que lhe ajudaria com o que ele precisasse.
- Se você não tocar a campainha, Liam e Zayn não vão saber que você já chegou, sabe?
Niall ouviu a voz suave e calma de Louis, soando bem ao pé de seu ouvido, e se assustou. Saindo de seu torpor, ele virou-se rapidamente, dando de cara com o casal mais lindo que ele já tivera o prazer de conhecer.
- Boa noite, Louis! – Ele cumprimentou, forçando um sorriso, e trazendo a tulipa amarela que segurava de encontro ao seu peito. – Boa noite também, Alpha!
Harry ouviu o nome pelo qual fora chamado e revirou os olhos.
- Uma semana já se passou, trabalhamos juntos praticamente todos os dias e você ainda está me chamando de "Alpha"? – O cacheado perguntou, falsamente ofendido. – Pare com isso, pequeno Niall! E toca logo essa campainha, eu 'to com fome!
O Ômega corou um pouco pelo breve sermão que ouviu, mas assentiu freneticamente com a cabeça. Ele se sentia agradecido agora, por ter chegado e parado ali, para pensar sobre o que fazer. Pois, agora, ele não precisaria encarar seu chefe, e o Alpha dele principalmente, sozinho. Assim, ele voltou-se para a porta novamente e, um pouco hesitante, apertou a campainha com a mão livre da tulipa amarela. Mal seu dedo deixou o pequeno botão e ele percebeu a grande porta de madeira sendo aberta e o Alpha de seu chefe, Liam, em todo o seu tamanho imponente, glorioso e robusto, se materializar ali.
- Por Anúbis! – Liam exclamou azedo. – Não tivemos tanta sorte, amor. Seu amiguinho Alpha, de bunda conservadora, infelizmente ainda está vivo e, veja só, veio mesmo para o jantar!
Zayn apareceu atrás de Liam e deu uma risadinha, vendo como Harry revirava os olhos para seu Alpha.
- Não comece, Liam – Zayn pediu. – Vaso ruim não quebra, você sabe.
- Eu sei que você sentiu minha falta, Liam – Harry se pronunciou, trazendo Louis para um abraço. O Ômega apenas ria das provocações, achando tudo muito divertido. – Mas, você disse algo sobre Zayn lhe dar uma chupada antes do jantar e não era como se eu fosse ficar aqui para ver uma depravação dessa...
- Se tivesse ficado, talvez aprendesse algo, seu bunda-mole – Liam gargalhou e o Alpha cacheado percebeu o intenso nervosismo em seu tom de voz.
Algo que ele não esperava.
Era para Liam lhe atacar de alguma forma, não fazer piada.
Niall, por sua vez, corou muito ao ouvir aquilo. Ele estava sendo sumariamente ignorado ali e não sabia o que fazer. Nem Liam nem Zayn tinham olhado para ele ainda e, ele imaginava, era porque não o queriam ali realmente.
Porém, se ele tivesse a coragem de perguntar o real motivo, Zayn lhe contaria que Liam havia estado parado logo atrás da porta na última meia hora, esperando a chegada do Ômega loiro. Lhe contaria que seu Alpha estava muito nervoso, ensaiando seus melhores sorrisos e seu melhor tom de voz baixo e calmo. Lhe contaria que quando Liam ouviu a campainha tocando, deu um pulo em seu próprio lugar, choramingando pelo medo de ainda ser um estúpido Alpha babaca e estragar tudo de novo; e que abriu a porta antes de perder a coragem e sair correndo, para se esconder do Ômega no quarto do casal.
Se Liam tivesse a chance de contar seu ponto de vista da história, ele deixaria Niall saber que se dirigira prontamente para Harry, provocando o melhor amigo de seu Alpha, porque assim que ele abriu a porta o cheiro de gominhas em formato de ursos fofos açoitou o seu olfato sensível. E, por causa disso, seu lobo interior havia sido tomado por um frenesi doido, fazendo sua cabeça rodar de prazer e seu peito pesar duramente pela culpa.
- Saia da frente! – Harry se adiantou, percebendo também que Niall estava muito deslocado, encarando de novo o vaso de tulipas vermelhas. – Vamos logo com isso, senão Niall vai se arrepender de ter aceitado o convite!
Ao ouvir o nome do Ômega, Zayn sorriu muito largo dando alguns passos para trás, ao passo que Liam finalmente colocou seus olhos castanhos no loiro. Niall parecia ainda menor que na semana passada, fazendo Liam pensar nele como um filhote mais uma vez. Suas bochechas estavam adoravelmente coradas e seus intensos olhos azuis encaravam Liam de volta. Com uma das mãos, Niall brincava com a barra do moletom branco e visivelmente novo que usava, ao passo que com a outra rodava o caule da tulipa amarela que segurava entre os dedos rechonchudos.
Ele era tão bonito!
Liam queria pegar Niall no colo, implorar para que o Ômega lhe desculpasse por ter sido tão rude na semana passada, e queria poder cravar um largo sorrido nos lábios finos e rosados. O sorriso de Niall deveria ser lindo, tão lindo quanto ele, Liam tinha a certeza. Mas, o Alpha não se demorou muito na contemplação e, finalmente, deu passagem para que os três entrassem em sua casa.
- E-eu trouxe um presente – Niall anunciou, assim que estava devidamente acomodado no sofá da linda sala de estar da casa de seu chefe.
Quatro pares de olhos o encararam imediatamente. Três sorriram largo para o pequeno loiro fofo, ao passo que o último parecia estar preso numa mistura de surpresa e curiosidade. Liam queria perguntar o que era, porque ele simplesmente amava presentes, mas não teve tanta coragem. Ele ainda queria se esconder do Ômega, depois de tudo.
- Oh, que adorável! – Zayn exclamou, acomodando-se ao lado de Niall. – Você não precisava ter se incomodado com nada disso, Niall! Não é mesmo, Lee?
Liam arregalou os olhos. Ele não queria falar. Ele estava tão longe quanto possível, respirando difícil e tentando organizar o turbilhão de sentimentos que estava lhe corroendo por dentro.
- Cla-claro, Alpha! – Liam respondeu, porém. – Afinal, sou eu quem deve um pedido de desculpas formal aqui para você, Niall.
Niall sorriu pequeno, feliz por ver que Liam não estava bravo e mais feliz ainda porque ele usava um tom de voz calmo para se dirigir a ele. Por isso, esquecendo-se completamente dos temores de outrora, ele levantou-se muito cheio de si, sorrindo aquele sorriso largo, cheio de dentes, olhos plissados e bochechas coradas. E se aproximou de Liam sem cerimônia nenhuma.
- Eu trouxe essa tulipa amarela para você, Alpha – Niall explicou, oferecendo para Liam a linda flor que segurava firmemente. – Reza a lenda, que ela simboliza a amizade e eu pensei que fosse um bom presente para oferecer hoje, Alpha. Já que começamos com o pé esquerdo na semana passada. Seu Alpha foi muito bom para mim, assim como seus amigos – o loiro garantiu, sorrindo ainda mais – e eu não quero, em hipótese alguma, ficar no meio disso. Eu sei o meu lugar, Alpha.
Liam ouviu aquilo e quis chorar.
O discurso simples, a singela tulipa amarela que lhe era oferecida, e toda a certeza e determinação no tom de voz do pequeno Ômega o desarmaram completamente.
- Oh.... – Ele choramingou, aceitando a tulipa amarela. – Eu amo tulipas, Niall!
- Eu sei – Niall deu uma risadinha. – Eu me diverti muito tirando as ervas daninhas de seus vasos na semana passada.... Suas flores são muito bem cuidadas, mas, às vezes, somente regar e dar amor não é o suficiente. Às vezes é preciso cortar o mal pela raiz.
O Alpha maior assentiu e, ainda sentado no sofá, Zayn pigarreou. Aquela não era uma indireta para Liam, ele pensava, mas que servia como uma luva para ele.... Ah, se servia!
- Bem, sim, você tem toda a razão, Niall – Liam disse, corando muito. – Por isso quero me desculpar pela semana passada e, de verdade, aceito o que está me oferecendo. Podemos começar de novo?
- Claro que sim! – O Ômega garantiu. – Junto com as suas desculpas eu ainda estou ganhando um jantar, que está cheirando maravilhosamente bem! Como eu poderia dizer "não" a isso?
- Liam cozinhou o dia todo só para você, Niall – Harry se enfiou no meio da conversa, finalmente. – Ele estava extremamente nervoso, sabe? Com medo de que você não fosse gostar....
- Cale a boca, idiota! – Liam ralhou, fechando a cara automaticamente.
- Ah, vai dizer que estou mentindo?! – O Alpha cacheado rebateu. – Aposto que você estava quase colapsando antes de chegarmos.
- Isso é mentira!
- Na verdade – Zayn começou a falar, rindo um pouco -, foi bem isso mesmo Harry.
- Zayn!
Harry gargalhou em seu lugar. Uma das coisas que ele mais gostava de fazer, na vida, era provocar o Alpha de seu melhor amigo. Niall e Louis apenas observavam a cena, rindo divertidos. Louis porque já tinha se acostumado àquelas provocações e Niall... Bem, Niall estava muito curioso a respeito de Liam.
Para o Ômega, Liam era um Alpha um pouco.... Diferente.
- Mas, que beleza! Vamos logo com essa janta, então. Eu quero ouvir essa história enquanto encho minha barriga!
No ato, Harry começou a fazer seu caminho para a sala de jantar da casa, porque sim, ele realmente já era de casa, e todos começaram a segui-lo. Já no cômodo, Harry fez questão de puxar uma cadeira para que Niall sentasse, enquanto ia tagarelando e servindo o loiro.
- Isso vai ser tão divertido! – Harry exclamou, trocando um olhar com Niall, que estava curioso. – Se você se assustou na semana passada com Liam, por causa de toda a cena que ele armou, Niall.... Você não vai acreditar nas histórias que eu tenho para te contar sobre ele....
- É mesmo? – Niall questionou com falso interesse agora, mais preocupado com a quantidade absurda de comida que estava em cima da mesa, bem em frente aos seus olhos e seu estômago faminto, do que na fofoca.
- Sim, sim! Ele tem essa cara de lobo mau, mas é uma flor.... – Harry debochou. – Se você visse como ele ficou depois da briga!
- Harry!
- Qual é, Lou?! Eu estou mentindo?!
Louis revirou os olhos, já acomodado em seu lugar. Quando seu Alpha sentou-se ao seu lado, o Ômega baixinho beliscou levemente seu braço.
- Não fique tirando sarro de Liam, amor – ele pediu. – Isso é muito rude.
- Ouça seu Ômega, seu merda – Liam demandou, contrariado e se sentindo muito exposto. – Para de ficar se enfiando na minha vida!
Imaginando que aquilo seria o suficiente para que Harry parasse de ser o maldito intrometido que era, Liam começou a servir os pratos, com a ajuda de Zayn. Ele se sentia um pouco sensível, por tudo o que acontecera, e não sabia se conseguiria lidar com as provocações daquele Alpha malditamente conservador que Zayn tinha como melhor amigo. Ainda mais porque a presença de Niall estava mexendo muito com ele. Zayn, por sua vez, sorria ameno, intimamente rezando para que um novo assunto surgisse logo. Por sorte, Niall não parecia interessado no papo de Harry, mas o cacheado era insistente, Zayn sabia.
- Bobagem – Harry respondeu, fazendo um gesto de descaso com a mão, rindo. – Você só não quer que Niall fique sabendo que você, um Alpha, se ajoelhou para Zayn, outro Alpha, e implorou para que ele o perdoasse...
- Amor, faz alguma coisa! – Liam pediu para seu companheiro, choramingando, enquanto encarava seu prato.
Ele, definitivamente, queria ir se esconder em seu quarto agora. O Alpha já estava envergonhado antes, mas, agora, sentia-se mortificado e humilhado. Liam não queria que Niall acabasse se juntando à Harry nas piadinhas. O Ômega e ele tinham acabado de se acertar e, bem, Liam queria continuar em bons termos com Niall.
- Harry, pare com isso. Já deu – Zayn demandou, firme.
- Mas....
- Qual é o problema de ele ter feito isso, Harry? – Niall se pronunciou, finalmente prestando atenção na conversa. – Liam, apesar de ser um Alpha, tem sentimentos, oras! Eu acho bonito que ele consiga assumir seus erros e que não tenha medo de se desculpar, ou de demonstrar abertamente o que está sentindo. Não entendo o que há de tão engraçado nisso.
O Alpha maior sorriu terno ao ouvir aquilo. E ele sentiu vontade de chorar de novo. De alívio. Niall quase não falava nada, mas quando falava.... E ele era tão bonito!
- Obrigado por isso, Niall – Liam sorriu, os olhos quase fechados de pura adoração.
- Vejo que você é um desses Ômegas saidinhos, Niall – Harry constatou, visivelmente incomodado agora. Ele não estava brincando mais. – Você não deveria ser conivente com esse tipo de reação.... Imagine se você tivesse um Alpha chorão, como o Liam, em sua vida? Você seria motivo de piadas!
Niall, que ainda sustentava o sorriso bonito de Liam, se ofendeu.
- Levando em conta que, até um par de semanas atrás, eu nem sabia que era um Ômega – ele começou a explicar, o tom de voz um pouco sarcástico -, não tenho motivos para me preocupar com isso. Até porque, Alpha, se isso acontecesse, seria um problema meu, uh?
- Outch! – Zayn debochou em seu lugar, não fazendo nada para esconder a risadinha maldosa. – Você realmente poderia terminar o dia sem essa, Harry!
Harry encarou o seu prato, sentindo as bochechas queimarem.
- Então você não se importa com o que as pessoas falam de você, pressuponho? – Ele revirou os olhos, tentando manter-se inabalável.
- Harry, chega! – Louis pediu. Porém, quando seu Alpha lhe encarou, com os olhos verdes vívidos, ele apenas abaixou a cabeça e se submeteu.
- Se essas pessoas tiverem uma mente tão fechada quanto a sua Alpha, com todo o respeito, não eu não me importo – Niall foi taxativo. – Pois, veja bem, o que as pessoas repudiam nos outros, nada mais é que o reflexo de suas próprias inseguranças. Se pessoas como você, precisam humilhar os outros para reafirmar para si mesmo sua virilidade e suas verdades.... Bem, eu descarto. Porque isso é, simplesmente, infantil e patético.
Harry deixou os talhares que segurava caírem ruidosamente em seu prato, ao passo que Liam praticamente urrava em seu lugar de tanto rir. Niall era a sua pessoa preferida no mundo agora. Ele tinha aquela carinha de filhote adorável, inocente e alheio, porém, de novo, quando abria a boca para falar alguma coisa....
- Tudo bem – Harry se resignou, por fim. – Você pode até ter razão, mas isso não altera absolutamente nada o que eu acredito.
- Tudo bem, você pode acreditar no que quiser, desde que não dê palpites na vida alheia – Niall devolveu, sorrindo largo. – Se vocês não se importam, eu vou me concentrar nesse maravilhoso jantar agora.... Meu estômago está quase comendo o meu estômago!
Liam sorriu orgulhoso ao ouvir aquilo e ninguém disse mais nada.
Porém, se eles prestassem o mínimo de atenção, poderiam ouvir Harry sussurrando algo para Louis. E poderiam ver também o olhar triste que o Ômega baixinho lançou para seu Alpha, antes de assentir submisso, garantindo que faria o que o outro havia mandado.
- Eu quero você longe desse Ômega, Louis. Tente fazer algo diferente disso, e eu vou te mostrar, na prática, o quanto ele está errado.
~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~.~
Três meses depois daquele jantar que, por milagre, até havia acabado bem, a vida de todos eles parecia estar no lugar. Mas, só parecia mesmo.
Harry e Louis haviam se afastado um pouco do casal de Alphas, pois o Alpha cacheado ainda alimentava um certo ressentimento e um pouco de raiva por ter sido afrontado por um Ômega na frente de seus amigos e de seu próprio Ômega. Harry se sentia ofendido demais, achando aquilo tudo um absurdo sem tamanho.
Liam e Zayn estavam em bons termos de novo.
Sua relação continuava como sempre fora, feliz e confortável, mesmo que a rotina tivesse mudado um pouco. Pois, agora, o Alpha maior fazia questão de passar na empresa de seu Alpha, todos os malditos dias, para visitar Niall. O loiro era divertido, inteligente, tinha aquela gargalhada alta e tão adorável quanto ele e, Anúbis que ajudasse Liam, Niall era muito bonito!
Zayn não se importava nenhum pouco com aquilo. A aproximação de seu Alpha com o Ômega loiro não saía da empresa, e ele sempre estava por perto, acompanhando a conversa calorosa e amigável deles. Aquilo era um pouco mais profundo que uma relação de trabalho, porém muito mais fraca que uma quedinha propriamente dita. Pois, era óbvio que Zayn já havia percebido o interesse exacerbado que seu Alpha parecia sustentar por Niall.
Aquilo era tudo muito bom, porém. Pois, Harry era um bunda-mole conservador que havia se afastado de Niall, e ainda levado Louis a se afastar também. Assim, Zayn achava que era um bom negócio ter seu Alpha por perto, para tirar o Ômega loiro do tédio e da rotina maçante da empresa. Ele sentia falta de seu melhor amigo, mas sabia que era questão de tempo até que Harry aceitasse a personalidade forte de Niall e se aproximasse novamente. Enquanto isso não acontecia, porém, Zayn tomava seu tempo para admirar a bela obra de arte que era a interação entre seu Liam e seu Niall.
No meio do caminho, Zayn tinha começado a alimentar aquelas fantasias que envolviam seu Alpha e o seu funcionário Ômega, mesmo que não falasse ou fizesse qualquer coisa a respeito. De forma que aproveitava os encontros entre os dois para criar imagens obscenas em sua cabeça e dar vida a elas quando estava em casa, transando todo seu tesão com Liam.
Niall, por sua vez, sentia que podia matar um.
Ele descobrira, naqueles três meses, que Zayn era um Alpha completamente desorganizado. Zayn simplesmente não conseguia manter uma rotina centrada, era péssimo em se lembrar de horários e compromissos, o que fazia Niall quase perder a cabeça, tentando fazê-lo cumprir suas obrigações.
E a coisa havia piorado muito depois que Liam resolvera que, todos os malditos dias da semana, faria visitas para Niall. Não que o Ômega não gostasse, porque ele gostava muito da companhia de Liam. O caso era que, depois que eles terminavam sua conversa, o Alpha maior dava uma desculpa qualquer para Niall e se esgueirava para a sala de Zayn, de onde saía um longo tempo depois, todo desarrumado e cheirando a sexo.
Zayn demorava para sair do torpor da visita de seu Alpha, Niall saía dos eixos por ficar imaginando coisas que não deveria e, bem, aquilo acontecia todos os malditos dias, pelo amor de Anúbis!
Todos os dias, até que um imprevisto aconteceu e Niall jurou para si mesmo que, nunca mais em sua vida, ele reclamaria das visitas do Alpha de seu chefe, do cheiro de sexo que ele deixava para trás quando ia embora, dos sorrisos idiotas que Zayn fazia questão nenhuma de esconder e, bem, seus próprios desejos proibidos e fantasias bem alimentadas sobre ter dois Alphas lhe fodendo.
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Era o começo de uma tarde de expediente muito importante.
Niall tinha passado a manhã toda preso entre documentos, ligações, e-mails, agendas e um sem-número de detalhes que, em hipótese alguma, ele podia deixar passar. Às quatro horas, Zayn teria uma reunião importante com investidores vindos da América, um grupo de representantes multinacionais importantíssimo e de muito renome, que queria tentar uma parceria com a empresa de Zayn, num projeto que Niall não fazia ideia do que era, mas, tinha certeza, era estritamente decisivo na vida profissional de seu chefe.
Porém, Zayn parecia não pensar daquela maneira, parecia não achar que a visita programada há quase um mês e que estava deixando Niall de cabelos em pé, era algo para se preocupar.
Isso porquê, era quase duas horas da tarde já e o seu chefe, aquele Alpha moreno e estúpido, ainda não tinha dado as caras na empresa!
- Senhorita Jones, venha aqui, por favor – ele chamou uma das estagiárias, que passava perto de sua sala, quando ele saiu bufando e amaldiçoando Zayn.
A Ômega aproximou-se de Niall, sorrindo muito. Ela, assim como todos os outros funcionários da empresa de Zayn, simplesmente morria de amores por Niall. Porque ele era calmo, gentil, educado e sempre tinha palavras de conforto na ponta da língua, quando a rotina na empresa se tornava insuportável e todos estavam a ponto de terem um surto psicótico.
- Sim, senhor Horan? – Ela respondeu solícita.
- Senhorita Jones, por favor, eu tenho que sair agora, mas preciso que você fique aqui na sala do senhor Malik para mim, sim? – Niall explicou. – Você só tem que ficar atenta ao telefone e anotar todo e qualquer recado, para quando eu voltar. Você acha que pode fazer isso?
A Ômega franziu o cenho por um momento. Ela não era paga para atender telefones e anotar recados. Ela estava ali como estagiária do setor de criação, como estudante de Publicidade que era. Porém, ela assentiu rapidamente. Se Niall lhe pedisse para ajudá-lo a varrer o chão, senhorita Jones o faria sem nem pensar. Porque Niall, bem, era Niall.
- Claro que sim, senhor Horan! – Ela garantiu.
- Ótimo! – Niall sorriu, já apressando-se para a saída. – Eu não demoro, uh? Obrigado!
Dizer que Niall chegou ao condomínio de seu chefe em menos de meia hora, soltando fogo pelas ventas e amaldiçoando um pouco, seria um eufemismo.
Porque o Ômega loiro, e extremamente irritado, praticamente aparatou na porta da casa de Zayn em quinze minutos, e começou a bater na madeira freneticamente, gritando para quem quisesse ouvir que era bom o Alpha estúpido aparecer logo, antes de Niall invadir a casa e arrastá-lo de lá pelos cabelos, até a empresa.
Pouco tempo depois da gritaria, a porta foi finalmente aberta.
- Que merda você quer?! – Liam rosnou alto, sem nem prestar atenção. – Vá embora!
Niall queria responder. Por Anúbis! Ele não só queria, como precisava! Porque o tempo estava correndo, os investidores americanos estavam chegando, e ele precisava que Zayn fosse naquele exato minuto para a empresa, junto com ele.
Mas, ele não conseguiu.
Não depois de ser confrontado por Liam daquela maneira.
Porque o Alpha estava parado na entrada da casa, rosnando alto, bufando, seus olhos extremamente vívidos e faiscantes. Liam estava vestido apenas com uma samba-canção que não fazia absolutamente nada para esconder suas coxas grossas e cheias de pelo. E fazia menos esforço ainda, para esconder a ereção marcada e muito pesada, o Ômega podia ver, no meio de suas pernas. Niall via também o suor escorrendo pelo peitoral firme, brilhante, e uma única gota parar bem em cima do mamilo entumecido e irritado. Niall corria seus olhos azuis por todo o corpo e sentia sua cabeça rodar. Ele não sabia o que merda estava acontecendo ali, não sabia o motivo de Liam ter atendido a porta, bagunçado daquele jeito.
A única certeza que o Ômega loiro tinha, era que o cheiro que exalava da pele de Liam, misturado com outro muito mais forte, másculo, viril e forte, estava fazendo sua cabeça parecer um carrossel desgovernado, seu próprio corpo entrar num estado de combustão, como se estivesse pronto para pegar fogo.
Niall salivou.
- E-eu, e-eu – ele tentou falar. – E-eu preciso fa-falar com o seu Alpha.
Liam tinha as pupilas dilatadas, ainda rosnava e, agora que estava reparando, Niall percebia que o Alpha dava olhadelas rápidas e desconfortáveis para trás. O Alpha sabia que precisava se concentrar em seu visitante, mas Zayn tinha entrado em seu hut naquela manhã e, desde que acordara, estava simplesmente exaurindo seu corpo e sua mente, com toda aquela performance libidinosa e quente e cheia de amor, sexo, porra, suor e saliva. Um hut era sempre muito difícil, porém, sem um Ômega para atar, tornava-se mil vezes pior.
E Liam sentia que não daria conta daquela vez.
Seu Alpha estava insaciável, e aquele era só o primeiro dos três dias que seu hut duraria.
Atordoado, Liam parecia não ouvir uma só palavra que Niall falava, muito mais preocupado em tentar sufocar seus próprios pulmões com o maldito cheiro doce que o Ômega trazia junto com ele, para aquele antro de perdição que sua casa já havia se tornado. E aquilo estava preocupando o Ômega.
Preocupação que não durou muito. Pois, se esgueirando um pouco para dentro da casa, aproveitando o estado quase catatônico de Liam, ele viu o que nunca em sua vida imaginou ver.
Zayn, seu chefe Alpha, moreno, forte, bonito e sensual, estava jogado no chão da sala, completamente nu, as pernas abertas, masturbando-se como se sua vida dependesse daquilo.
- Anúbis me ajuda! – Niall praticamente gritou, salivando ainda mais com a cena, atraindo a atenção falha de Zayn para ele.
- Ni-niall.... – O Alpha moreno choramingou, inalando o cheiro doce de gominhas em formato de ursinhos fofos, misturado ao cheiro forte de seu próprio Alpha.
A única coisa que o Ômega loiro sentiu depois daquele chamado arrastado, foi o forte aperto de Liam em seus braços, arrastando-o de vez para dentro da casa, sem qualquer resistência.
E, você pode imaginar o que aconteceu depois, uh?
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Obrigada por ler!