A Fortaleza: Mundo Sombrio...

By dayfernandesdf

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O sangue é a única saída. 2070. A escuridão caminha lado a lado com o que restou da raça humana. Após uma gu... More

Book Trailer - A Fortaleza: Mundo Sombrio
Prólogo
Capítulo 1- O começo do fim
Capítulo 2 - Fantasmas das Sombras
Capítulo 3 - Gênesis
Capítulo 4 - Uma nova missão
Pré-venda livro físico - Edição ilustrada

Capítulo 5 - Desafios

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By dayfernandesdf


O som das águas abrindo caminho por entre as rochas era reconfortante. Mais uma vez Camille foi levada até o grande salão no qual ficava o riacho, na tentativa de organizar ideias e pensamentos. As atuais circunstâncias se mostravam perigosas, mas ela reconhecia a necessidade de Adam ao impor aquela condição para dar início às buscas por sua liberdade. E ele tinha razão. Se fossem mesmo fazer isso, a confiança era indispensável entre seus membros. Precisariam confiar uns nos outros cegamente, inclusive com a própria vida. É assim que as equipes de combate funcionam, elas são um organismo vivo, uma unidade.

Como capitã de várias missões já realizadas pelos fantasmas, ela tinha sido testemunha de muitas vitórias, bem como de alguns fracassos. A maioria deles relacionado à indisciplina ou desobediência. Alguém que resolvera agir por conta própria, ignorando o resto do grupo. Quando se trata de trabalho em equipe, cada indivíduo tem uma função a cumprir e quando isso não é respeitado, todos são colocados em risco.

A captura de seus companheiros na última missão, os quais salvara junto com Adam, se deu justamente por razões como essa. O objetivo da invasão à unidade sentinela era procurar por mantimentos, pois a dispensa do esconderijo estava esvaziando–se perigosamente. Um dos integrantes da equipe, responsável por dar cobertura aos outros na busca pela comida, resolveu procurar por ela também. Isso o distraiu de seu objetivo principal, abrindo uma brecha para os sentinelas se aproximarem sorrateiramente. O grupo foi obrigado a fazer uma retirada de emergência, não conseguindo escapar do combate com alguns soldados. Como saldo da missão, o homem que saiu de seu posto foi assassinado e três outros membros foram levados e feitos prisioneiros. Esse era o preço a pagar por um pequeno desvio como aquele.

A capitã respirou profundamente, buscando encontrar a calma necessária para fazer a escolha certa. Precisava de Adam na missão, isso lhe era óbvio. Sem ele, seria como tatear no escuro por um lugar desconhecido. A grande questão em seus pensamentos era se de fato poderiam confiar nele. Aquela era uma situação extremamente complicada.

Haviam se passado apenas três dias desde o resgate. Ela não o conhecia e estava longe disso, afinal nem ele mesmo sabia ao certo quem era. Poderia ser um espião, encarregado de dar um fim em todo o grupo de refugiados. Mas também podia ser uma vítima, assim como todos ali. Sentia–se num beco sem saída, colocada entre a cruz e a espada. Por um lado, Adam era uma peça fundamental no desenrolar de seus planos. Por outro, com um simples estalar de dedos, ele poderia traí–los. Não havia garantias sobre seu caráter.

Ela movimentou os pés dentro da água, criando pequenas ondas circulares na superfície do lago subterrâneo.

Adam sabia que a encontraria ali. Depois de seu pedido, todos deixaram a sala do escritório e era óbvio que ela havia ficado cheia de dúvidas em relação a isso. Ele se aproximou da saída do túnel, anunciando sua presença com o ruído oco de seus passos no chão.

– Imaginei que estaria aqui – falou ele, calmamente.

O silêncio de Camille o deixou receoso. Ele caminhou até a outra margem do lago e parou, observando a água corrente.

Um longo tempo depois, a capitã cortou o silêncio.

– Precisa de alguma coisa? – perguntou ela. Sua expressão estava distante.

– Fico imaginando o que teriam feito comigo se você não tivesse me tirado daquele lugar. – o olhar de Adam tinha algo sombrio. – Acreditei que iriam me matar, mas agora percebo o quanto fui tolo.

– Não devia ficar remoendo essas lembranças. Não vai trazer nenhum benefício. – a voz de Camille soava baixa e serena aos ouvidos dele, assim como as águas do rio.

– Não tenho muito do que me lembrar. – ele deu de ombros.

– É por isso que quer nos ajudar? Por vingança? – quis saber a jovem.

Adam soltou um suspiro longo e profundo antes de responder.

– Não, não é esse o motivo principal, mas também é um deles.

Os olhos de Camille o estudavam, curiosos.

– Qual é o motivo principal então? – ela quis saber.

– Eu quero ajudá-la por que você me ajudou primeiro. – confessou ele.

– Você não me deve nada. – falou ela, num tom sério.

– Eu sei que não. Mas mesmo assim você me tirou de lá. Me deu comida, um teto, acha que outra pessoa teria feito o mesmo?

Camille não respondeu, mas seu silêncio disse tudo.

– Além do mais, você quer arriscar a vida de seus melhores amigos por uma lembrança que eu nem mesmo sei se é real. Não acha que isso já mostra um sinal de confiança de sua parte, capitã? – seu tom era perspicaz.

Aquelas palavras surpreenderam Camille. Tudo que Adam dissera era verdade, mas ela própria ainda não havia percebido. Até aquele momento.

"Como pude ser tão idiota?"

Ela estava disposta a arriscar tudo de mais valioso em sua vida por algo que nem ao menos sabia se era verdade. Aquela sensação de ser exposta a incomodou profundamente.

– Se o que diz é verdade, então qual o objetivo de pedir uma coisa que você acredita que já tem?

Adam riu. Camille era mesmo muito sagaz.

– Precisava escutar uma confirmação sua. Como você disse, sua confiança é algo que eu imagino ter, mas não significa que seja assim.

A capitã assentiu, rindo também. Adam era um bom estrategista.

O silêncio voltou a se instalar entre eles, mas dessa vez não era desconfortável.

– Eu não sei o que descobri naquela pesquisa, ou que fizeram com meus amigos depois disso. Eu era uma pessoa diferente antes, Camille, ou não teria passado tanto tempo lá. Não enxergava além daqueles muros. Só pude perceber isso quando já era tarde demais.

– Todos somos assim Adam. Estamos sempre mudando. Como as lagartas, que só conhecem o mundo terreno, mas quando viram borboletas descobrem um mundo novo no céu.

– E mesmo assim você confia em mim? – sua pergunta era sincera.

– Tá legal, eu confio. Mas não fique se gabando por aí. – respondeu ela, rindo.

– Claro que não. Ainda me lembro muito bem da sensação da sua lâmina no meu pescoço – brincou ele.

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Estava decidido. Dentro de algumas semanas, os quatro estariam a caminho da capital da Fortaleza em busca de respostas. Os rostos de Adam e Camille eram os únicos conhecidos e procurados pelo exército de sentinelas e essa era sua maior preocupação. A ideia era usar alguns disfarces, serem discretos e cuidadosos, pois qualquer incidente implicava no risco de serem pegos.

O plano de Will era simples: todos eles se passariam por civis durante o trajeto. A maioria dessas pessoas eram comerciantes. Vendiam e trocavam mercadorias encontradas em suas expedições pela grande construção. Alguns até se aventuravam do lado de fora, na superfície, arriscando a vida para fazer aquisições.

Os quatro levariam alguns objetos de valor, como velas e pedaços de carvão, para o caso de precisarem mesmo vender alguma coisa. Além disso, aqueles bens completariam o disfarce. A caminhada do esconderijo até a capital durava cerca de três dias, caso eles conseguissem atravessar os túneis sem interrupções. Mas Will não ousava contar com tamanha sorte, pois era improvável não se depararem com algum obstáculos, como soldados, saqueadores, mercenários e unidades de comando do governo.

Uma semana já havia se passado desde a confirmação de Camille em colocar os novos planos em prática. Os primeiros dias foram de pura especulação. Ela e sua equipe passavam horas tentando imaginar todo tipo de problema que poderiam enfrentar no caminho, inclusive a perda de vidas.

– Por favor, Camille. Como pode pensar numa coisa dessas? – grasnou Will.

– Precisamos estar prontos para tudo. Vocês precisam ir até o fim, mesmo que algo aconteça comigo.

Adam engoliu em seco. A forma como a capitã encarava tais situações o espantava em muitos sentidos. Jamais imaginou uma mulher sendo tão racional, principalmente quanto a assuntos ligados à sua própria morte. O rapaz constatou, naquele momento, os motivos pelos quais Camille liderava o grupo de rebeldes. Não era por mero acaso, muito menos pelo status herdado de seu pai. Ela tinha pulso forte, era firme em suas palavras e letal com suas armas. Mas apesar de tudo, tinha compaixão por seus semelhantes. Isso ele sabia por experiência própria.

Os ferimentos do rapaz já estavam todos cicatrizados. Seu olho tinha voltado ao tamanho e cor normais, revelando suas irises negras como a escuridão daqueles túneis. As costelas também já não doíam mais e ele finalmente podia treinar alguns golpes.

O que ninguém tinha conhecimento até então, nem mesmo ele próprio, era o quanto Adam conhecia sobre o uso de armas. Recuperou algumas lembranças desse aprendizado no dia em que Will lhe dera uma espada prateada, de cabo amadeirado, embainhada por um veludo carmim. Ao tocar o cabo brilhante, seu cérebro foi bombardeado com inúmeros flashes de imagens outra vez.

Os escolhidos recebiam treinamento em combate quando se juntavam ao governo, para o caso de precisarem se defender contra algum ataque inesperado. Por isso, ele sabia manejar uma espada muito bem, embora tivesse mais dificuldade com as facas. Não estava acostumado a fazer uso de armas curtas. Além disso, recebera lições de artes marciais há muito esquecidas e consideradas proibidas pelas leis da Fortaleza.

Como já estava recuperado, ele e Will treinavam durante várias horas por dia. Volta e meia, William se surpreendia com as habilidades de seu oponente. Apesar de nunca ter enfrentado uma luta verdadeira, Adam tinha um preparo físico e conhecimento técnico que muitos não atingiam, mesmo tendo lutado a vida inteira nos exércitos do governo.

Enquanto isso, Camille e Sarah trabalhavam nos disfarces que seriam usados. Precisavam de roupas mais novas e algumas mochilas para carregar os suprimentos. Usariam casacos para levar suas armas escondidas no próprio corpo. Não era comum ver um civil andar pelos túneis com facas expostas em sua cintura.

– Olá, meninas! O que estão fazendo por aqui com esses panos velhos? – perguntou uma mulher de meia-idade, com longos cabelos dourados presos em um coque.

Sarah abriu um sorriso de orelha a orelha quando a viu.

– Tia Mercedes! A senhora chegou na hora certa! – falou ela.

– Precisamos de ajuda com algumas roupas – confessou Camille. – Temos que parecer com os civis.

– Oh, então é disso que se trata. – constatou a mulher.

– Pode nos ajudar a costurar? – pediu Sarah.

– Claro que sim, minha menina! Me dê isso aqui, vamos ver o que posso fazer.

A mulher pegou os tecidos e ficou pensativa. Camille e Sarah esperavam impacientes pelo que viria a seguir. Mercedes tirou as medidas das duas jovens dos pés a cabeça e disse que provavelmente conseguiria transformar aquilo em alguns sobretudos. Com eles, ficaria mais fácil esconder as armas e estariam mais protegidos do frio do subterrâneo.

"Era exatamente do que precisávamos." Pensou Camille.

Ela pediu que Mercedes acrescentasse vários bolsos na parte interna dos casacos. O resto das roupas seriam as mesmas usadas no dia-a-dia, já que não podia usar suas roupas apropriadas para o combate, ou logo seriam descobertos. A questão das vestimentas já estava resolvida e de forma satisfatória. Com os casacos, não chamariam atenção e estariam protegidos ao mesmo tempo. Era perfeito.

Sarah ficou encarregada de pedir a Adam e Will que procurassem Mercedes, pois ela precisava tirar as medidas dos dois também. A mulher deu garantias de que, dentro de cinco dias, todos os casacos ficariam prontos.

– Agora só precisamos dar um jeito nessa sua cara – Sarah falou, sorridente.

– Ah claro, vamos ali trocar meu rosto rapidinho. – zombou Camille. – Não é tão simples assim.

– Você tem razão. Nem maquiagem seria suficiente para te fazer parecer outra pessoa.

– Acho que eu deveria ficar afastada do resto do grupo. Alguns metros atrás. Assim, caso alguém me reconheça não vai comprometer a missão.

Sarah batia com a ponta do dedo indicador na bochecha, com o olhar pensativo. As duas caminhavam para a cozinha, em busca de algo para forrar o estômago. Quando chegaram lá, encontraram Baltazar, Lurdes e Suzana conversando sobre o nascimento do bebê de Jessica. Uma enorme panela de ferro estava sobre o fogão e seu interior borbulhava. As duas jovens foram tomadas pelo cheiro delicioso da sopa que cozinhava lá dentro.

Depois de se deliciarem com o almoço, estavam caminhando de volta ao alojamento quando Sarah parou abruptamente.

– Já sei! Podemos fazer alguma coisa com o seu cabelo! – disse ela.

Camille a encarou com desconfiança.

– Como o quê, por exemplo?

– Você sempre usa seu cabelo preso quando saímos. Podemos fazer uma trança dessa vez, bem bonita, com algumas fitas também. Vai ficar lindo, Cami. E como vai ficar bem feminina, nem vai parecer que é você. – brincou Sarah.

– Não sei se vai funcionar. Parece muito simples ainda. – ela tentou não soar ofendida.

– Então vamos testar antes. Vem, eu vou dar um jeito nisso agora.

Sarah arrastou Camille até seu quarto. Ela estava quase correndo, tamanha a empolgação, e a Capitã esforçava–se para alcançá-la. Sua amiga era uma das poucas mulheres que ainda se preocupavam com aparência e beleza naquele mundo, por isso, para o completo espanto da capitã, sobre a pequena mesinha de madeira, havia um kit de maquiagem.

– Como você conseguiu isso? – Camille perguntou estupefata, segurando o objeto redondo entre as mãos.

A amiga lhe dirigiu um sorriso triste.

– Era da minha mãe.

A capitã sentou-se na cadeira de metal, enquanto Sarah abria uma pequena caixa de madeira que abrigava fitas coloridas de cetim. Ela puxou um pedaço do rolo de fita da cor vermelha e cortou. Ela mesma negociava aqueles produtos com os comerciantes, em troca de garrafas de água retirada do riacho.

Sarah penteou os cabelos da amiga e começou a trançá-los habilmente, desde o topo até a base, terminando na altura da cintura da jovem. Entre alguns momentos, ela juntava a fita vermelha com uma mecha de cabelo, prendendo-a com o restante da trança. Quando terminou, fez um laço pequeno na ponta da fita e ficou admirando o resultado. Estava satisfeita com o seu trabalho.

– É isso! Você está incrível, Cami. Parece até uma garota!

Camille revirou os olhos para a amiga.

– Você entendeu o que eu quis dizer. Vem, vamos mostrar aos outros e saber a opinião deles.

Sarah estava bastante animada com tudo aquilo. Já Camille ainda não entendia a diferença entre usar seu cabelo preso ou trançado. Ela continuava com a mesma aparência e o perigo de ser reconhecida continuava presente. Conforme caminhavam pelos túneis do esconderijo, Sarah perguntava a todos sobre o novo visual da Capitã. Algumas pessoas se espantaram e disseram ver a verdadeira forma do rosto de Camille pela primeira vez na vida.

Por fim, chegaram até o escritório, onde Adam e Will trabalhavam nas estratégias de avanço pelo território da Fortaleza. Precisariam ser discretos, paraticamente invisíveis. E depois que cruzassem o grande portão da capital, aí sim as coisas ficariam bem mais complicadas.

Com os cotovelos apoiados sobre a mesa, Adam conversava com Will tentando detalhar ao máximo suas lembranças do grande complexo de apartamentos onde moravam os escolhidos. Havia cinco apartamentos por andar e todos eram construídos nos mesmos moldes. Um quarto, uma cozinha, uma sala e um banheiro. A metragem, as cores, os móveis, tudo era exatamente igual em todos eles. A porta de entrada e saída dos apartamentos era uma só, monitorada por um sistema de vigilância que contava com uma câmera pequena instalada em cada soleira.

Além de tudo isso, também tinha a questão dos sentinelas. Em cada andar, pelo menos quatro deles se revezavam em rondas, feitas em pares, alternadamente. Durante o dia, somente alguns dos escolhidos ficavam no complexo. A obrigação deles era trabalhar nos laboratórios todos os dias, com direito a uma folga quinzenal, no qual poderiam recorrer a atividades de lazer também propostas pelo próprio governo. Em geral, era melhor apenas ficar em casa descansando.

Enquanto Adam falava, Will ouvia tudo com atenção e fazia anotações em seu caderno. Às vezes desenhava o esboço de um mapa que pudesse se assemelhar as instalações do local. Muitos detalhes ainda estavam falhos, como peças soltas em um quebra-cabeça, pois a memória de Adam nem sempre era clara.

A porta de madeira se mexeu com um rangido característico, abrindo passagem para Sarah e Camille adentrarem na pequena câmara. Os olhares dos dois homens congelaram na imagem da capitã, deixando-a constrangida e irritada ao mesmo tempo. Não esperava aquele tipo de reação de seus companheiros de equipe. Ela pigarreou, deixando claro o quanto estava incomodada pelo comportamento mal-educado de ambos.

– Vocês não tem nada melhor para fazer do que ficar encarando as pessoas? – o tom de voz de Camille era ameaçador.

Will abriu um sorriso zombeteiro.

– Ufa, ainda bem! Por um minuto achei que você fosse uma impostora. – brincou ele. – Mas foi só abrir a boca para ter certeza de que ainda é você.

Camille sentiu-se aliviada ao ouvir o tom de zombaria de seu amigo e deixou um sorriso escapar por seus lábios. Ela não queria ser tratada diferente por causa de sua aparência. Continuava sendo a mesma pessoa.

– Não seja ridículo, Will – repreendeu Sarah. – Sabe que a Cami tem que parecer diferente para não sermos pegos pelos sentinelas. Além do mais, ela ficou linda com o cabelo assim. Você não acha, Adam? – provocou ela.

Will fechou a cara para a moça e Adam encarou o chão.

–É claro, ficou muito bonita. – ele respondeu quase sussurrando.

– O mais importante é que cheguemos à capital sem problemas. – cortou Camille. – E se qualquer coisa der errado e eu for pega, seguiremos o plano original.

Todos assentiram. A tensão voltou a tomar conta do ambiente apenas com o simples cogitar daquela hipótese, mas nenhum deles ousou mencionar o desconforto que sentiam.

– Ah, vocês dois vão ter que falar com a minha tia Mercedes mais tarde. Ela está costurando alguns casacos para nossa viagem e precisa tirar suas medidas. – Sarah tentou aliviar o clima pesado.

Ela não gostava de ver seus amigos tão nervosos e com tamanha responsabilidade nos ombros. Obviamente ela se importava com a seriedade da situação e sabia dos riscos envolvidos naquela missão. Porém, tentava manter seus pensamentos positivos, como sua mãe havia lhe ensinado.

Sarah era filha única de um casal muito apaixonado, tanto um pelo outro quanto pela menina. Julio e Anabele eram pessoas muito tranquilas e de bom coração, sempre preocupados com todos os membros daquela frágil aliança da resistência. Eles se juntaram ao grupo dos não-identificados quando os questionários passaram a ser distribuídos para todos. Assim como o pai de Camille, ficaram desconfiados da atitude por trás daquilo e resolveram não responder.

Certo dia, os soldados sentinelas investiram um ataque contra aqueles que estavam desobedecendo as ordens do Governador. Prenderam todos e os levaram até a base militar na capital. Aqueles que continuaram se negando a cooperar foram fuzilados ali mesmo. Ao saberem daquilo, a família de Sarah mudou-se para o esconderijo e como Julio era médico, eles passaram a cuidar dos doentes.

Anabele sempre pedia para Sarah manter a esperança em seu coração. Mesmo quando se tornaram vítimas das próprias doenças virais que seu marido ajudava a tratar, eles se mantiveram fortes. Julio deixou esse mundo sombrio primeiro e Anabele partiu alguns dias depois. Antes de dar seu último suspiro, ela pediu a Sarah que continuasse lutando pelo que achava certo, sem perder as esperanças, mesmo quando tudo parecesse impossível. Era por isso que a jovem continuava a sorrir dia após dia.

Mesmo agora, diante da possibilidade de perder a própria vida ou a de seus amigos durante a missão, ela mantinha sua promessa. Não deixaria o medo tomar conta de seus pensamentos antes mesmo de partirem.

– Isso é bom – disse Adam. – Não teremos com o que nos aquecer durante a viagem. Quanto mais proteção melhor. – Ele esboçou um sorriso gentil para a moça.

– Por falar em proteção, como vai seu treinamento? – quis saber Camille.

O sorriso de Adam se transformou de gentil em presunçoso.

– Acho que já terminamos. – respondeu ele.

Camille arqueou uma sobrancelha e o encarou. Depois voltou seu olhar para Will, com uma expressão divertida no rosto.

– Na verdade, meu amigo, ainda falta um último desafio – Will falou, se aproximando de Adam. – Uma prova final, eu diria.

Os músculos de Adam se tensionaram. Ele estava parado, mas seu corpo podia captar uma estranha energia pelo ar.

–E qual seria esse desafio? – a voz dele se manteve firme e calculada.

–Vai ter que me vencer em combate. – falou Camille. E suas palavras ecoaram pelas paredes de pedra.


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