Mademoiselle Lucy, como, vez ou outra, Harry a chamava - quando não dispensava o sotaque e caia de cabeça em seu inglês britânico, chamando-a de "Gata" - espreitava os olhos para Célia como se houvesse uma porta secreta escondida através de cada olho. A mulher já havia rodopiando Célia, minuciosamente tocado seus braços e a cintura sobre a blusa esbranquiçada.
Finalmente, débil, com os olhos semicerrados de sono, sentado-se na beira da mesinha de café, Lucy estendeu uma mão até a temporada e estremeceu por alguns segundos, até finalmente dizer em um grito escandaloso:
- Tenho algo perfeito!
Célia não entendeu direito o porque de ela ter se erguido e correr em direção a uma porta, que diferente das outras, era de um cinza frio.
Estava ali a, pelo menos, duas horas,encarando as paredes cor de rosa do quarto pomposo de madame Lucy.
- Harry, por favor, poderia se retirar? - disse de um jeito sexy, adentrando novamente o quarto com um vestido longo, estendido no braço. O tecido parecia brilhar reluzindo a luz forte das pequenas lâmpadas no lustre.
- Mas, Lucy...
- Nada de mais, mon amour. Aqui irá virar um verdadeiro salão de beleza e isso é coisa para garotas, não acha?
- Estarei no corredor. Não deixe essa garota escapar! - disse se retirando, pegou um casaco preto sobre a cadeia branca de couro do lado da porta. Com uma última piscadela para Lucy, Harry saiu do quarto.
Lucy deitou com cuidado o vestido vermelho e sem mangas na cama, enquanto vasculhava seus próprios pensamentos a procura de algo que Célia não fazia idéia do que seria. Andou de um lado a outro, olhando as caixas em uma estante negra - aliás a única coisa preta em todo o enorme cômodo. Retirou, enfim, uma caixa dourada e a abriu revelando um salto alto, de uns quinze centímetros.
Célia piscou perplexa. Que diabos estão inventando para Célia? Se queriam vê-la arrumada não precisava tê-la sequestrado.
A tontura por conta do álcool estava lhe deixando, vez ou outra ela via as coisas duplicadas, mas piscava algumas vezes e voltava a ver apenas uma.
Célia se ergueu, contemplou as janelas abertas, lembrando de como fizera quando estava com Zayn, escalando as paredes até o quarto vizinho. Mas ela não lembra de ter visto nada a qual poderia se agarrar, o prédio era todo espelhado, não há inclinações.
Seu estômago se embrulhou como se um nó fosse feito sobre sua barriga, Célia sentou novamente, mergulhando o rosto entre as mãos. Esta tudo perdido. Zayn sumiu e, pela quantidade de sangue no chão, está ferido. Gravemente ferido.
Quantas vezes ela ouviu a mãe dizer para não sair com estranhos? Oh sim, foram muitas... Mas Célia resolveu esquecer cada uma delas e partir para Nova York com Zayn Malik, um revendedor de mulheres. Mas ela não teve escolha, teve? Aquele homem a olhando sério de mais... Qual o problema com essa família falsa do Zayn? São todos loucos?
- Bom, minha querida. Esta na hora de você se aprontar. Mister Crown não gosta de atrasos - disse com um sorriso tênue.
Célia ergueu a cabeça e encontrou os olhos marejados da deslumbrante mulher. O que era aquilo? Lucy estava com pena de Célia?
- O que ele vai fazer comigo? - disse Célia, apavorada.
- Bom, menina. Faço parte disso a alguns anos, não porque quero, claro, fui uma das poucas de Mister Crown não "revendeu" a seus leais amigos estrangeiros em troca de autorizações, dinheiro, firmamentos de negócios... - ela falava com um inglês prefeito, enquanto vasculhava um armário com as pontas dos dedos. - O desgraçado achou que serviria de alguma ajuda para suas "filhas perdidas", como Harry chama.
- E porque não vai embora? Porque não pede ajuda a Harry e some?
- Oh, quantas vezes pensei em fazer isso e Harry disse me ajudar... - resmungou sonhadora. - Mas essa é minha vida agora, mademoiselle. Não tenho mais onde ir, nem o que fazer.
Célia observou-a colocar uma toalha sobre a cama.
- Além do mais, olha esse quarto. Se você ainda estiver aqui amanhã, mostro-lhe todo o resto da casa. É deslumbrante - disse com um brilho no olhar.
Célia estremeceu.
- Se eu estiver aqui amanhã? - repetiu. - Para onde ele vai me levar?
- Para um lugar estonteante e ao mesmo tempo horrível - fechou os olhos e balançou a cabeça, como se não quisesse as lembranças que lhe voltavam a mente.
- Me diz...
- Toma - entregou uma toalha e uma lingerie vermelha de renda. - Vai tornar um banho.
Célia segurou a toalha nas mãos estendidas. A lingerie transparente lhe causava um certo alvoroço. Um tanto receosa caminhou alguns passos para frente.
- A porta branca, querida.
Célia se manteve firme até atravessar a porta. Fechou-a atrás de si e pôs o que trazia em mãos sobre a o mármore colorido da pia. Então desabou.
Sentou-se em um canto, abraçando os joelhos com os braços e balançando-se para frente e para trás dilacerou as poucas chances de sair dali.
As lágrimas transbordaram de seus olhos. Esta perdida. Esta tudo perdido.
Por fim, decidiu se livrar daquela cara pálida e das roupas sujas. Tomou um banho demorado, usando os sais perfumados e óleos essenciais coloridos que Lucy esbanjava nas prateleiras de cor lilás.
Secou-se e, ainda receosa, vestiu a fina lingerie. Enrolou-se nas toalhas e voltou para o quarto com o cabelo pingando em todo o assoalho. Lucy apressou-se é enrolou o cabelo de Célia com outra toalha.
Após instantes que pareciam intermináveis, Célia estava com o cabelo penteado para trás preso em um coque simples mas delicado, com pequenos botões de pérola espalhados por toda a sua extensão. Lucy cuidou para não pesar a mão na maquiagem, Célia tinha as bochechas com um leve rubor e os lábios carregam um batom rosado. Os olhos levemente pintados de marrom, com um fino traço feito com o delineador e cílios revestidos com camadas de rimel... Célia estava linda.
Lucy sorriu por conta de seu trabalho em feito, então puxou o vestido vermelho e desenrolou Célia sem pedir permissão. Vestindo o vestido pela cabeça, Lucy subiu o zíper do vestido e tomou Célia pela mão a levando até a frente de um enorme espelho.
Com um suspiro, a garota andou para frente perplexa. Seria seu fim, sim, mas estava realmente belíssima.
A campainha soou e Harry adentrou o quarto deixando um breve suspiro escapar por seus lábios.
- Vamos, Senhor Crown está esperando.
- Hoje você será como uma gueixa - disse Lucy, calçando-lhe os enormes saltos ao qual Célia mal podia se equilibrar.
- Uma...? - indagou Harry.
- Uma acompanhante. Ela pode voltar com monsieur Crown, mas também pode servir a outros senhores...
Lucy fez uma pausa então ergueu-se e entregou Célia a Harry.
- Espero que Mister Crown goste do resultado - sorriu.
Harry fez uma mensura e então, com sua última piscadela, levou Célia para fora até um carro negro.
Crown suspirou ao ver Célia curvar-se no banco.
- Não chore menina - disse tomando sua mão para si. Célia tremeu com o toque. - Você vai se acostumar com isso. Hoje será apresentada a meus... Companheiros de trabalho. Com sorte fechamos um negócio multimilionário! Com sorte? Ah não, eu quis dizer com toda a certeza!
O carro deu a partida.
Célia, hoje, seria trocada por um negócio. Suspirou ao pensar em tal coisa, rezando baixinho para que Zayn, ou até mesmo a polícia a encontre.
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Tá bom, Célia. Agora tu se lascou de verdade!
Olá amoras, gostarão do capítulo? Espero que sim *¯* hehe
Milhões de desculpas pela demora, eu tive uns probleminhas :(
Bom, votem, comentem, façam essa criança aqui feliz :)
Beijocas de algodão doce (^o^)
Até ✈
- SSMissing ❤