A Arte da Guerra

By drigokmz

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ÍNDICE
A ARTE DA GUERRA
CAPÍTULO I DA AVALIAÇÃO
CAPÍTULO II DO COMANDO DA GUERRA
CAPÍTULO lII DA ARTE DE VENCER SEM DESEMBAINHAR A ESPADA
CAPÍTULO IV DA ARTE DE MANOBRAR AS TROPAS
CAPÍTULO V DO CONFRONTO DIRETO E INDIRETO
CAPÍTULO VI DO CHEIO E DO VAZIO
CAPÍTULO VII DA ARTE DO CONFRONTO
CAPÍTULO IX DA IMPORTÂNCIA DA GEOGRAFIA
CAPÍTULO X DA TOPOGRAFIA
CAPÍTULO XI DOS NOVE TIPOS DE TERRENOS
CAPÍTULO XII DA PIROTECNIA
CAPÍTULO XIII DA ARTE DE SEMEAR A DISCÓRDIA

CAPÍTULO VIII DA ARTE DAS MUDANÇAS

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By drigokmz


Sun Tzu diz: Geralmente o comando dos exércitos cabe ao general,

depois que o soberano lhe deu o mandato para mobilizar o povo e recrutar as

tropas.

I. Conhece o terreno. Se estiveres em lugares pantanosos,

passíveis de inundação, cobertos de espessas florestas, cheios

de desfiladeiros, inundados, desertos e áridos, ou seja, em

lugares onde não poderás obter reforço com facilidade, e onde

não terás nenhum apoio, tenta sair o mais rápido possível.

Procura instalar tuas tropas em lugar espaçoso e vasto, de onde

possam se retirar facilmente e onde tens aliados possam, sem

dificuldade, aportar-te a ajuda providencial.

II. Evita, com extrema atenção, acampar em lugares isolados. Se a

necessidade te obrigar, só permaneças o tempo necessário para

escapulir. Toma rapidamente medidas eficazes para safar-te de

forma segura e ordenada.

III. Encontrando-te em lugares afastados de fontes, riachos ou poços,

onde dificilmente encontrarás víveres e forragem, não demores

para fugir. Antes de levantar acampamento, observa se o lugar

que escolheste está abrigado por alguma montanha, que te

colocará a salvo das surpresas do inimigo. Verifica as vias de

acesso, e se tens as facilidades necessárias para conseguir

víveres e outras provisões. Em caso positivo, não hesites em

tomar posse do terreno.

IV. Encontrando-te em um campo de morte, busca o combate.

Chamo de lugar de morte esses ermos onde não há nenhum

recurso, onde se definha inelutavelmente pela insalubridade do

ar, onde as provisões mínguam sem esperança de serem

repostas; onde as doenças começam a grassar no exército,

prenunciando grandes flagelos. Se te encontrares em tais

circunstâncias, precipita-te em deflagrar o combate. Asseguro-te

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que tuas tropas se mostrarão intrépidas no combate. Morrer pela

mão do inimigo lhes parecerá suave em comparação com todos

os males que as atormentam.

V. Se, por acaso ou por erro, teu exército se encontrar em lugares

inóspitos, cercado de desfiladeiros, onde o inimigo facilmente

poderia colocar emboscadas, de onde seria difícil fugir em caso

de perseguição, onde poderiam interceptar teus víveres e armar

ciladas nos caminhos, evita com cuidado atacar em tal terreno.

Mas, se o inimigo te encurralar em semelhante local, combata até

a morte. Não te contentes com uma 'pequena vantagem ou com

meia vitória. Isso poderia ser um engodo para te fulminar por

completo. Permanece de sobreaviso, mesmo depois de obteres

todas as aparências de uma vitória completa.

VI. Sabendo que uma cidade, por menor que seja, está bem

fortificada e tem munições e víveres em abundância, evita sitiá-Ia.

Se só fores informado da situação depois de começado o cerco,

não te obstines em prossegui-Io. Corres o risco de ver todas as

tuas forças fracassarem contra essa praça, e serás constrangido

a abandoná-Ia vergonhosamente.

VII. Não desprezes nenhuma pequena vantagem que puderes obter

de forma segura e sem nenhuma perda. Essas pequenas

vantagens, quando negligenciadas, geram prejuízos irreparáveis.

VIII. Antes de pensar em conseguir alguma vantagem, compara-a com

o trabalho, a fadiga, as despesas e as perdas humanas e de

munições que ela poderá ocasionar. Avalia se poderás conservá-

Ia facilmente. Só depois de ponderar é que te decidirás a

aproveitar ou a abandonar tal vantagem, guiando-te por uma

sábia prudência.

IX. Nas ocasiões em que for necessário tomar imediatamente uma

decisão, não esperes as ordens do príncipe. Se tiveres que

desobedecer ordens recebidas, não hesites, age sem medo. A

principal intenção do príncipe que te colocou à frente dos

exércitos é venceres o inimigo. Se ele tivesse previsto as

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circunstâncias em que te encontras, certamente tomaria a

decisão que queres tomar.

Essas são as nove variáveis ou nove circunstâncias principais que

devem te engajar a mudar o comando ou a posição de teu exército, a mudar a

situação, a ir ou vir, a atacar ou se defender, a agir ou permanecer em repouso.

Um bom general não deve jamais dizer: Aconteça o que acontecer, farei tal

coisa. Irei lá, atacarei o inimigo, sitiarei tal praça. Somente as circunstâncias

devem ditar a conduta. Ele não deve ater-se a um sistema geral, nem a uma

maneira única de comandar. Cada dia, cada ocasião, cada circunstância requer

uma aplicação particular dos mesmos princípios. Os princípios são bons em si

mesmos; sua aplicação os torna amiúde nefastos.

O general deve conhecer a arte das mudanças. Se ele se fixa em um

conhecimento vago de certos princípios, em uma aplicação rotineira das regras

da arte bélica, se seus métodos de comando são inflexíveis, se examina as

situações de acordo com esquemas prévios, se toma suas resoluções de

maneira mecânica, é indigno de comandar.

Um general é um homem que, pelo nível que ocupa, se encontra acima

de uma multidão de outros homens. Por conseguinte, deve saber governar os

homens. É preciso que saiba conduzi-Ios. É preciso que esteja

verdadeiramente acima deles, não apenas por sua dignidade, mas por seu

espírito, por seu saber, por sua capacidade, por sua conduta, por sua firmeza,

por sua coragem e por suas virtudes. É preciso que saiba distinguir as

vantagens verdadeiras das falsas; as perdas reais das aparentes; que saiba

aplicar a arte da compensação e tirar partido de tudo. É preciso que saiba

empregar corretamente certos artifícios para enganar o inimigo, e se mantenha

sempre alerta para não ser enganado.

Um general não deve ignorar nenhuma armadilha que podem lhe

colocar. Deve decifrar todos os artifícios do inimigo, quaisquer que sejam, mas

nem por isso deve querer adivinhar.

Mantém-te de prontidão, vê quando o inimigo chega, perscruta suas

atitudes e sua conduta e tira conclusões. Procedendo assim, não corres o risco

de te enganares e de seres ludibriado ou vitimado por conjeturas precipitadas.

Se não quiseres ser esmagado pela infinidade de trabalhos e

sofrimentos, prepara-te sempre para o pior. Trabalha sem cessar para

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prejudicar o inimigo. Poderás fazê-Io de diferentes formas, mas eis o que há de

essencial neste tópico.

Lança mão de tudo para corromper seus melhores homens: oferendas,

presentes, afeição, nada omitas. Se preciso for, suborna. Engaja pessoas

dignas do campo adversário para praticarem ações vergonhosas e indignas de

sua reputação, ações das quais elas se envergonharão quando descobertas, e

não deixes de divulgá-Ias amplamente.

Mantém ligações secretas com os elementos mais corruptos do campo

inimigo; serve-te deles para alcançar teus fins, agregando outros corrompidos.

Contraria o comando do inimigo, semeia a dissensão entre seus chefes,

fornece motivos de cólera a uns contra outros, faz com que murmurem contra

seus oficiais, amotina os oficiais subalternos contra seus superiores. Interceptalhes

víveres e munições. Semeia entre eles melodias voluptuosas para lhes

estiolar o coração. Envia-Ihes mulheres para acabar de corrompê-los. Faz com

que saiam quando conviria que ficassem acampados, e permaneçam tranqüilos

quando urgiria que atacassem. Dissemina ininterruptamente falsos alarmas e

falsos avisos. Conquista, para tua causa, os governadores de províncias

inimigas. Eis aproximadamente o que deves fazer, se queres ludibriar, usando

habilidade e astúcia.

Os generais que brilhavam entre os antigos eram homens sábios,

previdentes, intrépidos e afeitos ao trabalho. Tinham sempre os sabres à mão.

Jamais presumiam que o inimigo não viria, estavam prontos para qualquer

eventualidade. Tornavam-se invencíveis e, deparando-se com o inimigo, não

necessitavam esperar reforço para bater-se. As tropas que comandavam eram

bem disciplinadas, e sempre dispostas a investir, ao primeiro sinal do

comandante.

Entre eles, a leitura e o estudo precediam a guerra e os preparavam

para ela. Defendiam com cuidado suas fronteiras, e fortificavam suas cidades.

Não investiam contra o inimigo, quando sabiam que este estava preparado.

Atacavam pelo lado mais fraco, quando suas tropas estavam indolentes e

ociosas.

Antes de terminar este capítulo, devo te prevenir contra cinco defeitos

que, embora pareçam inócuos, são perniciosos e representam obstáculos

funestos que derrotaram a prudência e a bravura mais de uma vez.

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I. O primeiro é o entusiasmo excessivo em afrontar a morte, atitude

temerária que se honra 'Com o nome de "coragem", "intrepidez" e

"valor" mas, no fundo, só merece o de "covardia". Um general que

se expõe sem necessidade, como se fosse simples soldado, que

parece buscar os perigos da morte, que combate e manda

combater até o limite, é um homem que merece morrer. É um

homem precipitado, incapaz de encontrar recursos para safar-se de

um mau momento. É um covarde, incapaz de sofrer o menor revés

sem se frustrar, acreditando que tudo está perdido, se não sair

exatamente como planejara.

II. O segundo perigo é o cuidado exorbitante em conservar a vida.

Acreditando-se necessário ao exército inteiro, o general dá mostras

de covardia. Não ousa, por essa razão, abastecer-se às custas do

inimigo. Tem medo de tudo, até da própria sombra. Hesita, à

espera de uma ocasião mais favorável. Perde a que aparece, não

toma nenhuma iniciativa. Mas o inimigo, que está sempre à

espreita, aproveita-se, fazendo com que um general assim

temeroso perca toda a esperança. O adversário o enredará, lhe

interceptará o abastecimento e o fará perecer pelo amor demasiado

que tinha em preservar a própria vida.

III. O terceiro perigo é a cólera. Um general que não sabe se controlar,

que não tem império sobre si mesmo, e se deixa arrebatar pela ira

ou pela cólera, será ludibriado pelos inimigos. Estes o provocarão,

lhe armarão mil emboscadas que sua irascibilidade impedirá de

reconhecer, e nas quais infalivelmente cairá.

IV. O quarto perigo é a excessiva suscetibilidade. Um general não

deve se ofender de forma intempestiva e despropositada. Por

querer reparar a honra apenas levemente ofendida, corre o risco de

perdê-Ia irremediavelmente. Deve dissimular. Não deve se

desencorajar depois de alguns fracassos, nem acreditar que tudo

está perdido porque cometeu algum erro ou sofreu algum revés.

V. O quinto perigo é a complacência ou a compaixão desmedida em

relação aos soldados. Um general que não ousa punir, que fecha

os olhos para a desordem, que teme que os seus soldados estejam

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sempre vergados sob o peso do trabalho, não ousando, por essa

razão, impor-Ihes novas tarefas, é um general fadado ao fracasso.

Os subordinados devem sempre ser punidos. É preciso que sofram

provações. Se quiseres tirar partido do serviço dos soldados,

mantém-nos sempre ocupados, não permitas que fiquem ociosos.

Pune-os com severidade, mas sem rigor excessivo. Ministra

castigos e trabalho, com discernimento.

Um general hábil evita todos esses defeitos. Sem procurar

desesperadamente viver ou morrer, deve conduzir-se com prudência e

coragem, segundo as circunstâncias.

Se há justas razões para se encolerizar, que o faça, mas não imite a

ferocidade do tigre.

Se crê que sua honra está maculada e quer repará-Ia, que siga as

regras da sabedoria, e não a suscetibilidade advinda de uma reputação

comprometida.

Que ame seus soldados e os poupe, mas com moderação.

Combatendo, movimentando-se, sitiando cidades, fazendo ofensivas,

deve conjugar a astúcia à valentia, a sabedoria à força das armas. Deve saber

reparar seus erros, quando tiver a infelicidade de cometê-los, aproveitando

todos os erros do inimigo e induzindo-o a cometer outros. 

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