Abri os olhos com um certo receio, havia algo de errado comigo, não era possível que eu desmaiasse com tanta frequência num espaço tão curto de tempo.
Contemplei um teto de gesso com luzes acopladas como as da sala, era engraçado que mesmo o teto, cheirava a riqueza. Não ousei me mexer até ter certeza de estar sozinha, esperei dois minutos e não ouvi nada. Levantei meu corpo da superfície macia que estava, alguns lençóis me envolviam e um cheiro maravilhoso vinha deles. Cheiro de luxo.
O quarto que eu estava era enorme, como tudo ali dentro parecia ser. Uma poltrona ficava bem em frente à cama, a uns três metros, um tapete felpudo ⸺ que milagrosamente não era branco, como o resto das coisas, mas sim de um rosinha pastel lindo ⸺ ia da poltrona até se esconder embaixo da cama. Do lado direito, colado à cama, um criado mudo com abajur e porta retrato preenchido com uma frase bonita e motivadora, talvez um trecho de alguma música do Brendon. No fim do quarto, janelas de vidro cobertas por cortinas brancas.
No lado esquerdo, uma penteadeira que quase ocupava toda extensão da parede, um espelho enorme que mostraria quase meu corpo inteiro, gavetas embaixo e prateleiras dos lados. Uma porta em uma extremidade e outra porta na outra. Além de uma cabeceira luxuosa na cama, com luzes de led acopladas a ela.
Voltei a deitar na cama. Queria me sentir feliz por estar ali, por desfrutar de uma casa tão maravilhosa, e pelos privilégios que eu teria durante duas semanas inteiras. Queria fingir que tudo estava bem e sair pelo quarto explorando tudo até que Brendon Mark aparecesse e me perguntasse se estava bem, eu responderia que sim e teríamos uma ótima semana.
Mas eu não podia.
Não podia fingir que não odeio tudo isso e que cada segundo trancafiada nesse castelo moderno não me faria enlouquecer. Mas não era como se meu desejo fosse o mais importante no momento. Então, por mais trabalhoso que fosse, eu precisava fingir.
Como se o universo conspirasse contra mim, alguém bateu à porta, do lado de fora. Involuntariamente, meus pés começaram a mexer no colchão, nervosos, minha respiração pesada.
Pulei da cama, só então percebendo que ainda estava com as roupas de antes, não fazia ideia de quanto tempo se passara, mas eu costumava dormir bastante quando desmaiava. Caminhei em passos lentos até a porta branca, hesitante, toquei a maçaneta dourada e abri devagar. Eu esperava ver Brendon Mark ali, ou algum funcionário, até mesmo repórteres, mas era Josh que estava ali, com o terno preto no braço e a camisa branca à mostra, com dois botões abertos.
⸺ Haylie ⸺ ele falou simpático. ⸺ Como você está?
⸺ Bem. Eu acho ⸺ ouvi um barulho de passos atrás dele.
⸺ Faz duas horas que você estava apagada, viemos examinar você.
⸺ Viemos? ⸺ Ergui as sobrancelhas, esperando a outra pessoa aparecer.
⸺ Sim. Eu e o senhor Bomeny.
⸺ Não precisava ⸺ me prontifiquei. ⸺ Eu estou bem, e...
Parei de falar assim que um homem de jaleco branco apareceu de trás de Josh, com uma maleta marrom em mãos. O homem sorriu simpático e silencioso, e, pelas barbas do camarão, extremamente bonito.
⸺ Haylie esse é o médico do Brendon ⸺ Josh se apressou em responder.
⸺ Na verdade ele sempre se consulta com o meu pai, mas ele não pôde vir hoje, então...
Um milagre aconteceu.
⸺ Podemos entrar? ⸺ Josh perguntou, eu ainda estava estática bela beleza do homem, mas permiti o acesso dos dois.
⸺ Sente-se por favor ⸺ o médico pediu com educação, obedeci de prontidão, sentando na poltrona cor de gelo. Ele veio até mim e se abaixou à minha frente. Sua mão checou pescoço, meus braços. Ele mandou eu abrir a boca e dizer "A", e eu apenas fiz um som estranho com a boca. Ele escutou meu coração e também mediu minha pressão. Ao que parece eu estava muito bem comigo.
⸺ Okay, eu já volto ⸺ Josh saiu do quarto depois de receber uma ligação, me deixando a sós com o cara bonitão. Ele sentou na beira da cama e me analisou por um tempo.
⸺ Você está muito bem mas vem desmaiando nos últimos tempos, certo? ⸺ Eu ia perguntar como ele sabia disso mas me lembrei que essas pessoas sabem investigar a vida alheia como ninguém, então apenas assenti, ele anotou algo em seu bloco. ⸺ Acho que você vem se estressando bastante e elevando sua felicidade também, uma variação tão grande de sentimentos pode causar esses impactos. Tente controlar seus níveis de emoção e esteja sempre preparada para uma surpresa ou outra.
⸺ Eu vou tentar.
O homem sorriu. Pelos deuses! Ele era tão lindo que por um segundo, achei que tudo poderia desaparecer e só a imagem dele me sobraria. Mas a porta abriu-se de repente, com um click, e foi o suficiente para me acordar do pequeno transe. Seria difícil controlar minhas emoções já que, para minha surpresa, era Brendon Mark que passava pela porta. Ele usava calça jeans preta menos rasgada que a antiga, camisa cinza e agora uma touca no cabelo.
Como homens de touca podem ser tão bonitos?
O médico se prontificou em dar todas as informações sobre mim, rapidamente.
⸺ Obrigada por vir, Bomeny, se precisar de algo eu lhe chamo o mais rápido possível ⸺ o bonitão se levantou diante de meus protestos secretos e caminhou até o cantor que estava de pé a uns dois metros de nós.
⸺ Eu que agradeço a confiança ⸺ e foi isso. Eles apertaram as mãos um do outro e ele foi embora.
Droga.
Pelo reflexo do espelho da penteadeira, percebi o quão terrível e desarrumada eu estava, sem banho, sem retoque de maquiagem, sem perfume, sem humor.
⸺ Como... se sente? ⸺ Percebi o homem que outrora parecia seguro de si estava sem jeito para falar, e isso não era fofo. Era estranho e desconfortável.
⸺ Não sei ⸺ foi minha resposta.
Ele não falou nada, apenas caminhou vagarosamente até a cama onde o médico lindo estava sentado. Apesar de ser obviamente mais jovem que o homem, a poucos expulso do quarto, Brendon Mark aparentava uma beleza tão incontestável que até mesmo me fazia esquecer o rumo da história. Esquecer que eu deveria achá-lo um ogro. E eu odiei isso.
Ele era um ogro terrivelmente lindo. Mas eu jamais iria admitir isso.
⸺ Precisa de alguma coisa?
Respirei fundo olhando para o chão.
⸺ Acho que não me sinto tão bem... acho... que estou sufocada ⸺ ouvi ele se mover na cama, e me dei conta de como havia sido sincera, porém, na minha situação atual isso não era bom.
⸺ O que eu devo... ⸺ ele não terminou, parecia tão perdido quanto eu. ⸺ Quer que eu chame o médico novamente?
⸺ Não! ⸺ Apertei as mãos na poltrona, me controlando. ⸺ Não precisa, eu estou bem, eu só... me sinto tão emocionada e... um pouco cansada também.
Seus olhos azuis me analisaram por um momento e eu me xinguei mentalmente por querer descobrir o que ele pensava.
⸺ Vou te deixar descansar então ⸺ ele se levantou e pôs as mãos nos bolsos de sua calça. ⸺ Meus funcionários vão ficar à postos por você, sempre vindo checar se você precisa de algo, então não hesite em chamar e os avise quando estiver pronta para sair.
Assenti ainda sem saber como interpretar direito as suas palavras.
Ele caminhou para fora do quarto sem olhar para trás, e eu não fazia ideia se ele me odiava por tudo que aconteceu. Fazia menos de cinco horas que eu estava lá e até um médico particular foi necessário. Talvez eu fosse mesmo um desastre como Baylie costumava dizer.
Levantei da poltrona, meio zonza, e me aproximei da penteadeira.
Parei em frente o espelho gigante, havia tantos produtos de beleza espalhados ali que eu jamais saberia para que serviam. A parte de cima do móvel era transparente, o que apenas deixava tudo mais chique. Não ousei abrir ou testar nada, mesmo que minha aparência estivesse mais terrível do que eu poderia descrever.
Abri a porta da direita, deduzindo ser o banheiro, mas me deparei com o closet. E não era um simples closet. O espaço era dividido em quatro partes ⸺ uma em cada parede ⸺ a primeira que me deparei foi a de sapatos, prateleiras e mais prateleiras de sapatos de cores e mais cores e modelos e... um terço da parede era em espelho.
Suspirei.
A próxima parede que ficava no lado oposto continha bolsas e acessórios, metade da parede para cada um. A parede da porta comportava chapéus e enfeites de cabelo e tudo que pudesse se imaginar de decoração de looks.
Então a última parede ⸺ que praticamente ocupava metade do closet ⸺ a das roupas.
No canto da parede, uma espécie de guarda roupas com o fundo de espelho cheio de cabides e espaços vazios abertos para acomodar as roupas. Haviam algumas organizações diferentes. As roupas dobradas eram divididas por peça, shorts, blusas lisas, estampadas, saias, calças, roupões chiques... os cabides do lado direito tinham apenas vestidos separados por longos, midi e curtos. Os cabides do lado esquerdo continham alguns casacos, de couro, jeans, peludos e simples e blazers também. Em baixo deles ainda couberam algumas calças de corte mais chique e elegante.
Algumas araras estavam dispostas sobre o lugar, uma apenas com blusas, outra com mais vestidos ⸺ brilhosos dessa vez ⸺ e outro com roupas artísticas. Um espelho de corpo inteiro com rodinhas nós pés encostado num canto perto de... surpresa! Uma poltrona.
Parece que Brendon Mark adora mesmo poltronas.
No lugar ainda havia muitas coisas que eu precisei digerir: uma mesinha com flores, um mini frigobar, luzes de led na decoração, um suporte cheio de taças... Dei um giro de trezentos e sessenta graus nos pés e caminhei para fora do lugar. Pela graça de Deus a próxima porta era o banheiro. E céus... que banheiro.
Tentei ao máximo não olhar cada detalhe. Era tão difícil.
Tomei o banho mais rápido que consegui ⸺ devido a água terrivelmente morna e deliciosa ⸺ e fui até o quarto. Minha simples mala estava no canto da parede, vesti minhas próprias roupas e dei um jeito leve no rosto com os produtos baratinhos que havia trazido.
Eram 16:30 da tarde e nenhum funcionário havia batido na porta para me chamar, então decidir sair. Abri a porta, decidida a procurar sozinha por alguém, mas não foi preciso. Um homem alto e magro estava ao lado da porta, ele vestia terno e gravata, além de exibir uma expressão séria no rosto.
⸺ Oi? ⸺ O homem girou em minha direção, instantaneamente, ao ouvir minha voz.
⸺ Sim. Você está bem? Precisa de algo?
Me forcei a sorrir amarelo.
⸺ Eu estou bem, eu só... ⸺ mordi os lábios, incapaz de lhe dizer que estava com fome. ─ Onde está o Brendon? Ele me pediu para avisar assim que eu estivesse bem...
O homem endireitou a postura.
⸺ Ele precisou sair com a equipe de repórteres que estava aqui para gravar a sua reação ⸺ pisquei, surpresa, eu nem mesmo sabia que havia uma equipe para isso ali dentro. ⸺ Parece que as coisas não correram tão bem como planejado.
Eu corei, desviando os olhos. Eu deveria saber que essa havia sido a pior ideia do mundo. Eu estava apenas atraindo a desgraça para aquele sorteio idiota.
⸺ Vai acontecer alguma coisa ruim? ⸺ Perguntei, incapaz de esconder o nervosismo.
⸺ Eu não tenho certeza. Eles não haviam cogitado a hipótese de você desmaiar e passar mais de duas horas apagada, com provas gravadas, então... Eles vão chegar a um acordo, talvez.
Arregalei os olhos, meu corpo estava em estado de choque.
⸺ E isso⸺ comecei num fio de voz, sem saber se realmente queria saber a resposta da pergunta que formulava ⸺ ... vai lhe custar muito?
Seu comprimir de lábios foi o suficiente para me desestabilizar.
⸺ Muito mais do que somos capazes de imaginar.