Tão Minha

Από autoramarcialima

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O LIVRO FICARÁ COMPLETO ATÉ O DIA 26/06- Depois disso somente degustação!!! Terceiro Livro da Série Homens de... Περισσότερα

Sinopse
Avisos Importantes
Prólogo
Capítulo 1 - Elisa
Capítulo 2 - Alexander
Capítulo 3 - Elisa

Antes do Início

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Από autoramarcialima

Roterdã, alguns meses antes...

―Não acredito que você vai mesmo nos deixar – Laura me disse enquanto dobrava uma camisa de algodão branca.

Ela tentava parecer tranquila, mas eu podia ver pequenos traços de nervosismo em seu rosto delicado. Não era apenas ela que estava triste. Eu também estava. Eu havia passado tanto tempo com eles que tinha medo de não lembrar mais de como a vida era sem ninguém.

Peguei a camisa das mãos dela e coloquei sobre o colchão, segurando suas mãos entre as minhas, em silencio por um tempo.

- Isso é uma coisa boa, Laura – comecei – eu sei que parece uma coisa ruim, mas acredite, é uma coisa boa.

Laura fungou e ajeitou uma mecha de cabelo solta atrás da orelha – ela era durona.

- Não é justo que você afaste Louise de nós! – reclamou e eu acabei sorrindo.

- Laura, Bruxelas fica logo ali – eu disse acariciando as palmas das suas mãos com meus dedos – além disso, nós estaremos sempre por aqui. Não é como se estivesse me mudando para Xangai.

Ela fungou novamente, evitando que uma lagrima rolasse e eu agradeci porque se ela chorasse, eu acabaria fazendo o mesmo. Eu não era durão como Adrian Van Galagher.

Respirei fundo, deixando meus olhos se perderem na janela, admirando as folhas das árvores, balançadas pelo vento quente da primavera. Eu sentia meu coração mais e mais apertado, conforme a mudança se aproximava. Eu tinha medo por mim, por papai, por Louise. Eu tinha medo por Adrian também. Por mais que ele fosse o cara durão, eu sabia que ele precisava de mim. Nós dois funcionávamos como partes de uma mesma engrenagem.

- Alex! – ouvi o grito de Laura perto da minha orelha e supus que não era a primeira vez que ela me chamava. Sorri.

- Tudo vai ficar bem – eu disse mais para mim mesmo do que para ela.

- Alex – ela continuou com a voz suave, mãos sobre as minhas, acariciando minha pele com sua delicadeza e carinho – sabe que não precisa ir. Sabe que pode ficar e assumir seu antigo cargo na empresa. Sabe que nem mesmo Stein se importaria.

Ela havia aumentado sua voz em meio tom, denunciando seu nervosismo.

- Quer dizer – tentou consertar quando percebeu que eu havia notado – eu acho que – estava se enrolando cada vez mais – acho que – comecei a sorrir – bem, é uma grande empresa. Sei que tem lugar para vocês dois e – comecei rir sem querer, diante da explosão do seu nervosismo – Ah pare de me deixar nervosa! – ela disse meio irritada, meio risonha – você está fazendo de proposito! – e completou, levantando-se e colocando as mãos na cintura – Não ouse usar seus truques de advogado comigo, Dr. Persen!

Levantei-me também e estendi os braços, puxando-a para o meu abraço, aconchegando sua cabeça em meu peito. Depois sorri.

- Mas você precisa admitir que eu sou muito bom no que faço – brinquei.

- O melhor! – ela disse beijando minha bochecha – eu nunca fiz segredo do quanto admiro meu irmãozinho – brincou fazendo-me fungar um pouco.

Eu não estava acostumado á despertar o orgulho das pessoas. Eu era Alexander Persen, o coadjuvante. Não era uma reclamação, era uma constatação. Eu não era o personagem principal nem em minha própria vida e era por isso que eu precisava ir.

- Eu daria um milhão pelos seus pensamentos, Sr. Persen – Laura disse trazendo-me de volta á realidade.

- Ah eles não são tão caros assim, minha querida – brinquei – não gaste seu dinheiro comigo.

Eu estava brincando e Laura também estava, mas havia uma linha fina nos deixando do lado de cá das nossas mazelas passadas. Ela sabia que eu tinha as minhas e eu sabia o mesmo.

- Mamãe! Mamãe – Hanna entrou correndo com seus cabelos louros ricocheteando pelo espaço – Aurora acordou!

Laura demorou-se mais alguns instantes em meu abraço e em seguida me soltou, ajeitou o vestido e sorriu delicada.

- Acho que estou sendo solicitada na mansão – brincou – A pequena Srta. Galagher quer almoçar.

- E você sabe que nenhum dos Galagher é bom em esperar – brinquei de volta – melhor atende-la.

Laura passou pelas portas duplas do estúdio que Adrian havia transformado em lar para mim e Louise. Eu fiquei ali, parado, vendo-a desaparecer pelo jardim, tão plena e esvoaçante. Ela me fazia lembrar uma daquelas fadinhas dos livros de Hanna. Estava iluminada e cheia de vida. Laura me fazia lembrar minha mãe.

Respirei fundo, trazendo para dentro o perfume das pequenas flores brancas que cresciam debaixo da minha janela.

"É necessário Alexander" – repeti mentalmente – "É necessário"

Minha filha dormia no pequeno berço de palha, ao lado da minha cama. Havia sido sempre assim, desde que eu cheguei com Louise do hospital. Tantas noites em claro, acordando de hora em hora até acostumar minha menininha que eu seria seu aconchego na madrugada, seu alento na dor, na dificuldade. Que eu seria sua mãe e seu pai e tudo mais que ela precisasse.

Laura, Margarida, Joanne, Martina, todas elas, em várias oportunidades, tentaram me convencer de que poderiam me ajudar com Louise. Eu não duvidava, sabia que fariam o melhor que pudessem, mas era algo que eu queria fazer. Eu queria trocar as fraldas. Queria banhá-la e alimentá-la e ensinar á ela que não seria uma jornada fácil, mas que eu estaria ali.

Louise soltou um suspiro e um sorrisinho fraco brilhou em sua boquinha de coração, antes que seus olhinhos se abrissem. Ela se parecia com a mãe. Tinha o melhor dela. Eu sentia que apesar de tudo, a vida de Alissa não havia sido em vão. Louise era o que ela havia deixado de efetivo ao mundo e era uma garotinha incrível.

- Você vai gostar de Bruxelas – eu disse correndo os dedos por sua bochecha rosada – é um pouco mais barulhento que isso aqui, mas você vai gostar.

Coloquei mais uma camisa sobre a primeira, esvaziando uma das minhas gavetas. No fundo dela, esquecida pelo tempo, estava uma foto da minha mãe – Esquecida pelo tempo, não por mim – Era uma foto antiga. Mamãe estava sentada na soleira da nossa porta no Laeken.

Nós morávamos em um pequeno apartamento. Um antigo casarão que havia sido reformado e dividido para que abrigasse mais de uma família. Mamãe e eu dormíamos juntos em um quarto com vista para o parque. Se fechasse meus olhos, ainda podia sentir o perfume delicado dela. Mamãe só falava francês. Era uma linda enfermeira de cabelos escuros e olhos esverdeados. Sua pele era tão clara e delicada que eu nunca entendi porque precisava se maquiar. Ela era linda. Nem mesmo quando o câncer a pegou de vez, mamãe deixou de ser uma linda mulher.

Segurei a fotografia em minhas mãos, acariciando seu rosto com o meu polegar.

"Você precisa aprender a tocar piano Alexander" – ela me dizia – "E a valsar. Todo homem deve saber dançar valsa. Isso é muito importante".

Nós éramos pobres. Trabalhadores como tantos outros e eu não conseguia entender porque tinha que aprender a dançar valsa ou a tocar piano. Nós nem mesmo tínhamos um piano. Quando fui ao primeiro baile com Adrian eu entendi – mamãe estava me preparando para o futuro. Ela acreditava que eu tinha um futuro dourado e estava me preparando para ele.

Ela tinha razão.

Eu havia vencido. Deixado o subúrbio do Laeken e ganhado o mundo. Tinha uma bela conta bancária, um carro de luxo, roupas caras. Comia em bons restaurantes, viajava de primeira classe, mas não tinha mais mamãe comigo.

- Tio Alex? – a voz de John chamou após uma batida no batente da porta.

- Entre John – respondi tentando limpar meus olhos marejados, mas o tom avermelhado em minhas pálpebras me denunciou.

- Hum – John começou mordendo o lábio – má hora? – perguntou sem jeito – porque eu posso voltar depois, não tem problema.

Sorri – John era como um filho para mim, mas estava tão crescido que eu o via mais como um irmão mais jovem agora.

- Sente-se aqui – eu disse batendo no espaço vazio ao meu lado.

John me obedeceu. Sentou-se em silencio, encarando meus olhos vermelhos de lembranças.

- Sabe que precisa cuidar dele, não sabe? – comecei sem dizer nenhum nome porque John sabia bem á quem eu me referia.

John assentiu.

- Ele é um cara complicado John – eu continuei colocando a mão sobre seu ombro – ele não vai pedir ajuda – constatei – na maioria das vezes, você vai ter ajuda-lo sem que ele perceba.

John assentiu novamente.

- Promete que vai cuidar das suas irmãs e da minha? – falei correndo as mãos pelas suas costas – Laura pensa que é forte John, mas ela é só uma garota sonhadora. Você precisa cuidar dela.

E então havíamos chegado à pior parte da nossa conversa – Jens Van Hart. John era crescido o suficiente para entender bem tudo que havia acontecido entre Patrícia e Hart. Era difícil esperar maturidade, mas eu precisava tentar.

- E quanto á Collin, John – continuei sentindo o peso das minhas próprias palavras – quer dizer, quanto á Hart – melhorei a frase – você precisa – eu não sabia como continuar – precisa.

- Preciso dar uma chance ao cara – John me cortou – tudo bem Tio Alex. Eu acho que o cara merece. Quer dizer, não seremos grandes amigos, provavelmente, mas acho que posso aturar ele de vez em quando – John disse com o ar jovial e cheio da bondade que ele tinha – ele faz bem ao Collin, Tio Alex. O pirralho anda mais feliz e animado. Todos andam, na verdade.

Sorri, afagando suas costas com mais vontade.

- Agora acho que devemos parar por aqui Tio Alex, quer dizer, essa coisa toda de me alisar na sua cama e tal, sei lá Tio – brincou com seu sarcasmo habitual.

- Tenha mais respeito garoto! – brinquei de volta – não esqueça que eu ajudei a trocar algumas fraldas suas!

John levantou uma sobrancelha para mim com o olhar sério. Permaneceu assim por alguns segundos e então me abraçou sorrindo.

- Vou sentir sua falta Tio Alex – confessou arrancando algumas lágrimas de mim – você sempre esteve por aqui. Não sei como faremos sem você.

Seus olhos amendoados estavam marejados também. Havia um sulco brilhante em seu rosto e isso me fez lembrar o garotinho de cabelos ondulados que corria para mim quando ralava os joelhos no jardim.

- Vou sentir sua falta também John – confessei – promete que vai me visitar? Eu quero saber de tudo. Tudo mesmo. Temos um trato? – brinquei.

- Temos sim, Tio Alex.

Enquanto conversávamos, o carro de Adrian parou próximo ao jardim. Eu sabia que essa seria a pior conversa que eu precisava ter antes da partida. Havia tanto a falar. Tanto a agradecer. Era difícil encontrar um ponto inicial no emaranhado que nossas vidas haviam se tornado nesses mais de vinte anos de amizade.

- Fica com Louise para mim? – pedi encarando a figura descer do carro.

- Vai lá Tio. Antes que o velho encontre uma maneira de fugir de você.

Caminhei pelo jardim. Adrian não entrou em casa, ele também sabia que havia chegado o momento da nossa conversa.

Continuei caminhando devagar, enquanto ele se afastava de costas, até perto do lago. Sentou-se no deck, retirou o blazer e os sapatos, dobrou a calça até as canelas e enfiou os pés na agua fria.

- Lembra-se de como costumávamos pescar em Gante no verão? – ele me perguntou sem me olhar.

Sentei-me ao seu lado, deixando meu corpo pender contra as tabuas do deck e cruzando as mãos sobre o rosto para proteger os olhos do sol fraco e brilhante do fim de tarde.

- Bons tempos – respondi – mas não era justo porque você tinha todo aquele negocio de "dança da pesca" e isso sempre funcionava.

Adrian sorriu.

- Admita Alexander, eu sou melhor pescador que você! – brincou dando um soco de leve em meu ombro.

Respirei fundo. Era tão estranho não estar mais por perto. Tão estranho não poder tomar um uísque no Jack's e falar bobagens como se ainda fossemos os dois adolescentes que dividiam um alojamento na faculdade e a vida depois disso.

- Você é melhor que eu em muitas coisas, Adrian – confessei já sem humor, sentindo meu coração estranho, apertado – vou sentir falta do meu melhor amigo.

- Então acabe logo com essa bobagem de voltar á Bruxelas! – Adrian disse autoritário – sabe que não precisa disso. Você sabe que sempre terá um lugar ao meu lado. Sabe que tudo que tenho devo á você.

- Adrian – chamei encarando-o de verdade.

Ele sabia que eu precisava sim ir á Bruxelas. No fundo, ele sabia. Era uma parte importante da busca que eu precisava fazer pelo antigo Alexander. Era minha vez de me reformar, de encontrar um novo rumo.

Adrian respirou profundamente.

- Não é verdade – ele disse e parou, deixando-me sem entender.

- Como? – perguntei levantando-me e me ajeitando ao seu lado.

Adrian atirou uma pedrinha nas aguas calmas do lago.

- Não é verdade que sou melhor em muitas coisas – concluiu – talvez eu seja melhor apenas em encontrar os amigos certos.

Engoli em seco.

- Obrigada Alexander – ele disse ajeitando um pouco os óculos no rosto – por ter sido o melhor amigo que eu poderia se quer pensar em ter. Obrigada por ter sido meu irmão. Por ter cuidado tanto de mim e da minha família. Mesmo quando eu não mereci.

Funguei, afastando as lagrimas e deixando que escorregassem para dentro da minha garganta. Demorei um tempo para responder. Eu não queria ter a voz embargada no meio da frase, queria uma despedida feliz.

- Acho que você deveria me dar a sua moto – disse depois de um tempo e Adrian me encarou sem entender.

Eu queria fazer uma piada, deixar as coisas mais leves. Nós precisávamos disso. Ele nunca mais havia pilotado porque se fizesse isso, Laura arrancaria toda a sua pele, com uma faca de serra.

- Sabe como é – continuei – levo a moto como símbolo da nossa amizade.

Adrian sorriu.

- Muito máscula sua atitude – brincou – quer trocar pulseirinhas da amizade? Acho que Hanna deve ter algumas guardadas em sua caixa de princesas.

Soltei uma gargalhada e Adrian gargalhou comigo, mas nosso riso morreu cedo demais.

- Sabe que as portas estarão sempre abertas para você e Louise, não sabe? – ele me disse depois de algum tempo.

- Sei sim – respondi – e acredite, nós passaremos por elas de volta, na hora certa.

Adrian assentiu e eu assenti de volta. Ficamos sentados ali no deck sem dizer nada. Era bom ficar em silencio com ele, era um silencio confortador.

Quando a tarde caiu eu sabia que era hora de ir. Eu havia comprado um bilhete noturno no trem rápido. Iria para Bruxelas e teria uma semana para ajeitar tudo, antes que Laura e Adrian levassem Louise para mim.

Levantei e bati as mãos em meus jeans, espalhando algumas folhas no chão. Adrian não se moveu. Não me disse mais nada, nem eu. Bati a mão sobre seu ombro sem conseguir me despedir. Comecei o trajeto de volta para o estúdio, até que a voz de Adrian me fez parar.

- Alex? – ele chamou e eu me virei – Não demore – disse com sarcasmo no olhar – vou sentir falta da minha moto.

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