Sun Tzu diz: Comandar muitos é o mesmo que comandar poucos. Tudo
é uma questão de organização. Controlar muitos ou poucos é uma mesma e
única coisa. É apenas uma questão de formação e sinalizações.
Lembra os nomes de todos os oficiais e subalternos. Inscreve-os num
catálogo, anotando-lhes o talento e a capacidade individuais, a fim de
aproveitar o potencial de cada um, quando tiveres oportunidade. Age de tal
forma que todos os que deves comandar estejam persuadidos que teu principal
cuidado é preservá-los de toda desgraça.
As tropas que farás avançar contra o inimigo devem ser como pedras
que arremetes contra ovos. De ti até o inimigo, não deve haver outra diferença
senão a do forte ao fraco, do cheio ao vazio.
A certeza de sustentar o ataque do inimigo sem sofrer uma derrota
baseia-se na combinação de forças diretas e indiretas2
.
Utiliza forças diretas para desfechar a batalha, e forças indiretas para
consolidá-Ia. Os recursos dos que são hábeis na utilização de forças indiretas
são tão infinitos quanto os do céu e da terra, e tão inesgotáveis quanto os
mananciais.
Ataca a descoberto, mas vence em sigilo. Eis, em poucas palavras, em
que consiste a habilidade e a perfeição do comando das tropas. As luzes e as
trevas, o aparente e o secreto: eis toda a arte. Aqueles que a possuem
assemelham-se ao céu e à terra, cujos movimentos nunca são aleatórios.
Assemelham-se aos caudais e aos mares inexauríveis. Mesmo mergulhados
nas trevas da morte, podem revi ver. Como o sol e a lua, eles têm um tempo
para aparecer, e um tempo para desaparecer. Como as quatro estações,
revestem-se de mil nuanças. Só há cinco notas musicais, mas quem jamais
ouviu todas as melodias que podem resultar de sua combinação? Só há cinco
cores primárias, mas quem jamais viu o espetáculo de todas as cores
2 Direta: fixar e distrair. Indireta: irromper onde o golpe não é previsto.
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matizadas? Só há cinco paladares, mas deles podem resultar infinitos sabores.
Quem jamais experimentou todos?
Na arte militar, e na do bom comando das tropas, há apenas duas
espécies de forças. Suas combinações, entretanto, são ilimitadas. Ninguém
pode abarcá-Ias. Essas forças interagem. Assemelham-se, na prática, a uma
cadeia de operações interligadas, como anéis múltiplos, ou como a roda em
movimento, que não se sabe onde principia nem também onde termina.
Na arte militar, cada operação particular tem partes que exigem a luz do
dia, e outras que pedem as trevas do segredo. Não posso determiná-Ias de
antemão. Só as circunstâncias podem ditá-Ias. Opomos grandes blocos de
pedra às corredeiras que queremos represar. Empregamos redes frágeis e
miúdas para capturar pequenos pássaros. Entretanto, o caudal rompe algumas
vezes seus diques, após tê-Ios minado aos poucos, e os pássaros, as peias
que os aprisionam, à força de se debaterem.
É por seu ímpeto que a água das torrentes corrói os rochedos. É
regulando a distância que o falcão se orienta para estraçalhar a presa.
Possuem verdadeiramente a arte de bem comandar aqueles que
souberam e sabem potencializar sua força, que adquiriram uma autoridade
ilimitada, que não se deixam abater por nenhum acontecimento, por mais
desagradável que seja; que nunca agem com precipitação; que se conduzem,
mesmo quando surpreendidos, com o sangue-frio que têm habitualmente nas
ações meditadas e nos casos previstos antecipadamente, e agem sempre com
a rapidez, fruto da habilidade, aliada a uma longa experiência. Assim, o ímpeto
de quem é hábil na arte da guerra é irrefreável, e seu ataque é regulado com
precisão.
O potencial desse tipo de guerreiro é como o dos arcos retesados. Tudo
verga sob seus golpes, tudo é derribado. Como um globo que apresenta
perfeita esfericidade em todos os pontos de sua superfície, eles são igualmente
resistentes em toda a parte; em todos os pontos, sua energia é a mesma. No
auge de uma confusão e de uma desordem aparente, sabem conservar uma
disciplina de ferro. Fazem brotar a força no seio da fraqueza. Despertam a
coragem e a determinação no meio da covardia e da pusilanimidade.
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Mas saber manter uma ordem impecável, inclusive no meio da
desordem, exige profunda reflexão sobre todos os acontecimentos que podem
suceder.
Transformar a fraqueza em força só é dado àqueles que têm uma
energia absoluta e uma autoridade ilimitada. Pela palavra "força" não se deve
entender "dominação", mas sim a faculdade que permite que se transforme em
ato tudo aquilo que se propõe. Saber engendrar a coragem e o valor no meio
da covardia e da pusilanimidade significa tornar-se herói e, mais do que isso,
colocar-se acima dos mais intrépidos.
Um comandante hábil busca a vitória baseando-se nas circunstâncias e
não a exige de seus subordinados.
Por mais maravilhoso que tudo isso pareça, exijo algo mais dos que
comandam as tropas: é a arte de manipular o deslocamento dos inimigos.
Aqueles que dominam essa arte admirável dispõem de ascendência sobre o
próprio exército, de tal forma que manipulam o inimigo sempre que julgarem
apropriado. Sabem ser liberais quando convém. Agem da mesma forma em
relação aos que querem vencer: dão e o inimigo recebe; abandonam e o
inimigo recolhe. Estão prestes a tudo. Aproveitam-se de todas as
circunstâncias. Sempre desconfiados, vigiam os subordinados e, desconfiando
destes também, não descuram de nenhum meio que lhes possa ser útil.
Consideram os homens que devem combater como pedras ou troncos
que tivessem que despencar de um penhasco.
A pedra e a madeira não têm movimento próprio. Uma vez em repouso,
não se mexem por si mesmos, mas seguem o movimento recebido. Se são
quadrados, mantêm-se parados. Se redondos, rolam até encontrar uma
resistência mais forte do que a força recebida.
Age de forma que o inimigo seja, entre tuas mãos, como uma pedra
redonda que terias que precipitar de um penhasco: a força necessária é
insignificante; os resultados, espetaculares. É nesse ponto que se reconhecerá
tua força e autoridade.